Teologia

sexta-feira, 5 de junho de 2015

CORPUS CHRISTI – FESTA BÍBLICA OU PAGÃ?



Ricardo André

Corpus Christi é uma expressão oriunda do latim que significa Corpo de Cristo, e compreende uma das grandes festas móvel da Igreja Católica, celebrada na quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade. Ela celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia. (O Catolicismo declara que a hóstia, torna-se literalmente em Carne e Sangue do Senhor Jesus). O que mais caracteriza é a procissão, com milhares de fiéis, e os "andores monumentais que atravessam ruas atapetadas". A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cân. 944) que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, “para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia”.

A Origem da Festa

A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XII. A Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão consagrado. Esta necessidade se aliava ao desejo do homem medieval de "contemplar" as coisas. Surgiu nesta época o costume de elevar a hóstia depois da consagração. Disseminava-se uma controvertida piedade eucarística, chegando ao ponto das pessoas irem à igreja mais "verem" a hóstia do que para participarem efetivamente da eucaristia.

A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.


Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, em 1206, entrou para o convento das agostinianas em Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com 17 anos, em 1209, começou a ter ‘visões’, (que retratavam um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia). Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse segredo ao arcediago de Liège, que 31 anos depois, por três anos, será o Papa Urbano IV (1261-1264), e tornará mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer.

O Concílio de Trento (1545-1563), por causa dos protestantes, da Reforma de Lutero, dos que negavam a presença real de Cristo na Eucaristia, fortaleceu o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia.

Em 1983, o novo Código de Direito Canônico – cânon 944 – mantém a obrigação de se manifestar ‘o testemunho público de veneração para com a Santíssima Eucaristia’ e ‘onde for possível, haja procissão pelas vias públicas’, mas os bispos escolham a melhor maneira de fazer isso, garantindo a participação do povo e a dignidade da manifestação.

O que dizem as Sagradas Escrituras?

Os católicos procuram justificar a festa de Corpus Christi com a Bíblia citando partes dela que supostamente dão base para o dogma da Eucaristia. Os textos mais frequentemente usados são os de Mateus 26.26-29; Lucas 22.14-20 e João 6.53-56.

Essa doutrina é contrária ao bom senso e ao testemunho dos sentidos: o bom senso não pode admitir que o pão e o vinho oferecidos pelo Senhor aos seus discípulos na Ceia fossem a sua própria carne e o seu próprio sangue, ao mesmo tempo em que permanecia em pé diante deles vivo, em carne e osso. É manifesto que Jesus, segundo seu costume, empregou uma linguagem simbólica, que queria dizer:

"Este pão que parto representa o meu corpo que vai ser partido por vossos pecados; o vinho neste cálice representa o meu sangue, que vai ser derramado para apagar os vossos pecados".

Não há ninguém, de mediano bom senso, que compreenda no sentido literal estas expressões simbólicas do Salvador. A razão humana não pode admitir tampouco o pensamento de que o corpo de Jesus, tal qual se encontra no céu (Lc 24.39-43; Fp 3.20-21), esteja nos elementos da Ceia.

Biblicamente, a Ceia é uma ordenança e não uma Eucaristia; era empregado o pão e não a hóstia; é um memorial, como se lê em 1 Coríntios 11:25,26, e sua simbologia está em conformidade com o método de ensinamento do Senhor Jesus, que usou muitas palavras de forma figurada: "Eu sou a luz do mundo" (Jo 8.12); "Eu sou a porta" (Jo 10.9); "Eu sou a videira verdadeira" (Jo 15.1). Quando Jesus mencionou na última Ceia os elementos "pão" e "vinho", não deu qualquer motivo para se crer na transubstanciação.

Se na frase "isto é o meu corpo" o verbo "ser (é)" implica a conversão literal do pão no corpo de Cristo, segue-se igualmente que nas palavras "eu sou o pão da vida" (Jo 6.35) o verbo "ser (sou)" deve implicar igual mudança, ensinando-nos que Cristo se converte no pão, de modo que, se o primeiro é uma "prova" da transubstanciação, o segundo demonstra necessariamente o contrário; se o primeiro demonstra que o pão pode converter-se em Cristo, o segundo demonstra que Cristo pode converter-se em pão, o que é um verdadeiro absurdo, mas é isto o que a lógica dessa filosofia nos leva a entender.

Esse versículo é muito importante, pois nos explica que comer a carne e beber o sangue de Jesus é somente crer e ter fé nele, recebendo-o; nada mais que isso. É justamente isso que significa o alimento do seu corpo: "Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna" (Jo 6:40). Jesus rechaça qualquer tipo de confusão quanto a isso quando arremata: "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida" (Jo 6:63). Jesus estava falando espiritualmente, não fisicamente. Estava explicando que a vida vem por meio da fé nele, e não comendo o seu corpo.

Comer no Sentido Claramente Espiritual

A conclusão a que chegamos, lendo o contexto, é que o "alimentar-se" de Jesus (seu corpo), por meio da sua carne e do seu sangue, é a mesma figura de linguagem utilizada por ele em João 4.14: "Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna". Assim como essa "água" era espiritual, a bebida e a comida também, tanto é que quando os discípulos entenderam de modo literal essa mensagem Jesus prontamente os corrigiu explicando que: "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida" (Jo 6.63). O "alimentar-se" de Cristo seria "crer nele", quando então o Pai entregaria seu Filho na cruz para ser sacrificado por nossos pecados. Muitos pais da igreja primitiva concordavam com este ponto de vista, entre eles Agostinho; considerado um dos maiores doutores da Igreja Católica. Se temos que nos apegar à literalidade absoluta de Seus dizeres, então devemos também imaginar que as palavras que Ele proferia viravam espíritos que saíam esvoaçando pelo céu com vida própria!

Simbolismos claros e evidentes

O apóstolo Paulo é, indubitavelmente, o grande teólogo e sistematizador da fé cristã. Assim, convém atentar bem à sua exposição didática do sentido das palavras de Cristo na cerimônia da comunhão, que ele “regula” para a comunidade cristã:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o Meu corpo que é partido por vós; fazei isto em MEMÓRIA DE MIM” (I Cor. 11:24).

Isto se harmoniza com o que Cristo estipulou:
     
 “Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no Meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, EM MEMÓRIA DE MIM”. Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:19, 20).


Portanto, Paulo simplesmente considerava os elementos da Santa Ceia como pão e vinho, e não o corpo do Senhor transubstanciado. O pão representava o corpo do Senhor e o vinho, o sangue. Todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Santa Ceia fazemos isto sempre em memória do Senhor, pois ele mesmo disse: "fazei isto em memória de mim".

Nesta última passagem temos mais uma reflexão muito importante: quando Cristo realiza a primeira Ceia, Ele o faz no contexto da Páscoa, que era uma cerimônia que recordava a saída do povo do Egito, quando se comia o Cordeiro Pascoal — símbolo do próprio Cristo — e ervas amargas, representativas das dificuldades que enfrentaram na saída do Egito (ver Núm. 9:2, 11).

Portanto, temos aí um contexto claro de simbologia: Cristo fala sobre todos comerem do pão e beberem do vinho, também como MEMORIAL do quebrar de Seu corpo e do derramar do Seu sangue. Um detalhe, porém, que muitos deixam de perceber é que naquele ato, nem o corpo de Cristo havia sido quebrado, nem o Seu sangue derramado!

Ou seja, a própria primeira Ceia JÁ É SIMBÓLICA. Isso é por demais óbvio. Os elementos distribuídos representavam indiscutivelmente um evento futuro—a morte de Cristo. Por que hoje a Ceia não teria também esse sentido simbólico do evento passado? É “em memória” do acontecimento da paixão e morte de Cristo, tal como a própria Páscoa era realizada em memória da saída do Egito.

Se a teoria da transubstanciação pudesse ser algo viável, há um grande erro da doutrina católica ao suprimir o vinho dos católicos, pois estão a comer da carne física de Jesus, mas essa seca, sem sangue algum. Portanto, são enganados pelo clero que, por medida de economia, suprimiu os pedaços de pão que poderiam representar simbolicamente o Sacrifício de Jesus, e ainda suprimiram o vinho dado aos apóstolos, da mesma forma.

Os apóstolos seguiram o costume bíblico de ministrar a ceia sob esses dois emblemas: pão e vinho. A igreja pós-apostólica(6) também seguiu o mesmo exemplo, como vemos ao analisar as obras patrísticas(7) dos primeiros séculos. Os católicos precisam rodear e florear suas explicações para esclarecer o fato de o sacerdote dar apenas um dos emblemas (pão) ao fiel, o que é uma clara desobediência ao mandamento do Mestre. Jesus foi taxativo ao dizer "bebei dele TODOS". A Igreja explica que “a carne de Jesus já possui o sangue”, ao que lhe respondemos: Então Jesus “se enganou” ao dar de beber do vinho a todos os seus apóstolos, dizendo:
“Eis o meu sangue”. Bastaria, então, ter dado de comer a eles somente o pão. Essa ordem de fato não se pode cumprir na Igreja Católica. Por mais argumentos que inventem, a verdade continua inalterável: Jesus e os apóstolos nunca mudaram o mandamento. Portanto, Jesus instituiu as duas espécies (Mt 26.26,28), e os apóstolos seguiram esta ordenança (I Co 11.23-28). Isto só veio a ser mudado nos concílios de Constança e, posteriormente, reafirmado no de Trento. No entanto, voltamos a reafirmar que a ordem de Cristo foi mais que explícita: "Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" (Jo 6.53-56).

Como se pode ver a doutrina da Eucaristia trata-se simplesmente de mais uma falácia do catolicismo romano. São ensinos de homens que não encontram nenhum respaldo na Palavra de Deus. 
 

OBRAS CONSULTADAS


·        Enciclopédia Britannica do Brasil publicações Ltda.

·        Consultoria Doutrinária, 1ª edição, CPB, 1979.

·        Wikipédia, a enciclopédia livre.









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