Teologia

domingo, 26 de maio de 2024

161 ANOS DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Ricardo André

No dia 20 de maio de 2024 completou 161 anos desde o dia em que começou a reunião que organizou formalmente a Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, em Battle Creek, Michigan, EUA, com a presença de 20 pastores e leigos representantes das associações estaduais1. No dia seguinte, 21 de maio de 1863, John Byington foi nomeado e aprovado como o primeiro presidente da Conferência Geral na história da Igreja Adventista do Sétimo Dia. “Tiago White foi escolhido de forma unânime para o cargo, mas sabiamente recusou a indicação, em virtude de seu forte papel em defesa da organização”2 Nesse dia, a igreja foi oficialmente estabelecida, quando o movimento já se compunha 3.500 membros.3

A organização da Associação Geral da IASD foi fundamental para assegurar a unidade da igreja e a difusão das três mensagens angélicas de Apocalipse 14 em todo o mundo. A extensão do programa missionário só foi possível por meio dessa organização, que passou a coordenar a obra da igreja em todo o seu espectro geográfico.

161 anos depois, a Igreja Adventista continua sendo coordenada pela Associação Geral, com pequenas regiões administradas por divisões, uniões, associações e missões locais. Possuía em 2022 mais de 22 milhões de membros, com igrejas em 213 países e territórios, e 97. 811 igrejas.4 Caso os pioneiros adventistas ressuscitassem hoje, ficariam espantados ao perceber que, aquilo que eles começaram, Deus levou a quase todo o mundo. Eles veriam milhões de pessoas a frequentar semanalmente as igrejas adventistas, um milhão de novos membros a serem adicionados a cada ano e muitos, muitos outros que se beneficiam do trabalho de educação e saúde da Igreja.

O êxito dos Adventistas do Sétimo dia no mundo deve-se ao fato de que, desde o seu surgimento, possuem a convicção de que seu movimento havia sido predito por Deus para proclamar as três mensagens angélicas a todo o mundo, imediatamente antes da volta de Jesus (Ap 10:1-11; 12:17; 14:6-12). Eles sempre acreditaram que eram portadores de uma mensagem profética que deveria ser proclamada a todas as nações do mundo. Essa mensagem está descrita em Apocalipse 14:6-12. O estudo e a interpretação das profecias de Daniel e Apocalipse gerou esse senso de urgência e os impulsionou à missão.

De acordo com o historiador da igreja George Knight, “desde o começo, os sabatistas nunca se viram meramente como mais uma denominação. Ao contrário, entenderam que seu movimento e sua mensagem eram parte de um cumprimento profético. Eles viam a sim mesmo como povo profético”5

O Remanescente fiel do tempo do fim

Apocalipse 12 ensina claramente que Deus terá uma igreja remanescente no tempo do fim. Depois de descrever a história da igreja cristã (sob o simbolismo de uma mulher), desde o tempo de Jesus (a criança no versículo 5) até o final dos 1.260 anos (538-1798), o Apocalipse diz: “E o dragão irou-se com a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo” (BJK Fiel 1611). Note que a profecia fala que há um “remanescente” ou “os restantes”, na maioria das versões, da mulher (Igreja). Vendo que não foi capaz de exterminar o povo fiel de Deus, Satanás fica irado com um grupo específico chamado “o resto da sua descendência” ou “o remanescente da sua semente” – a igreja remanescente. O foco agora não está na mulher (símbolo do povo fiel de Deus ao longo dos tempos), mas neste grupo específico, “o resto da sua descendência”, ou a igreja remanescente, identificado como “os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo. Logo, o remanescente do tempo do fim é fiel a Deus. Mas, o que significa a expressão “remanescente”?

É preciso entender dois pontos neste sentido. 1º) Precisamos interpretar a referida expressão à luz do contexto. Os versos 1 a 16 do capitulo 12 enfatizam várias vezes que o diabo atuou furiosamente contra a Cristo e Sua igreja, que é representada por uma mulher virtuosa, ao longo da história. Desde o século I, passando pela tenebrosa Idade Média, chegando ao século XIX. No verso 17 do capítulo a profecia chama a nossa atenção para o “remanescente” ou “os restantes” da descendência da mulher. 2º) Não há no texto indicativos de que surgirão diversos “remanescentes” como cumprimento de Ap 12:17. No decorrer da História, quando a maioria se afastou de Deus, Ele sempre manteve um remanescente fiel, com a missão especial de levar avante a obra de Deus na Terra, preservando Sua verdade e transmitindo-a aos que os rodeiam (Gn 45:7; 1 Reis 19:14, 18; Is 10:20-22; 37:31; 2 Reis 19:4, 30; Jr 23:3; 50:28). Esse remanescente fiel de Apocalipse 12:17 refere-se os fiéis servos de Deus que restariam após o fim dos 1260 anos em 1798 (Ap 12:6, 14-16). De acordo com Daniel 12:7-9, essa data marca o início do “tempo do fim”.

Penso que a questão vital é: Quem é o “remanescente” de Ap 12:17?

A Igreja Adventista do Sétimo dia

“Desde os primórdios, os adventistas do sétimo dia têm proclamado as três mensagens angélicas (Ap 14:6-12) como o último apelo de Deus para os pecadores aceitarem a Cristo e creem que seu movimento corresponde ao “remanescente” do Apocalipse. Nenhum outro grupo religioso proclama essa mensagem completa e nenhum outro apresenta as característica citadas em Apocalipse 12:17. Logo, nenhum outro tem um motivo válido e bíblico para afirmar ser o remanescente.

“No entanto, os adventistas rejeitam enfática e inequivocamente qualquer pensamento de serem os únicos filhos de Deus e de terem lugar garantido no Céu. Creem que todos que adoram ao Senhor com sinceridade, isto é, nos termos de toda a vontade revelada que compreendem, são membros em potencial do último grupo remanescente mencionado em Apocalipse 12;17. Os adventistas creem ter a tarefa solene e o privilégio de tornar claras e persuasivas as verdades divinas distintivas a ponto de atrair todos os filhos de Deus a esse grupo profeticamente predito, que se prepara para o dia do Senhor”6

Os adventistas se definem desta forma com base em uma exegese cuidadosa de certos textos do Apocalipse. Quais são esses textos, e por que os adventistas veem neles a sua identidade como “a igreja remanescente”? Há pelo menos sete indicações nas passagens de Apocalipse 10; 12:14-17; 14:6-14, que nos ajudam a identificar o “remanescente” da semente da mulher como sendo os Adventistas do Sétimo Dia. Vejamos:

1) O fator do tempo. Esta última etapa da Igreja de Deus ocorreu depois de 1798, isto é, depois dos 1. 260 dias/anos de isolamento no deserto (Ap 12:6,14). Os ADS surgiram depois de 1798. Como já mencionamos acima, a Associação Geral foi organizada em 1863.

2) O Movimento de 1844. O remanescente fiel surgiria “como resultado do desapontamento de 1844 predito em Apocalipse 10, assim como a Igreja Primitiva surgiu do desapontamento da cruz”7 (Daniel 8:12-14; Ap 10). De fato, a IASD surgiu depois do desapontamento sofrido por Guilherme Miller e os mileritas, que por um erro de interpretação da Daniel 8:14, aguardaram a volta de Jesus em 22 de outubro de 1844, data que marca o término do grande período profético dos 2 300 anos. É verdade que Jesus não veio como os mileritas pensavam. Mas, um pequeno grupo de crentes desapontados descobriram nova luz bíblica – a verdade de que Cristo entrou na fase final de Seu ministério sumo-sacerdotal no Santuário Celestial, após o qual Ele vai finalmente voltar para redimir Seu povo. Assim nasceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia, com sua fé firmemente ancorada no breve retorno de Jesus e com o compromisso de pregar toda a verdade como é em Jesus. O ano de 1844 é, de fato, importante para o nascimento da IASD.

3) Os Dez Mandamentos. Visto que o “remanescente” é apresentado como “os que guardam os mandamentos de Deus”, é óbvio que eles enaltecem os Dez Mandamentos, inclusive o quarto, que ordena a observância do sábado (Ap 12:17; 14:12; Êx 20:8-11). Assim, um dos sinais de identificação da igreja remanescente é a sua lealdade aos mandamentos de Deus – todos os Seus mandamentos, incluindo o quarto, o mandamento do sábado.

Obviamente, que no tempo dos apóstolos, ou da igreja primitiva, isto não teria sido um sinal especial porque todos guardavam o sábado; mas hoje, quando a maioria dos cristãos “guarda” o domingo, o sábado tornou-se de fato uma marca distintiva. É fato que a IASD exaltam todos os mandamentos da Lei de Deus e procuram restaurar o sábado do sétimo dia, que tem sido amplamente desprezado e espezinhado pela imensa maioria das igrejas cristãs. A frase na mensagem do primeiro anjo: “E adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das água” (Ap 14:7), é uma alusão a Êx 20:11, que faz parte do quarto mandamento. A mensagem do primeiro anjo nos convida a adorar o Criador lembrando-nos do santo sábado do sétimo dia.

4) O dom de profecia. Ap 12:17 diz-nos que o “remanescente” tem “o testemunho de Jesus”, que em Ap 19:10 é definido como “o Espírito de Profecia”, isto é, “o dom de profecia” (1 Co 13:2). “A relação entre o “testemunho de Jesus” e a profecia é ainda mais atestada pela comparação entre Apocalipse 19:10 e 22:9. O anjo se identifica como “conservo teu, dos teus irmãos, os profetas” (22:9). Considerando que as duas expressões do anjo são paralelas, os que têm o testemunho de Jesus são identificados com os profetas. Uma vez que os profetas têm a distinta obra de anunciar as mensagens de Jesus, a interpretação de que o testemunho de Jesus se refere ao “testemunho” que Ele dá à igreja se mostra coerente”.8 Portanto, no livro de Apocalipse, “o testemunho de Jesus” se refere a algo mais do que o testemunho sobre Cristo que é aceito e dado pelos cristãos. “O testemunho de Jesus” se refere à obra de profetas inspirados que receberam visões, sonhos e comunicações verbais de Deus para serem transmitidas aos habitantes da Terra. Assim, se usarmos o princípio protestante de interpretar escritura por escritura, podemos concluir que “o espírito de profecia” em Apocalipse 19:10 não é propriedade de todos os membros da igreja em geral, mas apenas daqueles que foram chamados por Deus para que sejam profetas.]

Este dom manifestou-se na Igreja Adventista desde o seu começo, na obra e nos escritos de Ellen G. White. Ao longo de seu ministério ela recebeu duas mil visões e sonhos de Deus e escreveu cerca de cem mil páginas manuscritas. Sua produção literária suportou plenamente os testes bíblicos de um profeta verdadeiro e de trazer em seu próprio bojo as evidências de que provém de uma fonte divina. Esses são de fato, o “testemunho de Jesus”

5) Últimas mensagens. De acordo com a profecia, o remanescente fiel proclama as mensagens finais, antes que se feche a porta da graça. As últimas mensagens de Deus antes da volta de Cristo são as três mensagens angélicas (Ap 14:6-12). Estas mensagens apresentam o “evangelho eterno”. Desde o começo, os Adventistas do Sétimo dia têm identificado sua obra com a proclamação dessas três mensagens angélicas. Creem que foram incumbidos por Deus de proclamar essas três mensagens, que convocam as pessoas a retornar ao reino eterno de Deus, a acolher e sustentar Sua lei, a rejeitar a marca de Satanás e a autoridade exercida pelos poderes da besta. Além disso, chamam as pessoas a se unirem ao remanescente de Deus nos últimos dias, aguardando a iminente volta de Cristo.

6) Missão mundial. A última etapa da Igreja de Deus seria um movimento mundial, pregando essas mensagens “a toda nação, tribo, língua e povo” (Ap 10:11). Os adventistas encaram com muita seriedade esse imperativo divino. Por isso, se entregam com coragem, perseverança e determinação a tarefa de proclamar o evangelho eterno ao mundo, com determinadas ênfases no fim do tempo. Como já mostramos acima, a Igreja Adventista está proclamando a Palavra de Deus em 213 países e territórios do mundo.

7) Harmonia com as Sagradas Escrituras. O remanescente fiel do tempo do fim estaria de acordo com a primeira etapa da Igreja. Seus ensinos estariam em harmonia com a Bíblia. As Sagradas Escrituras são a base da fé adventista. Suas 28 crenças fundamentais estão em completa harmonia com o conteúdo total das Escrituras. Dessa maneira o povo de Deus no tempo do fim demonstra sua verdadeira sucessão apostólica.

Por essas sete razões, os Adventistas do Sétimo Dia creem que estão cumprindo a representação simbólica do remanescente fiel. É importante ressaltar que nunca afirmamos que só os adventistas serão salvos. Longe disso! Sempre reconhecemos a realidade daquilo que tem sido chamado de “a igreja invisível”, o povo fiel de Deus ao longo dos tempos. Também hoje, Deus tem pessoas fiéis em todas as igrejas, inclusive na Igreja Católica.9 A salvação não é garantida através da membresia em qualquer igreja; somos salvos como indivíduos, não como igreja. Mas fazer parte da igreja remanescente de Deus significa que temos acesso ao dom especial de Deus, o conselho inspirado de Ellen White, e podemos participar na proclamação da mensagem especial de Deus para o fim dos tempos – as três mensagens angélicas – ao mundo, antes da volta de Jesus.

Ellen White cria firmemente que os Adventistas do Sétimo Dia eram a igreja remanescente de Deus e que Apocalipse 12:17 se aplicava a eles. Ela escreveu: “Em sentido especial foram os adventistas do sétimo dia postos no mundo como vigias e portadores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incidiu a maravilhosa luz da Palavra de Deus. Foram incumbidos de uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. [...] As mais solenes verdades já confiadas a mortais nos foram dadas para as proclamarmos ao mundo. A proclamação dessas verdades deve ser nossa obra. O mundo precisa ser advertido, e o povo de deus deve ser fiel à missão que lhe foi confiada”10. Ela também escreveu: “Temos os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, que é o Espírito de profecia”.11 E ela aconselhou: “Sejam todos cuidadosos para não clamarem contra o único povo que está cumprindo a descrição dada do povo remanescente, que guarda os mandamentos de Deus e tem fé de Jesus, que exalta a norma de justiça nestes últimos dias.”12

Não obstante ser o remanescente fiel da profecia bíblica, a Igreja tem as suas falhas e os seus graves problemas. Todavia, “a Igreja de Cristo, por débil e defeituosa que seja, é o único objeto sobre a Terra a que Ele confere Sua suprema atenção”13. Ao longo dos seus 161 anos de existência a IASD sempre se deparou com críticos belicosos, e o número desses críticos se intensificará ainda mais à medida que nos aproximarmos do fim.  Apesar das críticas ferozes, das acusações e dissidências no seio da igreja de Deus, ela não cairá, vencerá. Ellen White escreveu: “A igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados fora no joeiramento – a palha separada do trigo precioso. É esse um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar”14. Na verdade, aqueles que, no passado, se dedicaram a combater a Igreja acabaram um a um caindo aos montes. E hoje, os que andam por esse mesmo caminho tortuoso, irremediavelmente, também cairão. Mas, a Igreja segue em frente com a sua missão, chegando cada vez mais longe e a mais gente, sempre rumo ao porto seguro no qual finalmente aportará.

 Caro amigo leitor, você gostaria também de triunfar com este movimento?

Nada a temer quanto ao futuro

Ao relembrar nossa história, temos a confiança de que o mesmo Deus que nos guiou até aqui vai continuar conduzindo Seu povo até a volta de Jesus. Ellen White resume em poucas linhas por que razão devemos redobrar o ânimo a cada dia e podemos seguir confiantes que a mão de Deus cuidará do seu povo:

“Ao recapitular a nossa história passada, havendo percorrido todos os passos de nosso progresso até ao nosso estado atual, posso dizer: Louvado seja Deus! Quando vejo o que Deus tem executado, encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos a temer quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado.”15

REFERÊNCIAS:

1. White, Arthur L. Ellen White: Mulher de Visão. [Tatuí, SP: CPB, 2015], p. 81.

2. Sears, Days of Delusion, p. 255, 256. Citado em Adventismo – Origem e Impacto do Movimento Milerita [CPB 2015] p. 302.

3. Knight, George. Adventismo: Origem e Impacto do Movimento Milerita. [Tatuí, SP: CPB, 2015], p. 303.

4. Estatísticas Preliminares IASD de 2023, p. 20. Consultado em 25 de maio de 2024.

5. Knight, George. Adventismo: Origem e Impacto do Movimento Milerita. [Tatuí, SP: CPB, 2015], p. 312.

6. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia [Tatuí: SP, 2014], v. 7, p. 814.

7. Belvedere, Daniel. Seminário As Revelações do Apocalipse. Manual do Professor [Tatuí: SP 2006], p. 98.

8. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia [Tatuí: SP, 2014], v. 7, p. 899.

9. White, Ellen G., Evangelismo [Santo André: SP 1978], p. 234.

10. White, Ellen G., Testemunhos Para a Igreja [Tatuí: SP 2007], v. 9, p. 19.

11. White, Ellen G., Testemunhos para Ministros [Tatuí: SP 2008], p. 114.

12. Idem, p. 58.

13. White, Ellen G., Vida e Ensino, p. 234.

14. White, Ellen G., Mensagens Escolhidas [Tatuí: SP 1988], v. 2, p. 380.

15. White, Ellen G., Mensagens Escolhidas [Tatuí: SP 1987], v. 3, p. 162.

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