Teologia

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A IGREJA E OS SINAIS DOS TEMPOS


Por que os sinais são importantes na vida da igreja

O surgimento de nossa igreja está relacionado a uma poderosa proclamação do breve retorno do Senhor em glória. O pequeno grupo de crentes estava convicto de que a vinda de Cristo estava às portas. Essa convicção se baseava no cumprimento de profecias bíblicas e de sinais que deviam preceder o evento. As profecias de Daniel e Apocalipse, juntamente com Mateus 24, ocuparam lugar importante nas pesquisas realizadas pelos pioneiros para entender tal assunto. À semelhança deles, cremos que “os sinais dos tempos, a cumprirem-se rapidamente, declaram que a vinda de Cristo está próxima, às portas. Os dias em que vivemos são solenes e importantes” (Ellen G. White, Exultai-O, [MM 1992], p. 357).

O remanescente como sinal

A Bíblia apresenta grande número de sinais que funcionam como arautos do retorno de nosso Senhor. Quero analisar profundamente a importância desses sinais. Em primeiro lugar, menciono um sinal sobre o qual não temos o costume de falar. Trata-se de um sinal que mostra o fato de que o propósito de Deus para com Seu povo está se cumprindo na história. A presença do povo remanescente de Deus no fim do tempo é um sinal.

Em primeiro lugar, o remanescente é um sinal pelo fato de ter aparecido no tempo indicado na Bíblia. A profecia descreve o ataque dos inimigos de Deus contra Cristo (Ap 12:5,4) e prevê um permanente ataque contra a igreja (Ap 12:13-16). Bem no início de sua história, a igreja enfrentou oposição de vários setores. As pressões sociais, religiosas e legais que a igreja sofreu durante tempos difíceis causaram perdas lamentáveis na área da verdade bíblica (Dn 7:25; 8:11, 12; 2Ts 2:3, 4). Contudo, Deus nunca abandonou Sua igreja. Ele sempre convidou Seu povo a fazer uma reforma. As profecias mostram que, ao se aproximar o fim do conflito cósmico, um remanescente seria suscitado. Isso se cumpriu no tempo exato (Ap 12:17). O cumprimento dessa profecia demonstra que o plano de Deus estava se cumprindo de acordo com Sua vontade.

A existência do remanescente não quer dizer que Deus não Se interessa no restante do mundo cristão. Ao contrário, a presença do remanescente mostra que Deus não rejeita o mundo cristão, mas procura meios para usá-lo para Sua glória, se seus integrantes o quiserem. O remanescente do tempo do fim é um sinal de esperança para o cristianismo e para o mundo não-cristão.

Em segundo lugar, o remanescente é um sinal que pode ser identificado. Para que um sinal seja útil e cumpra seu propósito, precisa ser visível (fome, terremotos, guerras). As características do remanescente facilitam sua identificação como um segmento em que Deus opera uma grande obra em benefício do restante de Seu povo em toda a Terra. Eles guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus (Ap 14:12). Não podem se esconder, nem podem ser ignorados. São facilmente identificados e, desse modo, constituem um sinal vivo da obra de Deus no mundo.

Em terceiro lugar, o remanescente do tempo do fim é um sinal que focaliza uma realidade maior. Ao cumprir sua missão, ele aponta para a consumação da obra da salvação por Cristo na ocasião da Segunda Vinda. Existe propósito para a existência do remanescente, que tem uma missão específica em relação ao mundo (Ap 14:6-12). Portanto, é um sinal presente e acessível ao redor do mundo. Em certo sentido, sua presença global facilita sua função como sinal. À medida que nos aproximamos do retorno de Jesus, é necessário que o mundo conheça esse sinal. Pessoas de todas as nações e raças precisam conhecer esse sinal e se preparar para o evento. Por meio do exemplo, o remanescente é um sinal do amorável serviço de Deus em favor dos outros.

Significado dos sinais

Os muitos sinais da segunda vinda de Jesus são importantes para a vida da igreja. Sem dúvida, eles encorajam os membros a observarem os acontecimentos que ocorrem ao seu redor e a ver neles a presença de Deus relembrando a bendita esperança. Os sinais são relevantes em muitos aspectos.

Primeiro, servem para manter nossos olhos fixos em nossa esperança. Esperanças podem morrer; podem tornar-se irrelevantes e perder seu significado. O livro de Provérbios nos diz: “A esperança que se adia faz adoecer o coração” (Pv 13:12). Jesus não quer que esqueçamos a promessa que Ele instilou em nosso coração. Os sinais não somente mantêm viva em nós a esperança, mas também nos dizem que a promessa de Jesus é imutável e que Ele não Se esqueceu de nós.

Os sinais deviam aparecer entre a ascensão de Jesus e Seu retorno (Mt 24:6-14). Quando alguns desses sinais se cumprissem, os crentes seriam lembrados da promessa de seu Senhor crucificado e ressurreto: “Virei outra vez” e isso os ajudaria a manter a chama da esperança no coração. O Senhor sabia quão importante seria a esperança para Seus servos em um mundo de pecado, sofrimento e morte. Ele associou os sinais à promessa de Sua vinda para que mantenhamos sempre viva nossa esperança.

Segundo, os sinais preservam, na comunidade de crentes, um importante elemento: a expectativa de algo melhor. Os sinais nos alertam de que o Senhor pode retornar antes do tempo que imaginamos, mesmo em nossos dias. Cada geração é potencialmente a última geração. Por isso, vivemos em expectativa. Nossa vida é marcada pela convicção de que Jesus está às portas. Ele falou sobre a figueira: ‘Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas” (Mt 24:32,33). Toda vida marcada pela expectativa é orientada para o futuro. É livre de temor, porque espera somente o que é bom, ou seja, o cumprimento da esperança cristã.

Terceiro, os sinais nos encorajam a cumprir a missão. São uma força motivadora em nosso serviço para o Senhor, cuja vinda aguardamos. Partilhamos nossa esperança porque cremos que ela é relevante para as pessoas do século vinte e um. Mostramos Jesus como a fonte de nossa esperança e, ao mesmo tempo, mostramos os sinais de Sua vinda para encorajar pessoas a aguardar esse evento. Talvez, isso explique a presença de um elemento de incerteza nos sinais. Eles não podem ser usados para indicar o momento exato da vinda de Cristo. Não é esse o propósito dos sinais. Eles têm que ver especialmente com a missão da igreja. A presença dos sinais através da história da igreja cristã é percebida paralelamente com o cumprimento da missão da igreja, desde a ascensão de Jesus até Sua segunda vinda. Existe relação íntima entre ambas: “Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mt 24:45,46). A correta compreensão dos sinais contribui para manter a igreja direcionada para a missão. Estar preparado consiste em estar cumprindo a tarefa da pregação quando Ele vier (verso 46).

Palavras de advertência

Nosso interesse nos sinais da Segunda Vinda deve estar fundamentado numa clara informação bíblica. O estudo da profecia bíblica deve fortalecer nossa esperança e nosso compromisso com o Senhor, que morreu para nos salvar. Mas se tal estudo nos causa temor, incerteza e preconceito, algo está errado em nossa maneira de ler os sinais da vinda de Jesus. Cumpre-nos ser melhores cristãos ao estudarmos o plano de Deus para Seu povo no fim do conflito cósmico. Não devemos especular sobre o que não sabemos. É uma atitude saudável reconhecer que não sebemos todos os detalhes do que vai acontecer. Do contrário, seremos tentados a ler sinais que não se acham nos eventos sociais ou religiosos contemporâneos. Isso cria um excitamento prejudicial ao equilíbrio da vida cristã. Devemos falar convictamente sobre o que está revelado nas Escrituras e nos abster de partilhar nossas próprias especulações como se fossem revelações divinas. Interpretações bizarras causam descrédito ao significado de nossa esperança, tornando-a alvo de zombaria. Protejamos nossa esperança contra isso, permanecendo leais ao que conhecemos e proclamamos como igreja.

Há outro perigo: ignorar os sinais, considerando-os irrelevantes. Tal atitude revela desilusão com a esperança cristã. Isso é um dos primeiros sinais de que a esperança está morrendo no coração de um crente. Quando isso acontece, morre também o interesse na missão da igreja. Ignorar os sinais do breve retorno de Cristo seria uma tragédia para igreja, como um todo, e para o crente individualmente. Sem esperança, a igreja não seria lembrada, por meio dos sinais, de que seus sonhos logo serão concretizados. “Insto com os membros de nossas igrejas para que não ignorem os sinais dos tempos, os quais anunciam claramente que o fim está próximo” (Ellen G. White, Pacific Union Recorder, 1º de dezembro de 1904).

Devemos fazer tudo o que é possível para evitar esses perigos. Preocupação exagerada com os sinais pode ser tão ruim quanto ignorá-los. A melhor maneira de evitar esses perigos é estar bem alicerçado nas Escrituras em relação à esperança que Deus confiou a Seu povo remanescente e permitir que ela molde toda a nossa vida em amor e serviço para outros. Portanto, sejamos prudentes enquanto esperamos a vinda do Senhor. Os sinais nos dizem que Ele logo voltará!

 

*Jan Paulsen [foi] presidente mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

 

FONTE: Revista Adventista Outubro de 2008, p. 4 e 5.

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