Teologia

sexta-feira, 21 de junho de 2024

UM HOMOSSEXUAL NA MINHA IGREJA?


 Ricardo André

Há alguns anos temos visto na Igreja Adventista um número crescente de lésbicas, gays e bissexuais. A presença dessas minorias sexuais em muitas igrejas adventistas, bem como em outras igrejas evangélicas, é uma realidade, com a qual muitas vezes pastores e membros não estão preparados para lidar. Inúmeras famílias adventistas possuem filhos, filhas ou outros parentes homossexuais. Temos notícia também de pastores que tem filhos e filhas gays e lésbicas, e mesmo alguns pastores são homossexuais.1 No momento, ou no tempo em que cada um descobre que sente atração por pessoas do mesmo sexo, o que prevalece inicialmente são os sentimentos de culpa, a perplexidade, a dúvida, a negação, o medo e até uma certa confusão. Tudo isso se pode eternizar durante anos, e até décadas.

Muitos desses adventistas gays ocultos ou enrustidos são muito sensíveis às coisas espirituais e atuantes em alguns ministérios da igreja, mas poucos sabem que eles estão desmoronando por dentro enquanto lutam contra sua homossexualidade. Muitas vezes, alguns deles oraram durante toda a sua adolescência para que Deus os transformassem. Quando essa mudança não acontece, viram as costas para Deus e desistem da igreja na fase adulta.

Ao longo dos anos tenho aprendido algo sobre a dor que os adventistas gays ocultos sofrem. O medo “do que os outros pensariam se soubessem” mantém muitos jovens no “armário”. Mas o fardo de viver uma mentira e fingir ser algo que não é acaba por se transformar numa pressão insuportável. Vários deles, inclusive, possuem pensamentos suicidas enquanto lutam contra os sentimentos que tem ao aceitar sua orientação e o fato de que não conseguem encontrar uma maneira de se livrar dela. A dor e o trauma são reais, imensas e às vezes quase inconsoláveis. Dentro e fora da igreja há vidas em risco, vidas necessitadas de amor. Precisando de compreensão e compaixão.

A homossexualidade é um tema complexo e espinhoso. Poucos se arriscam a falar sobre ela na igreja, desprovidos de preconceito. Muitos simplesmente se sentem extremamente desconfortáveis com esta questão delicada, e evitam falar. Particularmente, nunca dei muita atenção ao assunto porque nunca me preocupou. Então descobri que tenho irmãos e sobrinhos homossexuais. Esse conhecimento me deu uma nova perspectiva. Nesse ponto, nossa ignorância e preconceito se encontram de frente com nosso amor por nossos pais, filhos, irmãos, primos, tios e amigos homossexuais. Em relação aos meus irmãos e sobrinhos, fico feliz em dizer que o amor venceu, porque não deixei de amá-los por conta disso. Desde a época que descobri a orientação sexual deles, aprendi muito sobre a homossexualidade. Como professor, tenho lidado com muitos adolescentes LGBTQIA+. Muitas vezes conversei com alguns deles que, por conta das lutas que travavam interiormente, encontravam-se em profundas crises de ansiedade e depressão. E sentia a tristeza que eles sentiam em suas vidas. Ao ouvir sua história e suas lutas, percebi quantas vidas de pessoas são tocadas por esta dor oculta.

Importante ressaltar também que os pais de homossexuais também sentem a dor e tristeza. Quando eles descobrem que seu filho ou filha é homossexual, geralmente ficam em estado de choque. Embora pudessem ter consciência de que algo em seu filho estava diferente, provavelmente nunca admitiram para si mesmos a possibilidade impensável de que isso pudesse ter algo a ver com a homossexualidade. Eles podem experimentar uma ampla gama de emoções: raiva, negação, tristeza, culpa, medo ou vergonha. Os sonhos sobre o futuro de seus filhos estão desfeitos sobre eles. Por conta dessa descoberta, muitos pais são acometidos de uma depressão inexplicável ou outra mudança repentina de humor.

Como cristãos adventistas, adotamos as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática. Procuramos interpretá-las literalmente sempre que possível – como está escrito em nossas diversas traduções. Lida desta forma, a Bíblia parece condenar a homossexualidade.2 É óbvio que alguns argumentam que existem interpretações alternativas dos textos bíblicos. No entanto, não estou convencido pelos seus argumentos. Prefiro ficar com a interpretação tradicional desses textos bíblicos.

Mas a posição que você assume sobre os textos realmente não importa quando a maioria das pessoas em nossas igrejas toma os textos bíblicos como os encontram, o que significa que a atitude predominante é a desaprovação. A respeito desse assunto Ellen G. White escreveu: “A impureza se acha hoje disseminada, mesmo entre os pretensos seguidores de Cristo. Os desejos correm soltos, as tendências irracionais ganham força diante do consentimento, enquanto as capacidades morais se tornam cada vez mais fracas. [...] Os pecados que destruíram os antediluvianos e as cidades da planície existem hoje - não meramente nas terras pagãs, não apenas entre os supostos cristãos populares, mas também entre alguns dos que afirmam estar esperando a vinda do Filho do homem”.3 Como então nós, membros leigos, pastores e igrejas, devemos lidar de forma construtiva e redentora com os homossexuais que congregam conosco?

Nesse artigo não vou abordar esse assunto numa perspectiva teológica, ou seja, não farei uma exegese dos textos bíblicos comumente empregados pelos cristãos para condenar a prática homossexual. Muitos já fazem isso. Mas decidi refletir sobre como nós, como igreja, deveríamos tratar os gays da nossa igreja e mesmo os de fora. Para mim, essa é uma questão mais premente do que entrar em assuntos como o debate criação-natureza ou revisitar os textos bíblicos.

ABORDAGENS TÓXICAS

Quando adolescentes ou jovens vêm confiantes nos pedir ajuda, e se um pastor, um líder local ou um membro comum não estiverem preparados para lidar com tais situações, a tentativa equivocada deles de ajudá-los pode criar uma barreira entre os jovens homossexuais e a igreja. Isto, associado com os preconceitos, homofobia e a ignorância dos membros da igreja sobre a realidade da homossexualidade, tem afastado muitos jovens gays da igreja e de Cristo. E esse não é o propósito de Deus. Ellen White escreveu: “Venha, meu irmão, venha assim como está, pecaminoso e corrompido. Coloque seu fardo de culpa sobre Jesus e, pela fé, reclame Seus méritos. Venha agora, enquanto existe misericórdia; venha com confissão, venha contrito de coração, e Deus o perdoará abundantemente”4

Na tentativa de ajudar um jovem gay da sua igreja, alguns pastores e membros poderão pegar suas Bíblias e abrir em Gênesis 19, Levítico 18 ou Romanos 1. Depois fazer observações duras e condenatórias. E, finalmente, dizer para o jovem angustiado: “Você só precisa encontrar uma garota legal, se casar, e seu “problema” desaparecerá. Responder a tentativa de um homossexual de pedir ajuda com um lembrete das proscrições bíblicas e dos padrões da igreja é a abordagem com maior probabilidade de apagar a chama brilhante de uma fé em luta. Em vez disso, precisamos atraí-lo para o abraço caloroso e de apoio da igreja. Outros, depois de ouvirem um adventista gay, anuncia o seu “problema” a toda a igreja no culto da semana seguinte e pedem à igreja reunida que orem por ele. Já outros que, por entenderem que os homossexuais são dominados pelo diabo, decidem exorcizar o “demônio da homossexualidade” do jovem. Alguns pastores sentem tanta repulsa pela ideia da homossexualidade que reagem com antipatia visceral. Penso que esses tipos de abordagens são extremamente prejudiciais, tóxicas. Que não ajudam absolutamente em nada, só pioram a situação do jovem.

O QUE OS GAYS ADVENTISTAS ESPERAM DE NÓS?

Há pelo menos quatro coisas que podemos fazer no sentido de corresponder às expectativas dos homossexuais da nossa igreja. Quais sejam:

1) Conhecimento. Penso que muitos membros da igreja, incluindo pastores, ainda veem a homossexualidade como simplesmente uma perversão sexual que as pessoas escolhem, provavelmente por “diversão”. A verdade é que as pessoas não escolhem conscientemente a orientação sexual. Ninguém acorda e pensa: “ah, hoje vou ser gay”. Ser homossexual na nossa sociedade é um caminho extremamente difícil por conta do preconceito, discriminação e a violência. Se fosse uma escolha, as pessoas não escolheriam ser homossexual. Nos séculos XX e XXI, diversos cientistas declararam que a homossexualidade era um conceito identitário inato. Ora, se a homossexualidade é inata, não é uma escolha. A escolha do homossexual é adotar ou não a prática homossexual. É evidente que o debate ainda acirra, tanto nos círculos científicos como religiosos, sobre a causa da homossexualidade. A minha conclusão pessoal, baseada em algumas leituras, observações e conversas com um bom número de homossexuais, é que a homossexualidade é determinada geneticamente, ou seja, a pessoa nasce gay, resultante de alterações químicas do DNA.

É óbvio, não tenho a pretensão de ser um especialista nesse assunto. Existem muitas opiniões diferentes e não creio que alguém compreenda totalmente este problema complexo. Mas se você realmente deseja ajudar os homossexuais e suas famílias, você deve a eles se tornarem mais conhecedores dessas complexidades.

Sobre isso, o médico brasileiro Dráuzio Varella afirmou: “A homossexualidade tem forte componente genético. Diversos estudos com gêmeos univitelinos demostraram que, quando um deles é homossexual, a probabilidade de o outro também o ser varia de 20% a 50%, ainda que separados quando bebês e criados por famílias estranhas. Nas duas últimas décadas, acumulamos evidências científicas suficientes para afirmar que a homossexualidade está longe de ser mera questão de escolha pessoal ou estilo de vida. É condição enraizada na biologia humana. Nunca houve nem existirá sociedade em que a homossexualidade esteja ausente. O estudo mais completo até hoje, realizado por Bailey e colaboradores da Austrália, mostrou que 8% das mulheres e dos homens são homossexuais. [...] A homossexualidade é um fenômeno de natureza tão biológica quanto a heterossexualidade. Esperar que uma pessoa homossexual não sinta atração por outra do mesmo sexo, é pretensão tão descabida quanto convencer heterossexuais a não desejar o sexo oposto”.5

Quando você entende isso, você começa a perceber algumas das dificuldades que os homossexuais enfrentam, especialmente aqueles que foram criados num lar religioso. Condicionados pela atitude da sociedade e da igreja em relação aos homossexuais, mas reconhecendo esta coisa terrível em si mesmos, eles aprendem cedo a negar uma parte da sua personalidade e a usar uma máscara protetora perto dos outros.

2) Abertura. O estigma associado ao fato de ser homossexual gera sigilo e vergonha. A igreja deve proporcionar um lugar seguro onde aqueles com esta orientação possam ser honestos sobre o seu problema. Eles precisam de um lugar onde possam falar sobre suas emoções confusas e os problemas espirituais resultantes, um lugar onde outros envolvidos na batalha contra o pecado orem com eles e por eles.

Assim, depois de ter deixado de lado a sua própria ignorância e preconceito, você pode ajudar a educar a sua igreja e encorajá-la a enfrentar o fato de que uma minoria significativa dos nossos membros luta contra uma orientação homossexual.

3) Apoiar. Acredito que há uma necessidade premente de que a nossa igreja forneça um grupo de apoio publicamente reconhecido para aqueles homossexuais que desejam viver um estilo de vida celibatário. Precisam experimentar a calorosa aceitação e apoio de outros membros da igreja, que compreendem que, como qualquer pessoa envolvida numa guerra séria contra o pecado, podem não vencer todas as batalhas. Precisamos mostrar-lhes o mesmo perdão e paciência que mostramos a alguém que ocasionalmente cede à tentação do orgulho, do ciúme ou do adultério. Como afirmou Ellen White, “aqueles que têm o Espírito de Cristo verão todos os homens pelos olhos da compaixão divina”.6

Provavelmente esse artigo será lido por pais de filhos gays. Certamente, uma das primeiras perguntas que ocorrem aos pais cristãos depois de descobrirem que seu filho é homossexual é: Meu filho estará perdido? Geralmente isso ocorre porque eles não entendem a diferença entre orientação homossexual e comportamento homossexual.

Queremos tranquilizá-los de que Deus ama e quer salvar a todos, inclusive seus filhos gays. Um dos textos mais belos das Sagradas Escrituras nos assegura: “[...] Ele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue” (Ap 1:5, NVI). Com quanta simplicidade fala-nos ao coração esse verso bíblico! “Ele nos ama”. Como é bom sabermos que a afirmação é verdadeira, sob quaisquer circunstância. Quão bondoso é Jesus, que nos permite saber disso!

Ele não responsabiliza as pessoas por uma condição sobre a qual elas não têm escolha – apenas pela maneira como escolhem se relacionar com ela. E se fizerem a escolha errada, ainda assim Deus continua a amá-las, não os abandona e podem ser levados pelo Espírito Santo a arrepender-se dessa escolha. A Mensageira do Senhor escreveu os poderosos pensamentos: “Conheço as vossas lágrimas; também Eu chorei. Aqueles pesares demasiado profundos para serem desafogados em algum ouvido humano, Eu os conheço. Não penseis que estais perdidos e abandonados. Ainda que vossa dor não encontre eco em nenhum coração na Terra, olhai para Mim e vivei”6.

 

“Cristo jamais abandonará a alma por quem morreu. A pessoa poderá deixa-Lo, e ser vencida pela tentação; Cristo, porém, jamais se desvia daquele por quem pagou o resgate com a própria vida”.8

4) Amor. A necessidade emocional mais profunda e básica do ser humano é de amor e companheirismo. Todos nós nascemos com a necessidade de amar e ser amado. Os heterossexuais solteiros podem satisfazer esta necessidade, até certo ponto, partilhando as suas vidas com um colega de escola ou da igreja do mesmo sexo, mas mesmo isto é problemático e provavelmente não é possível para o homossexual. Assim, a vida deles é muitas vezes a mais solitária. A solidão, o isolamento e a confusão são sentidos por eles à medida que reconhecem que os seus sentimentos de atração emocional e sexual são diferentes e inaceitáveis.

Reconhecendo isto, a igreja deve alcançá-los com amor, incluindo-os como membros queridos da família de Deus, em compensação pelos desejos normais de lar e família, aos quais devem renunciar.

A própria igreja será bem recompensada pelos seus esforços para encorajar e reter os seus membros homossexuais não praticantes. Como grupo, são conhecidos por serem altamente abençoados com dons de natureza artística, que podem oferecer no serviço de Deus.

Os pais de gays, por sua vez, precisam compreender que as duas coisas mais importantes que podem fazer por seu filho ou filha são mostrar o mesmo amor incondicional que Deus nos mostrou quando ainda éramos pecadores (Rm 5:8) e orar para que o Espírito Santo opere uma mudança radical na vida de seus filhos. Muitas vezes as coisas podem piorar antes de melhorarem, mas o amor, a compreensão, o apoio e a aceitação dos pais e dos membros da igreja podem acelerar a reconciliação dos filhos com Deus. Muitos pais acham que devem lembrar continuamente aos filhos que o que eles estão fazendo é errado, e que se não fizerem isso serão vistos como tolerantes com o comportamento pecaminoso. Mas isso apenas os afasta da família e também de Deus. O Espírito Santo pode realizar o que nós não podemos. Além disso, de qualquer forma, não é uma pessoa que coloque na “cara” cotidianamente que ele está pecando que o homossexual está realmente procurando. Em vez disso, sua necessidade desesperada é de alguém que ouça, com amor e sem julgamento, enquanto ele finalmente expressa todos os sentimentos reprimidos.

CONCLUSÃO

Acredito que será um sinal de maturidade espiritual da nossa igreja quando reconhecermos que este problema complexo afeta a nossa comunidade, quando estivermos dispostos a trazê-lo à luz e discuti-lo com honestidade, franqueza, sem homofobia e quando oferecermos apoio solidário àqueles que lutam com uma das mais confusas e dolorosas consequências do pecado sobre a raça humana.

Quão maravilhoso seria se a nossa igreja pudesse liderar a demonstração de carinho e compaixão cristã para com os homossexuais, nem discriminando-os por uma orientação sobre a qual eles não têm controle final, nem encorajando-os a aceitar algo menos do que o melhor de Deus para suas vidas, mas em vez disso, apoiá-los com amor e compreensão enquanto procuram seguir a vontade de Deus. Minha oração é que você, caro irmão e irmã, ajude a fazer isso acontecer na sua igreja.

REFERÊNCIAS:

1. Zelota: Um evangelho da fé popular. Saša Gunjević é primeiro pastor bissexual adventista credenciado. Disponível em: https://revistazelota.com/sasa-gunjevic-e-primeiro-pastor-bissexual-adventista-credenciado/ > Consultado em 19 de junho de 2024.

2. Romanos 1:26-27; Levítico 18:22; 1Coríntios 6:9; 1Timóteo 1:10, 11.

3. WHITE, Ellen G. Conduta Sexual: Testemunhos sobre abuso, homossexualidade, adultério e divórcio. Tatuí, SP: CPB, 2011, p. 90.

4. _________________. Testemunhos Para a Igreja. Tatuí, SP: CPB, 2007, v. 5, 353.

5. Drauzio Varella. Homossexualidade, DNA e a Ignorância. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/homossexualidade-dna-e-a-ignorancia-artigo/ > Consultado em 20 de junho de 2024.

6. WHITE, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações. Tatuí, SP: CPB, 2004, p. 483.

7. _____________. O Maior Discurso de Cristo. Tatuí, SP: CPB, 2014, p. 118, 119.

8. _____________. The Sings of the Times, 20 de junho de 1892.

 

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 8 de junho de 2024

PARTIR O PÃO E O SÁBADO


 George E. Rice

Atos 20:7 contém as sementes para mudar o dia de adoração do sábado para o domingo?

Como um jovem pastor, tive inúmeras discussões com clérigos não-adventistas sobre o sábado do sétimo dia. Ao defenderem o domingo, esses pastores inevitavelmente apelariam para Atos 20:7 em busca de apoio. “No primeiro dia da semana, quando estávamos reunidos para partir o pão, Paulo conversou com eles, pretendendo partir no dia seguinte; e prolongou o seu discurso até meia-noite.”* Esta passagem, disseram, apoia o domingo como o dia do Senhor em dois relatos: (1) Paulo e os cristãos em Trôade reuniram-se no primeiro dia da semana para celebrar a Eucaristia, como fica evidente nas palavras “para partir o pão”; e (2) Paulo estava pregando aos crentes reunidos.

Lembrando-me das discussões dos anos anteriores, tentei dar uma nova olhada neste texto. Mais recentemente, porém, os estudiosos do Novo Testamento usaram Atos 20:7 para mostrar que as sementes da mudança do dia de adoração do sábado para o domingo podem ser encontradas no ensino e na prática de Paulo, enquanto a mudança real ocorreu no segundo século.

SINTAXE DA PASSAGEM

Os dois pontos-chave da sintaxe que ajudam a nossa compreensão deste versículo são um infinitivo de propósito (klasai) e um particípio causal (mellon). Primeiro, o particípio causal. O texto diz que Paulo conversou com o povo “pretendendo partir amanhã”. A palavra “pretendendo” (mellon) é um particípio causal que dá razão para a pregação de Paulo porque ele estava prestes a partir. Nenhuma outra razão é dada para este sermão, e impor a mudança do sábado como a razão pela qual Paulo pregou é violar o texto.

O infinitivo de propósito klasai (quebrar) dá uma ideia do motivo pelo qual a igreja em Trôade se reuniu naquele primeiro dia da semana específico. Eles se reuniram com o propósito de partir o pão. No Novo Testamento 15 textos falam do ato de partir o pão. Cinco deles tratam diretamente da Eucaristia (Mateus 26:26; Marcos 14:22; Lucas 22:19; 1 Coríntios 10:16; 11:24). Quanto às 10 referências restantes, os comentaristas geralmente concordam que nove delas têm pelo menos uma conexão simbólica com a refeição eucarística (Mateus 14:19; 15:36; Marcos 8:6, 19; Lucas 24:30; Atos 2: 42, 46;​​​ ​Devido ao seu contexto, Atos 27:35 é poupado de uma interpretação eucarística.

PARTIR O PÃO NA IGREJA PRIMITIVA

Aqueles que relacionam as passagens acima de Atos (exceto Atos 27:35) com a Eucaristia apontam para a primeira aparição da “partição do pão” (Atos 2:42) como um precedente para a compreensão das passagens restantes. Examinemos o versículo: “E eles se dedicavam ao ensino e à comunhão dos apóstolos, à fração do pão e às orações”. A presença de uma vírgula na RSV que divide as quatro atividades desses primeiros cristãos em dois grupos leva o leitor a pensar que o ensino e a comunhão estão juntos e que o partir do pão e a oração estão juntos. Assim, seria fácil pensar nas duas últimas atividades como envolvendo a experiência de adoração da comunidade, a Eucaristia e as orações, e o ensino e a comunhão como o alcance evangelístico. A KJV, no entanto, divide essas quatro atividades em três grupos pelo uso de vírgulas: “a doutrina e a comunhão dos apóstolos, e no partir do pão, e nas orações”.

O uso de sinais de pontuação por editores ou tradutores altera a compreensão de um texto. Para os adventistas, o exemplo mais marcante disso é Lucas 23:43: “E ele lhe disse: 'Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.'” Reconhecemos que a multidão de passagens bíblicas que apresentam a morte como um sono argumenta contra colocar uma vírgula depois de “você”. Da mesma forma, a colocação de vírgulas em Atos 2:42 também pode confundir o seu significado. Se as vírgulas forem removidas desse versículo, um quiasma aparece imediatamente para esclarecer o significado da fração do pão na igreja primitiva: (a) ensino; (b) comunhão; (b') partir o pão; e (a') oração.

O ensino e a oração dos apóstolos (a e a') eram as atividades espirituais da igreja primitiva, enquanto a comunhão e o partir do pão eram as atividades sociais. Assim, Atos 2:42 introduz o sistema de apoio adotado pela igreja primitiva após o Dia de Pentecostes para cuidar das necessidades espirituais e sociais dos novos convertidos.

No final de Atos 2 encontramos evidências adicionais de que o partir do pão está relacionado com atividades sociais, não com a Eucaristia: “E dia após dia, frequentando juntos o templo e partindo o pão em suas casas, comiam com alegria e generosidade. corações" (Atos 2:46). Obviamente, partir o pão era simplesmente compartilhar uma refeição comum.

CONCLUSÃO

Embora estudiosos não sabatistas usem Atos 20:7 para defender o domingo como o dia do Senhor, a evidência interna do texto não apoia tal uso. A fração do pão em Atos 2:42 é uma refeição comum, parte do sistema de apoio social para os convertidos da igreja primitiva. Atos 2:46 e 27:35 também tratam de refeições comuns. Com base no peso das evidências encontradas ao longo de Atos, o partir do pão em Atos 20:7,11 deve, da mesma forma , representar um evento social, na verdade, em uma noite de sábado, sem conexão com a Eucaristia. Não há suporte para a observância do domingo.

 

George E. Rice, Ph.D., é pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Triadelphia, Columbia, Maryland.

 

* Todas as passagens bíblicas neste artigo são da Versão Padrão Revisada.

 

FONTE: Revista Ministry Magazine, outubro 1997.


sexta-feira, 7 de junho de 2024

NAUFRÁGIOS NA FÉ: COMO EVITÁ-LOS?

Ricardo André

Texto bíblico: “Conservando a fé e a boa consciência, que alguns colocaram de lado e naufragaram na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1 Timóteo 1:19, 20, BKJ Fiel 1611).

INTRODUÇÃO:

Queremos nessa mensagem refletir sobre a importância de mantermos nossa fé e uma boa consciência. O apóstolo Paulo, ao escrever a Timóteo, nos dá uma orientação poderosa e nos alerta sobre os perigos de não preservar esses valores essenciais em nossa caminhada cristã.

Quando o apóstolo Paulo escreveu sua primeira Epístola a Timóteo, os naufrágios de embarcações eram muito comuns. O Novo Testamento registra pelo menos quatro experiências de Paulo com naufrágios (2 Co 11:25 e Atos 27). O quarto naufrágio sofrido por Paulo, conforme Atos 27, ocorreu quando ele era levado preso para ser julgado em Roma. No barco que afundou, havia além de cargas, 276 pessoas! (At 27:37). Porém, o pior tipo de naufrágio é o “naufrágio na fé”. Paulo menciona dois indivíduos específicos, Himeneu e Alexandre, que naufragaram na fé, ou seja abandonaram a fé e defendiam ideias espúrias contrárias as Sagradas Escrituras, causando agitação na igreja de Éfeso. Quem eram Himeneu e Alexandre? Há poucas informações a respeito desses dois homens na Bíblia. O que se sabe é que ambos eram membros da igreja em Éfeso, e que rejeitaram uma boa consciência e como resultado disso, eles naufragaram na fé (v. 19), ou seja abandonaram a Cristo e as verdades do evangelho. Himeneu é citado mais adiante como um dos que “se desviaram da verdade", pois pregava que a ressurreição já havia ocorrido (2Tm 2.17-18). “Provavelmente, o mestre de doutrinas falsas” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 299). Já Alexandre era um empresário crente que trabalhava com bronze, ele era rebelde e havia criado muitos problemas, não aceitava conselhos nem admoestações do apóstolo Paulo: “Alexandre, o caldeireiro, me fez muito mal; o Senhor lhe recompense segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque ele resistiu muito às nossas palavras. (2 Tm, 4:14,15).

Paulo utiliza a metáfora de um naufrágio para descrever a queda espiritual daqueles que rejeitam a fé e a boa consciência. Assim como um naufrágio é uma destruição total de uma embarcação, a perda da fé pode levar a uma ruína espiritual completa.

Com poucas palavras, mas incisivas, o apóstolo descreve o destino desses dois homens, dizendo: “os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”. Confesso que quando li o versículo 20, a declaração “os quais entreguei a Satanás” foi chocante. E fui pressionado a procurar o significado dessa ideia. O que significa ser entregue a Satanás? É uma frase aterrorizante: entregue a Satanás. É incrível pensar que alguém seria entregue ao próprio diabo. De acordo com o Comentário Bíblico Adventista, “essa expressão se refere à remoção da igreja e era a última medida de disciplina que a comunidade da igreja poderia aplicar a um membro ofensor. Como o transgressor havia rejeitado um ou mais dos fundamentos da fé cristã, por seus próprios atos ele se havia separado do espírito e do corpo da igreja. Neste mundo só existem dois reinos espirituais, o de Deus e o de Satanás. A pessoa que renuncia a servir ao reino de Deus, automaticamente se coloca a serviço do reino de Satanás. A igreja não faz essa transferência, apenas ratifica a escolha feita pelo pecador” (v. 7, p. 299).

Que triste capítulo na história de pessoas que poderiam ter experimentado os Planos de Deus.

I – O NAUFRÁGIO DE DUDLEY M. CANRIGHT

Ao longo da história da Igreja de Deus, centenas de pessoas tragicamente foram engolfados pelas ondas violentas do mar da incredulidade. Perderam a confiança na genuinidade do adventismo, apartaram-se dos caminhos de Deus e naufragaram em sua experiência cristã, tornando-se, inclusive, inimigos da igreja. Entre esses encontramos Dudley M. Canright (1840-1919).

D. M. Canright tornou-se adventista do sétimo dia em 1859, depois de ter ouvido a pregação do pastor Tiago White no estado de Nova Yorque. Em 1961, “já se havia iniciado na obra ministerial com notável entusiasmo e evidente êxito. [...] Seus talentos naturais e o afã de exercer um ministério proficiente, projetaram-no como um dos mais respeitados pregadores no círculo ministerial adventista em seus dias” (Enoch de Oliveira, A Mão de Deus ao Leme [Tatuí, SP: CPB 1988], p. 181).

Caringht “foi um trabalhador incansável, um escritor prolífico e talvez o evangelista mais bem-sucedido da denominação no auge do seu ministério. Faltava-lhe, porém, estabilidade emocional. Em pelo menos quatro ou cinco ocasiões, durante as décadas de 1870 e 1880, ele abandonou o pastorado; algumas vezes, deixou de observar o sábado, sendo necessária a intervenção de Tiago White e George Butler para ajudá-lo” (Enciclopédia Ellen G. White [Tatuí, SP: CPB 2018], p. 369).

Em 1871, Ellen G. White recebeu uma visão do Senhor, contendo uma mensagem dirigida a Caringht e sua esposa Lucrécia, denunciando algumas de suas falhas de caráter. Mas, Ellen White somente apresentou-lhe a mensagem por meio de uma carta, dois anos depois, em 1873, quando os dois casais estavam juntos em um período de repouso num sítio em uma região montanhosa. (Idem, p. 182).

Ellen White intitulou a carta de “A um Jovem Pastor e Esposa”. Num trecho ela afirma: “Na visão que me foi dada, [...] foi-me mostrada sua vida passada. Vi que desde criança tem sido autoconfiante, teimoso e obstinado e tem seguido a própria vontade. [...] Você aceitou a verdade de Deus e a amou, e ela fez muito por você, mas não realizou toda a transformação necessária para o aperfeiçoamento de um caráter cristão” (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 304, 305).

Essas e outras observações mencionadas na carta, foram consideradas por Caringht demasiadamente severas e ofensivas. Por conta disso, desenvolveu e guardou ressentimentos contra Ellen White. Ele nunca aceitou bem ser repreendido. Depois desse episódio, viveu vários períodos de vacilações em sua carreira cristã.

Em 15 de outubro de 1880, Ellen White escreveu uma nova carta para Caringht, com o título “Apelo A D. M. Caringht”. Com palavras duras e sem rodeios, ela o censurou, dizendo: “Sempre tivestes o desejo de poder, da popularidade, e isto é uma das razões de vossa presente situação. [...] Quisestes ser muita coisa, e fizestes uma ostentação e um ruído no mundo, e em resultado disso, vosso sol certamente se porá em obscuridade” (Mensagens Escolhidas [Tatuí, SP: CPB 1986], v. 2, p. 163).

Em janeiro de 1887, decidiu abandonar a Igreja Adventista e se tornou membro da Igreja Batista. “No período em que foi realizada a Assembleia Geral de 1888, Canright estava escrevendo seu livro “Seventh-Day Adventism Renounced” (Adventismo do Sétimo Dia Renunciado), no qual apresentava Ellen White como falsa profetisa, bem como empregando argumentos falaciosos tentou demonstrar que as crenças adventista eram falsas. Ele lutaria contra Ellen White e a IASD pelo restante da vida. Por mais estranho que possa parecer, ele compareceu ao funeral dela. De acordo com o irmão dele, Dudley ficou 'em pé ao lado do esquife da Sra. White, com uma mão apoiada no braço do irmão e a outra no caixão. Com lágrimas nos olhos, disse: 'Morreu uma nobre cristã' (Enciclopédia Ellen G. White, p. 370).

“Sua ex-secretária, entretanto, em um livro escrito 50 anos após sua morte, descreve-o vivendo intermitentes períodos de angústia e aflição, quando então, perplexo, repetia: ‘Sou um homem perdido! Perdido! Perdido!’” (Carrie Johnson, I Was Caringht’s Secretary, p. 134, 135. Citado em A Mão de Deus ao Leme [Tatuí, SP: CPB 1988], p. 186).

Seus últimos anos de vida foram muitos difíceis e melancólicos. Sofreu bastante humilhações, dificuldades financeiras e o ostracismo. Teve uma de suas pernas amputadas como resultado de um acidente. Inválido, viu sua saúde deteriorar-se rapidamente. No dia 12 de maio de 1919, após muitas aflições e desenganos, Caringht faleceu. “As palavras – “o vosso sol se porá em obscuridade”, cumpriram-se com assombrosa precisão” (A Mão de Deus ao Leme [Tatuí, SP: CPB 1988], p. 187).

I – MANTENDO A FÉ

Himeneu, Alexandre e Caringht são exemplos de pessoas que rejeitaram a boa consciência e, consequentemente, se desviaram da fé, praticando a blasfêmia. Como eles centenas de professos cristãos estão naufragando na fé. O navio da fé dessas pessoas se estilhaçaram nas rochas ocultos sob a água. Um dos problemas mais sérios que preocupam a nossa igreja é justamente o das apostasias. Isto inclui, até certo ponto, membros que faltam sistematicamente aos cultos e aqueles que se dissociam completamente da igreja. A frase “abandonei a igreja, mas não deixei Deus” tornou-se o lema de milhares de pessoas que se autointitulam “desigrejadas”, composta por crentes em Jesus que preferem permanecer separados do corpo de Cristo. Há diversos fatores que levam as pessoas a naufragarem na fé. Fatores como imaturidade espiritual, desavenças entre irmãos, descrédito com a liderança e discordâncias doutrinárias encabeçam a lista de motivos pelos quais as pessoas abandonam a igreja.

No tempo em que Paulo escreveu, um naufrágio era algo descoberto muito tempo depois pelo fato do navio nunca chegar ao destino. Os naufrágios raramente eram súbitos, mas sim o resultado de anos de infiltrações e descuido do barco. O porão ia enchendo de água e, de repente, o navio não podia mais flutuar. Similarmente, a apostasia não acontece da noite para o dia. O processo é muito lento. Uma pequena mudança aqui, uma pequena concessão ali, um pouco menos de rigidez, a fim de acompanhar o momento, ou para ser relevante, ou para se adequar melhor às tendências da sociedade e da cultura. Pouco a pouco, passo a passo e, depois de algum tempo, um cristão poderá está fazendo coisas que, talvez em alguns anos atrás considerava com horror. Não obstante os valores serem eternos e inegociáveis, muitos de nós estamos negociando princípios, quando vamos às compras antes mesmo do pôr do sol durante o sábado e consideramos isto correto. Alguns se sentem livres para assistir aulas na sexta-feira à noite, fazer uma prova no sábado. Outros não veem problemas no uso de joias, a falta de modéstia e os estilos ‘sexy’. Outros veem matéria pornográfico na internet mesmo sabendo que esse pecado habitual destrói a força de vontade e a vida espiritual. Outros assistem programas de televisão sem selecionar os conteúdos, adotam a dança, o sexo antes do casamento e a música rock. Aceita-se o consumo moderado de bebidas alcoólicas e abandoná-lo não é uma condição requerida para o batismo. O destino de qualquer pessoa, que não guardar com zelo e cuidado as sagradas verdades e princípios que lhe foram dadas pelo Senhor é o naufrágio na fé.

A pergunta de capital importância é: Como evitar o caminho da apostasia e preservar a fé no Senhor? A Bíblia diz que pode prevenir um naufrágio. O texto de Paulo afirma no próprio verso 19 que Timóteo deveria manter duas coisas: fé e boa consciência. A construção é curiosa, pois o texto afirma que rejeitando a boa consciência pode-se naufragar na fé. A boa consciência é um coração puro e uma vida íntegra diante de Deus e dos homens. Paulo exorta Timóteo a manter uma consciência limpa, pois ela é vital para um testemunho eficaz e para a nossa paz interior.

a) Como manter a fé?

A vida moderna, cada dia mais neurotizante, está destruindo um dos maiores recursos de que o cristão jamais deve prescindir, sob pena de perecer espiritualmente. Referimo-nos à meditação bíblica diária. Sem dúvida, a comunhão e uma experiência genuína e autêntica com Deus ajudam os crentes a prosseguir na caminhada cristã.

Estudo da Palavra: Sobre a importância da meditação diária, Ellen White escreveu: “Todos quantos se acham sob as instruções de Deus precisam da hora tranquila para comunhão com o próprio coração, com a natureza e com Deus. [...] Quando todas as outras vozes silenciam e, em sossego, esperamos diante Dele, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus” (A Ciência do Bom Viver [CPB 2015], p.58). Ela ainda escreveu: “Que o estudante mantenha a Bíblia sempre consigo. Tendo oportunidade, leia um texto e medite nele. Enquanto caminha, aguarda uma condução ou espera alguém, deve aproveitar a oportunidade para obter algum pensamento precioso extraído do tesouro da verdade” (Educação [CPB 2021], p. 135, 136).

Portanto, precisamos de “hora tranquila” a cada dia para alimentar nossa fé através do estudo e meditação nas Escrituras Sagradas. Precisamos separar alguns momentos para um recolhimento no qual nosso único interlocutor seja Deus. A fim de examinarmos, então, nosso próprio comportamento, a consciência e a vida espiritual.

Não há nada que ajude a evitar apostasias como o estudo da Bíblia e a oração particular. Se cada um estudasse a Bíblia e a lição da Escola Sabatina todos os dias, receberia ensinamentos inestimáveis. A irmã White escreve: “Muitos se afastarão da fé e darão ouvidos a espíritos sedutores. 'Patriarcas e Profetas' e 'O Grande Conflito' são livros especialmente adaptados aos recém-chegados à fé, para que possam ser estabelecidos na verdade.” (Evangelismo, p. 264).

Outro aspecto fundamental é a solidez doutrinária da Igreja Adventista. Lamentavelmente, temos visto cada vez mais adventistas “analfabetos doutrinário”, que conhecem de forma superficial as crenças adventistas.  Se você não sabe no que crê, então crerá naquilo que os outros lhe dizem para crer. Portanto, precisamos separar um tempo para o estudo profundo das crenças adventistas. Isso permite que solidifiquemos a fé e desejemos permanecer ligados ao corpo de Cristo. É coisa monótona para muitos; mas resolve!

Oração: A comunicação constante com Deus fortalece nossa confiança Nele. Através da oração, derramamos nosso coração diante do Senhor e recebemos Sua paz e direção. O apóstolo Paulo, um dos gigantes do cristianismo, apelou aos tessalonicenses: “orai sem cessar” (1 Ts 5:15). O mesmo conselho se estende também a nós. Ellen White escreveu: “A oração é uma necessidade, pois é a vida da alma. [...] É a comunhão pessoal com Deus que sustenta a vida espiritual” (Educação [CPB 2021], p. 184).

Dois grandes perigos estão a ameaçar o povo que aguarda a volta de Jesus. O primeiro são as orações esporádicas, bissextas. Orar esporadicamente é ceder terreno ao inimigo. “Entre os perigos destes últimos dias, a única segurança dos jovens reside numa crescente vigilância e oração” (Ellen G. White, Mensagens aos Jovens [CPB 2007], p. 247). O segundo são as orações mecânicas, surradas, que não exercem ligação alguma entre a alma e Deus. Não há comunicação porque aquele que ora não está em sintonia com o Céu.

Por esta e outras razões, muitos estão naufragando na fé. Nossas células espirituais estão perecendo em face do “gás carbônico” do mundanismo. É necessário, pois, que respiremos o oxigênio do Céu, e isto de manhã, ao meio dia e à noite, pelo menos. O ideal, porém, é estarmos continuamente conectados com o Altíssimo. Em relação a isso, Ellen White escreveu: “Enquanto empenhados em nosso trabalho diário, devemos erguer a alma ao Céu em oração. Essas silenciosas petições ascendem como incenso perante o trono da graça; e o inimigo é confundido” (Mensagens aos Jovens [CPB 2007], p. 249).

Comunhão com outros: Estar em comunhão com outros crentes também nos ajuda a fortalecer nossa fé. Sobre isso, o apóstolo Paulo dá-nos um importante conselho, que tem uma aplicação no tempo em que vivemos: “Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima” (Hb 10:25, NAA). Ellen G. White afirmou que “os cânticos de louvor, a oração, a palavra ministrada pelos embaixadores do Senhor, são os meios que Deus proveu para preparar um povo [...] para aquela reunião sublime à qual coisa alguma que contamine poderá ser admitida” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 491). O cristianismo nunca é uma experiência solitária. De fato, as Escrituras Sagradas desconhecem cristianismo fora do corpo de Cristo. A igreja é um corpo, e juntos nos edificamos e encorajamos, fortalecemos e somos fortalecidos. Assim como a mão, o olho ou o pé não podem existir independentemente dos outros membros, não podemos “viver” a vida cristã sozinhos. Os relacionamentos também desempenham um papel decisivo. Jovens que têm amigos na igreja tendem a permanecer mais firmes na fé. A amizade permite que a comunhão com Deus e os conhecimentos doutrinários sejam ecoados em outras pessoas. Além disso, sentir-se parte de um grupo e se identificar com ideais comuns funciona como uma liga que nos prende a Cristo e à igreja.

Escolher tornar-se um “desegrejado” por conta de desavença com outro crente ou por discordar da administração da igreja não é a melhor escolha tampouco melhor caminho. É perder as bênçãos da adoração. Mesmo com falhas e defeitos, a igreja ainda é um lugar de refúgio, cura e relacionamentos duradouros. É na comunhão dos crentes que a graça de Deus é experimentada e compartilhada. Assim, esse “edifício” que hoje está em construção, formado por um exército de pecadores salvos pela graça, muito em breve chegará triunfante ao Céu e terá o privilégio de se unir à família celestial.

Testemunho: Cristo nos chamou para proclamar as boas novas de salvação a todas as pessoas (Mt 28:18-20). “Seja qual for a vocação de uma pessoa na vida, seu primeiro interesse deve ser ganhar almas para Cristo” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p, 822). Quem testemunha da fé nunca a abandona. Não dá para sentir permanentemente a paz de Jesus Cristo se eu não disser a outros. Quer ter a vida eterna? Diga a todos. Jesus pede que façamos discípulos. Discipulado é oferecer o que foi recebido de Jesus, projetando a vida Dele em outra vida. Não é simplesmente prepara alguém para o batismo, mas para o Céu. Envolve compartilhar os ensinos da Bíblia, mas desenvolver a fé do novo discípulo. Ajudando aos outros chegarem no céu, estou eu caminhando na mesma direção. Quando testemunho além de ajudar pessoas a se salvarem, estou trazendo salvação para mim mesmo.

Uma vida que dedica a primeira hora do dia para Deus, que desenvolve seus relacionamentos e tem o foco na missão é uma vida que não abandonará a igreja, Jesus e a salvação.

Fomos comissionados por Deus para pregar as verdades do evangelho eterno (Jo 14:6, 7). Combatê-las é incorrer num grave erro que põe em risco nossa vida espiritual, o risco de “naufragar na fé”, como foi a dolorosa experiência de muitos no passado (1Tm 1:19).

CONCLUSÃO:

Queridos irmãos e irmãs, somos chamados a manter nossa fé e uma boa consciência. Isso requer um compromisso diário com Deus, através do estudo da Sua Palavra, oração, comunhão com os outro e testemunho. Não permitamos que nossa fé naufrague por rejeitarmos uma boa consciência. Em vez disso, busquemos viver de forma íntegra e alinhada com a vontade de Deus, sabendo que Ele é fiel para nos sustentar em nossa caminhada cristã.

Permanecer na igreja é antes de tudo um sinal de permanência em Jesus. Para que isso seja uma realidade para você, tenha uma vida de comunhão, conheça profundamente as doutrinas que abraçou e mantenha relacionamentos verdadeiros na igreja. Esses fatores vão ajudar a ligar você a Deus e à Sua igreja.

Oremos para que o Senhor nos ajude a manter nossa fé firme e uma consciência pura, para a Sua glória e honra. Que eu e você alimentemos nossa mente dos valores de Deus. Que nossos ouvidos estejam atentos à direção do Espírito Santo e que possamos afirmar no final da vida como Paulo: Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. (2 Tm 4:7).