SACRAMENTOS DA IGREJA: ESSENCIAIS OU ADIAFÓRICOS? UMA PERSPECTIVA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
Kwabena Donkor*
Tradução: Hugo Martins
O artigo “Sacramentos
da Igreja: Essenciais ou Adiafóricos? Uma Perspectiva Adventista do Sétimo Dia”
(Original em Inglês: “Sacraments of the Church: Essentials or Adiaphora, a
Seventh-day Adventist Perspective”), por Kwabena Donkor, fora publicado, inicialmente,
pelo Adventist Biblical Research Institute.
Usado com permissão.
Introdução
O título deste artigo
dá uma falsa impressão de certeza sobre o que são os sacramentos da Igreja,
presumivelmente, deixando a questão a ser decidida como a da necessidade ou não
dos sacramentos. Infelizmente, o que são os verdadeiros sacramentos da Igreja continua
sendo uma questão controversa. Por isso, é importante rever algumas discussões
históricas, questões que, em sua essência, diziam respeito à natureza dos
sacramentos como tal. Felizmente, levar algum tempo para examinar a natureza do
sacramento em si não é um desvio desnecessário, pois uma compreensão adequada
da natureza dos sacramentos é fundamental para a decisão sobre sua utilidade ou
não. Essas considerações preliminares nos fornecem um esboço a ser seguido
nesta apresentação. Primeiro, examinaremos os esforços para definir os
sacramentos; segundo, exploraremos a conexão entre sacramentos e Igreja. Em
cada um desses dois pontos, tentaremos apresentar uma visão geral e dar a
perspectiva da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Finalmente, com base na discussão
dos dois pontos principais, abordaremos mais especificamente a necessidade ou
não dos sacramentos na Igreja.
Definindo
Sacramento
O assunto da discussão
a seguir são certas práticas sagradas da Igreja Cristã que atraíram
considerável debate e reflexão ao longo dos séculos de sua história. A forma
como uma comunidade cristã caracteriza formalmente esses ritos já fala à sua
compreensão do significado dos ritos.
Sacramento
ou Ordenança?
A
Visão Católica Romana
A predominância da língua grega levou os
pensadores cristãos, especialmente no Ocidente, a designar as práticas que são
objeto desta apresentação com o termo mysterion (mistério em português).1
No Oriente Latino, ao contrário, os teólogos usavam o termo sacramentum, que
basicamente se referia a um juramento sagrado de sinceridade ou fidelidade.2
Para os teólogos orientais, o uso do termo captava a essência central dos
ritos, como objetos e observâncias solenes sagradas. Enquanto o Ocidente via
mistério e “ocultação” nos ritos, o Oriente via obrigação sagrada e solene. É
interessante notar que o latim sacramentum também foi usado para traduzir o
grego mysterion, no sentido de realidades ocultas, como as encontradas nos
ritos sagrados das religiões de mistérios orientais.3
Com o tempo, a ideia dos
ritos como uma promessa solene de fidelidade deu lugar ao conceito de mistério.
Já em Agostinho, começou a ser introduzida uma distinção entre os próprios
ritos e a graça que o Espírito concede nos ritos. Assim, o sacramento passou a
ser definido como um sinal externo e visível de uma graça interna e invisível.
O aspecto misterioso e invisível dos ritos sagrados é essencial para a
definição dos ritos como “sacramentos.” O resultado em definir os ritos
(sacramentos) dessa maneira foi abrir um caminho para os teólogos trabalharem a
relação entre o sinal externo e a realidade interna.4 Na Idade
Média, um elaborado sistema sacramental foi desenvolvido pelo qual o sacramento
se tornou um meio de graça. Em outras palavras, foi ensinado que Deus usa o
sacramento como meio de concessão da graça. A graça não era mais concebida
“como a preciosa presença de Deus, mas como uma realidade distinta de Deus, um
poder sobrenatural que Deus infunde na alma.”5 Além disso, a
eficácia de tal difusão não dependia nem da condição espiritual do receptor,
nem daquele que a administrava. Na medida em que o destinatário não resiste às
ações de Deus no sacramento, a graça será infundida pela própria administração
dele (ex opere operato [pela obra operada]). Um desenvolvimento relacionado
desse sistema de sacramentalismo foi o sacerdotalismo, um sistema pelo qual o
clero ordenado da igreja se tornou os instrumentos e canais escolhidos por Deus
da graça divina.
O desenvolvimento
descrito acima representa a compreensão básica tradicional católica romana dos
sacramentos. Nessa visão, toda a vida está envolta em graça; um certo tipo de
graça; graça sacramental. Assim é que a Igreja Católica Romana mantém sete
sacramentos para fornecer alimento sobrenatural para as fases significativas da
vida humana, uma vez que “os sacramentos são as sete bocas nas quais o fluxo da
vida divina da graça, que tem sua fonte na cruz do Cristo, esvazia-se no
deserto da existência humana.”6 Subjacente ao entendimento católico
romano do sacramento está o que Berkouwer chama de “conceito de graça infundida
e novamente-a-ser-infundida.”7 No sistema católico romano, a graça
sobrenatural infundida no sacramento do batismo é apenas um começo que deve ser
continuado no contexto da Igreja. Assim, o sacramento da confirmação aumenta a
graça infundida no batismo e a leva à perfeição; o sacramento da extrema-unção
infunde graça para as aflições da vida, penitência pelos pecados
pós-batismais, ordem para dar ao sacerdote poder de consagração e perdão, matrimônio
para a eficácia sobrenatural do matrimônio e eucaristia (também
chamada Ceia do Senhor) para dar eficácia a todos os sacramentos.
Para resumir a
definição católica romana do sacramento, é formalmente um meio de graça,
infundido de forma sobrenatural e autônoma por meio de sinais materiais e
visíveis, sob o poder eficiente do Espírito Santo, para fornecer nutrição e
renovação sobrenaturais.
A
Questão da Instrumentalidade e dos Meios De Graça
Antes de verificarmos
as visões protestantes sobre os sacramentos, precisamos enfatizar e esclarecer
um ponto fundamental de distinção entre a tradição católica romana e aqueles
que adotam uma abordagem diferente. A teologia católica sobre os ritos sagrados
é sacramental porque os elementos dos ritos são considerados, instrumentalmente,
como na realidade “meios de graça.” Isso significa que os sacramentos são
“condutos reais” da graça. Como veremos, enquanto grupos protestantes como
luteranos, metodistas e até mesmo presbiterianos tentam fazer com que o efeito
do sacramento dependa da fé do receptor, a natureza instrumental do sacramento
permanece. Nesse sentido, grupos que compartilham essa visão podem ser classificados
como refletindo a teologia sacramental.
A
Visão da Reforma
Todos as alas da
Reforma se opuseram fundamentalmente ao sacramentalismo da Igreja Católica
Romana. Basicamente, os reformadores rejeitaram a afirmação católica romana de
que os sacramentos funcionam de forma autônoma, i.e., ex opere operato. Eles
sustentavam que um sacramento válido exige fé por parte do participante. Em
outras palavras, os sacramentos são incompletos em si mesmos sem a Palavra,
fator que para os reformadores restringe o número de sacramentos apenas aos
dois expressamente ordenados pelo Senhor (batismo e eucaristia). Além desse
acordo básico, os próprios reformadores evidenciaram certo grau de distinções
em seus pontos de vista.
Luteranos
Por parte dos luteranos, embora rejeitassem qualquer reivindicação de autonomia para os ritos sagrados, eles continuaram a manter certos aspectos-chave da posição católica romana. Por exemplo, eles mantiveram a natureza formal dos sacramentos como meio instrumental para a infusão da graça. Da mesma forma, os luteranos entendem que o propósito dos sacramentos é “o atestado e a concessão do perdão dos pecados e o fortalecimento da fé neste perdão.”8 Sobre a eficácia dos sacramentos, Lutero manteve-se próximo da posição católica romana, pois enquanto afirmava a necessidade da fé, acreditava que os elementos materiais dos sacramentos tinham neles residindo uma verdadeira virtude objetiva da graça. Sua posição é mais clara sobre a eucaristia. Embora ele não concordasse com a doutrina católica romana da transubstanciação (i.e., os elementos do pão e do vinho sendo transformados substancialmente no corpo e sangue de Cristo), sua doutrina da consubstanciação ainda dotou os elementos com uma virtude residente da graça. A diferença na doutrina de Lutero é que, em vez de uma transformação, há uma mistura do pão e do vinho nele, com e sob o corpo e sangue de Cristo.
Reformados
A visão reformada
contrasta com o sacramentalismo das tradições católica romana e luterana no que
diz respeito à natureza formal dos sacramentos e sua eficácia. Primeiro, na
visão reformada, os sacramentos não são, formalmente, meios de graça que
funcionam ex opera operato. A Palavra divina não necessária e inseparavelmente
dota o sacramento de uma virtude divina sobrenatural. Em vez disso, os
elementos se tornam selos em virtude da graça divina.9 Observe que
há uma ‘transformação’ dos elementos que, embora não nos moldes da
transubstanciação ou consubstanciação, tornam-se “consagrados.”10
Assim, os sacramentos “são verdadeiramente denominados evidências da graça
divina e, por assim dizer, selos da boa vontade que ele mantém em relação a
nós. Eles, ao selá-lo a nós, sustentam, nutrem, confirmam e aumentam nossa fé.”11
Consequentemente, no que diz respeito à eficácia dos sacramentos, Charles Hodge
distingue as visões luterana e reformada ao apontar que “estas últimas atribuem
seu poder santificador às influências assistenciais do Espírito; o primeiro ao
poder inerente e sobrenatural da Palavra, que é uma parte essencial dessas
ordenanças divinas.”12 Sobre o propósito dos sacramentos na visão
reformada, o conceito de aliança desempenha um papel importante. Foi observado
acima que para o teólogo reformado, o sacramento é um sinal e selo da graça de
Deus. Uma vez que se argumenta que a aliança, i.e., a promessa da graça de
Deus, é a base da justificação e salvação do cristão, os sacramentos, então,
“são sinais e selos de Deus operando a aliança que ele estabeleceu com a raça
humana.”13 Nesta visão, o batismo é um ato de fé que traz uma pessoa
para a aliança para experimentar suas promessas, enquanto a eucaristia sela o
amor de Cristo ao crente, assegurando-lhes que as promessas da aliança e do
evangelho são deles como um dom divino. O significado do conceito de aliança
para a compreensão reformada dos sacramentos se reflete na prática do batismo
infantil. Parte de sua justificativa para a prática é que, de uma perspectiva
da aliança, “o que realmente importa não é a reação subjetiva de alguém, mas a
iniciação objetiva na aliança com sua promessa de salvação.”14
Radicais
Incluídos na visão
radical está a posição de alguns grupos, como os anabatistas, que adotaram a
posição de Zwinglio sobre os sacramentos. Para os reformadores radicais, a
sombra da magia ainda parecia cercar a visão de Lutero sobre os sacramentos. O
que era necessário, em sua opinião, era uma ruptura radical com o
“sacramentalismo”, uma tarefa a ser concluída em parte pela rejeição da própria
palavra “sacramento.”15
Os ritos sagrados da
igreja, nesta visão, são formalmente designados “ordenanças” e não sacramentos.
Os ritos devem sua existência ao comando (do latim ordo, que significa uma
ordem) do Senhor (portanto, existem apenas dois deles, o batismo e a Ceia do
Senhor); foram ordenados por ele. A participação neles é sinal de obediência
àquele que os ordenou. As ordenanças são um sinal de obediência. Em sua
essência, então, as ordenanças são atos humanos, que dão oportunidade para o
participante testemunhar as verdades espirituais que simbolizam. Deus não
concede graça ao participante da ordenança. Augustus H. Strong escreve: “A Ceia
do Senhor, como o batismo, é o símbolo de um estado anterior de graça. Não tem
em si nenhum poder regenerador e santificador, mas é o símbolo pelo qual a
relação do crente com Cristo, seu santificador, é vividamente expressa e
fortemente confirmada.”16 Nem o batismo nem a Ceia do Senhor trazem
qualquer mudança espiritual no participante. Em outras palavras, os elementos
desses ritos, água, pão e vinho não são, instrumentalmente falando, meios de
graça. O propósito das ordenanças é simplesmente servir como meio para o
participante demonstrar obediência a Cristo.17
Adventistas
do Sétimo Dia
A discussão anterior
foi para nos ajudar a situar a compreensão adventista do sacramento dentro do
amplo alcance das tradições cristãs. A compreensão adventista do sétimo dia dos
sacramentos está mais próxima da posição dos radicais, embora vá além em alguns
pontos cruciais. Escritos da igreja mostram um uso preponderante do termo
“ordenança” na caracterização dos ritos sagrados; assim, sua compreensão formal
dos sacramentos reflete uma teologia baseada em ordenanças. A igreja entende
que em conexão com o novo “caminho” que Cristo inaugurou: Ele “designou de
antemão certos ritos definidos que todos os discípulos nascidos de novo seriam
chamados a observar, i.e., o batismo e a Ceia do Senhor.”18 Por
brevidade, usarei a frase “Ceia do Senhor” no contexto do entendimento
adventista do sétimo dia do sacramento, incluindo o lava-pés. A conjunção da
Ceia do Senhor e do lava-pés é vista nas narrativas da paixão de todos os
quatro evangelhos. Em particular, o evangelho da breve menção de João à
refeição (João 13:26) é colocado no contexto imediato do relato do lava-pés.
“Portanto, parece melhor que os cristãos celebrem ambas as ordenanças em
conjunto, com o lava-pés precedendo a Ceia do Senhor e preparando o
participante para isso.”19
A teologia dos ritos
sagrados baseada em ordenanças significa que a obediência ao mandamento do
Senhor é fundamental para a prática das ordenanças pela igreja. Neste sentido
específico, os ritos são um sinal de obediência. No entanto, os adventistas do
sétimo dia não entendem os ritos meramente como ordenanças no sentido de que
seu único propósito é servir como meio de demonstrar sua obediência a Cristo.
Certos fatores caracterizam a compreensão dos adventistas dos ritos que,
juntos, trazem à tona seu significado religioso. Examinemos mais detalhadamente
suas posições sobre a Ceia do Senhor (incluindo o lava-pés) e o batismo.
Primeiro, com relação à
ordenança conjunta da Ceia do Senhor e do lava-pés, entende-se a partir do
mandamento de Cristo: “Façam isto em memória de mim” (1 Co 11:24), como um rito
memorial de sua morte redentora. No entanto, é um memorial que serve como um
lembrete presente da união dos participantes uns com os outros por causa de sua
união com Cristo (1 Co 10:16, 17), e fornece uma perspectiva escatológica da
segunda vinda de Cristo (1 Co 11:26). Assim, como um memorial que expressa o
significado do evangelho e suas verdades distintivas, essas ordenanças fazem
uma proclamação ao mundo. Neste ponto, os adventistas compartilham a convicção
dos batistas, por exemplo, que também acreditam que “a comunhão é uma festa de
comemoração – não apenas trazendo Cristo à nossa lembrança, mas proclamando sua
morte ao mundo.”20
Mas os adventistas do
sétimo dia acreditam que a “Ceia do Senhor é mais do que uma mera refeição
memorial, pois Cristo está presente pelo Seu Espírito Santo.”21 Esta
observação levanta uma questão muito crítica na compreensão adventista dos
ritos sagrados. Embora a discussão que se segue pertença propriamente à
eficácia das ordenanças, ela ajuda no esclarecimento do entendimento adventista
das ordenanças. A questão é sobre a “instrumentalidade” mencionada acima. A
questão é se existe um benefício objetivo que é obtido pela participação na
ordenança? Em caso afirmativo, por qual meio o benefício é trazido? Os
sacramentalistas são claros sobre essas questões. Os elementos do sacramento são
meios, instrumentalmente, pelos quais a graça é mediada ao participante.
Como toda teologia
baseada na “temática da ordenança,” o entendimento adventista do sétimo dia
sobre as questões levantadas nas questões acima pressupõe fé por parte do
participante. No entanto, não é tanto que a fé do crente traga Cristo aos ritos
sagrados, mas que o “sacramento” traga Cristo ao participante. Os adventistas
do sétimo dia acreditam que na Ceia do Senhor, por exemplo, Cristo encontra seu
povo e os energiza com a sua presença. Consequentemente, todos os que
negligenciam esses períodos de privilégio divino sofrerão perdas.22
A Bíblia ensina
claramente que benefícios espirituais objetivos acompanham a ordenança,
incluindo comunhão com Jesus e uns com os outros (Jo 13:8, 1 Co 10:16,17), e
bênçãos de felicidade (Jo 13:17).23 Claramente, os adventistas do
sétimo dia acreditam que um benefício objetivo acompanha os ritos sagrados, bem
à parte da fé do crente, i.e., a presença de Cristo na ordenança. Nesse ponto,
os adventistas do sétimo dia diferem dos grupos que, embora rejeitando
corretamente o sacramentalismo, vão para o outro extremo de tornar as
ordenanças essencialmente um memorial, i.e., um símbolo nu. Aqui, a posição
adventista do sétimo dia sobre o benefício objetivo da ordenança a aproxima da
visão reformada, com uma qualificação essencial. Enquanto a ideia reformada do
sacramento “tornar-se um selo” parece implicar uma mudança metafísica nos
elementos, embora diferente da transubstanciação ou consubstanciação, a noção
adventista da presença de Cristo está bem à parte dos elementos (Mt 18:20).
Ellen White explica: “Cristo, pelo Espírito Santo, está ali para selar sua
ordenança. Ele está ali para convencer e abrandar o coração. Nem um olhar, nem
um pensamento de contrição escapa à sua atenção.”24 O benefício da
ordenança, na visão adventista, não está inerentemente ligado aos elementos
materiais da ordenança, mas à presença pessoal de Cristo por meio do Espírito
Santo. O comentário imediatamente anterior não sugere que, na compreensão
adventista, os elementos materiais da Ceia do Senhor não tenham importância. De
fato, os adventistas acreditam que, na Ceia do Senhor, “. . . os símbolos que
representam seu corpo e seu sangue são . . . santos.”25 O pão e o
vinho são sagrados no sentido bíblico, onde as coisas sagradas não possuem
santidade inerente, mas têm apenas uma santidade derivada da presença do Deus
vivo.26 Bem como o solo em que Moisés estava era santo por causa da
presença do Senhor na sarça ardente (Êx 3:5), assim o pão e o vinho são santos
pela presença de Cristo por meio do Espírito Santo na Ceia do Senhor.
Sobre a eficácia da
ordenança, então, é a presença de Cristo, através do Espírito Santo, que é a
causa eficiente primária. No entanto, a natureza da ordenança como um
“memorial” significa que as faculdades cognitivas do participante são exercidas
sobre a experiência. Estes desempenham um papel na compreensão adventista das
ordenanças, especialmente, a Ceia do Senhor. Os adventistas entendem que a
ordenança da Ceia do Senhor fala aos nossos sentidos do amor de Deus. Nossos
sentidos são aguçados para se apoderar do mistério da piedade ao recebermos o
pão e o vinho que simbolizam o corpo partido de Cristo e o sangue derramado. Em
imaginação nos juntamos à cena da primeira comunhão no cenáculo, e assim Cristo
é apresentado crucificado entre nós.27
Segundo, com relação ao
batismo, aplicam-se os mesmos princípios que fundamentam o entendimento
adventista da Ceia do Senhor. Formalmente, o batismo não é considerado um meio
de graça no sentido que lhe é atribuído na teologia sacramental. “Os
adventistas sempre rejeitaram qualquer visão do batismo como um ato que, por si
só, confere graça e efetua a salvação.”28 É um rito que, em seu
simbolismo, reflete o evangelho em termos de seu plano de salvação. Portanto, a
submissão ao rito implica, em primeiro lugar, uma união espiritual com Cristo,
i.e., uma eleição consciente da parte de alguém para ser enredado nos eventos
salvíficos da vida, morte e ressurreição de Jesus (Rm 6:3–8). Na união estão
simbolizados os eventos preparatórios de perdão, purificação, novo nascimento e
recepção da presença do Espírito Santo na vida, bem como a participação
escatológica na gloriosa comunhão de Deus com seu povo. Segundo, com a escolha
de se identificar com Cristo, há uma mudança de lealdade. Os adventistas
entendem o batismo particularmente no sentido primitivo de sacramentum como um
“penhor” de fidelidade. Os súditos batismais são batizados em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo, comprometendo-se, portanto, a renunciar ao mundo e a
observar as leis do reino de Deus.
A
reflexão de Karl Barth sobre o simbolismo do batismo se harmoniza com a posição
adventista
O batismo cristão é em
essência a representação [abbild] da renovação de um homem por meio de sua
participação por meio do poder do Espírito Santo na morte e ressurreição de
Jesus Cristo, e, com isso, a representação da associação do homem com Cristo,
com a aliança da graça que é concluída e realizada nele, e com a comunhão de
Sua Igreja.29
A terceira implicação
da união com Cristo é a união com o corpo de Cristo, isto é, a Igreja (1 Co
12:13). Neste ponto, os adventistas têm uma compreensão particular da eficácia
e propósito da ordenança do batismo. Embora o rito não funcione ex opere
operato, os adventistas acreditam que um efeito objetivo real é realizado
através do rito do batismo, sob a égide do Espírito Santo. No batismo, os
candidatos são recebidos na família de Deus e seus nomes são inscritos no livro
da vida do Cordeiro.30
Deveria ser óbvio neste
ponto que a compreensão básica dos adventistas do rito do batismo como uma
profissão consciente a ser identificada com as realidades do evangelho exclui o
batismo infantil. Os adventistas praticam o batismo dos crentes.
Sacramentos
e A Igreja
Até agora, tentamos
delinear as diferentes maneiras pelas quais as denominações cristãs definiram
os sacramentos. Fizemos isso observando como diferentes tradições cristãs
entendem a essência dos sacramentos, sua eficácia e propósito. Para poder
decidir sobre a necessidade ou não dos sacramentos, era importante conhecermos
o fenômeno como tal. Tendo definido os sacramentos, agora é importante explorar
sua relação com a Igreja. Nossa preocupação aqui é examinar como os sacramentos
estão formalmente ligados à Igreja. Na discussão anterior, vimos como tradições
cristãs particulares se relacionam com os sacramentos/ordenanças. Essa
discussão, no entanto, era secundária em relação à mais fundamental que
desejamos desenvolver aqui, que é mostrar como o fenômeno dos sacramentos está
relacionado em tudo à Igreja.
Nosso ponto de partida
é a noção de “reino de Deus/céu.” Os estudiosos geralmente concordam com o fato
de que a frase “reino de Deus” se refere ao reino ou governo de Deus,31
que tem realidades presentes e futuras.32 É um reino que Deus
estabeleceu e que tem benefícios associados a ele. As pessoas podem entrar
livremente nele (Lc 16:16), ou recebê-lo como um presente de Deus (Lc 12:32).
Não há dúvida sobre a importância do conceito de “reino de Deus” no ensino de
Jesus. Ele ensinou que o reino de Deus estava próximo (Mc 1:15), porém, mais do
que ensinar que o reino estava próximo, o próprio Jesus foi o meio que Deus escolheu
para realizar o reino. “Foi por meio dele que Deus escolheu operar.”33
É contra o contexto da
noção de reino de Deus que o conceito de Igreja adquire inteligibilidade.
Embora Jesus não usasse a palavra “igreja” com frequência, a ideia estava
presente em seu ensino.34 Como Marshall coloca: “A igreja é
simplesmente a companhia daqueles que aceitam o governo real de Deus e se
encontram unidos por sua lealdade comum a Deus e Seu Filho.”35 Segue-se que
enquanto a Igreja não deve ser confundida com o reino, como a companhia
daqueles que aceitaram a mensagem do reino, a Igreja é uma manifestação do
reino no mundo. A Igreja “é a comunidade humana que vive sob o governo de Deus”36
(ênfase minha).
Como alguém entra no
reino e desfruta de seus benefícios? A impressão é clara na Bíblia de que a
entrada no reino está condicionada a uma resposta pessoal de discipulado (Mt
7:21; Lc 12:32; 22:29). Embora o reino seja um dom oriundo da graça de Deus, o
discipulado, i.e., a disposição de estar unido a Cristo em confiança e
compromisso, caracteriza aqueles que estão humildemente dispostos a receber o
reino (Mt.18:3; 5:10; 19:12; Lc 9:60, 62).37
Observar a composição
da Igreja do ponto de vista do reino traz à tona pelo menos duas ideias-chave:
uma proclamação pessoal e voluntária de união e identificação com o governo de
Cristo (agora e no futuro) e uma promessa de fidelidade a Deus e Seu Filho. É
importante observar que essas duas noções-chave que estão implícitas no
conceito de Igreja foram mostradas, em nossa definição dos sacramentos, como o
cerne, teologicamente, do significado dos sacramentos (i.e., Ceia do Senhor e
Batismo). Portanto, pode-se concluir que o conceito de Igreja está integral e
formalmente ligado aos sacramentos.
A conexão formal entre
o conceito de Igreja e os sacramentos significa que a maneira de uma
determinada comunidade interpretar a Igreja (i.e., sua doutrina da Igreja)
inevitavelmente influenciará a maneira como os sacramentos são definidos,
compreendidos, praticados ou não praticados. Nesse sentido, as diferentes
maneiras pelas quais os sacramentos foram entendidos por diferentes comunidades
cristãs refletem sua compreensão particular da Igreja. Examinar a conexão entre
as visões particulares das várias comunidades sobre o sacramento e sua interpretação
do conceito de Igreja está além do objetivo deste artigo. Nosso objetivo nesta
seção do artigo foi simplesmente mostrar que, formalmente, os
sacramentos/ordenanças são parte integrante do conceito de Igreja. Não
obstante, faremos algumas observações. Primeiro, em um nível muito amplo, a
controvérsia histórica sobre as marcas da verdadeira igreja reflete essa
conexão interna entre os sacramentos e a doutrina da Igreja. Por um lado, na
eclesiologia da “alta igreja” (representada pelas tradições católica romana,
ortodoxa e até certo ponto anglicana), onde a ênfase é colocada na
apostolicidade (em conjunto com catolicidade, unidade e santidade) na
determinação das marcas da verdadeira igreja, o sacramentalismo prevalece. Por
outro lado, as igrejas na tradição da Reforma que enfatizam a Palavra e o
Sacramento como as verdadeiras marcas da Igreja, tendem a rejeitar o
sacramentalismo. Segundo, as igrejas de tendência calvinista, onde se entende
que a igreja é composta por um grupo invisível de eleitos, tendem a ter uma
espécie de abordagem de “aliança” aos sacramentos em que certos grupos de
pessoas seriam automaticamente elegíveis para participar dos sacramentos. A
prática do batismo infantil, por exemplo, entre alguns da tradição reformada, é
baseada na doutrina da eleição. Terceiro, aquelas igrejas na tradição da
Reforma que entendem a igreja como composta de pessoas que fizeram uma aliança
voluntária com Deus e têm um relacionamento vital com Cristo, tendem a ter uma
compreensão dos sacramentos baseada em ordenanças. Eles rejeitam o
sacramentalismo porque tem a tendência de externalizar o cristianismo e
reduzi-lo ao ritualismo.
Duas conclusões seguem
de nossa discussão até agora. Em primeiro lugar, formalmente, os sacramentos
estão intrínseca e necessariamente ligados ao conceito de Igreja. Segundo, a
decisão sobre como os sacramentos/ordenanças são praticados depende da
compreensão particular da Igreja. Com base no que precede, foquemos
especificamente na questão se os sacramentos são uma parte essencial da vida da
Igreja ou não.
Sacramentos:
Essenciais ou Adiafóricos?
Os sacramentos são
essenciais para a salvação do cristão ou são apenas rituais incidentais à
prática da fé? Deve ser óbvio de nossa discussão até agora que para
sacramentalistas, como católicos romanos, a questão é discutível. Os
sacramentos são praticamente meios de salvação. De fato, no pensamento
pós-Vaticano II sobre os sacramentos, a própria Igreja é afirmada como o
sacramento do mundo, com o entendimento geral de que Cristo é o sacramento
primordial (ursakrament). Emery Percell explica: “A implicação é que o corpo de
Cristo é uma presença sacramental que não pode ser limitada aos sacramentos.
Onde quer que o corpo (i.e., a igreja) esteja quebrantado em amor pelo mundo, o
reino é prenunciado e disponibilizado para quem o receber. A igreja em sua
totalidade recebe o dom da salvação, e em seu testemunho o oferece ao mundo.”38
Essa visão levanta a questão do pansacramentalismo, que está além do escopo
deste artigo. Vale ressaltar, no entanto, que a visão da “temática da
ordenança” do sacramento como uma instituição dominical (i.e., uma instituição
deliberadamente estabelecida pelo Senhor) parece contrastar com o
pansacramentalismo.39
Para os não
sacramentais, a questão da necessidade dos sacramentos é delicada. Abordaremos
a questão da perspectiva do entendimento adventista do sétimo dia dos
sacramentos, conforme descrito acima. Os destaques da posição adventista do
sétimo dia sobre os sacramentos podem ser declarados como:
1. Os sacramentos são
dominicais no sentido de que foram ordenados por Cristo para serem observados
por seus seguidores. Portanto, a denotação preferida dos ritos é “ordenanças.”
2. Existem dois desses
ritos sagrados (batismo e ceia do Senhor), que juntos simbolizam a unidade do
crente com Cristo e entre si; e um penhor de fidelidade ao governo de Cristo.
3. Os ritos não são
meros símbolos, mas oferecem benefícios espirituais objetivos, não em e de si
mesmos, mas por Cristo que atende aos ritos por meio do Espírito Santo.
4. Entre os benefícios
espirituais que podem ser obtidos da Ceia do Senhor estão: a admissão na
família de Deus e a inscrição do próprio nome no Livro da Vida do Cordeiro
(batismo), comunhão com Cristo e uns com os outros, e receber convicção,
arrependimento e rejuvenescimento (Ceia do Senhor).
Parece que a enumeração
dos pontos anteriores sobre as ordenanças deve concluir o caso de sua
necessidade. No entanto, os pontos levantados acima precisam ser discutidos com
algum detalhe. O caso para a necessidade das ordenanças será feito por dois
pontos-chave: porque Cristo ordenou que as ordenanças fossem observadas e
porque recebemos bênçãos espirituais por observá-las.
Primeiro, as ordenanças
são essenciais porque o Senhor as ordenou, tanto em relação à sua natureza
quanto ao seu número. Não parece haver dúvida de que o Senhor ordenou que essas
ordenanças fossem observadas. Sobre a concordância neste ponto, D. M. Baillie é
preciso: “. . . podemos seguramente considerar esses dois ritos não apenas como
sacramentos do Novo Testamento, mas como sacramentos ‘dominicais’. . . Eles são
salvos de toda arbitrariedade por uma clara conexão histórica com o episódio da
Palavra feito carne.”40 Mas por que é importante notar que o próprio
Senhor ordenou que os sacramentos fossem observados? Além do fato de que nosso
amor por Cristo é expresso pela observância de seus mandamentos (Jo 14:15), é
óbvio que o Senhor tinha em mente nosso bem-estar espiritual quando nos ensinou
o que fazer. Depois que ele ordenou aos discípulos a ordenança do lava-pés, o
Senhor observou: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as
praticardes” (Jo 13:17). Além disso, Baillie destaca um ponto importante sobre
o Senhor conectar claramente os sacramentos aos eventos históricos de sua vida,
a saber, sua morte e ressurreição. De acordo com Baillie, ao fazê-lo, o Senhor
livrou os sacramentos de “qualquer arbitrariedade.” O ponto se torna
extremamente importante em vista da ênfase contemporânea no pansacramentalismo.
Através da influência de pensadores como Paul Tillich, Edward Schillebeeckx,
Karl Rahner e G. van der Leeuw, popularizou-se a ideia de que tanto a natureza
quanto o homem são estruturados simbólica e sacramentalmente. Assim, o
argumento foi feito para o “mundo como o sacramento original.”41
Resumindo, toda realidade “é potencialmente ou de fato portadora da presença de
Deus e instrumento da atividade salvífica de Deus.”42 Está além do
escopo deste artigo se envolver extensivamente com as questões levantadas por
esses desenvolvimentos. Basta dizer que, além do problema do panteísmo
subjacente a essas ideias, enfrenta-se um sério desafio na defesa dos
sacramentos particulares da igreja cristã, sejam os dois (Reforma), ou os sete
(católico romano etc.). O problema filosófico envolvido nesse desafio foi
corretamente detectado por Berkouwer: “Como essa tese pode ser conciliada com a
transcendência dos sacramentos cristãos?”43 Em outras palavras, se
toda a realidade do mundo é sacramental, em que sentido o batismo, a Ceia do
Senhor e o lava-pés podem reivindicar um significado especial? É neste ponto
que a “seleção e qualificação divinas são de importância decisiva para o poder
e a natureza do sinal na ação de Deus.”44 Por exemplo, embora o
arco-íris como sinal tenha significado na ciência, Deus, por seleção, o
qualificou para seu propósito sagrado (Gn 9:12–16). Da mesma forma, Deus
qualificou a água, por meio do batismo, e o pão e o vinho, por meio da Ceia do
Senhor, para os propósitos sagrados descritos acima.
Um breve resumo sobre o
que foi dito até agora será útil aqui. Dissemos ser necessário observar as
ordenanças porque o Senhor em sua sabedoria exige que o façamos. Além disso,
para nos livrar de qualquer arbitrariedade fazendo com que as ordenanças sejam
o que deveriam ser, ele as conectou especificamente a eventos que estão
historicamente ligados à sua vida e morte.
Agora chegamos ao
segundo ponto principal sobre a necessidade das ordenanças. As ordenanças são
essenciais por causa de seus benefícios espirituais. Sobre este ponto, os
adventistas do sétimo dia acreditam, com base na Bíblia, que nosso Senhor
ordenou que a prática dos sacramentos tem um benefício espiritual objetivo para
o participante. Nesta perspectiva, os sacramentos são essenciais e necessários.
Já enumeramos alguns dos benefícios espirituais a serem obtidos ao participar
das ordenanças.
Se as ordenanças trazem
esses benefícios espirituais, por que sua prática estaria em declínio? Parece
que a questão tem a ver com uma compreensão teológica adequada da natureza dos
sacramentos. Por um lado, diz-se que a desvalorização da prática dos
sacramentos em algumas tradições protestantes ocorreu por causa da compreensão
do “simples símbolo” da natureza dos sacramentos. Se o sacramento é desprovido
de qualquer “realismo” espiritual, há pouco incentivo para praticá-lo. Isso é
verdade com algumas igrejas que seguem a tradição dos reformadores radicais no
que diz respeito aos sacramentos. Por outro lado, a questão da necessidade dos
sacramentos como apresentada pelos sacramentalistas cria um obstáculo teológico
para alguns que acreditam que a salvação não pode ser reduzida a mero
ritualismo. A ênfase no realismo sacramental dos “sacramentalistas” parece
forçar a questão da necessidade a ser uma escolha entre se os sacramentos são
necessários para a salvação ou não para a salvação. É claro que, subjacente à
escolha, quando assim apresentada, está uma compreensão particular dos
sacramentos, ou seja, os sacramentos como meio de graça. É nossa alegação que
enquadrar a escolha dessa maneira expõe a pessoa a um falso dilema. Isso porque
a essencialidade das ordenanças não precisa estar vinculada à sua necessidade
como meio de salvação. Em outras palavras, deve ser possível dizer que os
sacramentos são essenciais e necessários, sem dizer que são os meios da graça
da salvação.
A distinção entre
necessidade de meio e necessidade de preceito é importante e útil na tentativa
de resolver a questão anterior.45 A primeira representa uma
necessidade absoluta, como quando se diz que o alimento é uma necessidade da
vida; e a fé é necessária para a salvação. Esta última tem a ver com a
observância de um mandamento, como o mandamento de santificar o sábado. Por um
lado, a caracterização dos sacramentos como meio de salvação pressupõe uma
compreensão instrumental e ritualística da salvação. Nesse sentido, os
sacramentos não são necessários para a salvação, “porque pela graça sois
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós: é dom de Deus” (Ef 2:8).
Os sacramentos, por
outro lado, são “necessários” para a salvação como preceitos. Por exemplo, a
menção de Jesus à água e ao Espírito em seu discurso com Nicodemos é geralmente
entendida como uma referência à ordenança do batismo (Jo 3:5). Embora, como
mostramos acima, as interpretações possam diferir quanto à eficácia da água na
ordenança, a necessidade básica do preceito do batismo para entrar no reino de
Deus é clara no texto. Essa necessidade do preceito pode ser demonstrada dentro
do contexto do entendimento adventista do sétimo dia das ordenanças.
Especificamente, as ordenanças não funcionam de forma autônoma. Isso significa
que, embora não prescindamos da necessidade do preceito do batismo, por
exemplo, uma pessoa não necessariamente nasce de novo sendo imersa na água se
não tiver fé na realidade que a imersão na água simboliza. Somos salvos pela
graça, mediante a fé em Cristo. Ele é a causa da nossa salvação. A água não é
uma segunda causa de salvação. No entanto, o batismo é um preceito necessário.
A necessidade do preceito está nos benefícios espirituais objetivos das
ordenanças que descrevemos anteriormente. Assim, embora o batismo não seja uma
causa de salvação, não é espiritualmente não essencial. Um argumento semelhante
pode ser feito para a Ceia do Senhor, incluindo a ordenança do lava-pés.
Conclusão
Em conclusão,
diferentes comunidades cristãs entendem a natureza dos ritos sagrados da Igreja
Cristã de maneira diferente. Esse fenômeno se reflete na forma como os ritos
são rotulados, seja como “sacramentos” ou “ordenanças.” A diferença na
rotulagem, no entanto, é reflexo das duas principais abordagens teológicas
diferentes de entender a natureza dos ritos sagrados do cristianismo. Dentro de
cada abordagem, pequenas diferenças podem ser observadas. Exploramos as duas
abordagens principais e apontamos as pequenas diferenças em cada uma delas no
que diz respeito a tradições cristãs particulares. O entendimento adventista do
sétimo dia dentro da abordagem da ordenança foi abordado. Além das duas
principais abordagens, notamos também a ampliação contemporânea do entendimento
sobre os sacramentos na noção de pansacramentalismo.
Apesar das diferentes
perspectivas, do ponto de vista bíblico, duas conclusões parecem
incontroversas. Primeiro, por sua conexão com o conceito de reino de Deus, os
sacramentos/ordenanças estão teologicamente ligados à Igreja como corpo de
Cristo. Essa relação é uma conexão formal que não pode ser cortada sem
obscurecer a distinção essencial da Igreja de outras sociedades humanas.
Segundo, os sacramentos/ordenanças são essenciais não apenas porque o Senhor
ordena que seus seguidores os observem, mas porque participando deles
declaramos nosso pertencimento do reino de Cristo e recebemos ativamente as
bênçãos espirituais objetivas que o Senhor, por meio do Espírito Santo, concede
aos cidadãos do reino.
*Kwabena
Donkor é diretor associado do Biblical Research Institute
[Instituto de Pesquisas Bíblicas] na Conferência Geral dos Adventistas do
Sétimo Dia em Silver Spring, Maryland. Ele é editor de The Church, Culture, and
Spirits: Adventism in Africa [A Igreja, Cultura e Espíritos: Adventismo na
África], contribuiu para diversos jornais e no livro Reclaiming the Center:
Confronting Evangelical Accommodation in Postmodern Times [Reinvindicando O
Centro: Confrontando A Acomodação Evangélica nos Tempos Pós-modernos]. Ele e
sua esposa Comfort têm dois filhos, já adultos.
Notas
1. João Crisóstomo (c.
347-407), por exemplo, é conhecido por ter se referido à Ceia do Senhor como um
“mistério,” ver Timothy Ware, The Orthodox Church (New York: Penguin Books,
1983), p. 281.
2. O apologista
Tertuliano (220 E.C.) é conhecido como o primeiro teólogo conhecido a ter usado
o termo sacramento para denotar o ritual do batismo como uma promessa de
fidelidade por um iniciado à fé cristã. Ver Joseph Martos, “Sacrament,” em Alan
Richardson e John Bowden,ee., The Westminster Dictionary of Christian Theology
(Philadelphia: The Westminster Press, 1983), p. 515
3. Ibid.
4. Stanley J. Grenz,
Theology for the Community of God (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing
Company), p. 513.
5. Ibid.
6. Eugene Bizer, Das
Christusgeheimnis der Sakramente, 1950, citado em G. C. Berkouwer, The
Sacraments (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company, 1969), p. 40.
7. Berkouwer, p. 34.
8. C. M. Horne,
“Sacraments,” The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, e. Merrill C.
Tenney, 5 vols. (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1975), 5:194.
9. Berkouwer, pp.
46–47.
10. Ibid.
11. João Calvino,
Institutas da Religião Cristã, IV, XIV, 7.
12. Charles Hodge,
Systematic Theology 3 vols. (Grand Rapids: Eerdmans Pub. Co., 1981), 3:507.
13. Millard J.
Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1985), p. 1093.
14. Ibid., p. 1095.
15. Grenz, p. 514.
16. Augustus H. Strong,
Systematic Theology (Valley Forge, PA: Judson Press, 1985), p. 964.
17. Ibid.
18. Raoul Dederen, e.,
Handbook of Seventh-day Adventist Theology (Hagerstown, MD: Review and Herald
Publishing Association, 2000), p. 554.
19. Ver Ekkehardt
Mueller, “Seventh-day Adventists and the Lord’s Supper,” Ministry, abril de
2004, p. 10.
20. Strong, p. 961.
21. Dederen, p. 604.
22. Ellen G. White, O
Desejado de Todas as Nações, p. 656.
23. Ver Ekkehardt
Mueller, Ministry, abril de 2004, pp. 10–12.
24. Ibid.
25. Ver The Seventh-day
Adventist Church Manual, 16ª Ed. (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publishing
Assoc., 2000), p. 73.
26. Ver A. S. Wood,
“Holiness,” The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, pp. 176-177.
27. Ibid., p. 660.
28. Dederen, p. 591.
29. Karl Barth, The
Teaching of the Church Regarding Baptism, trans. Ernest A. Payne (London: SCM,
1948), p. 9.
30. F. D. Nichol, e.,
The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Volume 6 (Washington, D. C.: Review
and Herald Publishing Association, 1978; 2002), p. 1075.
31. Dederen, p. 543.
32. Grenz, p. 22.
33. I.H. Marshall,
“Kingdom of God, of Heaven,” The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible,
e., Merrill C. Tenney, 5 vols. (Grand Rapids: Zondervan Publishing House,
1975), 3:806.
34. Ver Raoul Dederen,
“Jesus a-t-il eu l’intention de fonder une Eglise?,” em Etudes En Ecclesiologie
Adventiste vol. 2, Comite de Recherche Biblique, Conferences Biblique de la
Division Eurafricaine, 1993.
35. Ibid., 808.
36. Dederen, p. 543.
37. Marshall, p. 807.
38. Emery A. Percell,
“The Church as Sacrament,” Christian Century 100/19 (1983): 938.
39. Os adventistas do
sétimo dia têm uma visão cautelosa sobre essa questão. Na Ceia do Senhor, por
exemplo, eles advertem: “Já que o próprio Senhor selecionou os símbolos profundamente
significativos . . . deve haver grande relutância em introduzir símbolos e
meios alternativos . . . para que o significado original do serviço não se
perca, The Seventh-day Adventist Church Manual, 16ª ed. (Hagerstown, Md.:
Review and Herald Publishing Assoc., 2000), p. 73.
40. Donald M. Baillie,
The Theology of the Sacraments (New York: Charles Scribner’s Sons, 1957), p.
60.
41. Theodore Runyon,
“The World as the Original Sacrament,” Worship 54/6 (1980): 495–511.
42. Kevin W. Irwin, “A
Sacramental World—Sacramentality As The Primary Language for Sacraments,”
Worship 76/3 (2002):202.
43. Berkouwer, p. 19.
44. Ibid., p. 25.
45. Hodge, p. 516.
FONTE: Estudos Adventistas
Comentários
Postar um comentário