Teologia

sábado, 30 de novembro de 2019

O MISTÉRIO QUE ENVOLVE A MORTE DE JOÃO BATISTA É DESVENDADO


Ricardo André

Em meus cultos diários, cedo pela manhã, além de estudar as Sagradas Escrituras e a lição da Escola Sabatina, também me aprofundo nos escritos de Ellen G. White. E foi num desses estudos detidos, detalhados, minuciosos, que eu comecei a compreender o mistério que envolve a sorte trágica de João Batista. Fiquei impressionado ao descobrir a razão pela qual Deus permitiu que João Batista tivesse um fim tão triste. Por isso, quero partilhar com você esta descoberta neste artigo.

Na providência de Deus surgiram pessoas que moldaram a História. Foram reformadores audazes com mensagens surpreendentes que levaram o povo para mais perto de Deus, como Martinho Lutero, João Wesley e Guilherme Miller. Podemos incluir Tiago e Ellen G. White nesse Grupo? Creio que sim. Sua influência foi muito ampla, e certamente tem contribuído para preparar o mundo para a Segunda Vinda de Jesus. Mas, bem acima de todos eles, em virtude do impacto que causou sobre a História e o cristianismo, destacou-se a pessoa de João Batista.

A Obra de João Batista

João Batista foi aquele de quem profetizou Isaías, como a voz que, clamando no deserto, preparou o caminho do Senhor e Lhe endireitou uma vereda por onde Ele pudesse chegar (Mt 3:3). De acordo com o costume daqueles tempos, a preparação do caminho, ou o endireitamento de uma vereda, realizava-se quando um rei estava para chegar a um dos lugares de seu reino. “Os habitantes de cada distrito deviam preparar o caminho pelo qual ele passaria, visto que pouco se fazia para conservar as estradas. Em algumas partes do Oriente ainda é costume reformar as estradas pelas quais um rei ou alguma pessoa importante vai transitar” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 302). Portanto, João Batista anunciou a chegada do rei Jesus e do Reino dos Céus.

A obra de João Batista consistiu em preparar as pessoas para receberem a Jesus e Seu Reino. Sua mensagem foi breve e vigorosa: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino de dos Céus” (Mt 3:2). Ele tinha uma mensagem simples e direta para dar às pessoas de seu tempo. Ele sabia que o Messias estava prestes a surgir e que o povo não estava preparado para recebê-LO. O evangelista Mateus resume a mensagem de João em duas orações: a primeira contendo uma verbo no imperativo (exortando a uma tomada de decisão) “arrependei-vos” e a segunda, contendo uma frase explicativa, apresentando o motivo pelo qual as pessoas deveriam se arrepender “porque está próximo o reino dos céus.”

Quando seus ouvintes se arrependiam, ficavam comovidos e contavam sua experiência. Quando percebiam que ele era a voz do deserto que preparava o caminho do Rei prometido, emocionavam-se, e o diziam. Quando viam seu estilo de vida, não podiam esquecê-lo, e o comentavam.

Um homem centrado em Cristo, simples, despretensioso, sem busca de notoriedade. Por isso mesmo notável. Não queria “status” intelectual nem profético. Não queria aparecer e nem buscar fama para si. Tudo o que ele queria era trabalhar por uma causa nobre, não se servir da causa, mas servir à causa. Tudo o que ele queria era preparar o mundo para o encontro com Cristo. Os resultados do seu trabalho eram para honra e glória do Senhor. A respeito dele Jesus disse “que, entre os que de mulher tem nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11:11). O comentário da senhora Ellen White é enfático a respeito disso:

“Que em face da maneira de avaliar do Céu constitui grandeza? Não o que o mundo considera como tal; não riqueza, nem posição, nem nobreza de linguagem, nem dons intelectuais considerados em si mesmos. Se grandeza intelectual, à parte de qualquer consideração mais elevada, é digna de honra, então Satanás merece nossa homenagem, que suas faculdades intelectuais nenhum homem já igualou. (...) Valor moral, eis o que é estimado por Deus. Amor e pureza são os atributos que mais aprecia. João era grande aos olhos do Senhor” (O Desejado de Todas as Nações, p. 219).

João Batista sabia quem ele era, mas também sabia quem não era. Ele era humilde. Humildade é a virtude que nos dá o sentimento de nossa fraqueza e limitações. Humildade é modéstia. Ser humilde é permitir que a vontade de Deus floresça em nossa vida. João Batista viveu assim. Nunca se considerou “a cereja do bolo”. E embora corajoso e decidido, se manteve humilde ao longo de seu ministério. Que importante lição de humildade João Batista nos ensina aqui! Esse é o tipo de homem e mulher que o mundo necessita em nossos dias. Gente grande aos olhos de Deus, que resolve desprezar a glória dos homens e se apegar a Deus, custe o que custar.No mundo hodierno, mais do que nunca reina a ambição por “status”. Quanto sacrifício se faz para que o homem apareça! Não importa se vai pisar, machucar, ferir alguém; tem que aparecer.

João Batista não se caracterizou pela timidez. Ele ergueu a voz como como a trombeta, e anunciou ao povo de Deus a sua transgressão e os seus pecados (Is 58:1). Apesar de sua franqueza, João conquistou o coração das pessoas.

Sobre sua determinação em condenar os pecados do povo, Ellen G. White escreveu: “Ousara enfrentar o rei Herodes com a positiva repreensão do pecado. Não tivera a vida por preciosa, contanto que cumprisse a missão que lhe fora designada” (O Desejado de Todas as Nações, p. 215).

Herodes, o Tetrarca, é conhecido na História como “Herodes Antipas”. Era filho de Herodes, o Grande, e foi educado em Roma junto com seu irmão Arquelau e o meio-irmão Filipe. Depois da morte do pai, tornou-se governador da Galileia e Pereia. Seu casamento com a filha de Aretas IV, rei dos naboteus, chegou ao fim quando, durante uma visita a Roma, ele se apaixonou por sua sobrinha, a esposa de seu meio-irmão, Herodes Filipe. Herodias abandonou o marido e foi viver com Herodes Antipas. Como João Batista repreendeu o rei por essa relação ilícita, Herodias adiou a João Batista e tramou-lhe a prisão e a morte. Que final injusto!

O fim de João Batista – Um Profundo Mistério

Entender o fim trágico de João Batista sempre foi para mim desafiador. Às vezes ficava pensando que João merecia um fim diferente. Depois de viver para pregar o evangelho, quem sabe uma digna aposentadoria, uma bela casinha de campo e a companhia de pessoas amadas seria o mais justo pagamento para um homem de Deus como foi João. Como eu, muitos que estudam a história de João Batista têm dificuldades para entender a sua sorte. E perguntam: Por que ele foi deixado a definhar-se e perecer sozinho na prisão? Por que Cristo ao saber da prisão não se interpôs para libertar seu fiel precursor? E toda evidência sugere que João não recebeu uma visita de Jesus enquanto estava no calabouço (Mt 11:2,3).

Sempre vi envolto na morte de João Batista, um profundo mistério. Note o que disse Ellen G. White a esse respeito: “O mistério dessa escura providência, nossa visão humana não pode penetrar; não poderá, no entanto, nunca abalar nossa confiança em Deus, quando nos lembramos de que João nada mais foi do que um participante dos sofrimentos de Cristo” (O Desejado de Todas as Nações, p. 223).

Mas, quando estudamos esse tema à luz da Revelação que Deus concedeu ao apóstolo João em Apocalipse 4:4 e 5 juntamente com o Espírito de Profecia começamos a entender melhor por que foi permitido a Satanás abreviar a vida terrena do mensageiro de Deus.

Em visão, o apóstolo João viu 24 anciãos sentados ao redor do trono de Deus. Estavam vestidos de branco e tinham coroas de ouro. Aqui e em outros lugares do livro eles são retratados prostrando-se diante de Deus em adoração e louvor (Ap 4:10;5:14;7:11;11:16;19:4). Duas vezes é declarado que um dos anciãos conversou com João (Ap 5:5;7:13), e  numa ocasião os anciãos aparecem com os quatro seres viventes portando incensários e oferecendo incenso quando as pessoas oram (Ap 5:8). De dia e de noite eles prestam contínua adoração a Deus.

Neste capítulo 4, o número 24 é usado simbolicamente. A cena toda é uma representação simbólica da realidade. Não devemos deduzir que há um número literal de 24 anciãos no Céu. Esse número chama nossa atenção para as funções dos anciãos. Como havia 24 divisões ou classes de sacerdotes que labutavam no santuário antigo (1Cr 24:2-19), a obra dos anciãos é auxiliar a Cristo, nosso Sumo Sacerdote, em Seu ministério celestial.

Quem São Esses 24 Anciãos? (Ap 5:5-9)

São seres humanos redimidos que alcançaram a suprema vitória espiritual por meio de Cristo, que é sua justiça. Essa vitória é representada pelas coroas usadas pelos 24 anciãos. As vestes brancas usadas por eles simbolizam a justiça de Cristo concedida aos crentes. Eles são nossos amigos e nos assistem nas orações. João contemplou-os simbolicamente ao oferecerem incenso enquanto oramos. Devemos ser gratos por cada um deles.

Como os 24 Anciãos Chegaram ao Céu? (Mt 27:52 e 53)

Quando Cristo morreu na cruz, “abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos”. Esses santos ressuscitados não foram deixados na Terra para morrerem pela segunda vez. Foram levados para o Céu com Jesus, como as primícias se Seu sacrifício. Esses santos, no céu, não são almas desencarnadas de pessoas falecidas, mas seres humanos redimidos que foram ressuscitados dentre os mortos.

Assim como Arão e os sumos sacerdotes posteriores foram auxiliados por 24 divisões de sacerdotes levíticos, Cristo também é auxiliado no Céu por seres humanos que atuam como sacerdotes. Eles oferecem a Cristo “as orações dos santos” (Ap 5:8). Cristo é o nosso único Mediador (1Tm 2:5). Mas é ajudado por seres humanos redimidos que já foram levados para o Céu.

Observe o que Ellen G. White escreveu: “Quando [Jesus] surgiu, vitorioso sobre a morte e o túmulo, enquanto a Terra vacilava e a glória do Céu resplandecia em redor do local sagrado, muitos dos justos mortos, obedientes à Sua chamada, saíram como testemunhas de que Ele ressurgira. Aqueles favorecidos santos ressurgidos saíram glorificados. Eram escolhidos e santos de todos os tempos, desde a criação até os dias de Cristo” (Primeiros Escritos, p.184).

Diz mais ela: “Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado com Deus, e que à custa da própria vida tinham dado testemunho da verdade” (O Desejado de Todas as Nações, p.786).

Estas duas declarações da Pena Inspirada indicam que aqueles que ressuscitaram com Cristo e são hoje os 24 anciãos no Céu foram mártires para Deus, desde o tempo da Criação até o tempo de Cristo. Obviamente, os textos do Espírito de Profecia mencionados acima não declaram explicitamente que João Batista ressuscitou com Cristo, mas apresenta uma característica muito adequada àquela que marcou a vida de João. Não há dúvida de que João Batista havia “colaborado com Deu” e que, “à custa da própria vida” deu testemunho da verdade. João morreu porque defendia a verdade. Então é provável que não somente João Batista, mas também Abel ressuscitam naquele dia da ressurreição de Cristo. Tenha João Batista ressuscitado ou não, fica-nos a certeza de que os salvos o verão no céu. O fato é que resta-nos, tal como ele foi, sermos embaixadores de Deus, anunciando a breve vinda de Jesus, apropriando-nos da verdadeira grandeza.

A irmã Ellen White descreve a cena de alegria quando Cristo chega ao Céu com esses santos ressuscitados:

“Todo o Céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua ressurreição O seguiu. A hoste celestial, com brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva.

“Ao aproximar-se da cidade de Deus, cantam, como em desafio, os anjos que compõem o séquito:

"Levantai, ó portas, as vossas cabeças;
Levantai-vos, ó entradas eternas,
E entrará o Rei da Glória"!
Jubilosamente respondem as sentinelas de guarda:
"Quem é este Rei da Glória?"

“Isto dizem elas, não porque não saibam quem Ele é, mas porque querem ouvir a resposta de exaltado louvor:

"O Senhor forte e poderoso,
“O Senhor poderoso na guerra.
Levantai, ó portas, as vossas cabeças,
Levantai-vos, ó entradas eternas,
E entrará o Rei da glória"!

“Novamente se faz ouvir o desafio: "Quem é este Rei da Glória?" pois os anjos nunca se cansam de ouvir o Seu nome ser exaltado. E os anjos da escolta respondem:

"O Senhor dos Exércitos;
Ele é o Rei da Glória!" Sal. 24:7-10.

“Então se abrem de par em par as portas da cidade de Deus, e a angélica multidão entra por elas, enquanto a música prorrompe em arrebatadora melodia.

“Ali está o trono, e ao seu redor, o arco-íris da promessa. Ali estão querubins e serafins. Os comandantes das hostes celestiais, os filhos de Deus, os representantes dos mundos não caídos, acham-se congregados. O conselho celestial, perante o qual Lúcifer acusara a Deus e a Seu Filho, os representantes daqueles reinos imaculados sobre os quais Satanás pensara estabelecer seu domínio - todos ali estão para dar as boas-vindas ao Redentor” (O Desejado de Todas as Nações, p. 833, 834).

Deus tinha algo melhor para João batista e também para os que sofrem hoje

Agora compreendemos melhor por que nenhum miraculoso livramento foi proporcionado a João, porque ele devia beber o cálice do martírio, embora ele nunca fora abandonado.

Deus tinha planejado algo melhor para João Batista. Ele não somente recebeu do céu o dom da participação com Cristo em Seus sofrimentos, mas a honra de ser um dos 24 anciãos no Céu auxiliando Cristo Jesus nosso Sumo Sacerdote. Uma das perguntas mais persistentes que enfrentamos como seres humanos está relacionado com o assunto do sofrimento: “Onde está Deus quando sofremos?” Na experiência de João, a conduta de Jesus nos dá uma resposta pessoal.

Muitos de nós somos surpreendidos com o sofrimento porque costumamos ter uma visão simplificada demais da vida cristã. Achamos que por sermos servos de Deus não devemos sofrer. Porém, o apóstolo Pedro em sua primeira carta no 4:12 nos adverte a não cairmos na armadilha de crer que os sofrimentos ardentes são estranhos à experiência cristã. Ao contrário, devem ser considerados normais – podem e devem ser esperados.

A história da Igreja Cristã está repleta de histórias sobre os intensos sofrimentos do povo de Deus. Em todas as épocas, muitos cristãos sofreram perseguição de uma forma ou de outra. Os cristãos adoecem e morrem como as pessoas em geral. Sofrem acidentes, calamidades, críticas, maus-tratos e injustiças como todos os demais. Mas, quando estivermos passando por problemas difíceis, podemos ter as seguintes certezas:

1) Não importa quão profundo seja o vale ou persistentes forem os problemas, a certeza da bondade e do amor infalíveis de Deus e a certeza de Sua direção até o fim de nossa jornada são inquestionáveis.

2) As dificuldades desta vida por mais severas que possam ser são insignificantes em comparação com a autêntica alegria e realização da vida por vir (Rm 8:18).

3) Para os que O amam, Deus controla o mal causado por Satanás e os ímpios. Assim como sucedeu na experiência de José (Gn 45:7 e 8;50:20) e de João Batista, Deus muda o mal em bem para todos os Seus filhos (Rm 8:28).

Caro amigo leitor, só na eternidade compreenderemos plenamente por que foi permitido passarmos por determinado sofrimento. Então veremos claramente que as aflições permitidas por Deus tiveram um objetivo em vista, e que Sua misericordiosa providência tirou algo de bom das experiências com que Satanás pretendia destruir-nos.

Quanta ajuda do Espírito Santo você espera receber nas lutas da vida? O que espera que Ele faça por você amanhã? E na maior crise de sua vida? Você gostaria de, a despeito do sofrimento, desfrutar a vida ao máximo no tempo presente, e ter suprema alegria na eternidade, como filhos e filhas de Deus? Então entregue-se inteiramente a Deus.







3 comentários:

  1. Maravilhoso. Como é bom e útil pedirmos ao Pai que nos a ebençoe, pela leitura e pelo estudo, com o conhecimento da verdade. A mim, isso tem aumentado a fé e a esperança.

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  2. Amém! Muito obrigado Unknown por ter apreciado nosso artigo. Fique com Deus. Abraço afetuoso!!!

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  3. Quando leio teus textos, congregando a Palavra de Deus e o Espírito de Profecia, em suas palavras simples e didáticas, tudo fica bem mais claro! Que Deus o abençoe!

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