Teologia

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

É PECADO PERGUNTAR A DEUS O “PORQUÊ” DO SOFRIMENTO?



Ricardo André

Ellen Dias é uma cristã adventista fervorosa e feliz. No ano de 2008, dois acontecimentos trágicos atingiram sua família. Seu filho de que amava muito faleceu f vítima de um acidente automobilístico. 28 dias depois, seu marido morre também de um infarto fulminante, causando-lhe um duro golpe e intenso sofrimento. Seu mundo desabou. Pensa nisto quase todos os dias. É como se fosse um pesadelo. Não obstante, procura levar uma vida cristã com esperança e certeza nas promessas divinas. Orou constantemente durante algum tempo, pedindo que Deus lhe mostrasse a resposta ou razão para isso. Muitas vezes perguntou: Será que Deus tinha um propósito ou motivo para permitir que isso houvesse acontecido?

Nem sempre estamos preparados para enfrentar perdas e reverses na vida e, quando acontecem, logo surge a pergunta: “Por que, Senhor? Por que comigo?” Às vezes, essa é a pergunta mais dolorosa. Na verdade, nunca estamos preparados para as provações. Foi o que aconteceu também com Jó. Ele perdeu seus bens materiais. Seus nove filhos foram-se para sempre quando um furacão derrubou sua casa matando-os (Jó 1:13-19). Como se não bastasse, foi acometido de uma grave doença caracterizada por temores, úlceras (Jó 2:7 e 8). Ele não estava preparado para tanta desgraças de uma só vez. E quem estaria? Em alguns momentos, um homem vigoroso transformara-se num grande sofredor, incapaz de explicar por quê. Entre seus vários “porquês”, um deles foi: “(...) Por que me tornaste teu alvo? Acaso tornei-me um fardo para ti?” (Jó 7:20).

“Jó não teve oportunidade de recuperar o equilíbrio entre um golpe e outro. A intensidade das tragédias foi acentuada pelo implacável ritmo dos acontecimentos. Dentro de poucos minutos o mundo dele desabou” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 3, p. 558).

Jó não sabia o que sabemos hoje por meio das Escrituras Sagradas: ele foi posto como espetáculo diante do Universo para refutar as acusações de Satanás de que ele servia a Deus por interesse e que Deus era injusto. Essa acusação depreciava o caráter de Deus e o de Jó. Mesmo perdendo tudo o que tinha, Jó continuou sendo fiel a Deus. Finalmente, Deus mostrou a Jó que Ele pode transformar provações em bênçãos.

Quando o Senhor dialogou com Jó, o patriarca sentiu sua pequenez diante do Criador e ficou satisfeito. Então, Deus o orientou a interceder pelos amigos em oração. Enquanto orava, diz a Bíblia, “mudou o Senhor a sorte de Jó” (42:10), curando-o e devolvendo-lhe em dobro tudo quanto possuía anteriormente.

O livro de Jó trata de um dos assuntos mais difíceis na experiência humana: como entender e lidar com o sofrimento. É um livro rico e cativante que todos os servos de Deus precisam estudar. Um dia, mais cedo ou mais tarde, ele será útil na sua vida. Neste artigo, vamos considerar algumas lições claras e importantes salientadas nesse livro.

Pessoas boas podem sofrer

Talvez o ponto principal do livro é o simples fato que pessoas fiéis a Deus ainda sofrem nesta vida. O primeiro versículo do livro já define, do ponto de vista de Deus (veja, também, Jó 1:8) o caráter de Jó: "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal." Enquanto entendemos que o sofrimento entrou no mundo por causa do pecado (Gênesis 3:16-19), aprendemos em vários trechos bíblicos que a dor e a tristeza atingem as pessoas boas e dedicadas. Jó, um homem íntegro, sofreu imensamente. Paulo, um servo dedicado ao Senhor, sofreu muito mais do que a grande maioria dos ímpios (2 Coríntios 11:23-27). Mesmo quando ele pediu a Deus, querendo alívio de algum problema, Deus recusou seu pedido (2 Coríntios 12:7-9). Mas, não devemos estranhar com isso, pois o próprio Filho de Deus sofreu na carne (Hebreus 2:9-10,18). Os que servem a ele sofrem, também.

O diabo quer nos derrubar com nosso sofrimento

O propósito de Satanás fica bem claro nos primeiros dois capítulos de Jó. Ele vê o sofrimento como uma grande oportunidade para derrubar a fé dos servos de Deus. Ele aceitou o desafio de tentar destruir a fé de um dos homens mais idôneos do mundo. Depois, ele foi tão ousado que desafiou o próprio Jesus, usando todas as tentações imagináveis para o vencer (Mateus 4:1-11). O diabo entende muito sobre a natureza humana. Ele sabe que pessoas que servem a Deus fielmente quando tudo vai bem na vida podem ser tentadas por meio de alguma calamidade pessoal. Problemas financeiros, a morte de um ente querido, alguma doença grave - tais sofrimentos na vida são, frequentemente, o motivo de abandonar a Cristo. Enquanto a mulher de Jó não prevaleceu na vida do próprio marido, o conselho dela (Jó 2:9) vem derrubando a fé de muitas outras pessoas que enfrentam dificuldades na vida.

Amigos nem sempre ajudam

Três amigos de Jó ficaram sabendo de seu sofrimento, "e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo" (Jó 2:11). Mas as palavras deles não ajudaram. Ofereceram explicações baseadas nas opiniões deles, e não na verdade que vem de Deus. Onde Deus não tinha falado, eles ousaram de falar. O resultado não foi consolo e ajuda, e sim perturbação e desânimo. A mesma coisa acontece hoje. Quando alguém sofre de um problema de saúde, outras pessoas tendem falar sobre algum caso triste de alguém que teve a mesma doença e morreu, ou de que é a vontade de Deus. Quando uma pessoa amada morre, muitas pessoas procuram confortar a família com palavras insensatas e até mentirosas. É melhor falar umas poucas palavras com compaixão do que falar muito e entristecer a pessoa mais ainda. Os que se acham envoltos em pesar necessitam de alguém que lhes segure a mão e ouça suas exclamações de dor. Quando sofremos perda, é melhor procurar conselho na palavra de Deus e da boca de pessoas que a conhecem e que vivem segundo a vontade do Senhor.

Deus não explica tudo

Quando sofremos, é natural perguntar: "Por quê?". Jó fez isso (Jó 3:24). Habacuque fez a mesma coisa (Habacuque 1:3). Milhões de outras pessoas têm feito a mesma pergunta. Deus não explicou a Jó o “porquê” das coisas que lhe aconteceram. Provavelmente, Jó nunca ficou sabendo que fora o centro das atenções do Universo, ao ser disputado por Deus e por Satanás na luta entre o bem e o mal. Pelo menos, a Bíblia Sagrada não diz nada a respeito. Porém, isso não é o mais importante. O mais importante é que, em meio a todas as tribulações, Jó não abandonou a fé e não se rebelou contra Deus. Assim como Jó não sabia a fonte de seu sofrimento (capítulos 1 e 2 contam a história para nós, mas ele não sabia de tudo que estava acontecendo entre Deus e Satanás), às vezes, nós não temos noção da fonte das nossas dificuldades. É interessante e importante observar que Deus não responde a todas as nossas perguntas. Pode ler o livro de Jó do começo ao fim, e não encontrará uma resposta completa de Deus à pergunta do sofredor. Durante a boa parte da história, Deus deixou Jó e seus amigos a ponderar o problema. Quando o Senhor falou no fim do livro, ele não explicou o porquê.

A partir do capítulo 38, Deus afirma que o homem, como mera criatura, não é capaz de entender muitas das coisas de Deus, e não é digno de questionar a sabedoria divina. Jó entendeu a correção de Deus, e respondeu humildemente: "Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei" (Jó 40:4-5). Jó pediu desculpas a Deus por ter duvidado da justiça e da bondade do Criador: "Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. (...) Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42:3,6).

Embora o sofrimento de Pessoas inocentes não seja explicado cabalmente, “a história de Jó mostrara que o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus predomina sobre ele para fins misericordiosos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 471).

Depois do sofrimento, vêm as bênçãos

O sofrimento desta vida é temporário. O sofrimento de Jó foi intenso, mas não durou para sempre. É bem provável que ele lembrou, durante o resto da vida, daquelas experiências doloridas. Mas a crise passou, e a vida continuou. Deus restaurou as posses dele em porções dobradas. A mesma coisa acontece conosco. Enfrentamos alguns dias muito difíceis, mas as tempestades passam e a vida continua. Vivendo na época da nova aliança de Cristo, nós temos uma grande vantagem. Temos uma esperança bem definida de uma recompensa eterna no céu (Hebreus 11:13-16,39-40; 12:1-3; 13:14). Qualquer sofrimento é pequeno quando o colocamos no contexto da eternidade.

Fiéis no sofrimento

Nós vamos sofrer nesta vida. Pessoas que dizem que os filhos de Deus não sofrem são falsos mestres que ou não conhecem ou não aceitam a palavra do Senhor. Jó perdeu tudo. Jeremias foi preso. João Batista foi decapitado. Jesus foi crucificado. Estêvão foi apedrejado. Paulo sofreu naufrágio e prisões. Você, também, vai sofrer. Os problemas da vida não sugerem falta de fé, e não são provas de algum terrível pecado na sua vida. Às vezes, as provações vêm como disciplina de Deus (Hebreus 12:6-13); às vezes, não. Mas sempre são oportunidades para crescer (Tiago 1:2-4), e convites para adorar a Deus (Tiago 5:13; Jó 1:20).

É errado perguntar por que Deus permite o sofrimento? Alguns temem que fazer essa pergunta signifique falta de fé ou de respeito para com Deus. Ao ler a Bíblia, porém, você verá que pessoas fiéis e tementes a Deus também faziam perguntas assim. Por exemplo, o profeta Habacuque perguntou a Deus: “Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado” (Habacuque 1:3). Jesus também perguntou ao Pai: “Por que Me desamparaste” Portanto, não é pecado perguntar sobre o “porquê” das coisas. Para nós, o mais importante não é o “porquê”, mas o “para que”. Qual é o propósito que Deus tem em vista ao permitir que certas coisas nos aconteçam? Que lição devo aprender através de minha experiência?

Caro amigo leitor, não podemos esquecer de que Deus é capaz de transformar a maldição em bênção, o aparente fracasso em vitória.
















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