QUAL É A DIFERENÇA ENTRE PERFEIÇÃO E PERFECCIONISMO?
Dr. Alberto Timm
Há muitas discussões em
torno dos conceitos de “perfeição” e “perfeccionismo”. A própria tese doutoral
de Hans K. LaRondelle, intitulada Perfection and Perfectionism: A
Dogmatic-Ethical Study of Biblical Perfection and Phenomenal Perfectionism,
defendida na Universidade Livre de Amsterdam, Holanda, considera em
profundidade o assunto. Mesmo em poucas palavras, podemos destacar algumas
semelhanças e diferenças entre perfeição e perfeccionismo. Em termos de
semelhanças, os defensores de ambos os conceitos assumem que a vida cristã é
plena de vitória em Cristo, envolvendo um constante afastamento do pecado e uma
contínua aproximação de Cristo. Já uma das diferenças básicas diz respeito à doutrina
do pecado. Os que aceitam o conceito bíblico de perfeição reconhecem que
biblicamente os atos pecaminosos são manifestações da natureza pecaminosa em
que se encontra o pecador. Em Marcos 7:21-23, lemos: “Porque de dentro, do
coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os
furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a
lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males
vêm de dentro e contaminam o homem.” Portanto, no dizer de Lutero, “as más
obras nunca tornam o homem mau, mas o homem mau executa más obras” (Da Liberdade Cristã, par. 23). Em
contraste, o perfeccionismo tende a definir pecado mais pela perspectiva de
atos pecaminosos que devem ser vencidos para que a pessoa possa ser considerada
justa. Outra importante diferença a ser mencionada é a compreensão da natureza
humana de Cristo durante a encarnação. Os que seguem o conceito bíblico de
perfeição creem normalmente que Cristo assumiu a natureza humana enfraquecida,
física e morfologicamente, por milhares de anos de pecado, mas que nos aspectos
espiritual e moral Ele não tinha tendência ao pecado. De acordo com Ellen G.
White, “nem por um momento houve nEle qualquer propensão ao mal” (E. G. White, SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1128).
Por sua vez, os perfeccionistas acreditam que Cristo veio ao mundo com a mesma
natureza e as mesmas tendências ao pecado dos demais seres humanos, e que nós
podemos vencer o pecado assim como Ele venceu. No entanto, se Cristo veio na
mesma condição pecaminosa que os demais pecadores, como poderia Ele ser o
Salvador da humanidade, sem necessitar de um salvador para Si mesmo?
Uma terceira diferença
é quanto à vitória sobre o pecado. Os que advogam o conceito bíblico de
perfeição reconhecem que o pecado é ofensivo a Deus, e afasta de Deus o ser
humano. Eles buscam plena vitória sobre o pecado, reconhecendo que continuarão
com a natureza humana pecaminosa até o dia em que “este corpo corruptível se
revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir da imortalidade”
(1Co 15:54). Nas palavras de Ellen G. White, “enquanto reinar Satanás, teremos
de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam; enquanto durar a
vida não haverá ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e
dizer: ‘Alcancei tudo completamente.’ A santificação é o resultado de uma
obediência que dura a vida toda” (Atos
dos Apóstolos, p. 560, 561). Por sua vez, os perfeccionistas advogam, já
nesta vida, um nível de perfeição plena no qual, como disse alguém, não
precisamos mais orar “perdoa-nos as nossas dívidas” (Mt 6:12), pois
supostamente não teremos mais pecados a ser perdoados. Um dos relatos mais
elucidativos da diferença entre a perfeição e o perfeccionismo é a parábola do
fariseu e do publicano (ver Lc 18:9-14). Enquanto o fariseu seguia
orgulhosamente pelo caminho do perfeccionismo, o publicano avançava na senda da
perfeição, considerando-se pecador e indigno. Em realidade, aqueles que estão
no caminho da perfeição em Cristo, ainda não sendo perfeitos, já são
considerados perfeitos em Cristo, que é perfeito (ver Fp 2:12-15); mas jamais
se considerarão como tal (cf. 1Tm 1:15). Além disso, enquanto os
perfeccionistas são mais críticos dos outros do que de si mesmos, os que estão
sendo santificados são mais rigorosos consigo mesmos do que com os demais.
FONTE:
Revista do Ancião (abril – junho de 2011)
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