Ricardo
André
No dia 03 de fevereiro,
o Site do jornal O Globo publicou uma matéria a respeito de uma Freira
dominicana denominada Lucía Caram, que utilizou o Twitter “Celebridade no Twitter”
para afirmar que Maria, mãe de Jesus Cristo, teve relações sexuais com seu
marido, José. E, num Programa de Televisão espanhol “Chester in love”, afirmou
categoricamente que “Maria estava apaixonada por José e que eles eram um casal
normal, e ter relações sexuais é uma coisa normal”. No mesmo programa fez a
defesa de que a sexualidade é dada por Deus, portanto, é uma bênção, não é algo
sujo nem algo a ser condenado, mas uma parte básica de cada indivíduo e uma
forma de expressão própria. Ainda assim, a Igreja tem lutado contra isso
Como era de se esperar
as ideias da religiosa geraram uma reação do mundo católico. Muitos católicos
sentindo-se ofendidos destilaram ódio contra ela na internet, incluindo uma
petição on-line para que ela fosse suspensa de sua Ordem. Caram conta que em
virtude de suas observações no Programa de TV sofreu ameaças de morte, e pediu
desculpas aqueles que se sentiram ofendidos.
Este episódio suscita o
debate sobre o dogma católico da “perpétua virgindade de Maria. Continuou Maria virgem após o nascimento de
Cristo? Em que consiste essa crença? A pergunta mais importante é: O que as
Sagradas Escrituras dizem sobre esse tema? Diante da polêmica suscitada pela
religiosa Lucía Caram, cumpre-nos examinar tal crença a respeito de Maria à luz
das Escrituras. Estas devem ser aceitas por todos os cristãos como autorizada e
infalível revelação da vontade de Deus. Elas são a regra de fé e prática, o
revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa. “Toda
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (II Tim. 3:16 e 17).
O
que ensina a Igreja Católica?
Antes de submetermos
tal dogma a uma avaliação bíblica a fim de elucidar a questão, entendemos ser
importante expormos a crença católica. A Igreja ensina veementemente que Maria
foi virgem “antes, durante e depois do parto de Jesus”. Ou seja, ela viveu toda
a sua vida como virgem e morreu virgem. Segundo o Site católico “Franciscano”,
esse caráter tríplice da virgindade de Maria “foi proclamado em 649, pelo
Concílio Ecumênico do Latrão. (http://www.franciscanos.org.br/?page_id=5520).
O referido Sínodo decidiu:
“Se alguém, segundo os
Santos Padres, não confessa que própria e verdadeiramente é Mãe de Deus a santa
e sempre Virgem e Imaculada Maria, já que concebeu nos últimos tempos sem
sêmen, do Espírito Santo, o próprio Deus-Verbo (…), e que deu à luz sem
corrupção, permanecendo a sua virgindade indissolúvel mesmo depois do parto,
seja anátema.” (http://cleofas.com.br/dogmas-marianos-parte-2/).
O Catecismo da Igreja Católica ratifica esse dogma, quando afirma: “(...)
O nascimento de Cristo não lhe diminuiu, mas sagrou a integridade virginal de
sua mãe. A liturgia da Igreja celebra Maria como a “Aeiparthenos”, ‘sempre virgem’” (p. 499).
O Catecismo sintetiza o dogma da virgindade perpétua de Maria
dizendo: “Maria permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz,
Virgem ao carregá-lo, Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre (...)”.
(p. 510).
Ao analisarmos a crença
católica na virgindade perpétua de Maria, percebemos que ela fundamenta-se não
nas Escrituras Sagradas, mas em suposições dogmáticas.
O
ensino bíblico
A Bíblia Sagrada afirma
nitidamente que Maria era virgem quando se achou grávida do Espírito Santo (Is
7:14; Mt 1:18-25; Lc 1:26-38) e na hora do nascimento de Jesus. Neste ponto,
católicos e protestantes estão em harmonia. Todavia, a Bíblia não sugere em
parte alguma que ela permaneceu virgem depois disso. Vejamos o que diz Mateus
1:25: “Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem
pôs o nome de Jesus.”
O termo “conhecer” era
frequentemente utilizado pelos hebreus no sentido de relações sexuais normais
entre marido e mulher, como Adão que “conheceu Eva, sua mulher; ela concebeu e
deu à luz Caim”(Gn.4:1).
Várias das mais
recentes versões já traduzem da mesma forma, tal como é o caso da NVI, que
verte por: “não teve relações com ela enquanto não deu à luz a um filho (...)”.
A Bíblia “Pão Nosso”,
versão católica com Imprimatur do Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo
metropolitano de São Paulo (04.10.1982), traduz Mateus 1:25, assim: “E não a conheceu até que deu a luz um
filho, e nele pôs o nome de Jesus”.
Na nota do rodapé,
comenta: “a expressão até que de per si nada afirma e nada nega a respeito do
futuro. Quer apenas afirmar que a concepção de Jesus não houve relações
conjugais. Não se afirma aqui, portanto, a virgindade perpétua de Maria, mas
esta decorre do resto do evangelho e da Tradição da Igreja”, pág. 1179.
Esta nota reconhece que
embora “nada afirme” e “nada negue”, admite que este texto não apoia
categoricamente, a doutrina da Virgindade Perpétua de Maria. Doutrina esta
atribuída à Tradição da Igreja Católica. Pois no “resto do Novo Testamento”,
nada encontramos para consubstanciar esta fábula.
Agora, vejamos esse
texto na Bíblia de Jerusalém, importante tradução católica da Bíblia:
“Mas não a conheceu até
o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus”.
No comentário de rodapé desse versículo encontramos o seguinte comentário: “O texto não considera o período ulterior
e por si não afirma a virgindade perpétua de Maria, mas o resto do Evangelho,
bem como a tradição da Igreja, a supõem” (p. 1839).
Note que o comentário
da Bíblia de Jerusalém admite que o texto em lide não prova a perpétua virgindade
de Maria. Segundo o mesmo comentário, a virgindade perpétua dela é supostamente
ensinada pelo “resto do Evangelho” e
pela “tradição da Igreja”. Acontece que o comentário não cita um único texto do
Evangelho que a confirme. A verdade é que o dogma é sustentado pela tradição da
Igreja, e não pela Bíblia.
O texto de Mateus 1:25
coloca claramente um limite de tempo
definido para a virgindade de Maria. Ele afirma que José não a conheceu até que
ela deu á luz ao menino e lhe colocou o nome de Jesus.
De acordo com o Dr.
Samuele Bacchiocchi, “a expressão “não conheceu” sugere que José
não manteve relações sexuais com Maria até após o nascimento de Jesus. Nas
Escrituras um homem conhece uma mulher mantendo intimidades sexuais com ela. “E
conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu” (Gn 4:1, ARC). (...) O
adverbio “enquanto” [heos hou] na frase josé “não a conheceu, enquanto ela não
deu à luz seu filho, o primogênito” (Mt 1:25, KJV) dá a entender que, após o
nascimento de Jesus, o casal manteve relações conjugais normais. Como ressalta
Jack Lewis, “em outras parte do Novo Testamento (Mt 17:9; 24:39; Jo 9:19), a
palavra enquanto (heos hou), seguida por uma negativa, sempre sugere que a ação
negada realmente ocorria posteriormente” [The Gospel According to Matthew, v.
1, p. 42]. Não há razão válida para supor que Mateus 1:25 seja uma exceção. Se
Mateus quisesse comunicar a ideia da perpétua virgindade de Maria, ele simplesmente
teria escrito: ‘Ma José jamais a conheceu’” (Crenças Populares – O que as
pessoas acreditam e o que a Bíblia realmente diz, p. 249).
O Prof. Pedro
Apolinário, mestre em línguas bíblicas pela Andrews University (EUA), opina
sobre Mateus 1:25: “Segundo nossa sintaxe, as palavras até que pressupõem o fim de uma
situação e o início de uma outra contrária”. – Leia e Compreenda Melhor a
Bíblia, p. 58.
Portanto, Mateus 1:25,
afirma que José não a conheceu (no sentido de ter tido relações sexuais) até
que Jesus nasceu. Não fala sobre o permanecer virgem após o parto como diz o
credo católico.
A
família de Jesus
Um outro ponto
relacionado à “Virgindade Perpétua” é a problemática da família de Jesus. Teve
Maria filhos além de Jesus? Quem eram então os “irmãos” e “irmãs” de Jesus mencionados nos Evangelhos, a exemplo de Mateus 12:46?
Três pontos de vistas têm sido mantidos:
a) Eram parentes de Jesus,
uma vez que era um costume chamar parentes e amigos íntimos de irmãos.
b) Eram irmãos de Jesus
literais, filhos de José e Maria.
c) Eram filhos somente
de José e não de Maria, visto que José era viúvo quando casou com Maria.
Os Adventistas do Sétimo
Dia tem optado pela terceira posição. O Comentário
Bíblico Adventista sugere algumas evidências:
“O fato de Jesus ter
confiado Sua mãe aos cuidados de João indica que os irmãos e irmãs de Jesus não
eram propriamente filhos de Maria (Jo 19:26, 27) indica que os “irmãos” (e
irmãs) de Jesus não eram filhos de Maria. A atitude e o relacionamento desses
irmãos com Jesus mostram que eram mais velhos que Cristo. Eles tentaram impedi-Lo,
trataram-No com escárnio (ver Jo 7:3, 4) e interferiram em sua missão (cf. Mc
3:31) de uma forma que apenas irmãos mais velhos ousariam fazer naquela época.
Para alguém familiarizado com a vida nas terras bíblicas, esse argumento por si
só parece conclusivo. Os registros dos evangelhos afirmam que os irmãos eram
filhos de José, mas não de Maria. Embora esses “irmãos” não cressem em Jesus
nessa ocasião (Jo 7:3-5), mais tarde, aceitaram-No e foram contados entre Seus
seguidores (At 1:14)” (vol. 5, p. 418 e 419).
Este posicionamento é
endossado pelo Espírito de Profecia. Ellen G. White afirma: “Seus irmãos, como eram
chamados os filhos de José, tomavam o lado dos rabinos. Insistiam em que a
tradição deveria ser atendida, como se fossem ordens divinas. (...)Tudo isso
desgostava os irmãos. Sendo mais velhos que Jesus, achavam que Ele devia estar
sob sua direção” (O Desejado de Todas as Nações, p. 86, 87).
O
sexo é uma bênção de Deus
Ao analisamos a razão
pela qual a Igreja Católica defende veementemente o dogma da perpétua
virgindade de Maria, descobrimos que ela decorre da crença equivocada de que o
sexo é pecaminoso. Foi Santo Agostinho que, influenciados por ideias pagãs,
ensinou que o pecado original se transmitia através da procriação mediante
relações sexuais.
“A associação de sexo
com pecado fez surgir a ideai de que era inconcebível Maria ter mantido
relações conjugais normais após o nascimento de Jesus. Para ser impecável e
santa, Maria tinha de ser virgem antes e depois do nascimento de Jesus. Seu
hímen precisava permanecer intacto durante e após o parto, a fim de ela alcançar
o mais elevado estado de santidade. Essa ideia se consolidou na tradição do
celibato para padres e freiras” (Samuele Bacchiocchi, Crenças Populares – O que
as pessoas acreditam e o que a Bíblia realmente diz, p. 247).
A Palavra de Deus, entretanto,
não apoia essa crença irrazoável. A freira Lucía Caram está completamente certa
em sua defesa de que o sexo é uma bênção de Deus. Ele não é contra o sexo nem do
prazer que dele decorre. Sexo não é e nunca foi pecado, desde que praticado
dentro dos padrões bíblicos, dentro da vontade de Deus. O sexo é um dom que
Deus dá às pessoas casadas para o prazer de ambos. Foi Ele quem fez o sexo e o
deu de presente para o ser humano. Antes mesmo que houvesse pecado no mundo,
Deus já tinha ordenado ao homem e à mulher: “Sejam férteis e multipliquem-se”
(Gn. 1:28). E não havia outra forma para o homem e a mulher se
multiplicarem senão por meio do sexo. Portanto, o sexo foi criado por Deus
antes de qualquer pecado ter surgido no mundo. Tudo o que Deus criou é bom. É
importante que se diga que, após a criação do ser humano como macho e fêmea, a
Bíblia diz que Deus viu que “era muito bom” (Gn 1:31).
A respeito dessa
avaliação positiva de Deus ao criar o primeiro casal, o Dr. Samuele Bacchiocchi
afirma:
“Essa primeira
avaliação divina da sexualidade humana como “muito boa” mostra que, para as
Escrituras, as relações sexuais entre homem e mulher são parte da existência e
perfeição da criação original de Deus. No entanto, o dogma da virgindade
perpétua de Maria nega a concepção positiva da Bíblia a respeito do sexo, além
de depreciar as mulheres que optam pelo casamento em vez do celibato. Nos
ensinamentos católicos, uma mulher que se devota à família, educando os filhos
no temor de Deus, dificilmente pode alcançar o estado de santidade de uma
mulher que escolhe permanecer virgem para servir ao Senhor. Um ensino como esse
jamais pode obter o apoio da Bíblia, que elogia mulheres consagradas a Deus
como Ana por se dedicar à educação de Samuel (1 Sm 1 e 2)” (Crenças Populares –
O que as pessoas acreditam e o que a Bíblia realmente diz, p. 248).
O restante das
Escrituras confirma o que Gênesis revela acerca do sexo como bênção de Deus. A
exemplo do livro de Provérbios que orienta seus leitores a desfrutarem do sexo:
“Seja
bendita a sua fonte! Alegre-se com a esposa da sua juventude. Gazela amorosa,
corça graciosa; que os seios de sua esposa sempre o fartem de prazer, e sempre
o embriaguem os carinhos dela” (Pv. 5:18,19).
A Bíblia também diz: “Desfrute
a vida com a mulher a quem você ama” (Ec. 9:9). E não dá pra ler essa
recomendação e entender que ela não inclui a intimidade sexual. Não podemos
esquecer que Deus inspirou um livro inteiro da Bíblia para tratar desse tema: O
Cântico dos Cânticos.
Além de tudo isso,
Paulo ensina que cada cônjuge deve cuidar da satisfação sexual do outro: O
marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma
forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu
próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não tem autoridade
sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um ao outro, exceto
por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se dedicarem à oração (...)”
(1 Coríntios 7:3-5, NVI).
Diante do exposto,
percebe-se claramente que o dogma católico da virgindade perpétua de Maria não
tem sustentação bíblica, mas é baseada unicamente na tradição da Igreja, como
reconhece o comentário católico da Bíblia de Jerusalém. “É uma superstição antiga imposta
a devotos que nunca tiveram oportunidade de estudar esse assunto pela
perspectiva da Bíblia” (Samuele Bacchiocchi, Crenças Populares – O que as
pessoas acreditam e o que a Bíblia realmente diz, p. 254).
A minha oração é no
sentido de que Deus mostre Sua vontade aos nossos queridos irmãos católicos,
tornando claro para eles este e outros assuntos, por meio de Sua Palavra, a
Bíblia Sagrada.
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