Teologia

domingo, 22 de maio de 2016

POR QUE OS LÍDERES DAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ DESACOSELHAM OS JOVENS TJ CURSAREM A UNIVERSIDADE?



Ricardo André

Nestes últimos cinco anos tive diversos alunos Testemunhas de Jeová no Ensino Médio. Alguns deles eu acompanhei do 1º ao 3º ano. Por serem bons alunos, aplicados aos estudos e inteligentes, procurei sempre incentivá-los, desde o 1º ano do EM a prepararem-se para realizar as provas do ENEM, pois possuíam potencialidades para lograrem êxito e ingressar na UFS (Universidade Federal de Sergipe). Contudo, em todos eles percebi resistência a ideia. Aquela atitude deles me deixou intrigado. Eu comecei a pensar: Como pode Maria (nome fictício) tão inteligente e com potencial de fazer um bom Exame se recusa a fazê-lo? Por que Carla (nome fictício) com uma capacidade enorme decidiu não fazer o ENEM, uma vez que ele é, hoje, uma porta de entrada na Universidade pública? Cursar uma Universidade é um sonho de milhões de jovens no mundo todo. Afinal, cursar o ensino superior abre inúmeras portas de emprego e "garante" uma melhor estabilização financeira para um futuro mais certo. Então, por que meus bons alunos Testemunhas de Jeová não tinham motivação para ingressar nela?

Decidi, então, buscar respostas para a atitude desses adolescentes religiosos. Nos diálogos que tive com alguns percebi que a posição deles em relação a educação superior tinha alguma relação com os valores religiosos ensinados pelas Testemunhas de Jeová, embora eles não me disseram diretamente que tinha vinculação com a religião professada por eles. Sempre negaram. Foi a partir dessa minha suspeita que passei a pesquisar sobre isso a partir da literatura da organização religiosa deles.

O que dizem as publicações das TJ?

No Site Biblioteca On-line da Torre de Vigia, encontrei um artigo com o tema: “Pais, que futuro desejam para seus filhos?” Este artigo foi antes publicado na Revista Sentinela de 2005. Nele, percebe-se claramente que o Gorpo Governante das Testemunhas de Jeová orienta os pais a não incentivarem os filhos a cursar a Universidade ou Faculdade, mas a fazerem cursos técnicos profissionalizantes ou ingressarem “no serviço de tempo integral, como missionários”. Diz um trecho do artigo: “Em vez de estudar com o objetivo único de cursar uma universidade, os pais e filhos precisam analisar a possibilidade de escolher cursos profissionalizantes, úteis na busca duma carreira teocrática” (http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/2005726). Exatamente o que todos os meus alunos me respondiam quando indagava sobre a recusa de cursar a Universidade. As razões apresentadas no artigo da Revista para os pais não estimularem os filhos a almejarem a educação superior são, entre outras, o fato de que a Universidade ou faculdade é um ambiente onde “o mau comportamento impera nas dependências e dormitórios de universidades e faculdades, sendo comum o uso de drogas e bebidas alcoólicas, imoralidade, trapaça nos exames, trotes, e a lista continua. Considere o uso excessivo de bebidas alcoólicas” (http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/2005726).

A Revista Sentinela traz relatos de jovens Testemunhas que renunciaram a formação acadêmica pela de missionário da Organização:

"Note como um jovem, Testemunha de Jeová, usou o raciocínio e conseguiu alcançar alvos espirituais: "Tive a oportunidade de ter uma carreira no jornalismo. Isto me agradava muito, mas lembrei-me do versículo bíblico que diz que 'o mundo está passando', ao passo que 'aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre'... De modo que decidi dar um objetivo à minha vida e alistei-me no ministério de tempo integral como pioneiro regular. Depois de quatro anos gratificantes, sei que fiz a escolha certa" (A Sentinela de 15/08/2002, p. 24).

“Helga, por exemplo, lembra que no seu último ano da escola os colegas de classe ficavam conversando sobre seus objetivos. Muitos deles queriam fazer faculdade, pois achavam que isso os ajudaria a ter uma carreira promissora. Helga conversou sobre isso com seus amigos na congregação. “Muitos deles eram mais velhos e me ajudaram muito”, conta ela. “Eles me incentivaram a entrar no serviço de tempo integral. Então servi como pioneira por cinco anos. Hoje, anos mais tarde, me sinto feliz por ter concentrado boa parte da minha juventude no serviço de Jeová. Não me arrependo nem um pouco" (A Sentinela de 17/09/2015, p. 7).

Afora isso, a organização apresenta outras razões:

"No presente sistema de coisas, sob controle de Satanás, há muitas coisas que parecem prometer grandes benefícios, mas, na verdade, podem ser danosos ao nosso relacionamento com Deus. Coisas como... ir em busca de educação superior para alcançar a posição de alguém... Poucos anos atrás, um jovem cristão... teve a oportunidade de viajar ao exterior para dar prosseguimento a seus estudos... gradualmente, ele perdeu seu apreço pela verdade bíblica... Em um ano ou algo assim, ele perdeu sua fé completamente e declarou-se agnóstico” (A Sentinela de 15/8/1992, pp. 28,29, em inglês).

"Esta revista tem enfatizado os perigos do estudo superior, e com razão, pois a educação de nível superior opõe-se ao 'ensino salutar' da Bíblia." (A Sentinela de 1/11/1992, pp. 16-20, em inglês).

A pergunta de capital importância é: Diante das razões apresentadas pelas Testemunhas de Jeová, devem os cristãos cursar a Universidade?

A Universidade Oferece Risco à Vida Cristã?

De fato, estudos revelam que muitos jovens cristãos ao entrarem na faculdade costumam abandonar os ensinamentos cristãos devido a vários motivos entre eles: ensinamentos e contestações acadêmicas científicas que, muitas vezes, fogem da realidade bíblica, pressão do grupo de amigos acadêmicos, falta de firmeza de valores e princípios cristãos, entre outros.

Realmente, a Universidade oferece alguns riscos para a vida cristã dos jovens, pois enfrentam permanentemente o desafio do bombardeio intelectual, uma vez que as faculdades expõem os mesmos a pensamentos filosóficos e teorias formuladas por pensadores ateus, agnósticos ou céticos, que colocam as ciências acima de tudo, e fazem críticas duras ao Cristianismo e a Deus como Voltaire, Nietzsche, Rousseau, Maquiavel, Marx, Darwin, Hans Kelsen, entre outros.

Com essas novas doutrinas e ensinamentos o jovem passa a crer que é necessário que ele amadureça, e nesse processo se afaste de toda crença ou espiritualidade para que de fato venha a conhecer como o mundo funciona. Ensinam que precisam ter uma nova percepção da vida, procurando cada vez mais independência e liberdade para romper com paradigmas e "tabus" estabelecidos e vivenciados anteriormente. As Escrituras Sagradas ensinam que a verdadeira liberdade só se tem em Cristo Jesus.  "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." João 8:36.  Esses ensinamentos contribuem para o afastamento dos jovens de Cristo, do caminho e de sua missão dada por Deus na Terra. Bem, somado a isso tudo, este impulso e desejo de procurar liberdade e independência é ampliado pela influencia das más amizades que muitas vezes se formam nas Universidades. Essas influências passam a incutir na cabeça do jovem cristão que ele deve "curtir" a vida com festas, álcool e sexualidade deturpada, entre outras. O Jovem cristão, dessa forma, se não estiver firme em Deus, quebra princípios e valores bíblicos, peca e é levado a se desviar de qualquer propósito de vida estabelecido por Deus.       

É fato também que na universidade o estudante, semanalmente, está repleto de convites para festinhas, barzinhos e showzinhos. O acesso às drogas e todo tipo de vício é fácil. O ambiente é promíscuo, com as roupas indecentes e o comportamento imoral dos alunos. Todo tipo de piada, blasfêmias e ridicularizações são feitas constantemente.

Não obstante os perigos enfrentados pelos jovens cristãos na universidade, não é correto desmotiva-los a ingressar na Faculdade. Primeiro, porque a Bíblia não proíbe que os jovens avancem nos estudos. Nosso mestre Jesus aos 12 anos teve a oportunidade de estar junto aos doutores e sábios de Israel, “universitários da época”, (Lc. 2.46-47), ou seja, estudar é algo bom, essencial eu diria, pois nos abre a mente e nos abre um campo mais amplo de conhecimento, e isso nos ajuda até mesmo a compreender melhor as Escrituras Sagradas. Segundo, porque esses mesmos riscos que os jovens enfrentam na Universidade, enfrentam no Colégio de Ensino Médio, ainda que em menor proporção. No Ensino Médio, os jovens cristãos vão encontrar alguns professores ateus e evolucionistas que fazem duras críticas ao Criacionismo bíblico, a Deus e aos valores do Cristianismo, uma vez que esses professores cursaram a Faculdade e, naturalmente, reproduzirão o que aprenderam lá. E por conta disso não enviaremos mais nossos filhos aos colégios para cursar o Ensino Médio? Não! Absolutamente!

Atitude Correta dos Pais

Os pais nunca deveriam desestimular seus filhos a ingressarem na Universidade, matando o futuro promissor dos filhos. Antes, devem incentivá-los a avançarem nos estudos. Contudo, devem preparar seus filhos já na tenra idade para enfrentar os desafios na Faculdade. O desafio dos pais cristãos é a cada dia inculcar ou ensinar as verdades do evangelho aos seus filhos, guiando-os espiritualmente. É o que a Bíblia orienta: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar” (Deuteronômio 6:6,7, NVI). Assim, quando se depararem com alguma nova filosofia não terão dúvidas de que crer na Palavra de Deus é bem mais produtivo. Portanto, os pais devem transmitir os valores cristãos, construindo a base da construção do caráter cristão, de modo que eles possam resistir aos apelos para abandonar a fé e se envolver com as práticas detestáveis a Deus.

Penso que se os jovens tiverem profunda convicção da fé em Jesus Cristo (para isso devem ter comunhão diária com Deus), bem como conhecerem a Bíblia profundamente saber defender consistentemente a fé cristã, muito dificilmente se afastará dos valores cristãos transmitidos por seus pais.  Fiz duas faculdades no meio secular. Sou plena e totalmente favorável a que todos busquem um ensino superior. Estive sujeito a tudo isso que estou escrevendo, mas nunca minha fé foi abalada por conta das ideias contrárias aos ensinos bíblicos pregadas na Faculdade. Um dia desses uma aluna do 3º ano do Ensino Médio me perguntou: ''Você permanece ou mudou as suas convicções depois que cursou História?” E eu respondi: Mudei para melhor, pois depois que fiz faculdade de História creio mais em Deus e na Sua Palavra, e tenho uma visão mais ampla e segura de minhas convicções em Deus.

Penso que um jovem cristão que realmente está firmado em Deus e na Sua Palavra, ao adentrar numa Faculdade de Ensino, por mais que a sua fé seja provada, o mesmo não terá motivos para esfriar e nem tão pouco para negar a fé em Deus. Os que depois de adentrarem numa Universidade, esfriam e negam a fé que antes professavam em Deus, é porque quando entraram lá, já não tinham uma estrutura de fé sólida, para serem confrontados, pois um cristão quanto mais tem a sua fé confrontada, mas a fé do mesmo é acrescentada, pois é nos desafios maiores que ele se aproxima mais de Deus, e quanto mais o cristão busca a Deus, mais O encontra. Conforme está escrito: Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês!” (Tiago 4:8, NVI).

Agora, quanto aos conselhos do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová para seus jovens não cursarem a universidade para não se corromperem com os ensinos e as práticas imorais comuns nessa instituição, o pano de fundo é outro. A verdade é que diversas crenças e práticas deles não resistem às provas bíblicas, tampouco a simples argumentação lógica, a exemplo da proibição da transfusão de sangue, comemorar aniversário. A Sociedade Torre de Vigia parece ter percebido o fato de que quanto mais alto o nível de escolaridade dos jovens, tanto mais difícil seu processo de doutrinação, mas difícil é eles aceitarem suas crenças e práticas anti-bíblicas e ilógicas. Tanto é assim que estudos revelam que as Testemunhas crescem mais rapidamente entre os de baixa escolaridade. As estatísticas têm mostrado, nos últimos anos, um decréscimo no número de novos convertidos nos países desenvolvidos - na Europa e América do Norte - e um aumento nos países pobres, como a África.

Diante do exposto, cremos que os conselhos do Corpo Governante das TJ são inconsequentes, uma vez que, o mercado de trabalho, cada vez mais competitivo tem descartado um número crescente de indivíduos sem qualificação superior. Eles ficam excluídos do processo econômico, engordando as fileiras dos subempregados, desempregados e miseráveis. Hoje em dia, ter uma graduação virou quase que requisito básico para quem quer crescer no mercado profissional. Poucos são os casos de pessoas que conseguiram crescer dentro de uma área sem ter se graduado em uma faculdade. Mesmo ciente desta realidade, os líderes da Sociedade Torre de Vigia continuam fazendo estridentes apelos para que os jovens continuem a renunciar à educação universitária em troca do trabalho não remunerado como vendedores de literatura religiosa da entidade. Como estarão essas pessoas hoje? Em caso de dificuldades financeiras delas por não ter tido a formação superior, quem responderá?

Caros amigos TJ, considerem seriamente as questões postas aqui e tome sabiamente sua decisão quanto ao seu futuro.



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