Teologia

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

OS CRISTÃOS PODEM TOMAR BEBIDA ALCOÓLICA MODERADAMENTE?



Ricardo André

A bebida alcoólica faz parte de quase todos os eventos sociais. Festas, despedidas, comemorações, dores de um coração partido — a bebida é a companheira de todas as horas. Na televisão, a qualquer hora do dia, somos bombardeados com a publicidade de etílicos, sempre associados à festa e descontração. Todas as propagandas estimulam os usuários a beber moderadamente. E, muitos jovens cristãos ao participarem de muitos desses eventos sociais, movidos pela propaganda da mídia, ou pela pressão social ou mesmo pelo desejo de ser igual aos amigos, acabam bebendo vinho, cerveja ou outras bebidas alcoólicas.

Em muitas passagens as Sagradas Escrituras condenam nitidamente o consumo de vinho por causa de seus efeitos prejudiciais (Levítico 10:9; Números 6:3; Deuteronômio 14:26; 29:6; Juízes 13:4,7,14; I Samuel 1:15; Provérbios 20:1; 31:4,6; Isaías 5:11,22; 24:9; 28:7; 29:9; 56:12; Miquéias 2:11; Lucas 1:15). Todavia, o apóstolo Paulo aconselhou Timóteo a usar “um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades” (I Timóteo 5:23). Muitos cristãos hoje, com base nessa declaração paulina, entendem que a Bíblia autoriza os cristãos a consumir moderadamente bebidas alcoólicas. Aprova Deus que os cristãos bebam cerveja, vinho ou qualquer outra bebida alcoólica de forma moderada? Como deveríamos entender esse texto?

O consumo de bebida alcoólica é condenado na Bíblia

É um fato bem documentado que o álcool prejudica os processos físicos e mentais. O ébrio tem a impressão de que o álcool o eleva acima dos cuidados e ansiedades da vida real, e o conduz a um mundo de felicidade, vigor e inteligência. Na verdade, ocorre exatamente o contrário! Por conta disso, o uso de bebidas alcoólicas é condenado nas Escrituras. O profeta Habacuque chama o vinho de "enganoso".  “Assim como o vinho é enganoso, tampouco permanece o arrogante, cuja gananciosa boca se escancara como o sepulcro e é como a morte, que não se farta; ele ajunta para si todas as nações e congrega todos os povos” (Habacuque 2:5), enquanto Salomão diz que, "o vinho é escarnecedor, e a bebida forte alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido, não é sábio" (Provérbios 20:1).

Os dirigentes são especialmente advertidos de que o álcool destruirá a capacidade deles para tomar decisões acertadas e administrar com sabedoria. “Não convém aos reis, ó Lemuel; não convém aos reis beber vinho, não convém aos governantes desejar bebida fermentada, para não suceder que bebam e se esqueçam do que a lei determina, e deixem de fazer justiça aos oprimidos” (Provérbios 31:4,5, NVI).

Tais advertências, entretanto, com o tempo foram sendo ignoradas. Nos tempos do profeta Isaías, o uso de vinho fermentado tinha se tornado um problema tão universal, que até mesmo os sacerdotes se embriagavam (Isaías 28:7).

O que significa o conselho de Paulo a Timóteo?

Bom, mas se a Bíblia Sagrada desaprova o uso do álcool por que Paulo aconselhou seu filho na fé a beber “um pouco de vinho”? O que, de fato, queria Paulo dizer?

Este conselho, dado por Paulo a Timóteo, tem sido seguido com prazer durante os últimos 20 séculos, por inúmeras pessoas amantes das bebidas alcoólicas. Assim, é importante verificar a natureza do conselho de Paulo e sua aplicação para nós hoje.

Em primeiro lugar, o conselho de Paulo a Timóteo deve ser considerado como uma expressão de cuidado paterno, e não como uma ordem. O apóstolo não está mandando que seu amado filho na fé beba vinho à vontade. O seu conselho é para que ele use um pouco de vinho, pela razão mencionada: “por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”.

Comentando este versículo, o Dr. Samuele Bacchiocchi, em seu livro Wine in lhe Bible, diz: "Paulo não está aqui estabelecendo uma regra a ser seguida por toda a cristandade, nem está “prescrevendo vinho como uma panaceia para todo tipo de doenças. Ele estava apenas fazendo uma recomendação que julgava útil para aliviar os problemas de Timóteo. A única conclusão legítima que se pode tirar deste texto é que é apropriado usar uma pequena quantidade de vinho por razões médicas."1

Segundo alguns comentaristas, o que o texto original em grego quer dizer é: "Não bebas mais água pura: use-a misturada com um pouco de vinho".

Como medicamento, o vinho deve ser misturado com água, como a calda feita de uvas e outras frutas era antigamente preparada e usada como tônico para o estômago em casos de dispepsia. Quando se conhece este fato, torna-se absurdo imaginar que este texto seja uma "santa" recomendação para beber vinho em lugar de água.

"A prática de misturar uma parte de vinho em duas, três, cinco ou mais partes de água, era comum no mundo antigo. Alguns vinhos, especialmente a calda grossa do suco de uva, era misturada em até 20 partes de água."2

De acordo com o Dr. Aecio Cairus, professor de Teologia no Instituto Internacional de Estudos Avançados das Filipinas, nos tempos de Paulo usava-se o vinho misturado na água como antisséptico. Ele afirma: “A água potável no passado era muito insegura. Poucos tinham acesso aos mananciais. A maioria das pessoas bebia água pluvial estagnada, coletada de seus próprios telhados em cisternas (Provérbios 5:15), onde as bactérias se multiplicavam facilmente. Isso produzia “doenças frequentes” do “estômago” ou disenteria. Porém, a adição de um “pouco de vinho” – como o clássico vinho doce e espesso – na água era suficiente para eliminar as bactérias. A passagem pressupõe que Timóteo havia sido instruído a evitar o vinho e estaria disposto a sofrer frequentes episódios diarréicos a fim de ser fiel a tal instrução, não fosse a recomendação oportuna de Paulo. Mas da mesma maneira que a consciência moderna não toleraria a posse de escravos ou a poligamia, o fato de que no passado o álcool era usado como antisséptico a fim de tornar a água da mesa própria para se beber, não pode ser usado para desculpar seu consumo hoje. A recusa ao álcool implícita nessa passagem mostra que, se o vinho for consumido pelos cristãos, ele tem de ser o “suco de uva não-fermentado” (Ellen G. White, Signs of the Times, 6 de setembro de 1899).3

 Tipos de vinho

Geralmente se pensa que o vinho que Paulo recomendou a Timóteo contivesse álcool. Mas não há qualquer certeza nesse sentido, por duas razões: o termo vinho era usado de maneira genérica para denotar tanto o vinho fermentado como o não fermentado. Em segundo lugar, há testemunhos históricos que atestam o uso de vinho não fermentado por razões médicas no mundo antigo.

Aristóteles, no quarto século A.C., recomenda o uso de um suco de uva doce, chamado glukus em grego, porque, diz ele, "embora chamado vinho, ele não tem o efeito do vinho".

Ateneus, o Gramático (280 A.D.) aconselha especificamente o uso de um tipo de suco de uva, que alguns chamam de "vinho doce", para as desordens do estômago.

Já Plínio, contemporâneo de Paulo, fala também do uso médico de vinho fermentado, demonstrando assim que os dois tipos de vinho eram utilizados como remédio. No entanto, Plínio reconhece que o vinho fermentado é absorvido mais rapidamente e "sobe para a cabeça". Para evitar os efeitos colaterais do vinho com álcool, Plínio recomenda o uso de suco de uva filtrado.

"Os testemunhos de Aristóteles, Ateneus e Plínio indicam que o vinho não fermentado era conhecido e preferido em relação ao vinho fermentado, porque não possuía os efeitos colaterais deste último. A luz de tais testemunhos, é razoável supor que o vinho recomendado por Paulo a Timóteo fosse, na verdade, não fermentado."4

O texto que analisamos indica claramente que Timóteo tinha o hábito de beber apenas água. Ele era abstêmio, portanto. Se tivesse o hábito de beber vinho, este conselho de Paulo teria sido desnecessário. Temos razão para crer que o próprio Paulo havia instruído Timóteo a ser abstinente, porque anteriormente, nessa mesma epístola, o apóstolo diz que um bispo cristão, entre outras coisas, não deve ser dado ao vinho. (I Timóteo 3:2 e 3).

Os riscos potenciais do beber moderado

A verdade é que as Sagradas Escrituras ensinam a temperança. Que é temperança? Ela é para a saúde o que a argamassa é para um edifício de tijolos. Sem a temperança não é possível preservar a saúde. Segundo a escritora cristã Ellen G. White (mensageira especial sobre o assunto de temperança), “a verdadeira temperança nos ensina a dispensar inteiramente todas as coisas nocivas, e usar judiciosamente aquilo que é saudável” (Patriarcas e Profetas, p. 562). Em outras palavras, a Bíblia ensina a moderação naquilo que é bom, e a abstinência daquilo que é mau. Como ilustração do princípio de moderação naquilo que é bom, temos o conselho de Salomão para comer mel "porque é saudável" (Provérbios 24:13). Mas em seguida ele adverte que "comer muito mel, não é bom" (Provérbios 25:27). O excesso, mesmo nas coisas boas, é sempre prejudicial.

Agora, no que concerne a bebida alcoólica, por ser prejudicial a nosso corpo, ela deve ser dispensada inteiramente. O cristão, como fiel mordomo do Senhor, deve abster-se completamente dela. Até porque um pouco de álcool destrói a eficiência; quantidades maiores destroem a vida.  Paul Harvey afirmou que “trinta gramas de álcool retardam a reação muscular em 17, 4 por cento; aumentam 9,7% do tempo requerido para tomar uma decisão; ocasionam um aumento de 35,3% no número de erros causados pela coordenação muscular” (Citado em Lição da Escola Sabatina, 4º Trimestre de 1991, p. 48).

Segundo o médico e apresentador da BBC, Michael Mosley,  “qualquer quantidade de álcool que você ingerir irá provocar um aumento nos riscos de desenvolver algumas formas de câncer – particularmente câncer de mama –, incluindo algumas ocorrências mais raras da doença, em partes do corpo como cabeça, pescoço e garganta”.6 Já o professor Tim Stockwell, diretor do Centro de Pesquisas sobre Dependência Química da Universidade de Victoria, no Canadá, afirmou: “o consumo de bebidas alcoólicas, em qualquer quantidade, aumenta o risco de mulheres desenvolverem câncer de mama”. E afirmou ainda enfaticamente: “Teríamos 10% a menos de mortes no mundo por causa dessa doença se ninguém bebesse".7

Vale dizer que o álcool é um dos co-responsáveis por grande parte dos crimes, pois em maior ou menor grau, está presente como coadjuvante nas tomadas de decisões criminosas.

Nos crimes passionais está quase sempre atuante como fator desencadeador da ação violenta. Nas vinganças e brigas de bar/balada fazem parte do gatilho impulsivo que transforma um simples desentendimento numa guerra.

Além disso, temos os crimes domésticos contra mulheres e crianças em que vemos o álcool como motivo de discussões e desinibidor de agressividades latentes entre casais, pais e filhos. Os acidentes de trânsito com ou sem vítimas fatais quase sempre estão associados ao uso do álcool.

Ora, se os malefícios desse hábito são tão grandes como descritos aqui, por que insistir em continuar com ele? O melhor é que os cristãos sejam abstêmios. À primeira vista radical, a decisão é perfeitamente sensata para os servos de Deus. Vale ressaltar que a Bíblia ensina que nosso corpo é templo do Espírito Santo (I Co 6:19, 20). Essa é uma razão suficiente para cuidarmos dele. Sobre isso Ellen G. White afirma: “Nosso corpo não é nosso, para que o tratemos como desejamos, para que o danifiquemos com hábitos que levam à decadência, tornando impossível render a deus perfeito serviço. Nossa vida e todas as nossas faculdades Lhe pertencem” (Conselho Sobre o Regime Alimentar, p.56).

Ademais, o beber moderado constitui-se numa verdadeira arapuca. É sabido que todos os alcoólatras (hoje o termo é “alcoolista”) de hoje, começaram a beber moderadamente, o famoso “beber socialmente”. Nunca tiveram a intenção de tornarem-se ébrios. Mas, acabaram caindo no vício, pego pela armadilha do “beber socialmente”. Transpuseram o uso moderado e adentraram a zona do alcoolismo sem perceber. Verdade é que, não nos é tão nítido ou perceptível quando alguém passou da dose "moderada" e incidiu numa doença silenciosa, socialmente estimulada, que rende bons papos entre amigos e mata muitas pessoas direta e indiretamente – ainda que os dados estatísticos não consigam revelar a extensão e gravidade do assunto.

Todo mundo já ouviu uma história envolvendo álcool que não terminou bem. O problema é que ignoramos o fato de que a história não precisa culminar em morte ou paraplegia para ser uma tragédia. Portanto, para não correr o risco de tornar-se um alcoólista é importantíssimo não “flertar com o inimigo”, é mais prudente dispensar inteiramente a bebida. Mas, o que é preciso para praticar a temperança? “Em todos os tempos e em todas as ocasiões requer coragem moral aderir aos princípios de estrita temperança” (Ellen G. White, Temperança, p. 190).

Caro amigo leitor, que Deus lhe dê forças para fazer as modificações necessárias em sua vida no tocante a essa questão.

Referências:

1.   Samuele Bacchiocchi, Wine in lhe Bible, pág. 243.

2.   Ibidem, pág. 243.


4. Ibidem, pág. 245.

5. Ibidem, pág. 251.


7. Ibidem


Um comentário:

  1. A VERDADE A RESPEITO DO VINHO

    A Bíblia Sagrada condena a embriaguez (Dt. 21:20; Pv. 20:1; Ro. 13:13; 1 Cor. 6:10; Gal. 5:21; Ef. 5:18; 1 Pe. 4:3). Por outro lado, A Bíblia Sagrada diz que o vinho não é mau. De fato, as Escrituras Sagradas dizem exatamente o contrario, ou seja, segundo a Bíblia, o vinho é bom. Temos o uso do vinho de forma positiva e advertência contra a embriaguez. Por exemplo, a palavra usada para referir-se ao “vinho bom” no casamento em Canaã (do grego oinos), é a mesma palavra usada em Efésios 5:18, “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem…”. E, uma das palavras para “embriaguez” é oinopotes (Mateus 11.9), uma palavra relacionada ao mesmo grego oinos. Neste versículo, os fariseus acusam a Jesus de ser “um comilão e beberrão”. Jesus, portanto, bebia vinho na companhia das pessoas, e não pecava.
    O vinho, diz a Palavra de Deus, “alegra o coração do homem” (Salmos 104.15; Eclesiastes 10.9). Além do uso recreativo, o vinho também era usado por razões médicas (1 Timóteo 5.23). O vinho tinto tem mostrado suas virtudes em fortalecer o coração, segundo a medicina moderna. Não é de se estranhar que a Bíblia mostre o vinho como uma das benções de Deus dá aos justos (Pv 3.9-10). Nosso Senhor, Jesus Cristo, santificou o uso do vinho no casamento (João 2), e Jesus mesmo bebeu vinho (Mateus 11.18-19).
    Quando Jesus instituiu a Ceia do Senhor, era a festividade da Páscoa. Vinho era a bebida usada na ceia da Páscoa, e Jesus bebeu o “fruto da videira” com os apóstolos (Lucas 22.18). O “fruto da videira” era como os judeus se referiam ao vinho nos tempos de Jesus.
    ““Fruto da videira” é o termo designado por Jesus na instituição da Ceia do Senhor… é a expressão empregada pelos judeus desde tempos imemoriáveis para o vinho tomado nas ocasiões sacras, como a Páscoa e na noite do Sábado (Mishnah Berakoth 6.1). Os gregos também usavam o mesmo termo como sinônimo do vinho que era capaz de produzir intoxicação (Herodotus i.211, 212).” – Davis Dictionary of the Bible Illustrated (Baker, 1973), ed. John D. Davis, p. 868.

    Até Hoje no Seculo XXI Os Judeus Usam Vinho nas Festas Religiosas Judaicas e Casamentos Judaícos.NÂO existe na Religião Judaica Mandamento Com base na Torah ( Os 5 Livros de Moíses)que Proíbe uso Moderado do Vinho.

    Na verdade a Ideia de que um Cristão Não deve Beber Vinho NÃO é Bíblica na Verdade a Ideia de que um Cristão NÃO deve beber Vinho é somente Mandamento de Homens e NÂO de Jesus.

    Por isso Na Verdade um Cristão tem permissão de Beber Vinho Moderamente Segundo a Bíblia Sagrada.

    O vinho foi usado quase universalmente na Ceia do Senhor em toda a história da Igreja Cristã até 1870. Somente a partir de 1849 isso mudaria. Naquele ano, um pastor congregacionalista, de nome Moses Stuart, publicou um folheto defendendo a ideia de que “quando a Bíblia fala sobre vinho de forma negativa, se refere ao fermentado, e quando a Bíblia louva o vinho, significa… suco de uva.” Obviamente, ele interpretou de forma equivocada o oinos do casamento de Canaã em João 2 como suco de uva, e a mesma palavra oinos em Efésios 5.18 e Mateus 11.19 como “fermentado”.
    Entrementes, o Dr Thomas Welch, um dentista e oficial de uma Igreja Metodista Episcopal em Nova Jersey, estava preocupado sobre o uso do vinho da Comunhão. Sua preocupação devia-se ao crescente problema de embriaguez nos Estados Unidos. Dr. Welch se converteu em um ativista do movimento de Temperança na América, que advogava a total abstinência do álcool. Assim, em 1869, Dr Welch inventou o suco não-fermentado de uvas, e recomendou seu uso ao pastor da sua igreja para a Ceia do Senhor. Em 1916, os Metodistas tornaram o uso do suco de uva obrigatório, e muitas outras Igrejas protestantes seguiram o exemplo, de modo que a prática se espalhou rapidamente entre as Igrejas evangélicas na América e, a partir dos Estados Unidos, à todo o mundo.
    Porém, vinho, e NÃO suco de uva, é a bebida ordenada por Jesus Cristo:O Filho de Deus para a Ceia do Senhor.

    POR OBEDIÊNCIA A JESUS DEVEMOS USAR PÃO AZIMO E VINHO TINTO NA CEIA DO SENHOR.

    ResponderExcluir