Teologia

domingo, 22 de janeiro de 2017

O EVANGELHO COBERTO DE AÇÚCAR



Ricardo André

Por causa das práticas idólatras do antigo Israel, o então povo de Deus, o Senhor permitiu que o flagelo da invasão e do cativeiro babilônico incidisse sobre a nação pecaminosa (Jr 15:4-30; 11-15). Ele falou por meio dos Seus profetas que a disciplina do cativeiro seria de 70 anos (Jr 29:10). Quando Israel, ao tempo do profeta Ezequiel (cativo em Babilônia com mais 10 mil judeus), estava sob o agravo da profecia que reclamava a destruição da nação judaica pelos babilônios, os falsos profetas contraditando a Palavra do Senhor, anunciavam “paz”, em 599 a. C. Um ano e meio mais tarde, em 597 a. C., Jerusalém era um montão de ruínas fumegantes, malgrado das adocicadas palavras dos falsos profetas.

Os falsos profetas eram anunciadores da “Paz”. Eles prediziam audazmente que dentro de dois anos seria desfeita a ameaça de Babilônia, e que os exilados e o rei Joaquim (Jeconias) – bem como os vasos do Templo – seriam trazidos de volta (Jr 27:16 e 17; 28:1-11).Um desses profetas foi Hananias, a respeito de quem o profeta Jeremias falou com voz firme: “Escute, Hananias! O Senhor não o enviou, mas assim mesmo você persuadiu esta nação a confiar em mentiras” (Jeremias 28:15, NVI). Ele fez o povo “confiar em mentiras”, não no sentido de força-los fisicamente a fazer isso, mas por meio do engano. Embora o Deus não o tivesse enviado, ele falou em nome do Senhor, o que tinha um peso muito grande em Judá. Além disso, a mensagem de “graça”, “livramento” e “redenção” dada por Hananias certamente era algo que o povo desejava ouvir, considerando a grande ameaça que Babilônia representava para a nação. Porém, aquele era um falso “evangelho”, uma falsa mensagem de salvação que o Senhor não havia concedido ao povo.

Este movimento de uma falsa paz levou os exilados e mesmo os moradores de Jerusalém continuarem em sua rebelião contra Deus não se arrependendo de seus pecados. Permaneceram enganados, fazendo o que Deus reprova pensando ter Sua aprovação.

O comentarista bíblico Peter C. Craigie retrata com exatidão absoluta, a atitude dos dirigentes religiosos e sacerdotes de Jerusalém: “O seu povo queria desesperadamente uma mensagem de paz, por isso eles lhe deram isso, preferindo declarar uma agradável mentira a expor a terrível realidade” (Ezekiel, p. 91).

A mentira agradável não os livrou do juízo divino. A Palavra de Deus cumpriu-se na íntegra.

Mentiras Agradáveis

As coisas não são diferentes hoje: estamos num grande conflito cósmico, numa batalha pela posse do coração e da mente de bilhões de pessoas no mundo. Satanás está trabalhando intensamente para levar o maior número possível de pessoas a “confiar em mentiras”, e essas mentiras podem vir em muitos disfarces e formas, embora seja sempre mentiras. Pelo fato de Jesus ter dito “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6), as mentiras de Satanás podem ser a respeito de qualquer coisa, desde que não contenham a verdade assim como é em Jesus.

À semelhança dos falsos profetas dos dias de Ezequiel e Jeremias, hoje, muitos falsos líderes religiosos estão dando ao mundo mentiras agradáveis, apresentando um evangelho profanado pelos falsos pastores. Um evangelho coberto com açúcar. Vejamos algumas dessas mentiras agradáveis, contra as quais precisamos nos guardar:

“A Lei foi um concerto entre Deus e Israel somente. (...) Na conversão, morremos com Cristo, logo morremos para a Lei. Os cristãos tradicionais damos ao Senhor o primeiro dia, o domingo, depois tomamos os seis restantes para nós, ao passo que os sabatistas invertem: tomam para si os seis primeiros dias e dão o restante. Ora, estamos vivendo no tempo da graça!” (José Apolinário da Silva, Heresiologia Refutação, vol. 6, p. 60, 71).

A tese de que a Lei Moral dos dez Mandamentos ou mesmo o sábado foi dado somente aos judeus é um grande equívoco doutrinário, sem respaldo bíblico ou teológico. Não lemos em lugar nenhum que o sábado devia ser confinado aos judeus. Ao contrário, há declarações muito específica e claras das Sagradas Escrituras revelando que o sábado foi estabelecido por Deus para ser uma bênção para todos os povos e nações. Elencamos aqui algumas delas:

1) Não podemos olvidar que no próprio quarto mandamento o sábado alcança a nós (não judeus). Ele diz especificamente que não apenas israelitas deviam repousar, mas também o estrangeiro que estivesse dentro das suas portas (Êx 20:10). Os estrangeiros eram aqueles que não pertenciam a família de Israel; poderiam pertencer a qualquer outro povo ou nação.

2) Cristo disse que “o sábado foi estabelecido por causa do homem” (Mt 2:27). Ele não disse “judeu”, mas “homem”, e não existe nenhuma justificativa para limitar o significado da palavra homem aos judeus! Jesus se referia ao homem-anthropós, toda a raça humana, não ao “homem judaico”, como muitos ridiculamente tentam defender. Que isso não se refere ao homem judaico fica claro em Mateus 19:5, 6 onde o mesmo termo ‘homem’, anthropós, usado por Cristo em Marcos 2:27, é empregado com relação a toda a raça humana. Isso se harmoniza com a clara informação bíblica de que o sábado foi estabelecido por ocasião da Criação (Gn 2:1-3). Se limitássemos a palavra aos judeus, logo entraríamos em grande dificuldade. Lemos que Cristo é “a verdadeira luz, que, vindo ao mundo ilumina a todo homem” (Jo 1:9). Trouxe Cristo luz somente para os judeus? Além disso, o sábado foi dado para que os homens pudessem ter a bênção do descanso e a adoração do seu Criador. Por que desejaria Deus que somente uma pequena fração dos seres criados – porque os judeus sempre têm sido uma parte muito pequena da população mundial – participasse da alegria do descanso e da adoração?

3) Como poderia o sábado ter sido dado somente aos judeus, sendo que ele foi instituído na criação, quando todas as coisas eram perfeitas (Gn 1:31), muito tempo antes dos dias de Abraão, o pai do povo judeu? (Gn 2:1-3). Quando o sábado foi criado somente havia duas pessoas presentes – Adão e Eva – e eles não eram judeus, eram filhos de Deus dos quais descendemos. Não havia divisão de raças, nações e tribos. E, como os demais preceitos do decálogo, é de imutável obrigatoriedade. Dessa lei de que o quarto mandamento é uma parte, declara Cristo: "Até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido." Mat. 5:18. Enquanto céus e Terra durarem, continuará o sábado como sinal do poder do Criador. E quando o Éden florescer novamente na Terra, o santo e divino dia de repouso será honrado por todos debaixo do Sol. "Desde um sábado até ao outro", os habitantes da glorificada nova Terra irão "adorar perante Mim, diz o Senhor" (Is 66:23).

4) Muito depois de Moisés o profeta Isaías mostra que um relacionamento de salvação com o Senhor não estava limitado só aos judeus. A salvação é aberta a todos os que “se chegam ao Senhor”. Ele mostra que a justiça, a salvação e a vida eterna também eram destinados aos gentios. E, se a salvação é para todos, o sábado também é para todos os povos. E, um “nome especial melhor do que filhos e filhas será dado aos que guardarem o sábado.” Lá não diz “bem-aventurado os israelitas”, mas “bem aventurado o filho do homem” que guarda o sábado. (Is 56:1-8). Portanto, o pacto de Deus quanto ao sábado é para toda a humanidade e não somente para o israelita.

5) A Bíblia denomina o “sábado do Senhor”  e não de sábado de Israel num sentido nacional (Êx 20:8-11; Is 58:13).

6) O profeta Isaías declarou que o povo de Deus iria para o exílio por causa da rebelião nacional, mas quando Ele os restabelecesse com o restante da humanidade (pessoas de todos os povos e nações) em uma Nova Terra, eles adorariam o Senhor de um sábado a outro sábado (Isa. 66:22 e 23). Ora, o fato de que Deus diz que nos “novos céus”, o sábado continuará a ser guardado por todos os remidos, evidencia que o sábado é uma instituição eterna.

Ademais, os cristãos se constituem no Israel espiritual. Deus não tem absolutamente nenhuma promessa para os gentios, senão quando se tornam Israel. O gentio, como gentio, está completamente sem esperança, e isto a Palavra de Deus declara repetidamente. Jesus era da raça de Israel. Também os profetas, e todos os apóstolos, os autores do Novo Testamento eram israelitas. Jesus mesma declarou que "a salvação vem dos judeus." João 4:22. Somente Israel será salvo. A Bíblia afirma:

"É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios certamente... Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filha (...) E, se sois de Cristo, então sois descendentes de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.(...) Naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunhão de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança... mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Crista chegastes perto (...) E ouvi o número dos assinalados e eram cento e quarenta e quatro mil assinalados de todas as tribos dos filhos de Israel." (Rm. 2:28; 9:6 e 7; Gl. 3:29; Ef. 2:12 e 13; Ap. 7:4).

Notemos o que diz o comentarista batista William Carey Taylor em A Epístola aos Gálatas, pág. 316:

"O gentio por sua fé se torna descendente espiritual de Abraão, membro do Israel de Deus. A Jerusalém palestiniana e seu povo são repudiados categoricamente: 'está em escravidão com seus filhos' Gál. 3:25. Os crentes gentios são 'como Isaque, filhos da promessa'. 28. Israel segundo a carne passa a ser 'lançado fora,' não será 'herdeiro' das promessas proféticas, v. 30, antes identifica-se com a escrava Agar e o bastardo Ismael: mas o filho, o herdeiro, o Isaque, o Israel real, o povo de Deus, a Jerusalém celestial e seus filhos, são os crentes gentios, incorporados com Jesus e Paulo e os outros apóstolos, no tronco indestrutível da árvore de Abraão e da aliança da graça."

Na gloriosa cidade que dará a Seus filhos, há doze portas, e seus nomes são os das doze tribos de Israel. É preciso que nos tornemos Israel. Mesmo o estrangeiro, o gentio, terá que tornar-se membro da família de Deus, do Israel espiritual. Não há uma lei para o judeu e outra para o gentio, que peregrina conosco, como aqueles que peregrinavam com o Israel literal. (Nm. 15:16).

"Aquilo que Deus propôs realizar em favor do mundo por intermédio de Israel, a nação escolhida, Ele executará afinal por meio de Sua igreja na Terra hoje. Ele arrendou Sua vinha 'a outros lavradores'" (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 713 e 724).

Portanto, os privilégios de Israel transferiram-se a nós. Somos "os outros lavradores", mas as bênçãos da vinha são as mesmas. Todas as bênçãos divinas, inclusive o sábado, se transferiram para o Israel espiritual. Tanto Jesus quanto Seus discípulos ensinam que os privilégios e responsabilidades de Israel foram transferidos, na Nova Aliança, de Israel para a Igreja. Ela agora é o Israel segundo a fé, enxertada no remanescente do Israel segundo a carne.

O Pastor Apolinário ainda insinua que a graça anulou a lei (a maior deturpação teológica de todos os tempos). É um erro crasso ensinar que a graça de Deus isenta os cristãos da obediência a Deus. A Bíblia em lugar algum ensina que a salvação pela graça e aceita pela fé nos livra do dever de obedecer a Deus. A GRAÇA NOS SALVA DO PECADO, NÃO NO PECADO. Ela não nos salva para continuarmos pecando. Isso é uma graça barata. A graça é o poder que habita o cristão salvo a obedecer a Deus. Cito dois textos bíblicos que esclarece essa clara doutrina das Bíblia Sagrada:

1) Na Carta aos efésios, cap. 2:8-10, após falar da salvação unicamente pela graça de Deus, o apóstolo Paulo afirmou: “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Efésios 2:10). Note que Paulo deixa claro que o cristão salvo realiza as obras que “Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos”. Logo, as obras são resultado dessa relação salvífica do crente com Deus. O cristão não obedece a Deus (obras) para se salvar, mas porque já está salvo. A obediência a lei de Deus, como obra da fé, é uma consequência natural da salvação em Cristo.

2) A experiência da Mulher adúltera registrada em João 8, é um claro exemplo da relação harmoniosa entre Fé e Obras, Lei e Evangelho. Após ter Cristo perdoado e justificado aquela mulher, o que ele disse para ela? “EU TAMBÉM NÃO A CONDENO. AGORA VÁ E ABANDONE SUA VIDA DE PECADO" (JOÃO 8:11, NVI). Que pecado cometia aquela mulher? O pecado do adultério. Note que Cristo perdoou-a, salvou-a do pecado e depois ordenou-lhe que não deveria mais  cometer pecados, ou seja, deveria guardar a lei de Deus, que diz taxativamente: “Não adulterarás” (Êxodo 20: 14). Ela deveria obedecer a Deus depois de sua experiência de justificação pela fé. Tal é a experiência de todos os cristãos justificados pela fé em Jesus.

Esta verdade (salvação unicamente pela graça) não anula a lei; Ela apenas mostra que a lei não pode nos dar vida eterna. O apóstolo Paulo afirmou: “ANULAMOS ENTÃO A LEI PELA FÉ? DE MANEIRA NENHUMA! PELO CONTRÁRIO, CONFIRMAMOS A LEI” (ROMANOS 3:31). Como resultado de termos sido perdoados por meio de Cristo, nosso relacionamento com a lei passa a ser diferente. Agora somos chamados a viver uma vida agradável a Ele (I Ts 4:1); Paulo se refere a isso como andar no Espírito (Gl 5:16-18). Isso não significa que a lei moral não seja mais aplicável: a questão nunca foi essa. Como poderia ser assim, quando vemos claramente que é a lei que define o pecado (Romanos 3:20)?

Em vez disso, visto que a lei é uma cópia do caráter de Deus, pela obediência à lei simplesmente refletimos Seu caráter. Mais do que isso, entretanto, não seguimos apenas um conjunto de regras, mas o exemplo de Jesus, que faz por nós o que a lei nunca poderia fazer: na Nova Aliança Ele escreve a lei em nosso coração (Hb 8:10) e torna possível que o preceito da lei se cumpra em nós (Rm 8:4). Ou seja, através de nosso relacionamento com Jesus, temos o poder para obedecer à lei como nunca antes.

Observe o que ensina a Igreja Católica:

“Os cristãos deslocaram, de um dia, a observância do repouso ou do sétimo dia, porque foi no dia posterior ao sábado – ou domingo – que o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos, apresentando ao mundo a nova criatura. (...) O próprio Deus, colocando a ressurreição de Cristo, por excelência, ou sábado dos cristãos, deveria ser deslocado de um dia” (Felipe Aquino, Falsas Doutrinas: Seitas e Religiões, p. 85).

“O sábado, que representava o término da primeira criação, é substituído pelo domingo, que lembra a criação nova, inaugurada com a Ressurreição de Cristo. A Igreja celebra o dia da ressurreição de Cristo no oitavo dia, que é corretamente chamado dia do Senhor, ou domingo. O domingo (...) deve ser guardado em toda a Igreja como o dia de festa de preceito por excelência” (Catecismo da Igreja Católica, Ed. Típica Vaticana, p. 573).

Esse ensino católico e reproduzido pelos líderes evangélicos representa um engano. É uma mentira agradável. Até porque Jesus não fez qualquer tentativa de instituir um memorial de Sua ressurreição, como sugere a Igreja Católica. Se Jesus desejasse que o dia de Sua ressurreição se tornasse um dia memorial e de culto, Ele teria Se aproveitado daquele evento para estabelecer tal memorial. É importante ressaltar que as instituições divinas como o sábado, batismo, Santa Ceia, todos remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Sobre o dia da Sua ressurreição, contudo, Cristo não realizou qualquer ato para instituir um memorial relativa ao excepcional evento.

Se Jesus desejasse memorializar o dia de Sua ressurreição, muito provavelmente teria dito às mulheres: “Vinde à parte e celebremos minha ressurreição!” Em vez disso Ele disse às mulheres: “Ide avisar a meus irmãos que dirijam à Galileia (Mt 28:10). E aos discípulos: “Ide... fazei discípulos... batizando-os” (Mt 28:19). Nenhuma dessas declarações do Salvador ressurreto revela intenção de memorializar Sua ressurreição por tornar o domingo o novo dia de descanso e culto para a comunidade cristã.

Depois da ressurreição, Cristo passou 40 dias instruindo Seus discípulos sobre o estabelecimento de Sua Igreja e, no entanto, não disse que o sábado foi transferido para o domingo por causa de Sua ressurreição. Se realmente o sábado tivesse sido abolido Jesus diria abertamente.

É curioso notar que um verso no evangelho de Lucas, escrito 40 anos depois da ressurreição, afirma que as mulheres "no sábado, descansaram, segundo o mandamento" (Lucas 23:56). O advogado e teólogo protestante Dr. William Smith no seu célebre Dicionário da Bíblia, pág. 366, embora advogando a vigência do domingo, reconhece a escassez de provas e admite honestamente o seguinte em relação a esses textos: “Tomadas separadamente, talvez, ou mesmo todas em conjunto, estas passagens se nos afiguram não muito adequadas para provar que a dedicação do primeiro dia da semana ao propósito acima mencionado [dia de repouso em honra da ressurreição] fosse matéria de instituição apostólica, ou mesmo uma prática dos apóstolos".

Outra ilação pregada pelo mundo cristão é a abolição da Lei de Deus. Note o que diz as Testemunhas de Jeová acerca dessa questão:

“Quando Cristo veio e deu a sua vida perfeita qual sacrifício, que aconteceu à Lei? Foi removida. (...) Significa isso que a lei sobre guardar um sábado semanal, que é o quarto dos Dez Mandamentos, também foi removida? Sim, foi” (Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra?, STV, 1989, p. 204 e 206).

Isso é evangelho coberto com açúcar. É falso evangelho. É ilógico supor que Jesus cancelou, acabou ou removeu Sua própria Lei. Primeiro, porque ela é eterna, como é eterno o nosso grande Deus (Sl 111:7, 8). Segundo, porque por ela será julgada toda criatura (Tg 2:12).

Como disse certa vez Arnaldo B. Christianini:

“Morrendo na cruz, em nosso lugar, Cristo nos redimiu não da obrigação de obedecer ao Decálogo, porém “da maldição da lei” (Gl 3:15), que é a morte. Ao invés de revogar ou anular os Dez Mandamentos, o sacrifício de Cristo na cruz os confirmou em sua imutabilidade e em sua universalidade.

“A cruz do calvário é o irrespondível argumento de que a lei de Deus não pode ser abolida. Pagaria Jesus a pena imposta por uma lei ab-rogável ? Morreria Ele na cruz para satisfazer as exigências de uma lei imperfeita, falha, inútil, que estivesse para ruir? Ter-se-ia Cristo imolado para salvar o pecado de uma lei precária? Eu não sou judeu, mas crio que Cristo me resgatou da maldição da lei.

“Pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:20) – escreveu Paulo várias dezenas de anos após a morte de Jesus.  E entre os pecados de sua experiência pessoal que a lei revela, cita o “não cobiçarás” do decálogo. “Pecado é a transgressão da lei” (I Jo 3:4). (...) Note-se que esta declaração escrita quase 40 anos após a crucificação não diz que pecado era transgressão a lei, mas que É. Que lei? Certamente não se referia ao cerimonialismo judaico, já perempto, mas à lei moral, cuja súmula é o decálogo. (...) Mas se a lei foi abolida... nem pecado existe mais (porque não se pode transgredir o que não existe)” (Sutilezas do Erro, Santo André SP: Casa Publicadora Brasileira, 1965, p. 80, 81).

Paulo ainda afirma que “se não há lei, também não há pecado” (Rm 4:15; 5:13). Se admitirmos que a lei foi abolida, então, o raciocínio lógico é que, se não há pecado (em virtude do cancelamento da lei de Deus), não pode haver salvação, pois ela é a consequência da conversão do pecador. Se todos, porém, são justos (pois não há uma lei que aponte e mostre pecados), pra que serve a salvação? Ora, se não há salvação, que necessidade de Jesus? Conclui-se pela palavra dos que advogam a tese da abolição da lei de Deus que, não havendo lei, informa Paulo, não há pecado. Não havendo pecado, dizemos que todos se salvarão, e o sacrifício de Jesus foi vão, inútil e desnecessário, e é isso que o inimigo de Deus deseja, levando os homens a pensarem que a lei de Deus foi abolida. Percebe o amigo leitor o engano satânico?

Ademais, em Mateus 5:17 até 40 o Senhor Jesus reafirmou, de modo cristalino, irrevogável, irretratável e indiscutível a validade continuada da Lei dos Dez Mandamentos que o Senhor Deus outorgou aos homens, até a Consumação dos Séculos. Ele afirmou categoricamente: "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra” (Mateus 5:17,18, NVI). Nessas palavras Ele não deixa dúvida alguma de que se referia, com alta gravidade, à validade permanente dos Dez Mandamentos da Lei dos Profetas, que, sendo Ele também Deus, temos de entender essas suas revelações a respeito da Lei como irrevogável, irretratável, irremovível, insofismável e indiscutível. Vale ressaltar que a santificação do sábado faz parte intrínseca desses Dez Mandamentos (Êx 20:8-11).

Quanto ao mandamento do sábado é importante dizer que ele é um dia separado (santificado) para Deus poder estar presente entre a humanidade e conversar face-a-face e para receber louvores e adoração (Gn 2:1-3). O sábado é uma instituição divina que vem desde a criação cujo objetivo ao homem é o de deixar as tarefas de lado para descansar, porque nos cansamos. Mas também é o dia de adoração e santificação do Senhor de todo o universo (Êx 20:8-11; Isaías 58:13).

Enquanto Deus for nosso criador, este dia jamais poderá ser suprimido, pois é algo necessário, tanto para fisiologia humana, quanto para a espiritualidade. O sábado é uma reunião em família entre irmãos e O Criador. Não é a toa que este seja o princípio fisiológico e espiritual mais atacado por Satanás, que pretende receber a adoração que era destinada exclusivamente à Deus e não dar descanso para que pensem em Deus, principalmente por um dia inteiro.

Como já enfatizamos anteriormente, o Novo Testamento deixa claro que os pecadores não são justificados ou salvos “pelas obras da lei”, mas a partir dessa verdade concluir que os Dez Mandamentos já passaram, e não precisam ser guardados, é um erro crasso.  Se olharmos de perto para as obras da carne citadas por Paulo na lista de Gálatas 5:19-21, e depois compará-las com Êxodo 20:3-17, veremos que Paulo está realmente listando violações específicas da Lei de Deus. “Adultério” quebra o sétimo mandamento, “idolatria” viola o segundo, e “homicídio” quebra o sexto. Em seguida Paulo enumera nove “frutos do Espírito”, como “amor”, “alegria”, e “paz”, e conclui dizendo: “Contra estas coisas não há lei”. O que significa isso? Isso significa que a lei de Deus não é contra esses bons frutos, mas ainda é contra os maus! Assim, a lei de Deus ainda existe, e deve ser obedecida. Podemos ter certeza que esta é a intenção de Paulo, porque em outra carta ele citou o quinto mandamento, afirmando: “Honra teu pai e tua mãe”, e, em seguida, ele ordena que os filhos cristãos sejam “obedientes”! (Ver Efésios 6:1-3).

Então, qual é o verdadeiro evangelho, afinal? Nós não precisamos especular, pois a resposta está na Bíblia Sagrada. Paulo escreveu:

“Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (1 Coríntios 15:1-4).

Aí está, claro e simples, direto da pena inspirada de Paulo. “Cristo morreu por nossos pecados … foi sepultado … e ressuscitou dos mortos”. Esse é o evangelho. Mais uma vez perguntamos: O que é “pecado”? Novamente, não precisamos adivinhar, pois João disse-nos claramente quando ele escreveu, “O pecado é a transgressão da lei” (1 João 3:4). Então, como devemos responder a Boa Nova de que o nosso amado Salvador morreu numa cruel cruz para pagar a pena completa por nossos pecados de quebrar os Dez Mandamentos? A resposta bíblica é que devemos nos “arrepender” (ver Atos 2:38) – o que significa afastar-se dos pecados de quebrar a lei de Deus – e crer no evangelho. Em seguida, o próprio Jesus nos diz: “Se me amais, guardai os meus mandamentos” (João 14:15), que é uma citação direta do segundo mandamento (ver Êxodo 20:06).

Se dermos ouvidos a esse conselho inspirado, vamos evitar o falso evangelho do “eu não preciso guardar a lei” e escapar do engano. Em seguida, iremos seguir “a verdade do evangelho” (Gálatas 2:5) nestes últimos dias.

Diante do exposto, baseado nas Sagradas Escrituras, dizemos que a Lei moral de Deus existirá sempre, enquanto houver pecado. Ela permanecerá como a expressão da vontade de Deus para com o homem.

Transigência Perigosa

Nos dias dos profeta Ezequiel e Jeremias, as pessoas escusando-se de ouvir praticar a Lei de Deus, estabeleciam sua própria agenda: “Queremos ouvir coisas agradáveis”.  Os líderes religiosos ofereciam-lhe agradáveis mentiras. Mas, o profeta, fiel à sua vocação, obediente ao seu discipulado, expressa o que pensa Deus a respeito de quem deseja servi-Lo não como ele determinou, mas como lhe agrada a conveniência. Disse Deus: “Seus sacerdotes cometem violência contra a minha lei e profanam minhas ofertas sagradas; não fazem distinção entre o sagrado e o comum; ensinam que não existe nenhuma diferença entre o puro e o impuro; e fecham os olhos quanto à guarda dos meus sábados, de maneira que sou desonrado no meio deles” (Ez 22:26).

A geração atual encarna de sobejo esta experiência negativa. Nomeando o nome do Senhor, vivem os valores do evangelho baseando-os em normais culturais. A dimensão religiosa de quem quer que seja, praticada com qualquer capa cristã, não transcende a verdade revelada. Deus é absoluto. Seu amor é absoluto. Sua lei é absoluta.

O amor de Cristo fê-Lo ser obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2:5-8). O amor que não gere obediência é, possivelmente, um sentimento equivocado. Considere isso:

“O evangelho que está sendo pregado em muitas igrejas hoje é um evangelho açucarado. Os três passos fáceis para a salvação parecem ser a ordem do dia. Ao ouvir muitos pastores evangelistas pregarem, não se sabe se eles estão apresentando um Senhor crucificado ou um pagamento sem acréscimo, em 12 prestações módicas de ir para o Céu. (...) Abandonemos a tentativa de atrair os homens para Cristo dando-lhes um evangelho adocicado, e restaremos a lei ao seu devido lugar na pregação da salvação pela graça mediante a fé”.

Estas sinceras palavras são de M. Dean Stephens, pároco da Igreja Episcopal Americana da St. Philip, Wilmingston, Carolina do Norte, Christanity Today, 11 de agosto de 1972), citado na Revista Adventista de abril de 1991.

Caro amigo leitor, vivemos um momento delicado no mundo cristão, em que muitas teologias têm aparecido para enganar os filhos de Deus. O perigo é tão grande que o próprio Jesus avisou que, se possível, os eleitos seriam enganados (Mt 24:24). Diante dessa avalanche de heresias e enganos, precisamos nos firmar em Cristo, através do conhecimento perfeito de sua Palavra. Esta é a nossa salvaguarda contra os enganos dos últimos dias. “Olhando para os últimos dias, declarou o apóstolo Paulo: "Virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina." II Tim. 4:3. Chegamos, já, a esse tempo. As multidões rejeitam a verdade das Escrituras, por ser ela contrária aos desejos do coração pecaminoso e amante do mundo; e Satanás lhes proporciona os enganos que amam. Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria - nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro - "Assim diz o Senhor" (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 594, 595).

Cremos que o Deus Espírito Santo haverá de iluminar os cristãos sinceros que estão em busca da verdade que com todas essas considerações não se deixarão enganar com as “mentiras agradáveis” dos promotores da intriga e da mentira contra os que defendem os ensinos bíblicos. São os que se caracterizam como pertencentes ao grupo de servos remanescentes de Deus, os que “guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus” (Apo. 14:12).

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