JESUS SUBIU DUAS VEZES AO CÉU APÓS SUA RESSURREIÇÃO?
Ricardo André
A morte expiatória de
Jesus Cristo em favor da raça caída é um evento central na fé cristã.
Entretanto, sem a ressurreição e a ascensão de nosso Senhor, as provisões do
Seu sacrifício expiatório, a exemplo da nossa ressurreição e salvação eterna
não seriam acessíveis aos seres humanos (1 Co 15:17). A ascensão de Jesus ao
Céu é descrita principalmente nos Evangelhos e no livro de Atos. Ao longo dos
meus 40 anos de adventista, li inúmeras vezes os relatos bíblicos acerca da
ascensão de Jesus. E sempre acreditei que Jesus ascendeu ao Céu uma única vez após
40 dias da Sua ressureição até sábado, dia 30 de setembro de 2024, quando o
irmão Léo De Vincei, um sábio e poderoso nas Sagradas Escrituras, na Unidade de
Ação da Escola Sabatina, explicou que Cristo logo após a Sua ressurreição subiu
ao Céu, depois voltou a Terra, e 40 dias depois retornou em definitivo ao Céu.
Confesso que, de pronto, não aceitei a ideia e desafiei-o a mostrar o texto
bíblico que dava sustentação a essa crença. Então, ele mostrou-me o texto de
João 20:16 e 17, que diz-nos: “Jesus lhe disse: "Maria!" Então,
voltando-se para ele, Maria exclamou em aramaico: "Rabôni!" (que significa
Mestre). Jesus disse: "Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai.
Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de
vocês, para meu Deus e Deus de vocês" (NVI). Ao ler o texto, disse que conhecia o verso e argumentei
que quando Jesus disse que estaria voltando para o Pai, ocorreria justamente no
final de seu ministério terrestre, após aparecer aos apóstolos durante quarenta
dias. Não obstante, prometi que ia investigar o assunto.
O presente artigo é
exatamente o resultado dessa pesquisa. A minha pesquisa confirmou a fala do
sábio irmão Léo, de que Jesus teria ascendido duas vezes ao céu: uma no próprio
dia de sua ressurreição e outra 40 dias depois. Essa interpretação procura
conciliar diferentes passagens do Novo Testamento, especialmente no Evangelho
de João e no livro de Atos. No entanto, importante dizer que não há consenso entre
estudiosos e teólogos sobre essa questão. A ampla maioria dos cristãos evangélicos
reconhece uma única ascensão formal, 40 dias após a ressurreição.
A passagem de João 20:17 é geralmente interpretada por eles de maneira figurativa, argumentam que o relato de João não
precisa ser interpretado como uma ascensão literal, mas sim como uma declaração
teológica sobre a união de Jesus com o Pai após a ressurreição. Nesse sentido,
Jesus estaria preparando seus discípulos para sua partida definitiva, que
ocorreria de fato 40 dias depois.
A
PRIMEIRA ASCENSÃO: O DIA DA RESSURREIÇÃO
A crença de que Jesus
teria ascendido ao céu no dia de sua ressurreição encontra base no Evangelho de
João, capítulo 20:17. Após sua ressurreição, Jesus aparece a Maria Madalena e
diz: “Jesus disse: “Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém,
a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu
Deus e Deus de vocês”.
Note que quando Maria estava prestes a se prostrar aos pés de Jesus, e oferecer-Lhe sua homenagem como seu Senhor ressuscitado, Ele a impede de tocá-Lo ou de segura-Lo. A razão apontada por Jesus foi o fato de que Ele não tinha voltado ainda para o Pai,
sugerindo que tocá-Lo ou abraçá-Lo só seria possível quando Ele tivesse voltado
para Deus, o Pai. Tanto é assim que depois desse episódio, o Cristo ressurreto não apenas permitiu ser tocado por outras pessoas, como também dialogou demoradamente com algumas delas
(Luc. 24:13-50; João 20:19-29; 21:1-23; Atos 1:3; 1 Cor. 15:3-8). Isso sugere
que, em algum momento logo após sua ressurreição, Jesus planejava subir ao Pai.
O tom da fala de Jesus sugere que esse encontro com o Pai seria iminente. Isso
pode levar à interpretação de que Jesus, de fato, ascendeu ao céu
momentaneamente naquele dia, antes de retornar para continuar aparecendo aos
seus discípulos.
Em relação a esse fato,
o Comentário Bíblica Adventista
afirma: “A objeção não indica que fosse errado ou pecaminoso o contato físico
com o corpo ressuscitado. Há uma urgência na expressão. Jesus não queria ser
detido para receber a homenagem de Maria. Ele desejava primeiro ascender ao Pai
a fim de obter a certeza de que Seu sacrifício fora aceito. Depois da ascensão
temporária, Jesus permitiu, sem protesto, o que pedira a Maria para adiar (ver
Mt 28:9) (v.5, p. 1187, 1188).
Sobre essa ascensão
temporária de Jesus no dia da ressurreição, a escritora cristã Ellen G. White,
escreveu: “Jesus recusou receber a homenagem de Seu povo até haver obtido a
certeza de estar Seu sacrifício aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais, e
ouviu do próprio Deus a afirmação de que Sua expiação pelos pecados dos homens
fora ampla, de que por meio de Seu sangue todos poderiam obter a vida eterna. O
Pai ratificou o concerto feito com Cristo, de que receberia os homens
arrependidos e obedientes, e os amaria mesmo como ama a Seu Filho. […] Todo o
poder no Céu e na Terra foi dado ao Príncipe da Vida, e Ele voltou para Seus
seguidores num mundo de pecado, a fim de lhes comunicar Seu poder e glória.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 790).
A
SEGUNDA ASCENSÃO: 40 DIAS DEPOIS
A segunda e mais
amplamente aceita ascensão de Jesus ocorre 40 dias após a ressurreição,
conforme descrito em Atos 1:9: “Tendo dito isso, foi elevado às alturas
enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles” (NVI).
Esse evento marca o fim
das aparições de Jesus aos seus discípulos e sua ascensão definitiva ao céu. A
narrativa de Atos é clara e detalhada, sugerindo que Jesus foi fisicamente
elevado à presença de Deus, numa ocasião testemunhada pelos discípulos, após os
40 dias da ressurreição. Tal ascensão simbolizava a exaltação definitiva de
Cristo à direita do Pai. Segundo o relato de Atos, uma nuvem encobriu Jesus da
vista dos seus discípulos, e dois anjos vestidos de branco apareceram e disseram
que Ele voltaria da mesma maneira que ascendeu.
A respeito dessa
ascensão definitiva de Cristo, 40 dias após Sua ressurreição, Ellen G. White
afirma: “Todo o Céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às
cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos
libertos à Sua ressurreição O seguiu [Mat. 27:51-53]. A hoste celestial, com
brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na
jubilosa comitiva. […] Estão ansiosos por celebrar-Lhe o triunfo e glorificar
seu Rei. Mas Ele os detém com um gesto. Ainda não. Não pode receber a coroa de
glória e as vestes reais. Entra à presença do Pai. Mostra a fronte ferida, o
atingido flanco, os dilacerados pés; ergue as mãos que apresentam os vestígios
dos cravos. Aponta para os sinais de Seu triunfo; apresenta a Deus o molho
movido, aqueles ressuscitados com Ele como representantes da grande multidão
que há de sair do sepulcro por ocasião de Sua segunda vinda. […] Ouve-se a voz
de Deus proclamando que a justiça está satisfeita. Está vencido Satanás. […] Os
braços do Pai circundam o Filho, e é dada a ordem: ‘E todos os anjos de Deus O
adorem’ [Heb. 1:6]”. (O Desejado de
Todas as Nações, p. 833, 834)
Ellen White explica
ainda que, após essa gloriosa e solene cerimônia, o Espírito Santo foi
derramado no Pentecostes como evidência da aceitação do sacrifício de Cristo.
Note o que ela escreveu: “A ascensão de Cristo ao Céu foi, para Seus
seguidores, um sinal de que estavam para receber a bênção prometida. Por ela
deviam esperar antes de iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao transpor as
portas celestiais, foi Jesus entronizado em meio à adoração dos anjos. Tão logo
foi esta cerimônia concluída, o Espírito Santo desceu em ricas torrentes sobre
os discípulos, e Cristo foi de fato glorificado com aquela glória que tinha com
o Pai desde toda a eternidade. O derramamento pentecostal foi uma comunicação
do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita. De conformidade com
Sua promessa, Jesus enviara do Céu o Espírito Santo sobre Seus seguidores, em
sinal de que Ele, como Sacerdote e Rei, recebera todo o poder no Céu e na Terra,
tornando-Se o Ungido sobre Seu povo” (Atos
dos Apóstolos, p. 38, 39).
CONCLUSÃO
Podemos crer que Jesus
ascendeu duas vezes ao céu? Sim! A Bíblia apresenta evidências para essa
interpretação. No entanto, do ponto de vista teológico, a questão de uma ou
duas ascensões não afeta os princípios fundamentais da fé cristã, mas oferece
uma oportunidade para refletir sobre a natureza de Jesus após a ressurreição e
sua relação contínua com o Pai. Se Jesus ascendeu imediatamente após sua
ressurreição ou apenas 40 dias depois, o foco permanece em seu papel como o
Cristo ressuscitado, que venceu a morte e retornou ao Pai, o que proporciona
esperança e salvação a todos os crentes.
A carta de Paulo aos
coríntios demonstra esse sentimento: “E, se Cristo não ressuscitou, é inútil a
nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm” (1 Co 15:14).
Posteriormente ele confessou que a esperança cristã é sem sentido quando afeta
apenas nossa existência atual, deixando de ir além da morte (1 Co 15:19). Do
contrário, a ressurreição de Cristo significa vida eterna hoje, que alcança o
passado para sempre. Revestido com majestoso poder celestial, Jesus destruiu o
império da morte, garantindo a libertação a todos que aceitam Sua salvação.
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