Teologia

sexta-feira, 10 de março de 2023

ESPERANÇA ALÉM DESTA VIDA


 Ricardo André

A grande certeza da vida, desde que nascemos, é que um dia morreremos. Desde nosso primeiro instante de vida, entramos em uma contagem regressiva que marcará nossos dias de vida terrestre. A cada instante estamos mais próximos deste momento tão “misterioso” e temido por muitos. Neste exato momento, muitos estão dando seu último suspiro. Indubitavelmente, a morte é uma triste experiência pela qual a humanidade passa. As Sagradas Escrituras revelam que fomos criados para viver eternamente, mas ela entrou no mundo como consequência do pecado cometido pelo homem. Portanto ela é uma intrusa. A morte é o salário do pecado (Gn 2:17; Rm 6:23) e conflita com o desejo humano de permanência. Como afirmou S. Júlio Schwantes: “A transitoriedade das glórias terrestres e a vã esperança de permanência acalentada em todo coração, constituem melancólico contraste. A inevitabilidade da morte lança um véu sombrio sobre os sonhos mais dourados” (O Despontar de uma Nova Era, p. 269).

Quando perdemos um ente querido para a morte, esta produz um vazio e uma sensação de carência difíceis de serem igualados. Ela é a maior frustração humana que nos leva a perguntar: A morte é o fim de tudo? O que será de nós? Poderemos reencontrar nossos queridos que morreram? E, para essa realidade, é importante olhar para a Palavra de Deus e perceber o que ela ensina.

O pensamento materialista e a morte

Para os materialistas ateus, não existe nada além da matéria e da energia. Portanto, eles negam a realidade do sobrenatural e da existência de Deus. Eles não conseguem ver um sentido para a vida e para a morte. Eles encarem a vida de maneira trágica, como algo sem sentido. Martin Heidegger (1889-1976), filósofo existencialista alemão, dizia: “A morte é um modo de ser que a existência humana assume, desde que ela tem início”. Por isso os existencialistas definem o homem como um “ser-para-a-morte”, não só porque está destinado a morrer, mas porque é constantemente atingido pela realidade da morte.

Os existencialistas afirmam que a vida humana é limitada por dois nada: o homem teria surgido do nada, não como resultado de uma criação especial por um Deus amoroso, e se dirige lenta e inexoravelmente para outro nada. E o que dá uma nota trágica à existência – para os existencialistas ateus – é que a pessoa tem consciência de estar caminhando para a destruição; isto é terrível. Então, nasce dentro do homem a angústia de que Heidegger falava ou a náusea de Jean Paul Sartre. Nesta mesma linha outros filósofos fizeram muito mal à humanidade, especialmente aos jovens, pois deram à vida uma conotação sombria, sem a esperança da fé cristã.

O famoso filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que estava determinado a ver Deus morto e sepultado, é uma outra figura típica desta atitude irreligiosa. Foi o filósofo mais satírico em relação a Deus e ao sistema de valores cristãos. Vários de seus textos critica duramente a religião. Ele é amplamente conhecido por sua filosofia niilista e por sua ideia de que “Deus está morto”. Ele despertou para a filosofia através de Schopenhauer. Ele disse que: “Schopenhauer foi, como filósofo, o primeiro ateísta confesso e inflexível que nós alemães tivemos”. Como quase todos os ateus depois de Feuerbach, Nietzsche também considera a religiosidade como uma inconsciente projeção.

Com base na perspectiva de Nietzsche, a vida não tem nenhum significado, propósito ou valor intrísico. Que quadro desolador!

Para o grande filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), cujas ideias revolucionaram o pensamento filosófico, rompendo barreiras e desvelando a forma de organização de nossa sociedade, Deus e a religião não passavam de meras projeções humanas. Afirmou que a religião havia sido inventada como uma forma de reagir contra o sofrimento e a injustiça do mundo, os pobres e oprimidos tinham criado a religião para imaginar que teriam uma vida melhor após a morte. Servindo como uma forma de “ópio”, uma maneira de escapar da realidade. Portanto, para ele, o ateísmo é um postulado evidente. Tanto é assim que ele escreveu: “A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo.” (“Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, ed. Boitempo, p. 145). Ele ainda vislumbrava a possibilidade do desaparecimento do sentimento religioso com a eliminação da alienação, numa sociedade despojada da exploração do homem pelo homem e livre do trabalho alienado.

Richard Dawkins, considerado ícone do ateísmo atual, autor de Deus: Um Delírio, pretende “esclarecer” que Deus não passa de invenção de pessoas desiludidas. Ele afirma categoricamente a intenção de seu livro: “Os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o tiverem terminado”.

Portanto, Deus, para estes ateus não é senão uma ilusão criada pelo homem buscando uma compensação diante de sua miséria; o que o faz fugir do mundo e das grandes tarefas humanas. Se Deus não existe, então para esses filósofos a morte é o fim. Não existe nada mais. A escritora cristão Ellen G. White afirma que a humanidade fracassará em todas as suas tentativas de progresso se “negligenciar a única Fonte de esperança” (Caminho a Cristo, p. 20).

Para além do “ópio” de Marx, nossa religação com Deus é a chave para o mistério dos mistérios, o significado da vida. Deus é o Criador da vida, por isso é Ele que dá sentido à vida. Deus nos criou para Seu louvor (Isaías 43:20-21). Ele nos formou de maneira especial, para mostrar Sua glória e Seu amor através de nós. Esse é o grande sentido da vida. A satisfação plena é produto da segurança absoluta e da paz interior que só Deus pode dar. Só um Deus infinito pode preencher, com o Seu amor, o espaço infinito do coração humano. E esta conquista espiritual está ao alcance de todos os que, reconhecendo a sua insuficiência, aceitam o presente que o Céu oferece – a vida eterna, através de Jesus Cristo: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23).

“Nas profundezas da alma humana se acha implantada a inquietação pelo futuro. Essa percepção do infinito no tempo e no espaço produz insatisfação com a natureza transitória das coisas desta vida. É o plano de Deus que o homem perceba que o atual mundo material não constitui o centro de sua existência. Ele se acha ligado a dois mundos: fisicamente a este mundo, mas mental, emocional e psicologicamente ao mundo eterno” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 3, 1075).

Há esperança para os mortos

Com a realidade da morte, existem várias coisas importantes que podemos tomar para a meditação do nosso coração. O apóstolo cristão Paulo, em sua inspirada carta escrita aos tessalonicenses, traz uma palavra de encorajamento e de fé aos que creem em Jesus. Diz-nos o apóstolo: “Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas palavras. (1 Ts 4:13-18, NVI).

Os Tessalonicenses haviam recebido o Evangelho há bem pouco tempo. Após esta experiência maravilhosa, alguns de seus parentes e amigos "dormiram no Senhor"...  Como esperavam permanecer vivos até o retorno do Senhor, e alguns "dormiram em Jesus", eles estavam extremamente perplexos. A fim de neutralizar esta tendência ao aborrecimento e tristeza imoderados, o apóstolo, os consola com a agradável esperança de uma reunião feliz e eterna com aqueles que morreram quando o Senhor Jesus aparecer em glória. Esse magnífico clímax da História é a última esperança do cristão. Diz o apóstolo Paulo: “Aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele Se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para Si mesmo um povo particularmente Seu, dedicado à prática de boas obras” (Tito 2:13, 14).

Na ocasião, ocorrerão dois dos acontecimentos mais esperados pelos cristãos de todas as eras: a ressurreição dos santos mortos e a transformação dos santos vivos. Como é bom ser cristão adventista e crer na volta de Jesus. O quadro pintado por Paulo será a concretização de todos os que creram e que creem em Jesus e que, vivos ou mortos, aguardam ansiosos por Sua segunda vinda à Terra. Para eles, a morte não é o fim de todas as coisas; é simplesmente um sono de espera pela ressurreição e a vida eterna.

Esse evento é o grande clímax da história! É o cumprimento de toda espera e esperança do povo de Deus desde Adão até a última geração que estará vivendo na Terra. Por isso, o nosso foco permanente está no retorno de Jesus, Aquele que suportou a cruz “para tirar os pecados de muitos”, e que aparecerá pela segunda vez “para aqueles que esperam ansiosamente por Ele” (Hebreus 9:28).

Sim, haverá uma feliz reunião.

Aqueles que "dormiram no Senhor", não pereceram... Esta separação que nos causa tanta dor não será eterna. Eles também contemplarão o Senhor retornando em glória. Nós, os vivos "não precederemos os que dormem" v.15. Ou como diz a Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “não iremos antes daqueles que já morreram”. Tanto nós quanto eles "seremos arrebatados" nas nuvens (v. 17).

Portanto, o apóstolo Paulo “assegura aos leitores que os cristãos vivos não se unirão ao Senhor antes daqueles que dormiram. [...] Assim, os santos vivos não terão prioridade sobre os que morreram no Senhor. Este ensino deixa claro o verdadeiro estado daqueles que morreram “em Cristo”. Eles estão adormecidos, aguardando a vinda do Senhor. Ainda não foram unidos ao Senhor, mas, como os cristãos vivos, aguardam o segundo advento para a tão esperada união com o Mestre (Jo 11:23-25). Nenhuma classe tem precedência sobre a outra; ambas serão levadas juntas em glória ao Senhor na Sua vinda” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 249).

Nesse momento a história humana dará um salto para alcançar a eternidade, cuja porta estará aberta quando Jesus, o Criador e Redentor estenderá a mão para dar as boas-vindas aos fiéis, com as mais doces palavras jamais ouvidas: “Venham, […]. Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado” (Mateus 25:34). É a herança final que estamos aguardando com esperança!

Existe uma forte razão para esta maravilhosa esperança de uma reunião além da sepultura.

Esta esperança está baseada sobre um sólido e indestrutível fundamento... Sim, ela se baseia na realidade de um Cristo vivo (v.14). A ressurreição do Senhor é o fundamento de nossa esperança. O apóstolo Pedro escreveu: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo” (1 Pd 1:3-5, NVI).

Assim como Deus, o Pai, trouxe Jesus, nosso Salvador, dentre os mortos na manhã de Sua ressurreição no jardim, fora dos muros de Jerusalém, assim com Ele também trará nossos queridos mortos à vida novamente, quando voltar a segunda vez. Ela também está fundamentada no prometido e esperado retorno do Senhor à Terra (I Tes. 1:10; Atos. 1:10, 11).

Nosso coração então pergunta: "quando esta esperança será concretizada?"

Ela se concretizará quando o Senhor Jesus descer do Céu "com poder e grande glória". (I Ts 4:16; Mt. 24:30, 31). Sim, aqueles que "dormem no Senhor" ressurgirão (v.16). Quando esta maravilhosa reunião acontecer, os que "morreram em Cristo", ressuscitarão com um corpo incorruptível, imortal e glorioso, conforme lemos em I Cor. 15:42-44. Paulo também diz que os que estiverem vivos, serão transformados. “Eis que eu lhes digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: "A morte foi destruída pela vitória". "Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Co 15:51-57, NVI).

Como, gradualmente? Não. “Num momento. Num abrir e fechar dos olhos” (1 Co 15:51, 52). Então esta reunião final, feliz e eterna acontecerá. Os salvos estarão reunidos para nunca mais se separarem. Imagine a alegria que inundará o coração dos salvos ao poderem abraçar os queridos ressuscitados, que morreram crendo em Jesus. Não mais terão o rosto macilento e triste, marcado pela doença e a morte. Terão na face a alegria e a felicidade de uma nova vida ressurgida para a eternidade. Será maravilhoso aquela reunião quando, na presença de Cristo, junto ao belo portal da Cidade, uma mãe receber a recompensa de seus labores, tendo todos os seus filhos lá dentro.  Inegavelmente, será um momento muito glorioso. Será a vitória final de Jesus sobre as tristezas, dores, doenças, e a morte! Essa certeza nos conforta e nos anima na jornada, enquanto aguardamos o grande dia da volta de Jesus.

Que maravilhosa consolação esta esperança nos traz! Aguardo com muita expectativa o dia da volta de Jesus à Terra nas nuvens do Céu com poder e grande glória (Mt 24:30; Ap 1:7). Quando Ele ressuscitar os Seus filhos fiéis, quando o mesmo Senhor que disse à filha de Jairo “Talita cumi!  Menina, eu lhe ordeno, levante-se! "vai dizer à minha mãe: “Noêmia cumi! Eu te ordeno levanta-te”. Quão bom é sabermos que "a morte não é o ponto final, mas uma vírgula na história da vida", como alguém afirmou. Temos a esperança bíblica de um dia rever todos os nossos que já dormem no Senhor.

Essa minha reflexão bíblica é uma homenagem a Noêmia Cordeiro, minha mãe, amigos, familiares e a todos os que, descansando em paz, aguardam o retorno do Senhor. Em breve, as famílias do povo de Deus estarão reunidas outra vez, e para sempre! Por isso o apóstolo ordena: "Consolai-vos... uns aos outros com estas palavras" (v.18). Sim, o despojado pode ser consolado. Aquele que crê em Jesus não deveria, como fazem os pagãos, encher-se de angustiosa e desesperada tristeza na presença da morte.

Caro amigo leitor, você crê que Jesus morreu e ressuscitou dos mortos? Você crê que Ele vive para sempre? Você crê naquilo que Ele disse: "Porque Eu vivo, vocês também viverão?" (João 14:19, BLH). Permita que esta crença abrande sua tristeza. Você anseia pelo retorno do Senhor?  Se assim for, você não deveria preocupar-se por causa da condição presente e nem pelo estado futuro dos santos que "dormiram". Como a morte e a ressurreição do Senhor são a garantia e o penhor da ressurreição e glorificação de todos aqueles que "nEle dormem", você deveria regozijar-se na esperança de reunir-se com eles na cidade de Deus. Esta gloriosa e feliz reunião jamais terá fim. Um dia Jesus chamará Seus filhos fieis de todos os tempos, você e a mim, a cada um de nós, para uma vida que jamais acaba. Amém!

 

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