A MAIS DESAFIADORA QUESTÃO DA HUMANIDADE


 Ricardo André

“Então, você é rei!”, disse Pilatos. Jesus respondeu: “Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem”. “Que é a verdade?”, perguntou Pilatos. Ele disse isso e saiu novamente para onde estavam os judeus e disse: "Não acho nele motivo algum de acusação” (Jo 18:37, 38, NVI).

INTRODUÇÃO:

No texto acima encontra-se uma das questões mais fundamentais da vida. E foi Pôncio Pilatos quem tornou célebre essa importante pergunta: “O que é a verdade?”. Quando O Salvador foi levado para o tribunal, Pilatos era governador da Judéia. Ele foi governador entre os anos 26 d.C. e 36 d.C. A história secular mostra que Pilatos era um homem sem compaixão e completamente insensível aos sentimentos morais dos outros. Ele simplesmente não gostava dos judeus e acreditava que eles eram um povo teimoso e rebelde. Ele olhou para Jesus de maneira nada amistosa.

“O governador romano havia sido chamado às pressas de seu quarto e decidiu fazer o trabalho o mais rapidamente possível. Estava preparado para tratar o Preso com todo rigor do magistrado. Assumindo a mais severa expressão, voltou-se para ver que espécie de homem tinha de interrogar, por causa do qual fora assim despertado de seu repouso. Sabia que havia de ser alguém a quem as autoridades judaicas estavam ansiosas por ver julgado e punido o quanto antes. Pilatos olhou para o homem que guardava Jesus, e depois seu olhar pousou perscrutadoramente no próprio Jesus. Tivera de tratar com todas as espécies de criminosos; mas nunca antes fora levado à sua presença, um homem com tais traços de bondade e nobreza. Não via em Seu semblante, nenhum vestígio de culpa, nenhuma expressão de temor; nada de ousada, ou desafiadora atitude. Viu um homem de aspecto calmo e digno, cujo rosto não apresentava os estigmas do criminoso, mas a marca do Céu” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 723, 724).

Pilatos perguntou se Jesus era rei, e Ele respondeu dizendo: “Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz” (Jo 18:37). Foi neste ponto, que Pilatos, com uma atitude de menosprezo por Jesus, fez uma pergunta transformadora: “Que é a verdade?” (Jo 18:38). Pena que ele não estava disposto a ser transformado. Podemos perfeitamente descrever esse momento como o momento de Pilatos. Esse momento deveria ser um momento áureo para o governador romano. “Ainda que tenha feito aquele questionamento, Pilatos perdeu a oportunidade de conhecer a verdade por causa de seu preconceito, de suas decisões anteriores e das pressões que enfrentava” (Lição da Escola Sabatina, 4º Trimestre de 2024, Edição de Professor [CPB], p. 129).

Quando ele perguntou a Jesus: O que é a verdade? Ele nem esperou a resposta e saiu para falar com os líderes religiosos que aguardavam o seu parecer sobre o prisioneiro Jesus. Perdeu um momento precioso. “Sua pergunta “O que é a verdade?” (v. 38) pode ter sido um desejo sincero de conhecer a verdade, mas a pressão era muito grande, e ele não tinha tempo para Jesus. Encerrou a conversa, distanciando-se, assim, do desafio implícito que Jesus lhe propôs” (Comentário Bíblico Andrews [CPB: Tatuí, SP, 2024], v. 3, p. 456).

Sobre isso, Ellen G. White esclareceu: “Pilatos teve desejo de conhecer a verdade. Seu espírito estava confundido. Apegou-se ansioso às palavras do Salvador, e o coração agitou-se-lhe num grande anelo de saber o que ela era realmente, e como a poderia obter. ‘Que é a verdade?’ indagou. Mas não esperou a resposta” (O Desejado de Todas as Nações, p. 727).

A pergunta de Pilatos — “Que é a verdade?” — ecoa através dos séculos como uma das mais profundas e desafiadoras questões da humanidade. Desde muito cedo, os seres humanos vivem numa busca incessante da verdade, de certeza e direção para a vida.

Durante a Idade Média as pessoas eram orientadas a buscar a verdade nos ensinos do clero católico. Com o advento da Reforma Protestante, no século XVI, a verdade passou a ser vista como um bem acessível a qualquer pessoa que pesquisasse as Sagradas Escrituras. Em seguida, as revoluções filosóficas e científicas rejeitaram as autoridades dessas fontes, atribuindo a possibilidade da descoberta da verdade à razão humana e à ciência.

Desse modo, a ciência passou a ser a medida de todas as coisas, estando pretensamente destinada a resolver todos os problemas do homem. Diariamente milhões de pessoas buscavam (e ainda buscam) a verdade nas ciências. Desiludidas pela falácia dessas propostas, as pessoas se empenharam em construir a própria verdade, divorciada de valores absolutos. Vivemos em uma época denominada pós-moderna, em que a verdade parece ser relativa, moldada pelas opiniões, emoções, circunstâncias e gostos pessoais.

Hoje, refletiremos sobre esta célebre pergunta de Pilatos e buscaremos compreender o que é a verdade à luz das Escrituras.

I. AS CONCEPÇÕES DE VERDADE DOS HOMENS

Antes de responder a profunda questão formulada por Pilatos, precisamos buscar a concepção de verdade dos filósofos. A filósofa brasileira Marilena Chaui apresenta com maestria a concepção de verdade, em seu livro intitulado "Iniciação à Filosofia" (Ed. Ática, São Paulo, 2011), que dedica um capítulo especial para apresentar as concepções de verdade. Segundo a ilustre professora existiriam três concepções de verdade, sendo elas: a concepção dos gregos, a latina e a hebraica.

Na concepção grega, “verdade se diz alétheia, significa “o não escondido, não dissimulado”, aquilo que vemos numa contemplação, o que se manifesta ou se mostra aos olhos do corpo e do espírito. Em latim, verdade se diz veritas, refere-se à precisão, ao rigor e a exatidão de um relato, no qual se diz com pormenores e fidelidade o que realmente aconteceu. Verdadeiro se refere portanto, à linguagem como narrativa de fatos acontecidos. [...] Em hebraico, verdade, verdade se diz emunah e significa “confiança”. [...] A verdade é uma crença fundada na esperança e na confiança” (p. 112, 113).

Também encontrei essa definição com palavras semelhantes no Dicionário da Bíblia de Estudo Almeida, publicado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). O referido dicionário define verdade como sendo, entre outras, “a conformação da afirmativa com a realidade dos fatos” (p. 158).

Entretanto, há quem diga que não exista uma verdade, pois esta seria uma criação do intelecto, e sendo assim, existiriam inúmeras verdades. Para Pilatos a verdade dependia do ponto de vista de cada pessoa, de modo que cada um tinha a sua verdade. Esse é o pensamento e a opinião das pessoas hoje em dia também. Cada um tem a sua própria verdade e o seu ponto de vista sobre ela. Muitos não acreditam mais que existe verdade moral ou espiritual absoluta. O relativismo é a regra do dia: sua verdade é sua verdade, ninguém pode contestar isso por você, e a verdade de todos depende das circunstâncias. Portanto, as pessoas não consideram a possibilidade de existir uma verdade absoluta, por isso, assim como Pilatos, não estão preocupadas em descobri-la e vivê-la.

Essa degradação da verdade é tão prevalente em nossa sociedade que muitas pessoas se veem compelidas a fazer a mesma pergunta que Pilatos fez: “O que é a verdade?”

II. A VERDADE PERSONIFICADA

Embora as definições dos pensadores a respeito de verdade estejam corretas, as Sagradas Escrituras vai muito mais além quando transforma o significado abstrato da palavra verdade num significado bem real e concreto. Jesus falava sobre a verdade como algo concreto e objetivo. Em João 17:17, ao falar de seu Pai, disse Ele: "tua palavra é a verdade". Ao contrário dos homens, Jesus ao definir a verdade o faz com fundamento na concepção hebraica do termo, que significa confiança em algo, Ele confiava em seu Pai, essa confiança em Deus representava para Jesus a verdade.

Jesus, ao longo de seu ministério, fez uma declaração poderosa: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Aqui vemos que a verdade não é apenas um conceito filosófico ou uma coleção de fatos; a verdade é uma pessoa, e essa pessoa é Jesus, o Eu Sou, o Deus que se tornou homem e habitou entre nós (Jo 8:58; 1:1, 14). Ele é a Verdade Absoluta: Ele revela o caráter de Deus e demonstra o plano redentor do Pai. Nele encontramos a resposta para as dúvidas existenciais da humanidade. Isso significa que tudo o que Ele disse e fez é digno de confiança. Suas palavras são o alicerce para nossa fé e conduta.

Nós, cristãos, consideramos que o diferencial de qualquer conceito é seu fundamento. Assim, nossos argumentos só estarão alinhados com a verdade se estiverem alicerçados na Palavra de Deus. As Palavras de Cristo são expressões absolutas da verdade! Elas se encontram de forma distintas e claras nas Escrituras Sagradas! (Jo 17:17). As Escrituras são nossa fonte autorizada de verdades, muitas das quais vão além da possibilidade de verificação sensorial, física ou racional. Por causa da revelação bíblica sabemos que existem verdades absolutas, ou seja, nem a ciência nem a razão podem contradizê-las.

Pilatos, ao interrogar Jesus sobre “o que é a verdade”, queria uma resposta baseada na concepção grega de verdade (o que é possível ver, tocar, sentir), dessa forma a concepção de verdade de Jesus não iria satisfazer a curiosidade de Pilatos, não temos como afirmar a presença de Deus de maneira fática se considerarmos apenas a verdade como algo tangível, concreto, como manifestação perceptível aos olhos.

Considerar o ser humano como ponto de referência e norma para definição da verdade é algo muito perigoso, porque nossa percepção é limitada. Precisamos de Alguém que enxerga as coisas de cima. Precisamos de algo que não desabe diante de qualquer vento, algo que permaneça. “A relva murcha, e as flores caem, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Is 40:8). A Palavra de Deus é “a verdade” (Jo 17:17), essa verdade foi personificada em Jesus que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6). Pilatos olhou a verdade nos olhos, mas a ignorou.

III. A VERDADE LIBERTADORA

Jesus disse aos seus discípulos que uma das características da verdade, é que ela liberta e conduz à vida eterna. Ele afirma: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). O que isso significa na prática? Significa que a verdade de Cristo nos revela nossa condição de pecadores e nos oferece redenção. Somente ao aceitarmos essa verdade é que podemos ser libertos da escravidão do pecado (Rm 3:23, 24; 6:16).

Mas o que vemos hoje no mundo, na vida das pessoas que defendem a sua própria verdade, é que estas não são livres e não têm vida eterna, mas vivem escravizadas pelo mundo e pelo pecado, e ao invés de esperança de vida eterna, as pessoas vivem infelizes, desesperadas e angustiadas, sem saber o que vai lhes acontecer no futuro, vivem mergulhadas nas trevas, cegas pela sua própria verdade.

A verdade que as pessoas defendem está sujeita a argumentações e mudanças, mas a Verdade que é Jesus, esta é inabalável e contra Ela não há argumentações, pois é absoluta. A Verdade quebra os grilhões do pecado e traz o homem para a Luz, fazendo com que ele conheça sua real situação e busque se libertar pela fé na Verdade, que é Jesus. Quando o homem conhece Jesus, descobre a Verdade, e percebe que aquilo em que confiava como sendo a verdade, não passava de mentira e engano. Ele percebe que a religião em que vivia, e o que possuía como sendo a verdade, não passavam de sofismas e ilusões que o prendiam e escravizavam. Por isso sua vida era vazia e sem sentido.           

Quando conhecemos a Cristo através da Sua Palavra, a Verdade enche o nosso coração, preenchendo todo o vazio e nos dando a libertação das coisas que nos dominavam antes; não precisamos mais vaguear em busca de soluções para preencher o vazio da alma. A paz, a felicidade e o descanso para a alma enchem a nossa vida e passamos a conhecer o Caminho e a Vida, que estão associados à Verdade, que é o Senhor Jesus (Jo 14: 6). Nossa fé já não é baseada em ideias humanas. A partir desse momento nossa vida está fundamentada na revelação de Cristo por meio da Bíblia, porque é fonte de verdade e indica o que é correto e real. O apóstolo Paulo escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Tm 3:16, NVI).

Portanto, todas as coisas devem ser submetidas ao teste das Sagradas Escrituras, quer seja a razão, a emoção, as ciências ou os sentidos. A Bíblia é o parâmetro para identificar tudo o que é verdadeiro. Embora existam muitos questionamentos para os quais ainda não encontramos solução, as Escrituras têm as respostas para as principais dúvidas humanas, como: De onde viemos? Por que estamos aqui? Qual o propósito da vida? Para onde estamos indo? Ela nos apresenta o alicerce sobre o qual podemos firmar nossos pés a fim de explorar outras questões e descobrir fatos surpreendentes da vida. Portanto, caro leitor, construa sua vida sobre o alicerce da verdade. Outras filosofias podem até parecer atrativas, mas somente a verdade permanecerá para sempre.

IV. A VERDADE DESAFIADORA

Pilatos estava diante da Verdade em pessoa, mas escolheu ignorá-la. Ele não conseguiu descobrir a verdade de forma completa, se acovardou e deixou passar a oportunidade. Por três vezes ele tentou libertar Jesus. Contudo ele viu que não podia fazer isso e ainda conservar a sua posição e honra diante do César. Teve medo de perder sua posição e escolheu o mais fácil: Lavar as mãos! Ele escolheu consciente já que declarara a inocência de Jesus por três vezes, sacrificar a vida de um Inocente pensando em preservar seu cargo. Passou o momento de Pilatos. Ele tinha o poder da decisão mas tomou a decisão errada. Entregou Jesus para morrer. Sua decisão de mandar crucificar Jesus não passou impune pela vida. Ele se matou.

“Exatamente o que temia lhe sobreveio mais tarde. Tiraram-lhe as honras, apearam-no de seu alto posto e, ferido pelo remorso e o orgulho ferido, Pilatos pôs fim à própria vida não muito depois da crucifixão de Cristo” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 738).

A atitude de Pilatos diante da Verdade reflete o comportamento de muitos em nossa sociedade que rejeitam a verdade divina por causa do orgulho, incredulidade ou conveniência. Quando nos deparamos com a verdade, somos desafiados a abandonar o erro, o pecado e os falsos valores. Jesus disse: “Quem é da verdade ouve a minha voz” (João 18:37). A verdade exige uma escolha clara: ou a aceitamos, ou a rejeitamos.  Devemos tomar cuidado para que não sacrificamos nossos princípios para satisfazer as imposições do mundo.

Pilatos perdeu a oportunidade áurea de conhecer a verdade por causa do seu preconceito, de suas decisões anteriores e das pressões que enfrentava.

CONCLUSÃO:

Pilatos perguntou: “Que é a verdade?”, mas não esperou pela resposta. Muitos ainda hoje fazem essa pergunta sem perceber que a resposta está diante deles: Jesus Cristo. Ele é a verdade que nos guia, liberta e transforma.

Como cristãos, somos chamados não apenas a conhecer a verdade, mas a viver por ela. Nossa vida deve refletir a verdade de Cristo. Precisamos ser honestos, justos e fiéis em tudo o que fazemos.

Que possamos abraçar essa verdade, vivê-la intensamente e proclamá-la ao mundo. Pois, como disse o salmista: “A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre” (Salmos 119:160).

Caro amigo leitor, você deseja saber o que é a verdade? Em caso afirmativo, então você precisa se concentrar na resposta e, para isso, transportar-se para a dimensão divina. Hoje, Jesus deseja lhe revelar o que é a verdade. Você o ouvirá?

 

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