Teologia

sexta-feira, 16 de abril de 2021

ONDE CAIM ENCONTROU ESPOSA?


 Michael G. Hasel

E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho (Gn 4:17).

A menção da esposa de Caim parece criar um problema. De onde ela surgiu assim de repente? Aos primeiros habitantes da Terra, obviamente, não restava outra escolha a não ser se casarem com seus irmãos e suas irmãs. Esse costume levanta a questão de saber se Deus queria, desde o início, que o incesto servisse como meio de os primeiros seres humanos cumprirem a ordem para serem fecundos, multiplicarem-se e encherem a Terra (Gn 1:28).

O casamento entre parentes próximos

Adão e Eva, de fato, tiveram outros filhos e filhas (GN 5:4), com os quais Caim e Abel devem ter se casado.1 Essa prática era inevitável na segunda geração. Na terceira geração, era possível o casamento entre primos de primeiro grau; e na quarta geração, com primos de segundo grau. Visto que Adão e Eva saíram perfeitos das mãos do Criador, não existia o perigo de defeitos congênitos pela procriação consanguínea nessa fase da história humana, apesar da entrada do pecado.

Mesmo muito tempo depois do dilúvio, constatamos que Abraão se casou com sua meia-irmã Sara. Durante a permanência dos filhos de Israel no Egito, era comum na família real egípcia haver casamentos entre irmãos e irmãs. No tempo de Moisés, por exemplo, durante a 18ª dinastia, Hatshepsut se casou com seu meio-irmão Tutmés II. Sabemos que, entre os israelitas, Anrão, pai de Moisés, casou-se com uma jovem tia, irmã de seu pai, por nome Joquebede (Êx 6:20). Essas culturas antigas viam o casamento de maneira diferente da nossa.

No entanto, depois que Deus tirou os israelitas do Egito e os separou como reino de sacerdotes e nação santa (Êx 19:6; Lv19:2), Israel recebeu as leis que disciplinavam todas as formas de incesto ((Lv 18:7-17; 20:11, 12, 14, 17, 20, 21; Dt 22:30; 27:20, 22, 23). Embora tais práticas fossem comuns no Egito, os israelitas em sua nova pátria deviam evitar esses costumes das sociedades pagãs. Levítico 18:6 proíbe relações sexuais com parentes próximos, como mãe, pai, madrasta, irmã, irmão, meio-irmão, neta, nora, genro, tia, tio ou cunhada. O que fora permitido por necessidade no passado então foi proibido. Tendo sido chamado a ser uma nação santa, Israel precisava estar à altura dos elevados padrões de conduta moral que o distinguia das nações ao redor. É preciso considerar essas proibições sexuais específicas em função das condições que prevaleciam no Antigo Oriente Médio nessa época. O culto das diversas deusas da fertilidade entre as nações fazia da “entrega do corpo a diversos prazeres sexuais uma obrigação religiosa”.2 Em contrapartida, os israelitas deviam consagrar-se a Yahweh e refletir a santidade divina para as nações ao redor deles (Êx 19:2; Is 49:6).

Conclusão

Apesar de, no início da história humana, o casamento entre parentes ter sido uma necessidade; no momento em que Israel se tornou uma nação, as relações sexuais entre parentes próximos foram proibidas. A razão para essa proibição se devia, sobretudo, ao status especial de Israel como povo santo de Deus. Foi ordenada também porque o perigo de problemas genéticos aumentou com o agravamento dos efeitos do pecado. Esse perigo não existia imediatamente após a criação. Deus criou todas as coisas perfeitas. Embora o risco de problemas genéticos seja hoje extremamente alto, as primeiras gerações de seres humanos não enfrentaram os mesmos riscos biológicos.

 Referência:

1.  Devemos partir do princípio de que a esposa de Caim era uma das outras filhas de Adão (Gn 5:4). Posteriormente, o casamento entre irmãos e irmãs se tornou desnecessário e foi severamente proibido na tradição mosaica (por exemplo, Lv 18:9) (K. A. Mathews, Genesis 1-11:26, The American Commentary [s/p: Broadman and Holman, 2002).

2. A. Noordtzij, Leviticus, Bible Student’s Commentary (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1982), p. 181.

 

FONTE: Interpretando as Escrituras, CPB, p. 118 e 119.

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