Teologia

terça-feira, 16 de junho de 2020

RESPOSTA AO DISCURSO ALIENANTE E ENVIESADO DO DR. RODRIGO SILVA


Ricardo André

No dia 07 de junho, o Dr. Rodrigo Silva, apresentador do Programa “Evidências”, da Rede de Televisão Novo Tempo, postou em seu canal no Youtube “Rodrigo Silva Arqueologia” um vídeo de 31 minutos e 48 segundos, cujo título é: “Racismo, Protestos, Ideologias”. Nele, o referido doutor expõe abertamente seu posicionamento contrário as gigantescas manifestações antirracistas que explodiram em dezenas de cidades estadunidenses desencadeadas pelo assassinato brutal de George Floyd, um homem negro, de 46 anos, por um policial branco, no dia 25 de maio, no estado de Minnesota.

Durante seus comentários, ele apresenta as razões do seu posicionamento contrário aos protestos nos EUA. Entre outras coisas, ele alega o “quebra-quebra” presente nos protestos, as motivações ideológicas e o exemplo de Jesus, que segundo ele, Cristo que disse: “Dai a César o que é de César”, ensinou que não devemos boicotar os impostos, que devemos “dá a outra face”, que Ele não agiria como os manifestantes queimando pneus, que não tinha preferência pelos pobres.

Antes de analisar seu discurso, devo dizer que reconheço o importante trabalho desenvolvido por ele no sentido de esclarecer importantes assuntos bíblicos, e de nos ajudar a confiar na Bíblia por meio do seu Programa “Evidências”. No entanto, sou obrigado a discordar veementemente da posição equivocada do apresentador ao expor sua opinião sobre os temas já mencionados. De uma simples leitura de seus comentários enviesados, se infere que o doutor Rodrigo Silva:

1) Erra ao tentar deslegitimar um movimento justo. É lamentável sob todos os aspectos o posicionamento contrário dele as manifestações antirracistas, desprezando, inclusive a justeza das reivindicações do movimento, bem como seus méritos, que fizeram o mudo debater o racismo e forçou o presidente Donald Trump a assinar decreto para iniciar uma reforma necessária na Polícia americana, a fim de torná-la mais humanizada. Ao se colocar contra os protestos dos negros americanos, Rodrigo Silva recorre à estratégia das elites brancas conservadoras para tirar a legitimidade do movimento civil dos negros norte-americanos. Elas pensam que protesto é uma caminhada evangélica, ou uma procissão que todo mundo sai as ruas silenciosamente, sem gritos de ordens e sem cartazes. Ora, um protesto pressupõe um “conflito”, obviamente, não no sentido de “banditismo” tão pouco de violência gratuita. É preciso que se diga que a ação violenta de um pequeno grupo de manifestantes não pode tirar a legitimidade do movimento, haja visto que a pauta é legítima, que é a justiça por Floyd e o fim do racismo estrutural, que é histórico naquele país. A maioria das pessoas que participaram dos protestos não eram violentas e fizeram protestos pacíficos.

Ademais, quando entendemos que há anos que os negros americanos sofrem a violência policial e a desigualdade racial, a indignação e as ações radicais de alguns nas manifestações é até compreensível. Particularmente, sou contra o uso da violência em qualquer tipo de protesto, tanto por parte de policiais como de manifestantes. Mas, não tenho o direito de criminalizar um movimento como um todo por causa do uso pontual da violência empregada por alguns poucos manifestantes. A história de Floyd, de 46 anos, cujo nome e agonia deram a volta ao mundo, se perde na selva de estatísticas que contam o que significa ser negro nos Estados Unidos hoje. Meio século depois da extinção das leis de segregação, mais de 150 anos depois da abolição da escravidão, e alcançados marcos tão simbólicos quanto a eleição de um presidente negro, brancos e negros não vivem a mesma vida. Os primeiros continuam ganhando mais dinheiro do que os segundos, gozam de melhor saúde e têm muito menos probabilidade de acabar seus dias no chão retidos por quatro policiais durante oito minutos e 46 segundos enquanto gritam em público: “Não consigo respirar”. Essa foi a onda mais generalizada e intensa de protestos contra o racismo desde o assassinato de Martin Luther King, inclusive atravessando fronteiras. Seu nome é o último de uma longa lista de mortes incompreensíveis nas mãos das forças de segurança, a manifestação extrema de um viés racista que sobrevive no consciente e no inconsciente deste país, um tipo de segregação diferente da jurídica, econômica em boa medida, que se mantém ao longo das décadas.

E ainda o Dr Rodrigo Silva vem com essa “conversa mole” de que "é contra os protestos por causa do quebra-quebra", para justificar seu não envolvimento e omissão nas questões étnico-raciais. Por se reconhecer uma pessoa negra e ocupar a posição que ocupa deveria ser um dos primeiros a alçar a voz contra as injustiças cometidas contra o povo negro norte-americano e contra os daqui. Por ser cristão, deveria ser, à semelhança dos profetas do passado, a voz dos oprimidos (Is 1:17). Ao invés de ficar com essa "conversa pra boi dormir", Silva deveria empregar seu canal para promover a reflexão a respeito do racismo como uma prática pecaminosa, logo reprovada por Deus, suas consequências para os negros, bem como debater a implementações de ações, a fim de superar a discriminação racial na sociedade, e mesmo na igreja. Mas não, ele preferiu empregar 30 minutos do seu vídeo tentando deslegitimar os protestos antirracistas. Durante todo o seu discurso, percebe-se nitidamente que ele estava preocupado unicamente em combater o movimento antirracista, quando deveria combater o racismo. Que lástima! É preciso que se entenda que ficar em silêncio diante de atitudes racistas, sem interferir, é ser cúmplice.

A verdade é que, quando a pessoa se nega a perceber a importância de tratar das questões raciais e as consequências do racismo para a população negra, propondo um silenciamento sobre tais temas (nas entrelinhas o doutor propôs isso), ela externa ignorância sobre os elementos sociais que estruturam nossa sociedade e reproduz um racismo cordial, pois engrossa um discurso de igualdade que serve apenas para manter a situação como sempre foi, a da opressão do povo negro.

Cabe aqui duas frases de valor inquestionável do grande ativista negro e Pastor Batista Martin Luther King: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”. “O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS, MAS O SILÊNCIO DOS BONS”. São exatas! É sob o silêncio cúmplice dos decentes que alguns dos maiores crimes acabam sendo perpetrados. Um texto do Pastor Niemöller, que cometeu o equívoco de ser simpatizante do nazismo no começo do movimento — e veio a se tornar seu adversário radical, tanto que foi parar num campo de concentração -, expressa esse mesmo valor:

“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”

Penso que a partir do momento que o Dr. Silva se reconhece uma pessoa negra e sabe que no seu país existe racismo, e que ele está em uma situação favorável como professor de Universidade e apresentador de TV que permite influenciar milhares de pessoas a respeito da questão racial, e não o faz, eu acho que, mais cedo ou mais tarde, ele vai se arrepender dessa omissão. Espero que lá na frente isso aconteça com ele.

2) Erra ao usar argumento raso e racista

Causou-nos indignação o argumento racista empregado pelo Dr. Rodrigo ao afirmar, com base em dados do livro “A Guerra contra a Polícia”, da escritora americana Heather Mac Donald, que nos EUA, os negros cometem mais crimes dos que os brancos. Como se não bastasse, de forma debochada, afirma que negar isso é “ter teoria da conspiração na cabeça”. O objetivo desse argumento é nitidamente associar a população negra americana aos índices de criminalidade. Ao empregar esse tipo de pressuposto, Silva reproduz as velhas sutilezas racistas por meio da associação da cor da pele à criminalidade. Falas como estas contribuem para reforçar estereótipos do negro como criminoso em potencial, e essa é justamente uma das razões pelas quais são eles os principais alvos das abordagens policiais.

Perguntamos: Qual o sentido desse recorte racial no que toca à prática de crimes? É encontrar características biológicas que justifiquem a superioridade racial de uns sobre outros e, com isso, instituir padrões de controle social focados nos “degenerados”, “desviantes”, “bárbaros” (os nascidos da mestiçagem, os rústicos, os negros). Sua argumentação serve muito bem ao propósito de estabelecer um determinismo biológico que designa a raça como fator criminógeno. Aliás, o positivismo racial nada tem de inocente e serviu a propósitos políticos e econômicos bastante claros.

A naturalização do racismo a partir de arquétipos deterministas justificou, historicamente, a escravidão moderna e o colonialismo pela subjugação das “raças” inferiores. Hoje em dia, com mais sutilezas, justifica o superencarceramento da população negra, a maior abordagem policial sobre pessoas negras e a repressão nas favelas, pois, no imaginário social, ali estão os crimes que devem ser reprimidos. A abordagem, então, em que pese teoricamente equivocada, é útil para legitimar o controle e a exploração sobre a população negra. Dizer que negros cometem mais crimes que brancos é racismo, sim. A premissa é racista e rasa. Lamentavelmente, com essa argumentação Rodrigo Silva cometeu racismo. Que absurdo!

Silva não revelou que a autora em que se baseia para tal absurdo é branca, e que no seu livro considera normal os negros serem 26% dos mortos pelas polícias, mesmo representando 12,69% da população do país, conforme números oficiais. Não podemos perder de vista que tanto nos EUA como no Brasil a justiça é seletiva. A abordagem a negros é muito maior do que a pessoas brancas, isso explica em parte o alto índice de prisões de negros. Porém, estatísticas recentes no site do Federal Bureau Of Prisons, responsável pelas prisões nos Estados Unidos, revelam uma realidade completamente diferente daquela apontada por Heather M. Donald. Lá, as estatísticas apontam que 38% dos 164 mil presos em unidades federais do país são negros, contra 58,2% brancos, 2,3% nativos americanos e 1,5 asiáticos. Os dados são do dia 30 de maio de 2020.

3) Erra ao desprezar o movimento por ser, segundo ele, “movido por ideologias”. Perguntamos ao doutor: Qual das nossas atitudes e ações não trazem uma carga ideológica subjacente? Na verdade, não existe neutralidade ideológica. Nas palavras do mestre Paulo Freire, “toda neutralidade afirmada é uma opção escondida”. Portanto, quem defende a “neutralidade ideológica" está do lado dominante da sociedade e é contra o lado oprimido e dominado. Tentar evitar ideologias é impossível. Nossa sociedade se organiza através de ideologias. A partir do momento que pensamos, concebemos ou falamos a respeito de algo, esse algo já está sendo pensado, concebido e falado através de alguma ideologia. Não temos como fugir disso. O próprio discurso do doutor Silva possui um forte viés “ideológico”, inclusive no vídeo faz um alerta: “Tomemos cuidados com as ideologias que querem fazer nossa cabeça”. Seu discurso visa, entre outras coisas, justificar a inércia, omissão e alienação dos cristãos frente aos problemas sociais, bem como afastá-los da participação em movimentos que lutam por justiça social. Comumente os pastores e outros líderes religiosos conservadores, em seus discursos procuram introjetar nos cristãos a ideia de que, como cidadãos dos Céus não devem se envolver com questões sociais que afligem as pessoas do mundo, inclusive os cristãos; que eles têm que “olhar somente para o alto”, esquecer as coisas do mundo, que isso e aquilo são contrários aos princípios ensinados por Jesus, etc. Isso é uma ideologia, e que favorece a elite dominante da sociedade. É uma forma de instrumentalizar a religião para domesticar os crentes e a conformá-los com as mazelas sociais.

Penso que pior do que defender uma ideologia com convicção é defendê-la através de uma suposta neutralidade, utilizando de subterfúgios argumentativos. Pessoas carregam história e essa história nos mostra o reflexo das segregações sociais. Ignorar isso é ignorar o sofrimento passado por muita gente que sempre ficou à margem da sociedade.

Enquanto os cristãos fazem vistas grossas as injustiças sociais, políticas e raciais, milhares de mulheres estão sendo violentadas e assassinadas, centenas de crianças e adolescentes estão sendo violentadas e exploradas sexualmente, centenas de jovens negros e negras estão sendo assassinadas e sofrendo com as desigualdades sociais, milhões de pessoas estão vivendo abaixo da linha da pobreza, vivendo na miséria, trabalhadores perdendo seus direitos por causa de leis injustas, entre outros problemas políticos e sociais.

Se Martin Luther King pensasse como muitos de nós, os negros americanos ainda estariam segregados. Foi ao custo de muitas greves, boicotes e manifestações que a América se dobrou às reivindicações daquele jovem pastor.

Acredito que os cristãos não somente podem como devem participar de movimentos sociais que lutam contra o racismo, pela justiça social, pelo direito à moradia, atendimento médico-hospitalar público e de qualidade, a terra, pela preservação do meio ambiente, entre outros. Reproduzo abaixo interessante trecho da Lição 5 da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 2019, edição do professor, que reforça o que estou afirmando:

“Às vezes os membros da igreja evitam o envolvimento em protestos e na defesa de causas por medo de ser vistos como muito políticos. Leia Jeremias 22:1-3, 13-17. Jeremias, outro profeta envolvido na defesa de causas, intercedeu em favor dos oprimidos perante os líderes do governo de sua época. A seguir, leia a citação de Jan Paulsen e discuta suas implicações.

“Há uma grande diferença entre procurar ser ouvido no discurso público e procurar exercer poder político. Como igrejas e indivíduos, não só temos o direito, mas também a obrigação de ser uma voz moral na sociedade, de falar com clareza e eloquência sobre o que está relacionado aos nossos valores. Direitos humanos, liberdade religiosa, saúde pública, pobreza e injustiça são algumas das áreas que temos a responsabilidade dada por Deus de defender aqueles que não podem falar por si mesmos” (Jan Paulsen, Serving Our World , Serving Our Lord” [Servindo ao Nosso Mundo, Servindo ao Nosso Senhor], Adventist World, Edição da DivisãoNorte-Americana, maio de 2007, p. 9, 10)”. (Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 2019, edição do professor, p. 67).

4) Erra ao não reconhecer que os pobres e oprimidos eram o foco especial do ministério de Jesus

No seu discurso, o Dr. Rodrigo Silva, menciona a expressão “Opção pelos Pobres”, da Teologia da Libertação, e afirma, de forma incisiva, que Jesus não fez “opção pelos pobres”, “Ele não fez opção por ninguém, que “Ele não faz acepção de pessoas”, criando, desse modo, confusão entre as duas expressões. Afirma ainda que, "dizer que Cristo fez 'opção pelos pobres' é criar racismo reverso, como se ser rico é pecado, é está fora da preferência de Cristo". Para sustentar seu argumento tosco, menciona alguns personagens bíblicos ricos que foram alvo do ministério de Cristo, a exemplo de Zaquel, Simão e Nicodemos. Com esse discurso, Silva revela sua completa ignorância a respeito do sentido da expressão. Concordamos com o doutor de que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10:34). É bíblico. Agora, dizer que Jesus fez “opção pelos pobres” não tem nenhuma relação com discriminação de classe social. Não quer dizer, de modo algum, que Deus escolheu amar mais a alguns e amar menos a outros, ou que ele queira salvar apenas os pobres e deixar para trás os ricos. João 3:16 diz: “Deus amou o mundo de tal maneira [...]”. Portanto, Deus ama a todos/as igualmente, com um amor tão peculiar para cada pessoa, e ao mesmo tempo tão infinito, que não há possibilidade de quantificações nem de comparações nesse amor. Toda pessoa, independentemente de raça, de cor, de gênero ou de cultura, pode sentir-se amada infinitamente por Deus, e ninguém deve sentir-se “preferido” ou discriminado, nem positiva nem negativamente. Não é possível falar seriamente de “amores preferenciais” de parte de Deus com relação a alguns seres humanos em detrimento de outros. A suprema dignidade da pessoa humana e a equanimidade infinita de Deus o exigem. E tudo que se afaste disso, somente podem ser formas inadequadas de falar.

Todavia, existe um campo em que Deus é necessariamente radical e inflexivelmente parcial: o campo da justiça. Aí Deus coloca-se do lado da justiça e contra a injustiça, sem a menor concessão, sem a menor “neutralidade”, e sem simples “preferências”: Deus está contra a injustiça e coloca-se do lado dos “injustiçados” e "oprimidos" (as vítimas da injustiça). Deus não faz nem pode fazer uma “opção preferencial pela justiça”, ao contrário, opta por ela posicionando-se radicalmente contra a injustiça e assumindo de uma maneira total a causa dos injustiçados. Esse é o sentido da expressão “preferência pelos pobres”. Compreendamos que a opção pelos pobres feita por Jesus, significa que Ele acolheu os pecadores, as pecadoras, os publicanos, os doentes. Expulsou os demônios das pessoas, ressuscitou os mortos, fez os paralíticos andarem, os surdos ouvirem, os cegos verem a realidade, curou os leprosos. Ele fez o que pode às pessoas mais excluídas da sociedade da sua época, a fim de ajudá-las e levantá-las. Similarmente, hoje também Cristo coloca-se ao lado dos pobres, dos negros, dos índios, das crianças, das mulheres, dos desempregados, dos idosos abandonados e de qualquer outro grupo social, que sofrem com as injustiças sociais.

Nesse contexto, ao longo dos reinados de Israel e Judá, além do profeta Isaías, Deus enviou diversos outros profetas para denunciar e advertir o pecado da injustiça contra os oprimidos, bem como para lembrar aos líderes e ao povo suas responsabilidades para com os excluídos. Os opressores deveriam ser refreados, e os pobres, desafortunados e oprimidos precisavam ser libertados. O Senhor chama Israel ao arrependimento e a praticar obras dignas. Entre outras coisas Ele pede: “Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva” (Isaías 1:17). O profeta Isaías ainda deixou nítido que a injustiça social provoca a indignação de Deus: “Seus líderes são rebeldes, amigos de ladrões; todos eles amam o suborno e andam atrás de presentes. Eles não defendem os direitos do órfão, e não tomam conhecimento da causa da viúva. Por isso o Soberano, o Senhor dos Exércitos, o Poderoso de Israel, anuncia: "Ah! Derramarei minha ira sobre os meus adversários e me vingarei dos meus inimigos” (Is 1:23,24, NVI).

Já o profeta Miqueias deixou claro que, quando praticamos a justiça, estamos andando com Deus: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus” (Miquéias 6:8, NVI). Para além da depravação sexual, o profeta Ezequiel claramente descreveu “os pecados de Sodoma e Gomorra”, como sendo a injustiça econômica e a falta de cuidado para com os pobres oprimidos, ao declarar: “Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados” (Ezequiel 16:49, NVI).

Ao vir Jesus à Terra, Ele mostrou, entre outras coisas, que Deus ama a justiça e abomina a opressão. Ele definiu Sua missão afirmando que "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" (Lucas 4:18,19, NVI). Toda a prática de Jesus foi a realização dessas coisas lidas na sinagoga. “Além disso, os escritores dos evangelhos, ao narrarem a história do Salvador, muitas vezes usaram a linguagem dos profetas do Antigo Testamento para explicar o que Ele estava fazendo. Dessa maneira, a vida de Cristo foi vista claramente na tradição desses profetas, incluindo a compaixão deles pelos pobres e oprimidos” (Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 2019, edição do professor, p. 84).

Portanto, as Sagradas Escrituras revelam claramente que os pobres e oprimidos, que Jesus chama de “meus pequeninos irmãos” (Mt 25:40), eram o foco especial do Seu ministério, por serem os mais vulneráveis da sociedade, e fruto de uma estrutura sócio-política opressora. Logo, defender e lutar para que haja justiça social, para que negros, pobres, mulheres, crianças abandonadas, indígenas e outros oprimidos usufruam de cidadania plena é honrar e adorar a Deus (Is 56:6-10). Mas, quando, seja qual for a razão, negamos a apoiar tais causas representamos mal a Deus. O sábio afirmou: “Aquele que oprime o pobre com isso despreza o seu Criador, mas quem ao necessitado trata com bondade honra a Deus” (Pv 14:31, NVI). A palavra de Jesus fica como uma exortação para cada um de nós, a fim de termos uma prática de vida cristã que se vislumbrará no dia da Sua vinda: “o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mt 25:40, NVI) e “o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo” (Mt 25:45). Portanto, quando Jesus voltar, nossa atitude diante dos injustiçados e oprimidos será o critério para distinguir os salvos dos perdidos.

Concluo minha reflexão com um pensamento do mestre Paulo Freire:

“Que é mesmo a minha neutralidade senão a maneira cômoda, talvez, mas hipócrita, de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça? Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

11 comentários:

  1. Perfeito! Foi muito bom e revitalizante ler os argumentos com base em citações bíblicas e na voz de pessoas tão importantes, que lutaram pela justiça social. Esses argumentos me ajudarão e muito. Obrigado pela dedicação de escreve-los. Deus abençoe.

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    1. Amém! Rafael, fico assaz feliz em saber que meu artigo de alguma forma te ajudou a compreender essa temática.

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  2. Eu tenho a impressão que o Senhor Ricardo André defende às cores do partido dos trabalhadores...
    Só pra constar.

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    1. Oi, Léo Lunnas. Obrigado por ter lido e apreciado nosso texto! Abraço afetuoso!!!

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  4. Eu não sabia sobre o posicionamento do Dr Rodrigo agual eu matéria de arqueologia tenho uma profunda admiração mas como negro que não assume a raça e ainda critica é uma merda mesmo

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  5. DR.RODRIGO ESTÁ CORRETÍSSIMO,
    ASSISTAM O VIDEO DELE ANTES DE OPINAREM.

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  6. O doutor Rodrigo está correto em suas afirmações. Já muita Maria vai con as outras. Mas, terminar com o "tal" de "mestre" Paulo Freire foi a gota d'água. Paulo Freire, admirador de genocidas... Já deu pra entender!

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  7. Cristianismo e marxismo andam juntos? Como? Que piada!

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    1. Oi, Cara irmã Gê,bom dia! Obrigado por ter lido nosso texto! Quanto a sua indagação sugiro a leitura do texto "É Possivel ser Cristão e Marxista ao mesmo Tempo?", no link a seguir: https://averdade-emjesus.blogspot.com/2020/04/e-possivel-ser-cristao-e-marxista-ao.html

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