A NOITE ESCURA DA ALMA: COMO ENCONTRAR UMA SAÍDA?


 Ricardo André

“Ele, porém, seguiu a viagem de um dia para dentro do deserto, e chegou e se assentou debaixo de um junípero; e pediu por si para que pudesse morrer; e disse: Basta! Agora, ó SENHOR, tira a minha vida; porque não sou melhor do que os meus pais” (1 Reis 19:4, BKJ Fiel 1611).

Você já viveu um tempo de escuridão espiritual? É possível que sim! Todo cristão passa por esses momentos. É um sentimento subjetivo de que Deus está distante, indiferente, até mesmo ausente. Durante esse tempo de escuridão espiritual, as orações parecem vazias, os hinos são cantados sem energia, os sermões pregados ou ouvidos são sem vida e as Sagradas Escrituras parecem não ter poder sobre a vida diária. Pensamos em retroceder ou desistir, cansado de lutar e andar em círculos. Muitas vezes chamada de “noite escura da alma”, é um momento em que nossa sensação de ausência de Deus é dolorosamente sentida.

Até mesmo os heróis das Escrituras vivenciaram momentos em que nuvens de escuridão desceram sobre o espírito, ou Deus parecia oculto e indiferente. Um desses heróis foi Elias.

Após o famoso confronto no Monte Carmelo entre Deus e Baal e como os sacerdotes e os profetas de Baal fracassaram em acabar com a seca, em Israel, que já duravam três anos e seis meses. Depois de Elias ter orado fervorosamente para que a chuva colocasse um fim na terrível seca, o céu escureceu com nuvens carregadas. O vento soprou e trouxe consigo uma chuva torrencial. Em seguida, Elias matou os 450 profetas de Baal junto ao riacho Quison, que corre paralelo à base do monte Carmelo.

Depois de todos esses acontecimentos um dos mensageiros de Jezabel (esposa do rei Acabe, que viveu nos anos 940-919 a. C.) avisou de que o mataria em 24 horas, assim como havia matado seus profetas.

Sem pensar que Deus poderia facilmente protegê-lo dessa mulher enfurecida, Elias apertou seu cinto de couro e fugiu em exaustiva carreira para o deserto de Berseba, ao extremo sul. Correu o máximo que pôde temendo pela própria vida, chegando ao Monte Sinai. Foi uma decisão trágica. Elias enfrentou a maior crise de sua vida. Ele sentiu-se desamparado e só. Seu grande Amigo Jesus, seu constante companheiro de voz enérgica e terna, parecia estar ausente.

As Sagradas Escrituras o apresenta como um profeta austero, denunciando com voz severa e grave os pecados de Israel. Parecia um homem imune às debilidades que nos são próprias. Mas quão frágil é a natureza humana! Ele, que enfrentou com desassombro condenou a impiedade do rei e expôs ao opróbrio os profetas de Baal, apresenta-se agora pelo desalento, depressivo, sem entusiasmo para viver. É preciso que entendamos que, apesar de ser um homem de Deus, Elias era semelhante a cada um de nós (Tg 5:17).

Elias se viu tão desanimado e frustrado que orou: “Basta! Agora, ó SENHOR, tira a minha vida” (1 Reis 19:4, BKJ Fiel 1611). Como se vê, sua depressão estava num nível em que a morte é desafiada a vir e encerrar o último capítulo da vida.

A respeito dessa experiência de Elias, Ellen G. White escreveu: “Na experiência de todos surgem ocasiões de profundo desapontamento e extremo desencorajamento - dias em que só predomina a tristeza, e é difícil crer que Deus é ainda o bondoso benfeitor de seus filhos na Terra; dias em que o dissabor mortifica a alma, de maneira que a morte pareça preferível à vida. É então que muitos perdem sua confiança em Deus, e são levados à escravidão da dúvida, ao cativeiro da incredulidade. Pudéssemos em tais ocasiões discernir com intuição espiritual o significado das providências de Deus, veríamos anjos procurando salvar-nos de nós mesmos, esforçando-se por firmar nossos pés num fundamento mais firme que os montes eternos; e nova fé, nova vida jorrariam para dentro do ser” (Profetas e Reis [CPB, 2007], p. 162).

A NOITE ESCURA DO DESÂNIMO PODE NOS VIR

É possível que você esteja sentindo-se desanimado em sua experiência cristã, envolto nas sombras da angústia, afligido pelo peso esmagador de alguma tristeza e provação. Embora tempos sombrios e secos venham, a boa notícia é que, ao tomar algumas medidas simples e significativas, você pode levar um tempo de secura espiritual a um fim mais rápido.

Vejamos algumas maneiras de encontrarmos uma saída para um momento de profunda escuridão espiritual pessoal.

1) Confie em Deus mesmo se você se sentir perdido. Não importa como você se sinta, continue confiando em Deus para orientação e direção, perseverança e força. Ouça a voz doce e suave de Jesus que nos diz: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1Pd 5:7, NVI). O texto bíblico afirma claramente que Deus cuida de nós! Ele se importa imensamente conosco. “A oração”, observa Ellen White, “é o abrir do coração a Deus como a um amigo” (Caminho a Cristo, p. 93). Portanto, por meio da oração podemos apresentar ao Senhor todas as nossas preocupações, todas as nossas angústias, todas as nossas ansiedades. Nada é pequeno demais nem grande demais para Deus solucionar. Podemos falar com Ele como se Ele estivesse sentado ao nosso lado, contar-Lhe tudo o que está em nosso coração.

Jesus também nos diz: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11:28-30, NVI). Esse é um dos mais belos convites que Jesus faz a todo ser humano. Na verdade, é um convite e uma promessa. Ele nos convida a irmos até Ele e depositar aos Seus pés nossos pesos, isto é, os pesos da nossa culpa, nossa vergonha, ressentimento, problemas, medo, dúvidas, sonhos, tristeza, ansiedades, depressão, o desânimo, sentimento de solidão, tudo, para recebermos o descanso que Ele oferece. Agora, “encontra-se o descanso quando se abandona toda a justificação própria, todo raciocínio partido de um fundo egoísta. Inteira entrega, aceitação de sua vontade, eis o segredo do perfeito descanso em Seu amor” (Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade [CPB, 2007], v. 2, p. 803).

Ellen White ainda escreveu esse poderoso pensamento: “Os que se apegam à palavra de Cristo, e entregam a alma a Sua guarda, e a vida a Seu dispor, encontrarão paz e sossego. Coisa alguma no mundo os pode entristecer, quando Jesus os alegra com Sua presença” (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2004], p. 331).

2. Escolha sempre a fé em vez do entendimento. Às vezes, a escuridão desce quando uma oração urgente parece não ser ouvida. As vezes perdemos um ente querido para a morte, causada por uma doença terminal, mesmo depois de implorarmos que Deus lhe trouxesse cura. Apesar de tais orações, a pessoa que amávamos morreu, mergulhamos então em uma escuridão espiritual ou uma depressão espiritual. Se esse for o caso, sempre escolha a fé em vez do entendimento.

Quando a vida nos impõe situações que não podemos entender, temos uma de duas escolhas. Podemos chafurdar na miséria, separados de Deus. Ou podemos dizer a Ele: “Senhor, preciso de Ti e da Sua presença na minha vida mais do que preciso de entendimento. Eu escolho a Ti, Senhor. Confio no Senhor para me dar entendimento e uma resposta para todos os meus “Porquês” somente se e quando o Senhor escolher.

É possível que não recebamos as respostas que buscamos, mas podemos obter a paz e a esperança de que tanto precisamos. Lembremos também que Deus usa o tempo para revelar Suas intenções. Algumas respostas vêm logo. Outras, porém, somente compreenderemos no futuro ou na eternidade. Mesmo que os planos do Senhor não estejam claros para você, continue confiando em Seu amor, pois “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28). “Deus nunca dirige Seus filhos de maneira diversa daquela pela qual eles próprios haveriam de preferir ser guiados, se pudessem ver o fim desde o princípio”, afirma Ellen G. White (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2004], p. 224, 225).

3. Procure a lição na escuridão. Os santos e místicos de eras passadas estavam profundamente cientes de que algumas das lições espirituais mais poderosas são colhidas durante tempos de escuridão e secura. Observe, estude e analise sua condição. “Mediante provas e perseguições, a glória - o caráter - de Deus se revela em Seus escolhidos. Os crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e disciplinados na escola de Cristo. Na Terra andam em caminhos estreitos; são purificados na fornalha da aflição. (Isa. 48:10.) Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da obscuridade, dizendo: “Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” Rom. 8:18” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos [CPB, 2006], p. 576, 577).

4. Apegue-se a verdade de que você é amado por Deus. Apesar de como você se sente, equilibre sentimentos e pensamentos negativos com a realidade de que Deus é amor. Lembre-se de que você é amado profundamente, permanentemente e abundantemente pelo Deus que o criou.

Reivindique para si mesmo as muitas declarações das Escrituras que declaram essa verdade em particular, como 1 João 3:1, “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” Isaías 43:4 (NVI), “Visto que você é precioso e honrado à minha vista, e porque eu o amo [...] (NVI)”

5. Veja o bem, espere o melhor. Sua mente é uma ferramenta poderosa. Não a desperdice remoendo o que você não tem, não está vivenciando ou não recebeu. Esse tipo de pensamento negativo só vai deixar você mais desanimado, deprimido e insatisfeito.

Uma abordagem mais saudável é ver o bem e esperar o melhor. Aplique à sua experiência a promessa de Deus falada por meio do profeta Jeremias: "Eu sei os planos que tenho para vocês", declara o Senhor, "planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro" (Jr 29:11). Os planos de Deus para você não é diferente dos planos para o povo judeu no passado. A incrível promessa do texto de Jeremias, foi feita para os judeus do século VI a. C., vale para você também. Deus planeja fazer você prosperar e lhe dar “esperança e um futuro”.

6. Seja um anjo. "Não são todos os anjos espíritos ministradores, enviados para servir?" questiona o escritor de Hebreus (1:14). Os anjos de Deus são enviados para auxiliarem e guardarem os filhos de Deus. Mas, nós também podemos ser anjos de Deus, estender a mão e ajudar outra pessoa. Mesmo tendo nossa alma cheia de cicatrizes, podemos contribuir para levar luz e tornar mais bonito o caminho de outras pessoas.

Seja alguém que defende a justiça quando uma ação ou trabalho injusto é cometido. Quando outros são covardes, seja aquele que responde com coragem e convicção. Onde há crueldade e injustiça, certifique-se de suavizar esses golpes com gentileza e compreensão.

Paulo exortou: “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (Fp 2:4). Ao ser um anjo de Deus, você não apenas ajuda os outros, mas também se sentirá melhor com sua vida.

“Quando, perante Deus, o caso de todos for passado em revista, não será feita a pergunta: Que professavam eles? mas: Que fizeram? Foram praticantes da Palavra? Viveram para si próprios, ou praticaram obra de beneficência, mediante atos de bondade e amor, preferindo os demais a si próprios, e negando-se a si mesmos a fim de poderem abençoar outros? Se o relatório mostra haver sido essa a sua vida, e que seu caráter foi assinalado pela ternura, abnegação e beneficência, receberão a bendita certeza, e a bênção de Cristo: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mat. 25:34” (Ellen G. White, Beneficência Social, p. 314, 315).

7. Tenha um ouvido atento. Quando você orar, permaneça quieto e silencioso na presença de Deus. Mantenha um ouvido atento. Deus é amigo do silêncio. É na solidão e no silêncio que Deus fala e revela a Sua vontade. Desanimado, Elias entrou numa caverna no Monte Horebe. E foi exatamente ali que Deus se manifestou a Elias. Ele se manifestou a Elias no lugar onde ele menos esperava – uma caverna. Deus fala através de uma brisa: “Que fazes aqui, Elias?” (1 Rs 19:9, 13).

É possível que estejamos escondidos atrás de nossos complexos de inferioridade, nas sombras da angústia, sofrimento e desilusão. E a palavra do Senhor é: O que vocês estão fazendo aí?

Note que Ellen White expressa uma ideia maravilhosa no livro Profetas e Reis, p. 162, citado acima, de que os anjos vêm para “salvar-nos de nós mesmos”. No caso de Elias, o próprio Deus veio, não para recriminá-lo, mas para salvá-lo de seus pensamentos de morte, para prover suas necessidades e o animar a prosseguir. Ainda não era o fim. Havia mais a ser feito, e ele tinha um lugar no plano de Deus. Se você estiver vivendo uma densa escuridão da alma Deus poderá enviar anjos para mudar seus pensamentos. Se a depressão for intensa como a do profeta, o próprio Deus virá para salvá-lo. Ao atravessar um tempo de escuridão espiritual, saiba que você não está sozinho.

“Que fazes aqui, Elias?” Após a pergunta de Deus, Elias saiu da caverna. Havia passado a noite. Saiu de si mesmo, da crise. Respirou de novo o Novo, e tudo se fez novo. Volta à luta, ao povo, ao cotidiano. E com toda coragem assume os novos desafios e denuncia os abusos do poder, as injustiças e a falsa religião dos dirigentes de Israel.

JOHN N. LOUGHBOROUGH VOLTA AO MINISTÉRIO APÓS OUVIR A VOZ DE DEUS

Em 9 de dezembro de 1856, o Pastor Tiago e Ellen White estavam em Round Grove, Illinois, quando teve uma visão acerca da condição espiritual crítica do povo adventista que havia se mudado da Costa Leste dos Estados Unidos para Waukon, Iowa. “A reação deles foi partir imediatamente e ir até lá para ajudá-los. Mas o frio inesperado ao norte de Illinois, seguido por um degelo. Chuvas fortes haviam transformado as estradas de terra em pantanais. Em fé eles suplicaram por orientação. Logo a chuva transformou-se em neve, congelando as lamacentas estradas e pondo-as em condições de trânsito mediante trenó. “Eis nosso sinal”, Exclamou Ellen. “Deus deseja que vamos” (C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo [CPB, 1982], p. 143).

Pela fé, eles atravessaram o perigoso rio Mississippi e finalmente chegaram a Waukon.  Lá, Tiago e Ellen foram levados a uma carpintaria na qual John Norton Loughborough, ex-pregador adventista, estava trabalhando como marceneiro. Ele estava completamente desanimado, cansado e sem recursos, porque naquela época os ministros não eram assalariados, e tinham que trabalhar para seu sustento além de pregar e visitar.

Ele não esperava que Tiago e Ellen White aparecessem de surpresa, num trenó. Enquanto ele trabalhava sobre uma escada, Ellen lhe perguntou: “Que fazes aqui, Elias?” Pasmo, respondeu: “Estou trabalhando com o irmão Mead na carpintaria.” Ao final de uma série de reuniões durante mais de uma semana na cidade realizada pelo casal White, John Loughborough levantou-se solenemente e respondeu: “Deixei meu martelo descansar! Preguei meu último prego! De agora em diante minha mão sustentará a espada do Espírito e nunca a abandonará. Que Deus Me ajude!” (Idem, p. 144, 145).

Por causa da visita de Tiago e Ellen White à cidade de Waukon, a fé dos cristãos adventistas foram reavivada, e dois grandes pregadores foram resgatados. Loughborough deixou o trabalho de carpinteiro, e John N. Andrews largou o trabalho agrícola. Ambos retomaram o ministério, tornando-se pregadores e escritores muito influentes do adventismo. “Loughborough foi o primeiro adventista do sétimo dia a publicar uma história denominacional, The Rise and Progresso f Seventh-day Adventist (“Surgimento e Progresso dos Adventistas do Sétimo Dia”), de 1892, obra revista e ampliada posteriormente lançada como The Great Second Advent Moviment, Its Rise and Progress (O Grande Movimento Adventista). [...] desempenhou por vários anos diversos cargos administrativos” (Enciclopédia Ellen G. White [CPB, 2018], p. 498).

Caro amigo leitor, está você vivendo a noite escura da sua alma? Está você enfrentando uma profunda depressão espiritual? Perdeu o fervor espiritual? A semelhança de Elias, está vivendo uma vida de caverna, cansado e desanimado? Chegou a hora de sair. Nosso compassivo Deus quer lhe utilizar na Sua obra. Deus ainda conta com você e comigo. Ele nos erguerá.

Se você está de “férias” da missão que o Senhor lhe confiou, agora é o momento certo de voltar. Por favor, não adie sua decisão!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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