Teologia

domingo, 30 de junho de 2019

ENSINAM OS ADVENTISTAS QUE O SACRIFÍCIO EXPIATÓRIO DE CRISTO NA CRUZ FOI INCOMPLETO?


Os adventistas do sétimo com frequência são acusados de subestimar o sacrifício expiatório completado na cruz, transformando-o numa expiação inacabada ou parcial que precisa ser secundada pelo ministério sacerdotal de Cristo; talvez se possa chamar isso de expiação dupla. É verdadeira essa acusação? Não afirma a Sra. White que Cristo está agora fazendo expiação por nós no santuário celestial? Por favor, expliquem a sua posição e declarem em que vocês diferem dos outros no tocante à expiação.

De início, desejamos afirmar da maneira mais veemente e explicita que os adventista do sétimo dia não creem que Cristo fez apenas um sacrifício expiatório parcial ou incompleto na cruz. A palavra “expiação” tem amplo significado nas Escrituras. Embora abranja fundamentalmente o sacrifício expiatório de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, inclui também outros aspectos importantes da obra da graça salvadora.

A palavra “expiação” é semelhante a outras palavras usadas na Bíblia, como “salvação” e “redenção”. A salvação abrange algo no passado, de modo que o indivíduo poderá dizer: “Fui salvo”. Refere-se também a uma experiência que está em andamento, de modo que se possa afirmar: “Estou sendo salvo” (ver At 2:47), Edição Revista e Atualizada no Brasil). Refere-se igualmente ao futuro, pois em certo sentido se poder dizer: “Serei salvo”.

O mesmo é verdade no tocante à palavra “redenção”. Embora o preço de aquisição – o resgaste – tenha sido pago no Calvário, e por isso possamos dizer: “Fui remido”, existem também certos aspectos da redenção da redenção que ainda se acham no futuro. Lemos nas Escrituras a respeito da “redenção do nosso corpo” (Rm 8:23), e, referindo-Se a Seu segundo advento, nosso bendito Senhor e Salvador recomendou a Seus seguidores: “Erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima” (Lc 21:28).

O mesmo princípio se aplica à palavra “expiação”. Da maneira mais decisiva, o todo-suficiente sacrifício Expiatório de nosso Senhor Jesus foi oferecido e completado na cruz do Calvário. Isso foi efetuado em favor de toda a humanidade, pois “Ele é a propiciação” pelos pecados “do mundo inteiro” (1Jo 2:2).

Mas essa obra sacrifical, em realidade, é proveitosa para o coração humano quando ele rende a vida a Deus e experimenta o milagre do novo nascimento. Nessa experiência, Jesus, nosso Sumo Sacerdote, aplica a nós os benefícios de Seu sacrifício expiatório. Nossos pecados são perdoados, tornamo-nos filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus e a paz de Deus passa a habitar em nosso coração.

No tempo do tabernáculo antigo, em que os mistérios da redenção eram prefigurados por muitos sacrifícios e ordenanças, o sacerdote, depois da morte da vítima sacrifical, punha o sangue nas pontas do altar. E o relato afirma que, por meio desse ato, “o sacerdote fará expiação por ele [pelo pecador] no tocante ao seu pecado, e este lhe será perdoado” (Lv 4:26). Assim, o sacrifício expiatório provido era acompanhado pelos benefícios da aplicação do mesmo sacrifício expiatório. No tempo do Antigo Testamento, ambos eram considerados aspectos da grande obra total de expiação. O primeiro deles provia o sacrifício expiatório; o outro, a aplicação de seus benefícios.

Portanto, o plano divino de redenção abrange mais do que a morte vicária e expiatória de Cristo, embora ela seja o próprio âmago dessa expiação; abrange também o ministério de nosso Senhor como nosso Sumo Sacerdote celestial. Havendo completado o Seu sacrifício, Ele ressuscitou dos mortos “por causa da nossa justificação” (Rm 4:25) e penetrou no santuário do alto, para realizar ali Sua obra sacerdotal em favor do homem necessitado. “Tendo obtido eterna redenção” (Hb 9:12) por nós na cruz. Ele ministra agora os benefícios dessa expiação em favor dos que aceitam Sua abundante provisão de graça. Assim, tendo sido completado no Calvário, o sacrifício expiatório precisa, agora, ser aplicado aos herdeiros da salvação, para que se apoderem dele. O mistério de nosso Senhor está, portanto, incluído na grande obra de expiação. Considerando, pois, o vasto alcance da expiação, em suas provisões e eficácia, percebe-se que ela é muitíssimo mais abrangente do que muitos imaginam.

Devemos lembrar que os homens não são salvos em massa, de modo automático, involuntário, impessoal ou universal. Precisam aceitar individualmente a graça divina, e cremos que, embora Cristo tenha morrido de maneira provisional e potencial em favor de todos os homens, e nada mais possa ser acrescentado a isso, Sua morte em realidade e no final só será eficaz para os que aceitam e aproveitam individualmente seus benefícios.

Para salvar-se, é preciso haver arrependimento individual, e volta para Deus. O pecador deve lançar mão das provisões do sacrifício expiatório que foi inteiramente realizado por Cristo no Calvário. E a aplicação da provisão expiatória da cruz a pecadores arrependidos e a santos suplicantes só se torna eficaz por meio do ministério sacerdotal de Cristo – quer a pessoa compreenda isso teologicamente na íntegra, quer não.

É essa última provisão do ministério sacerdotal que efetua a autêntica, tangível e contínua purificação do coração da pessoa, não só da culpa mas também da poluição e do poder do pecado. É isso que a torna eficaz para os homens. O ministério celestial de Cristo em nosso favor traz a paz e a alegria da redenção mediante o dom do Espírito Santo, que o nosso ministrante Sumo Sacerdote envia ao nosso coração. A expiação abrange, portanto, não só o ato transcendente da cruz, mas também os benefícios do sacrifício de Cristo que constantemente estão sendo aplicados aos que deles necessitam. E isso continuará assim até o fim do tempo da graça.

I – O Vasto Alcance da Redenção

Junto com outros cristãos conservadores, os adventistas ensinam uma expiação que requeria a encarnação do Verbo eterno – o Filho de Deus – a fim de que Ele pudesse tornar-Se o Filho do homem; e, vivendo entre os homens como nosso parente na carne, pudesse morrer em nosso lugar para nos remir. Cremos que a expiação provê um sacrifício todo suficiente, perfeito e substituinte para o pecado, que satisfaz completamente a justiça de Deus e cumpre todos os requisitos, de modo que a misericórdia, a graça e o perdão possam ser estendidos livremente ao pecador arrependido, sem comprometer a santidade de Deus nem pôr em risco a equidade de Seu governo. “Tendo em vista a manifestação da Sua graça no tempo presente, para Ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26).

Desse modo, Deus justifica plenamente o pecador arrependido, por mais perverso que tenha sido, e lhe imputa a perfeita justiça de Cristo para cobrir sua iniquidade; comunica então ao pecador, por intermédio da santificação, Sua própria justiça, para que seja ele transformado à própria semelhança de Cristo.

E o maravilhosos resultado de tudo isso ocorrerá por meio da glorificação de nosso corpo no segundo advento do Senhor, que trará para todo o sempre pleno e decisivo livramento até mesmo da presença do pecado. Cristo é, portanto, a oferta sacrifical, o Sacerdote ministrante e o Rei vindouro. Isso abrange o passado, o presente e o futuro, e cremos que culminará na final e eterna erradicação no Universo de todo pecado e seus efeitos, bem como de seu perverso originador. Segundo entendemos, é esse o decisivo efeito da expiação realizada no Calvário.

II – O Sacrifício Expiatório e o Sacerdote Ministrante

Achamos ser de suma importância que os cristãos percebam a diferença entre o ato expiatório de Cristo na cruz, como sacrifício que foi completado para sempre, e a Sua obra no santuário como Sumo Sacerdote oficiante, ministrando os benefícios desse sacrifício. O que Ele fez na cruz foi feito em favor de todos os homens (1 Jo 2:2). O que Ele faz no santuário só é realizado em favor dos que aceitam Sua grandiosa salvação.

Ambos os aspectos são partes integrantes e inseparáveis da infinita obra divina de redenção. Um deles provê a oferta sacrifical; o outro provês a aplicação do sacrifício à pessoa arrependida. O primeiro foi efetuado por Cristo como vítima; o segundo, por Cristo como sacerdote. Ambos são aspectos do grande plano de redenção que Deus elaborou em favor do ser humano.

Que os adventistas do sétimo dia não são os únicos a adotar este conceito evidencia-se pelos seguintes trechos de um livro publicado há pouco tempo:

Expiação é a obra de Deus em Cristo para salvação e restauração do homem (Vicente Taylor, The Cross of Christ [Macmillam, 1956], p. 87).

Em sua natureza e escopo, a expiação tanto é libertação como consecução. Tem que ver com o pecado do homem e com a sua bem-aventurança; e não pode ser uma coisa sem ser ao mesmo tempo a outra (ibid., p. 87, 88).

De início, é importante distinguir dois aspectos da doutrina que podem ser separados em teoria, mas não sem grave perda na prática. Eles são [...] (a) o ato salvador de Cristo e (b) a apropriação de Sua obra pela fé, tanto individual como coletivamente. Os dois juntos constituem a expiação (ibid., p. 88).

Portanto, a expiação tanto é efetuada em nosso favor como efetuada em nós (ibid., p. 89).

Talvez nossa maior necessidade hoje em dia, se quisermos erguernos acima da pobreza da maior parte de nosso culto, seja experimentar mais uma vez admiração e confiança diante do incessante ministério salvador de Cristo, que é o verdadeiro centro da devoção cristã e a permanente fonte do viver cristão (ibid., p. 104).

Quando, portanto, se ouve um adventista dizer, ou se lê na literatura adventista, mesmo nos escritos de Ellen G. White, que Cristo está fazendo expiação agora, deve-se compreender que queremos dizer que Cristo está agora fazendo aplicação dos benefícios da expiação sacrifical na cruz; que a está tornando eficaz para nós, individualmente, conforme nossas necessidades e petições. Já em 1857, a própria Sra. White explicou claramente o que queria dizer quando escreveu que Cristo está fazendo expiação por nós em Seu ministério:

O grande sacrifício havia sido oferecido e aceito, e o Espírito Santo, que desceu no dia do Pentecostes, levou a mente dos discípulos do santuário terrestre para o celestial, onde Jesus havia entrado com o Seu próprio sangue, a fim de derramar sobre os discípulos os benefícios de Sua expiação (Primeiros Escritos, p. 260, itálico acrescentado).

FONTE: Texto extraído do livro Questões Sobre Doutrina, p. 255-260. O título no livro é “Expiação Sacrifical Provida e Aplicada”. Foi aqui modificada para tornar-se mais atrativo para os leitores do Blog.

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