Teologia

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O PERFUME DE MARIA – SEU MEMORIAL DE GRATIDÃO PERPÉTUO


Ricardo André

O evangelho de Marcos 14:3-9 relata um episódio interessante na vida de Jesus repleto de importantes lições espirituais. É o relato da unção de Jesus em Betânia. Neste artigo gostaria de apresentar uma reflexão sobre a narrativa de uma mulher que era tão apaixonada pela graça de Deus que foi capaz de realizar uma ação “extravagante” por Jesus. Olhemos mais de perto a ação desta mulher! O texto reza: “Estando Jesus em Betânia, reclinado à mesa na casa de um homem conhecido como Simão, o leproso, aproximou-se dele certa mulher com um frasco de alabastro contendo um perfume muito caro, feito de nardo puro. Ela quebrou o frasco e derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus. Alguns dos presentes começaram a dizer uns aos outros, indignados: "Por que este desperdício de perfume? Ele poderia ser vendido por trezentos denários, e o dinheiro dado aos pobres". E a repreendiam severamente. "Deixem-na em paz", disse Jesus. "Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo. Pois os pobres vocês sempre terão consigo, e poderão ajudá-los sempre que o desejarem. Mas a mim vocês nem sempre terão. Ela fez o que pôde. Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para o sepultamento. Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória".

O evangelista Marcos não menciona o nome da mulher. Mas, João revela seu nome: Maria, irmã de Marta e de Lázaro (João12:1-3). Pois bem, Maria planejava expressar sua gratidão a Alguém que apresentava muito para ela. E não pensava em fazê-lo de maneira comum, banal. Faria o melhor, não importava o preço. Por isso juntou suas economias e saiu à procura de um presente caríssimo. Entrou numa loja de perfumes e comprou o melhor perfume que havia na loja. Ela comprou um vaso de alabastro feito de finíssima pedra translúcida de um suave cinza. Ela havia comprado especificamente um perfume de nardo puro, um forte perfume extraído de uma certa planta do Himalaia, na Ásia, um produto muito luxuoso e caro, altamente procurado na antiguidade, pelos ricos. Seu valor era equivalente a quase um ano de salário (300 denários).

Gratidão em ação

Maria ouvira dizer que Simão, um fariseu da cidade de Betânia, também sua cidade e de seus irmãos Marta e Lázaro, oferecia a Jesus um banquete, como demonstração de seu agradecimento por ter sido, por Ele, curado de lepra. Essa era a oportunidade de ouro para a sua manifestação, certamente pensou. No momento adequado, deixou sua casa e dirigiu-se para a casa de Simão. Imagino que ela foi apertando cuidadosamente contra o peito o belo vaso de alabastro contendo o perfume. A ceia oferecida por Simão já estava em andamento. Com o coração cheio de gratidão aproximou-se da mesa onde Jesus se inclinava, quebrou o vaso de alabastro e derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus.

Ao espalhar o custoso perfume sobre os cabelos de Jesus, a fragrância encheu a sala. Na presença daqueles convidados, todos surpresos, ela não disse uma palavra sequer, mas flou com os olhos ao caírem lágrimas de gratidão aos pés do Salvador. Então os enxugava com seus lindos cabelos longos. As gotas de nardo e as lágrimas eram muitas ofertas de gratidão pela salvação com que Ele a havia abençoado.

Segundo Ellen G. White, “Maria tinha razões de sobra para ser agradecida a Deus. Jamais se esquecera do que Cristo fizera por seu irmão, Lázaro, ressuscitando-o e trazendo-o novamente ao seio da família. Tivera perdoados seus pecados e fora liberta da possessão demoníaca” (O Desejado de Todas as Nações, p. 568).

Sua ação causa grande impacto. Um murmúrio de reprovação estendeu-se pela sala. Era demais para Judas. Seu próprio egoísmo não podia tolerar tal ação e contestou: “Por que este desperdício de perfume? Ele poderia ser vendido por trezentos denários, e o dinheiro dado aos pobres” (Marcos 14:4,5, NVI). O olhar de Jesus convenceu aquele ladrão de que sua hipocrisia era evidente, e seu caráter vil estava revelado. Então, na silenciosa sala dos hóspedes críticos, o Mestre proferiu estas palavras: “Ela praticou uma boa ação para comigo. [...] Ela fez o que pôde” (Marcos 14:6,8, NVI). Jesus reconhece que ela fez o que pode. O que estava ao seu alcance ela fez sem medir esforços. Ela mesmo sendo criticada, fez o que pode naquele momento para enaltecer Jesus, seu Senhor e Salvador. Aqui temos a primeira lição: Que ao olharmos para a cruz de Cristo possamos ver o que estamos fazendo e também o que estamos deixando de fazer. Como Jesus Cristo nos diz: “Em verdade vos digo, cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.

Entusiasmado pela crítica de Judas, Simão, o anfitrião, também O censurou intimamente, segundo o relato de Lucas 7:36-50: “Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora" (v. 39). Curado da lepra pelo próprio Cristo, é curioso que Simão tenha duvidado, nesta ocasião, de que Ele era profeta, simplesmente porque permitiu que uma mulher pecadora Lhe tocasse.

A esse respeito Ellen G. White escreveu: “Foi, porém, a ignorância de Simão acerca de Deus e de Cristo que o levou a assim pensar. Não compreendeu que o Filho de Deus deve agir à maneira divina, compassiva, terna e misericordiosamente. A maneira de Simão era não fazer caso do penitente serviço de Maria. Seu ato de beijar os pés de Cristo e ungir-Lhos com o unguento foi exasperante para seu coração endurecido. Pensou que se Cristo fosse profeta, reconheceria os pecadores e os repreenderia.

“A esse inexpresso pensamento, respondeu o Salvador: "Simão, uma coisa tenho a dizer-te.... Um certo credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinquenta. E, não tendo ele com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize pois: qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E Ele lhe disse: Julgaste bem." Luc. 7:40-43” (O Desejado de Todas as Nações, p. 566).

Cristo mostrou a Simão que Maria era tão carente da graça perdoadora de Deus quanto ele, que a havia induzido ao pedado, e agora se considerava mais justo do que ela. Foi então que ele viu a magnitude do débito que tinha para com seu Senhor. Seu orgulho humilhou-se, ele se arrependeu e o altivo fariseu tornou-se um humilde e abnegado discípulo.

Finalmente, Jesus falou com certeza da futura propagação do evangelho em todo o mundo. Que se espalharia muito longe a memória do dom de Maria e corações seriam tocados por sua ação imprevista. Ele predisse que Maria caminharia com Ele através dos séculos. Onde quer que Sua história fosse contada, a história dela também o seria. Enquanto o tempo durar, a história do seu vaso de alabastro partido contará do abundante amor de Deus por uma raça caída e da máxima expressão de agradecimento por uma pessoa que é por ele alcançada, purificada e transformada.

As marcas de gratidão de Maria

a) A marca da sinceridade e da autenticidade. Sua gratidão tem a marca da sinceridade e da autenticidade. No livro de Cantares, a menção ao nardo representa uma vida autêntica, que agrada a Deus, vida sem fingimento, falsificação ou hipocrisia. É assim que devem ser nossas ações de graças. O senhor vê as verdadeiros motivos do coração e se agrada daquilo que fazemos por amor. A qualquer pessoa que Lhe seja reconhecida, Ele abençoará. Atos de gratidão demonstrados em relação a Jesus serão sempre vistos como uma prova de fé nEle como Doador de toda boa dádiva, e como o Filho de Deus. É por isso que o significado do gesto de Maria perdurará por toda a eternidade.

b) A marca do altruísmo e da liberalidade. É um mistério como Maria economizou tanto dinheiro para comprar sua oferenda. Cremos que sentia ser amada por Jesus e respondeu a esse amor oferecendo ao Salvador aquilo que havia de mais precioso. Não se contentou em dar alguma coisa comum, de todos os dias.

Deveríamos refletir se nossas demonstrações de gratidão a Deus são, realmente, dignas dEle como Doador de todo o bem. Então nossas manifestações, materiais ou não, à altura do que recebemos? Maria mostrou-se “extravagante” com Jesus. De tal forma que os discípulos começaram a se queixar do desperdício. Mas p seu gesto deixou transparecer um poderoso e generoso amor.

Assim também, como cristãos devemos ofertar o melhor da nossa vida, e entregar-nos ao Senhor em nossa juventude e não depois de carcomido pelo pecado, pela corrupção e pela miséria!

Conclusão

O perfumado óleo que Maria esperava espalhar sobre o corpo morto de Jesus, foi derramado sobre Ele ainda vivo. As lágrimas que derramou não foram derramadas por sua própria alegria ou tristeza apenas, mas também por Ele. Ungiu Sua cabeça como os sacerdotes faziam com os reis da Judéia. Ungiu Seus pés como os senhores faziam com seus convidados em dias festivos. Simbolicamente O preparou para a morte e sepultamento. Em Seu sepultamento, o cheiro poderia impregnar a tumba somente; mas agora alegrava Seu coração com a certeza de seu amor e gratidão.

Seu espírito magnânimo, sua dádiva desprendida, sua gratidão e seu amor prepararam Jesus para a sepultura.

Sigamos-lhe o exemplo. Despedacemos o vaso do nosso coração e deixemos recender sobre Ele o perfume da nossa vida agradecidos por tudo quanto fez por nós, e ainda fará.

Ellen G. White escreveu: Deveis dar tudo – vosso coração, vossa vontade, vosso serviço – dar-vos, a vós mesmos, a Ele, para Lhe obedecerdes em tudo o que de vós requer” (Caminho a Cristo, p. 70).

Caro amigo leitor, você já respondeu ao amor infalível de Jesus? Qual é o seu maior motivo de gratidão hoje? Por que não erguer o coração numa prece agora mesmo e agradecer a Jesus por ter vindo a este mundo a mais de 2000 anos atrás e por Seu coração que sangrou e por tudo o que Ele te deu e ainda dará?



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