O ANO MAIS TRISTE DA MINHA VIDA
Ricardo
André
Desde que me tornei
cristão adventista do sétimo dia, ainda na minha tenra idade, aos 11 anos, que amo a Bíblia
Sagrada, e creio profundamente que ela é a Palavra de Deus, e que nela nosso
compassivo Deus revelou Seu plano para salvar a raça caída. Sempre gostei de
estudar as profecias do Antigo Testamento, notadamente as do livro do profeta Daniel.
Contudo, tive dificuldade de compreender algumas partes do Antigo Testamento,
porque, de fato, há algumas porções que são difíceis para nós de mente
pós-moderna entender plenamente. Isso, porém, nunca abalou minha confiança nas
Escrituras Sagradas como a Palavra revelada de Deus. Afinal de contas, sempre
tive o entendimento de que, assim como em todo aspecto da vida natural
encontramos coisas difíceis de entender, na Palavra de Deus, a qual nos revela
realidades espirituais e sobrenaturais, há também partes difíceis de
compreender.
A escritora cristã,
norte-americana, Ellen G. White falou dessa verdade claramente: “Mesmo
as mais simples formas de vida apresentam problemas que o mais sábio dos
filósofos é impotente para explicar. Encontram-se por toda parte maravilhas que
escapam à nossa concepção. Deveríamos, então, surpreender-nos ao verificar que
no mundo espiritual existem também mistérios que não podemos sondar? Toda a
dificuldade jaz na debilidade e estreiteza do espírito humano. Nas Escrituras,
Deus nos deu suficientes provas de Seu caráter divino, e não devemos duvidar de
Sua Palavra pelo fato de não podermos entender todos os mistérios de Sua
providência” (Caminha a Cristo, p. 106).
Foi justamente no Velho
Testamento que encontrei auxílio, ao saber que minha mãe Noêmia Cordeiro de
Souza tinha sofrido um AVC e paralisado um lado do seu corpo. Após uma noite
insone, em que fiquei preocupado com o estado de saúde dela, li pela manhã o Salmo
23, o famoso Salmo do Pastor. Enquanto lia, pensava: “Será que mamãe vai nos
deixar? E se ela morrer? Tenho uma irmã com 13 anos de idade, que ainda precisa
muito dela. Como será a vida de minha irmã mais nova Rayane Cordeiro, sem
mamãe? Em meio a essa angústia li a expressão “(...) nada terei falta” (Salmos
23:1). E me concentrei na leitura: “O Senhor é o meu pastor; de nada terei
falta. Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranquilas;
(...) Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha
vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver” (Sl 23:1, 2 e 6, NVI).
Tinha esses versos memorizados,
pois precisava de algo que amenizasse meus temores. E me apeguei durante todo o
tempo em que minha mãe esteve doente. Todos os dias pedia a Deus que a curasse.
Em 2002, recebi um telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro que informou que
ela não estava bem, e que encontrava-se no hospital para submeter-se a uma
cirurgia para a retirada de mioma. Ela falou que seu eu quisesse vê-la ainda
com vida fosse lá. O pensamento de perdê-la doía tanto que eu mal conseguia
puxar o fôlego entre um soluço e outro. Então clamei a Deus: “Senhor Jesus, Tu
sabes o quanto eu desejo que minha mãe viva, por isso peço-Te que cures minha
mãe. Eu não quero que mamãe morra, mas não sei como orar”.
Contei a situação de
minha mãe as minhas duas amigas Vânia Higino e Luzinete Carvalho, que me
orientaram a ir rapidamente ver minha mãe em Pernambuco. O valioso conselho
daquelas irmãs em Cristo e amigas foi fundamental para que eu tomasse a decisão
de ir ver minha mãe. Sou eternamente grato a essas preciosas amigas. Um dia
depois da minha chegada ao Cabo, fui com meu irmão Roberval André visitá-la no
IMIP (Instituto de Medicina Integral, em Recife). Ao chegar lá encontrei minha querida
mãe. Que emoção! Que alegria para nós! Que abraços gostosos! Vi a alegria
estampado no seu rosto por me ver ali. Lembro-me que ela nos apresentou para
sua colega de quarto, com as seguintes palavras: “Esses são os meus dois
gatos”! Mas, ao mesmo tempo fui tomado por um sentimento de tristeza ao ver
minha mãe tão debilitada, com andar trôpego, resultante do derrame que havia
sofrido. Eu contive minhas lágrimas. Eu não queria que ela me visse chorando, e
aumentasse o seu sofrimento. Ela precisava da minha força naquele momento. Ficou
vários dias naquele hospital. Sua pressão arterial estava descontrolada. Ela
era hipertensa. Somente depois que a sua pressão foi controlada, os médicos
puderam realizar a cirurgia para retirar o mioma. Minha mãe teve oito filhos e
lutou por eles. Penso que ela lutou pela família, mais até do que por si mesma.
Aquele dia no IMIP
marcou indelevelmente minha vida. Nunca vou esquecer aquele encontro. Foi o meu
último encontro em que ela falava e estava lúcida. Meses depois sofreria o
segundo, terceiro e quarto derrame que lhe tiraria sua capacidade motora, sua
fala e memória.
Em junho de 2004, recebi
um outro telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro. Usando quase as mesmas
palavras dois ano antes, informou-me que nossa mãe ficou muito doente e que estava
hospitalizada, que eu precisava ir ao Cabo de Santo Agostinho se quisesse vê-la
ainda com vida. E Deus novamente usou um texto do Antigo Testamento para
ajudar-me. Dessa vez foi o profeta Daniel. Li a corajosa resposta de Sadraque,
Mesaque e Abednego deram ao rei, a caminho da fornalha de fogo ardente: “Se
formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode
livrar-nos, e ele nos livrará das suas mãos, ó rei. Mas, se ele não nos livrar,
saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a imagem
de ouro que mandaste erguer" (Daniel 3:17,18, NVI).
As palavras de
Sadraque, Mesaque e Abednego me deram coragem para orar: “Senhor, por favor,
cura minha mãe. Tu tens poder para restaurar sua saúde. Mas, faça-se a Tua
vontade. Não importa o que acontecer, continuarei a Te amar e a Te servir.”
No dia 20 de junho de
2004, viajei ao Cabo de Santo Agostinho/PE para ver minha mãe, que se
encontrava em coma no Hospital São Sebastião.
Fui ao hospital vê-la nos dias 22 a 25. Ela não mais se movia nem
falava. Ao vê-la naquele leito do hospital definhando e inerte tive a certeza
de que minha mãe guerreira e batalhadora, e que amava muito estava bem próximo
de encerrar sua vida aqui. A certeza de que aquela indesejada
despedida estava chegando aumentava a cada dia de internação. Eu não queria que
ela partisse, mas, no fundo, eu sabia que não sairia mais daquele hospital com
vida.
Nessa hora difícil, eu precisava
de Deus mais do que nunca. Abri a Bíblia e li: “(...) Transformarei o lamento
deles em júbilo; eu lhes darei consolo e alegria em vez de tristeza” (Jeremias
31:13). No dia 25, fui pela tarde ao Hospital novamente. Quando cheguei
no hospital, sentei ao lado do seu leito, peguei em sua mão, desabei. Não consegui segurar. Chorei copiosamente. Eu
queria orar, mas o que devia pedir? Então clamei: Senhor, salva minha mãe!
Tenha misericórdia dela! Senti que a misericórdia do Senhor se estendeu sobre
nós. Isso não mudaria minha dor, mas me ajudaria a suportá-la. Mais tarde, li Lamentações
3:22, que diz: “As
misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim”.
Minha mãe faleceu na
madrugada do dia 25 de junho de 2004, aos 53 anos. Infelizmente, tivemos que dizer adeus à
mãe mais forte e maravilhosa que conheci. Não poderia estar mais impressionado
por sua força e me sinto um afortunado por tê-la como minha mãe. Foi uma grande
tristeza para mim, para meus irmãos, para sua mãe (que faleceu meses depois), seus
irmãos e amigos. Ao longo do ano fartei-me de chorar. Eu havia vivido o ano
mais triste e difícil da minha vida. E durante esse tempo Deus usou os profetas
do Antigo Testamento para trazer-me conforto. Tenho a esperança bíblica de que
um dia nos encontraremos, não muito longe, no Novo Céu e na Nova Terra.
Caminharemos pelas ruas de ouro da Santa Cidade que Deus preparou para aqueles
que O amam (Ap 21). Estaremos juntos por toda eternidade sem fim com o nosso
compassivo Salvador Jesus e todos os remidos do Senhor.
Esta separação que nos
causa tanta dor não será eterna. Quando nosso querido Jesus voltar em glória e
Majestade poderemos reencontrar todos os nossos queridos que morreram em Cristo,
se crermos em Jesus. Esta ESPERANÇA está baseada sobre um sólido e
indestrutível fundamento... Sim, ela se baseia na realidade de um Cristo vivo (I
Co 15:4). A ressurreição do Senhor é o fundamento de nossa esperança (I Ped.
1:3; I Co 15:12-19). Assim como Deus, o Pai, trouxe Jesus, nosso Salvador,
dentre os mortos na manhã de Sua ressurreição no jardim, fora dos muros de
Jerusalém, assim com Ele também trará nossos queridos mortos à vida novamente,
quando voltar a segunda vez. Ela também está fundamentada no prometido e
esperado retorno do Senhor à Terra (I Tes. 1:10; Atos. 1:10, 11).
Haverá, então, uma
feliz e eterna reunião! Viveremos por toda a eternidade sem fim com todos os
remidos de todos os tempos. No Mundo do Amanhã que Deus trará para todos os que
crerem nele não haverá mais morte. Ele nos promete: “Ele enxugará de seus olhos toda
lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas." (Ap 21:4).
Fotos de minha mãe:
Fotos de minha mãe:
Relato emocionante, inspirador.
ResponderExcluirRelato emocionante, inspirador.
ResponderExcluirAmém! Obrigado, meu irmão!!!
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