Teologia

quinta-feira, 12 de maio de 2022

DAS TEMPESTADES À ESPERANÇA DO TEMPO FIM


 Dwain N. Esmond

O evangelho da segunda vinda de Cristo é la raison d’être de nossa existência como Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o próprio centro das mensagens sem paralelo que Deus nos confiou para proclamar neste momento culminante da História.

As cenas eram indiscutivelmente devastadoras. Foram 431 milímetros de chuva, em menos de 24 horas, no sábado, 21 de agosto de 2021, quebrando o recorde de um dia de chuvas no Tennessee em mais de 76 milímetros.1 As casas foram arrancadas de seus alicerces, carros destruídos ficaram espalhados por toda a região, empresas foram derrubadas e cabos de energia balançavam perigosamente no solo e no ar. Um morador do local viu duas meninas agarradas a uma tábua, uma delas segurando um cachorrinho, sendo levadas pela correnteza. Quando as chuvas passaram, pelo menos 22 pessoas haviam morrido e mais de 50 ainda estavam desaparecidas.2

Quando vi as cenas de devastação sendo transmitidas, meu coração se encheu de tristeza. Mas logo a mídia seguiria com outras notícias e as pessoas atingidas por essa tragédia seriam esquecidas. Naquele dia, nem imaginava que uma querida amiga minha estava no meio dessa catástrofe. Por acaso, entrei em contato com ela, e ela me relatou o trauma que havia sofrido. Sua voz estava embargada e falava quase chorando.

“Dwain, foi um pesadelo. Até hoje, começo a tremer quando vejo uma nuvem de chuva no céu. Não consigo dormir quando chove. Meus nervos estão à flor da pele.”

Poderíamos culpá-la? Afinal, naquele sábado, encolhida ao lado de seus animais de estimação, ela viu horrorizada quando o riacho perto de sua casa transbordou e levou a única ponte que havia para atravessá-lo em segurança.

UM MUNDO EM CRISE

Tragédias como essa são relatadas frequentemente em todo o mundo. Nós que somos portadores das lentes proféticas das Escrituras, conhecemos muito bem os eventos que precederão a segunda vinda de Jesus. “Depois disso”, escreveu João, o Revelador, “vi outro anjo subindo do Oriente, tendo o selo do Deus vivo. Ele bradou em alta voz aos quatro anjos a quem havia sido dado poder para danificar a Terra e o mar: “Não danifiquem, nem a Terra, nem o mar, nem as árvores, até que selemos as testas dos servos do nosso Deus” (Apocalipse 7:2-3).3

Deus enviou quatro anjos para conter as forças demoníacas poderosas demais para que as pudéssemos compreender, conflitos tremendamente assustadores de se contemplar e desastres naturais extremamente devastadores para que se possa calcular. Ao aproximar-se o grande dia do Senhor, essas poderosas sentinelas começarão a afrouxar seu controle sobre as forças demoníacas até então reprimidas e que estão empenhadas em causar a morte e destruição. Deus remove a restrição e expõe a verdadeira realidade, a parte obscura da grande rebelião cósmica.

AS TEMPESTADES QUE ESTÃO PARA VIR

Os ventos tempestuosos que sopram atualmente nada mais são que pequenas reverberações das tempestades mortais que estão por vir. Ao nos aproximarmos do fim, testemunharemos desastres que ocorrerão no ar, na terra e no mar. Entretanto, mais que isso, em Mateus 24, Jesus previu o ciclone do engano e acrescentou: “Cuidado, que ninguém os engane” (verso 4). Ele advertiu os discípulos daquele tempo e também os de hoje: “Pois muitos virão em meu nome, dizendo: “Eu sou o Cristo!” − e enganarão a muitos” (verso 5). Jesus falou também sobre as tempestades da guerra: “Nação se levantará contra nação, e reino contra reino” (verso 7). Em Mateus 24:9 e 10, Jesus descreveu a tempestade da perseguição: “Então eles os entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por Minha causa. Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros.” O verso 11 prevê o aparecimento de falsos profetas e de adeptos da teoria da conspiração que vão se acercar daqueles que, sentindo coceira nos ouvidos, não suportarão a sã doutrina (ver 2 Timóteo 4:3). No versículo 12, Jesus fala sobre a tempestade de gelo que invade o coração daqueles que se afastam da fé, “e o amor de muitos esfriará”. Daniel viu em visão “um tempo de angústia, como nunca houve desde o início das nações” (Daniel 12:1).

UM RAIO DE ESPERANÇA

Como se quisesse proporcionar um raio de sol aos discípulos daquela época e de hoje também, antes das tempestades que estavam para vir, Jesus prometeu, em Mateus 24:13: “Mas aquele que perseverar até o fim, será salvo.” E Jesus não parou por aí. No versículo a seguir, Ele acrescentou esta profunda verdade que caracterizou e energizou o trabalho realizado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde a sua formação até os dias atuais: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (verso 14).

Qual Evangelho? Este evangelho do reino! Esse é o evangelho do amor de Deus todo-transcendente, todo-consumidor, todo-transformador. Esse é o evangelho da esperança, que alcança o menor destes e daqueles que pensam não ter necessidade de coisa alguma. Esse é o evangelho do Reino, esse é o evangelho da graça, esse é o evangelho da esperança, esse é o evangelho do Salvador do mundo!

Esse evangelho é la raison d’être da nossa existência como Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o próprio centro das mensagens sem paralelo que Deus nos confiou para proclamar neste momento culminante da História. Em meio a pandemias e perigos, corrupção e carnificina, assassinatos e o caos, Deus ataca o leão − Satanás − com um rebanho de cordeiros. Talvez já tenha ouvido isso antes, mas posso lembrar você das nossas ordens de marcha como adventistas do sétimo dia, conforme foi descrito por Ellen White:

“Em sentido especial foram os adventistas do sétimo dia postos no mundo como atalaias e portadores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incide a maravilhosa luz da Palavra de Deus. Confiou-se-lhes uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Nenhuma obra há de tão grande importância. Não devem eles permitir que nenhuma outra coisa lhes absorva a atenção.”4

Nós proclamamos a mensagem do primeiro anjo que “tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na Terra” (Apocalipse 14:6), dizendo em alta voz: “Temam a Deus e glorifiquem-No, pois chegou a hora do Seu juízo (Apocalipse, o “evangelho eterno” − (Apocalipse 14:6). “Adorem Aquele que fez os céus, a Terra, o mar e as fontes das águas” (verso 7). Esses versos nos fazem lembrar que a origem da humanidade é divina, não evolutiva. Além disso, não fomos chamados para proclamar um novo evangelho. Temos o “evangelho eterno” − oportuno e atemporal, essencial e eterno, necessário e inesgotável! Os profetas do Antigo Testamento ansiavam por ele, os discípulos conquistaram o mundo com ele, a igreja primitiva deu seu testemunho sobre ele e nós ajudaremos a salvar os perdidos com ele!

Nós também proclamamos a mensagem do segundo anjo de Apocalipse 14:8: “Caiu! Caiu a grande Babilônia!” Essa mensagem chama todos os adoradores do verdadeiro Deus a rejeitarem quaisquer formas de adoração e crença que não estejam totalmente baseadas na Palavra de Deus. Ela nos afasta das crenças montadas aleatoriamente, relacionadas a uma religiosidade que diz que você pode adorar a Deus do seu jeito! “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!”, é o que o anjo de Apocalipse 18:4 mais tarde ordena! Essa sagrada mensagem é um chamado para ficarmos longe, para nos afastarmos da falsa adoração sob qualquer forma.

A MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO

Embora as duas primeiras mensagens angélicas sejam tão poderosas, Ellen White disse algo bastante surpreendente com relação à mensagem do terceiro anjo: “O poder das mensagens do primeiro e do segundo anjos deve estar centralizado na mensagem do terceiro.”5

Por que o poder dessas mensagens deve estar centralizado na mensagem do terceiro? Porque ela envolve o evangelho eterno da primeira mensagem e o seu chamado para adorar a Deus! Ela envolve também o chamado do segundo anjo para nos afastarmos da falsa adoração e de tudo o que é contrário à vontade de Deus. Entretanto, a proclamação dessa mensagem é diferente das duas primeiras por enviar também uma advertência terrível: “Se alguém adorar a besta e a sua imagem e receber a sua marca na testa ou na mão, também beberá do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice da Sua ira” (Apocalipse 14:9, 10). E, ao mesmo tempo em que a mensagem identifica aqueles que foram marcados como adoradores da besta, ela revela também aqueles que foram selados como adoradores de Deus!

“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12). A respeito dessa mensagem, Ellen White observou ainda: “É a verdade presente. Esta mensagem deve ser levada avante com grande distinção e poder. Não deve ser obscurecida por teorias humanas e sofismas. O sábado deve ser proclamado como o memorial da criação de Deus.”6 Essa é a mensagem para o nosso tempo!

Logo no início, relatei o caso da minha amiga que ficou presa durante as tempestades que devastaram o Tennessee. Disse que ela estava encolhida junto aos seus animais de estimação, em lágrimas, enquanto as chuvas se desabavam e as águas subiam ao seu redor. Disse também que a ponte que possibilitaria a sua ida para um lugar seguro havia sido levada pela enchente. Todas as suas esperanças pareciam perdidas. Mas então, naquela noite, ela ouviu uma forte batida na porta.

Espantada e com medo, ela hesitou por um instante, mas a pessoa batia cada vez mais forte. Em meio às lágrimas, ela correu para a porta e a abriu. Ali, diante dela, estava um policial.

“Senhora”, ele começou dizendo, “a senhora tem que sair agora!” O policial falava com autoridade e de modo inflexível.

“OK”, ela murmurou aliviada, “deixe-me pegar algumas coisas.”

“Senhora”, insistiu o policial, “posso ajudá-la? A senhora precisa sair agora!” Assim, o oficial ajudou-a a juntar seus poucos pertences antes de colocá-la em seu veículo e levá-la para um local seguro.

Amigos, minha Bíblia me diz que um dia, muito em breve, quando as tempestades do inimigo encobrirem o Sol, quando os fogos da perseguição estiverem ardendo, quando os ventos gelados dos geradores do ódio estiverem congelando tudo, quando as tempestades da guerra estiverem em grande agitação e as nevascas da falsa religião envolver a todos, não ouviremos mais as batidas na porta. Em algum momento, porém, por volta da meia-noite, depois de tudo o que vivenciamos, a Esperança do mundo no tempo do fim romperá através das nuvens! Aquele a Quem tanto amamos, Aquele a Quem temos proclamado, Aquele a Quem temos seguido irá nos saudar dizendo: “Venham, benditos de Meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo” (Mateus 25:34). Ele nos exalta, coloca-nos junto à multidão dos remidos e nos leva a todos para o nosso lar eterno. Aquele que disse aos Seus discípulos, quando aqui esteve, e aos Seus discípulos adventistas do sétimo dia: “[...] mas não tenham medo” (Mateus 24:6) − por causa das tempestades que precederão a Sua vinda, nos chama a todos para nos mantermos fiéis ao Seu chamado. Temos uma mensagem para proclamar, um mundo a vencer, um povo para amar e uma esperança para compartilhar. E essa esperança é Jesus!

 

Dwain N. Esmond MA pela Universidade Estadual de Pittsburg, Kansas, EUA, é o diretor associado e editor do Ellen G. White Estate, em Silver Spring, Maryland, EUA, onde supervisiona o preparo e a publicação do conteúdo relacionado ao White Estate.

 

Citação Recomendada

Dwain N. Esmond, "Das tempestades à esperança do tempo do fim," Diálogo 34:1 (2022): 16-19

 

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Jonathan Mattise, AP News, “EXPLAINER: How Did Tennessee Flooding Downpour Fall So Fast?” (August 23, 2021): https://apnews.com/article/science-floods-tennessee- f8a0fe83c1ef8a8fdfc481ef881bb2ad#:~:text=(AP)%20 %E2%80%94%20A%20rural%20Tennessee,left%20a%20trail%20 of%20destruction.

2. CBS News, “Pelo menos 22 pessoas foram mortas e mais de 50 estão desaparecidas devido às enchentes no Tennessee” (23 de agosto de 2021): https://www.cbsnews.com/news/tennessee- flood-death-toll-missing/

3. A não ser quando de outra forma indicado, todas as referências bíblicas deste artigo foram citadas da Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada.

4. Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006), Vol. 9, p. 19.

5. _________, Carta 209, 1899.

6. _________, Carta 20, 1900.

 

FONTE: Revista Diálogo Universitário

 

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