A NOITE ESCURA DA ALMA: COMO ENCONTRAR UMA SAÍDA?
“Ele,
porém, seguiu a viagem de um dia para dentro do deserto, e chegou e se assentou
debaixo de um junípero; e pediu por si para que pudesse morrer; e disse: Basta!
Agora, ó SENHOR, tira a minha vida; porque não sou melhor do que os meus pais”
(1 Reis 19:4, BKJ Fiel 1611).
Você já viveu um tempo
de escuridão espiritual? É possível que sim! Todo cristão passa por esses
momentos. É um sentimento subjetivo de que Deus está distante, indiferente, até
mesmo ausente. Durante esse tempo de escuridão espiritual, as orações parecem
vazias, os hinos são cantados sem energia, os sermões pregados ou ouvidos são
sem vida e as Sagradas Escrituras parecem não ter poder sobre a vida diária. Pensamos
em retroceder ou desistir, cansado de lutar e andar em círculos. Muitas vezes chamada
de “noite escura da alma”, é um momento em que nossa sensação de ausência de
Deus é dolorosamente sentida.
Até mesmo os heróis das
Escrituras vivenciaram momentos em que nuvens de escuridão desceram sobre o
espírito, ou Deus parecia oculto e indiferente. Um desses heróis foi Elias.
Após o famoso confronto
no Monte Carmelo entre Deus e Baal e como os sacerdotes e os profetas de Baal
fracassaram em acabar com a seca, em Israel, que já duravam três anos e seis
meses. Depois de Elias ter orado fervorosamente para que a chuva colocasse um
fim na terrível seca, o céu escureceu com nuvens carregadas. O vento soprou e trouxe
consigo uma chuva torrencial. Em seguida, Elias matou os 450 profetas de Baal
junto ao riacho Quison, que corre paralelo à base do monte Carmelo.
Depois de todos esses
acontecimentos um dos mensageiros de Jezabel (esposa do rei Acabe, que viveu
nos anos 940-919 a. C.) avisou de que o mataria em 24 horas, assim como havia
matado seus profetas.
Sem pensar que Deus
poderia facilmente protegê-lo dessa mulher enfurecida, Elias apertou seu cinto
de couro e fugiu em exaustiva carreira para o deserto de Berseba, ao extremo
sul. Correu o máximo que pôde temendo pela própria vida, chegando ao Monte
Sinai. Foi uma decisão trágica. Elias enfrentou a maior crise de sua vida. Ele
sentiu-se desamparado e só. Seu grande Amigo Jesus, seu constante companheiro
de voz enérgica e terna, parecia estar ausente.
As Sagradas Escrituras
o apresenta como um profeta austero, denunciando com voz severa e grave os
pecados de Israel. Parecia um homem imune às debilidades que nos são próprias.
Mas quão frágil é a natureza humana! Ele, que enfrentou com desassombro
condenou a impiedade do rei e expôs ao opróbrio os profetas de Baal,
apresenta-se agora pelo desalento, depressivo, sem entusiasmo para viver. É
preciso que entendamos que, apesar de ser um homem de Deus, Elias era
semelhante a cada um de nós (Tg 5:17).
Elias se viu tão
desanimado e frustrado que orou: “Basta! Agora, ó SENHOR, tira a minha vida” (1
Reis 19:4, BKJ Fiel 1611). Como se vê, sua depressão estava num nível em que a
morte é desafiada a vir e encerrar o último capítulo da vida.
A respeito dessa
experiência de Elias, Ellen G. White escreveu: “Na experiência de todos surgem
ocasiões de profundo desapontamento e extremo desencorajamento - dias em que só
predomina a tristeza, e é difícil crer que Deus é ainda o bondoso benfeitor de
seus filhos na Terra; dias em que o dissabor mortifica a alma, de maneira que a
morte pareça preferível à vida. É então que muitos perdem sua confiança em
Deus, e são levados à escravidão da dúvida, ao cativeiro da incredulidade.
Pudéssemos em tais ocasiões discernir com intuição espiritual o significado das
providências de Deus, veríamos anjos procurando salvar-nos de nós mesmos,
esforçando-se por firmar nossos pés num fundamento mais firme que os montes
eternos; e nova fé, nova vida jorrariam para dentro do ser” (Profetas e Reis [CPB, 2007], p. 162).
A
NOITE ESCURA DO DESÂNIMO PODE NOS VIR
É possível que você
esteja sentindo-se desanimado em sua experiência cristã, envolto nas sombras da
angústia, afligido pelo peso esmagador de alguma tristeza e provação. Embora tempos
sombrios e secos venham, a boa notícia é que, ao tomar algumas medidas simples
e significativas, você pode levar um tempo de secura espiritual a um fim mais
rápido.
Vejamos algumas
maneiras de encontrarmos uma saída para um momento de profunda escuridão
espiritual pessoal.
1)
Confie em Deus mesmo se você se sentir perdido.
Não importa como você se sinta, continue confiando em Deus para orientação e
direção, perseverança e força. Ouça a voz doce e suave de Jesus que nos diz: “Lancem
sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1Pd 5:7, NVI).
O texto bíblico afirma claramente que Deus cuida de nós! Ele se importa
imensamente conosco. “A oração”, observa Ellen White, “é o abrir do coração a
Deus como a um amigo” (Caminho a Cristo,
p. 93). Portanto, por meio da oração podemos apresentar ao Senhor todas as
nossas preocupações, todas as nossas angústias, todas as nossas ansiedades.
Nada é pequeno demais nem grande demais para Deus solucionar. Podemos falar com
Ele como se Ele estivesse sentado ao nosso lado, contar-Lhe tudo o que está em
nosso coração.
Jesus também nos diz: “Venham
a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração,
e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o
meu fardo é leve” (Mt 11:28-30, NVI). Esse é um dos mais belos convites que
Jesus faz a todo ser humano. Na verdade, é um convite e uma promessa. Ele nos
convida a irmos até Ele e depositar aos Seus pés nossos pesos, isto é, os pesos
da nossa culpa, nossa vergonha, ressentimento, problemas, medo, dúvidas,
sonhos, tristeza, ansiedades, depressão, o desânimo, sentimento de solidão,
tudo, para recebermos o descanso que Ele oferece. Agora, “encontra-se o
descanso quando se abandona toda a justificação própria, todo raciocínio
partido de um fundo egoísta. Inteira entrega, aceitação de sua vontade, eis o
segredo do perfeito descanso em Seu amor” (Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade [CPB, 2007], v. 2, p. 803).
Ellen White ainda
escreveu esse poderoso pensamento: “Os que se apegam à palavra de Cristo, e
entregam a alma a Sua guarda, e a vida a Seu dispor, encontrarão paz e sossego.
Coisa alguma no mundo os pode entristecer, quando Jesus os alegra com Sua
presença” (O Desejado de Todas as Nações
[CPB, 2004], p. 331).
2.
Escolha sempre a fé em vez do entendimento. Às vezes, a
escuridão desce quando uma oração urgente parece não ser ouvida. As vezes
perdemos um ente querido para a morte, causada por uma doença terminal, mesmo
depois de implorarmos que Deus lhe trouxesse cura. Apesar de tais orações, a
pessoa que amávamos morreu, mergulhamos então em uma escuridão espiritual ou
uma depressão espiritual. Se esse for o caso, sempre escolha a fé em vez do
entendimento.
Quando a vida nos impõe
situações que não podemos entender, temos uma de duas escolhas. Podemos
chafurdar na miséria, separados de Deus. Ou podemos dizer a Ele: “Senhor,
preciso de Ti e da Sua presença na minha vida mais do que preciso de
entendimento. Eu escolho a Ti, Senhor. Confio no Senhor para me dar
entendimento e uma resposta para todos os meus “Porquês” somente se e quando o
Senhor escolher.
É possível que não
recebamos as respostas que buscamos, mas podemos obter a paz e a esperança de
que tanto precisamos. Lembremos também que Deus usa o tempo para revelar Suas
intenções. Algumas respostas vêm logo. Outras, porém, somente compreenderemos
no futuro ou na eternidade. Mesmo que os planos do Senhor não estejam claros
para você, continue confiando em Seu amor, pois “todas as coisas cooperam para
o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28). “Deus nunca dirige Seus filhos de
maneira diversa daquela pela qual eles próprios haveriam de preferir ser
guiados, se pudessem ver o fim desde o princípio”, afirma Ellen G. White (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2004],
p. 224, 225).
3.
Procure a lição na escuridão. Os santos e místicos
de eras passadas estavam profundamente cientes de que algumas das lições
espirituais mais poderosas são colhidas durante tempos de escuridão e secura.
Observe, estude e analise sua condição. “Mediante provas e
perseguições, a glória - o caráter - de Deus se revela em Seus escolhidos. Os
crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e
disciplinados na escola de Cristo.
Na Terra andam em caminhos estreitos; são purificados na fornalha da aflição.
(Isa. 48:10.) Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a
abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que
significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido
participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da
obscuridade, dizendo: “Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não
são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” Rom. 8:18” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos [CPB,
2006], p. 576, 577).
4.
Apegue-se a verdade de que você é amado por Deus. Apesar
de como você se sente, equilibre sentimentos e pensamentos negativos com a
realidade de que Deus é amor. Lembre-se de que você é amado profundamente,
permanentemente e abundantemente pelo Deus que o criou.
Reivindique para si
mesmo as muitas declarações das Escrituras que declaram essa verdade em
particular, como 1 João 3:1, “Vejam como é grande o amor que o Pai nos
concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” Isaías
43:4 (NVI), “Visto que você é precioso e honrado à minha vista, e porque eu o
amo [...] (NVI)”
5.
Veja o bem, espere o melhor. Sua mente é uma
ferramenta poderosa. Não a desperdice remoendo o que você não tem, não está
vivenciando ou não recebeu. Esse tipo de pensamento negativo só vai deixar você
mais desanimado, deprimido e insatisfeito.
Uma abordagem mais
saudável é ver o bem e esperar o melhor. Aplique à sua experiência a promessa
de Deus falada por meio do profeta Jeremias: "Eu sei os planos que tenho
para vocês", declara o Senhor, "planos de fazê-los prosperar e não de
causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro" (Jr 29:11). Os
planos de Deus para você não é diferente dos planos para o povo judeu no
passado. A incrível promessa do texto de Jeremias, foi feita para os judeus do
século VI a. C., vale para você também. Deus planeja fazer você prosperar e lhe
dar “esperança e um futuro”.
6.
Seja um anjo. "Não são todos os anjos espíritos
ministradores, enviados para servir?" questiona o escritor de Hebreus
(1:14). Os anjos de Deus são enviados para auxiliarem e guardarem os filhos de
Deus. Mas, nós também podemos ser anjos de Deus, estender a mão e ajudar outra
pessoa. Mesmo
tendo nossa alma cheia de cicatrizes, podemos contribuir para levar luz e tornar
mais bonito o caminho de outras pessoas.
Seja alguém que defende
a justiça quando uma ação ou trabalho injusto é cometido. Quando outros são
covardes, seja aquele que responde com coragem e convicção. Onde há crueldade e
injustiça, certifique-se de suavizar esses golpes com gentileza e compreensão.
Paulo exortou: “Cada um
cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”
(Fp 2:4). Ao ser um anjo de Deus, você não apenas ajuda os outros, mas também
se sentirá melhor com sua vida.
“Quando, perante Deus,
o caso de todos for passado em revista, não será feita a pergunta: Que professavam
eles? mas: Que fizeram? Foram praticantes da Palavra? Viveram para si próprios,
ou praticaram obra de beneficência, mediante atos de bondade e amor, preferindo
os demais a si próprios, e negando-se a si mesmos a fim de poderem abençoar
outros? Se o relatório mostra haver sido essa a sua vida, e que seu caráter foi
assinalado pela ternura, abnegação e beneficência, receberão a bendita certeza,
e a bênção de Cristo: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o
reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mat. 25:34”
(Ellen G. White, Beneficência Social, p.
314, 315).
7. Tenha um ouvido atento.
Quando você orar, permaneça quieto e silencioso na presença de Deus. Mantenha
um ouvido atento. Deus é amigo do silêncio. É na solidão e no silêncio que Deus
fala e revela a Sua vontade. Desanimado, Elias entrou numa caverna no Monte
Horebe. E foi exatamente ali que Deus se manifestou a Elias. Ele se manifestou
a Elias no lugar onde ele menos esperava – uma caverna. Deus fala através de
uma brisa: “Que fazes aqui, Elias?” (1 Rs 19:9, 13).
É possível que
estejamos escondidos atrás de nossos complexos de inferioridade, nas sombras da
angústia, sofrimento e desilusão. E a palavra do Senhor é: O que vocês estão
fazendo aí?
Note que Ellen White
expressa uma ideia maravilhosa no livro Profetas
e Reis, p. 162, citado acima, de que os anjos vêm para “salvar-nos de nós
mesmos”. No caso de Elias, o próprio Deus veio, não para recriminá-lo, mas para
salvá-lo de seus pensamentos de morte, para prover suas necessidades e o animar
a prosseguir. Ainda não era o fim. Havia mais a ser feito, e ele tinha um lugar
no plano de Deus. Se você estiver vivendo uma densa escuridão da alma Deus
poderá enviar anjos para mudar seus pensamentos. Se a depressão for intensa
como a do profeta, o próprio Deus virá para salvá-lo. Ao atravessar um tempo de
escuridão espiritual, saiba que você não está sozinho.
“Que fazes aqui,
Elias?” Após a pergunta de Deus, Elias saiu da caverna. Havia passado a noite.
Saiu de si mesmo, da crise. Respirou de novo o Novo, e tudo se fez novo. Volta
à luta, ao povo, ao cotidiano. E com toda coragem assume os novos desafios e
denuncia os abusos do poder, as injustiças e a falsa religião dos dirigentes de
Israel.
JOHN
N. LOUGHBOROUGH VOLTA AO MINISTÉRIO APÓS OUVIR A VOZ DE DEUS
Em 9 de dezembro de
1856, o Pastor Tiago e Ellen White estavam em Round Grove, Illinois, quando
teve uma visão acerca da condição espiritual crítica do povo adventista que
havia se mudado da Costa Leste dos Estados Unidos para Waukon, Iowa. “A reação
deles foi partir imediatamente e ir até lá para ajudá-los. Mas o frio
inesperado ao norte de Illinois, seguido por um degelo. Chuvas fortes haviam
transformado as estradas de terra em pantanais. Em fé eles suplicaram por
orientação. Logo a chuva transformou-se em neve, congelando as lamacentas
estradas e pondo-as em condições de trânsito mediante trenó. “Eis nosso sinal”,
Exclamou Ellen. “Deus deseja que vamos” (C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo [CPB, 1982], p. 143).
Pela fé, eles
atravessaram o perigoso rio Mississippi e finalmente chegaram a Waukon. Lá, Tiago e Ellen foram levados a uma carpintaria
na qual John Norton Loughborough, ex-pregador adventista, estava trabalhando
como marceneiro. Ele estava completamente desanimado, cansado e sem recursos,
porque naquela época os ministros não eram assalariados, e tinham que trabalhar
para seu sustento além de pregar e visitar.
Ele não esperava que Tiago
e Ellen White aparecessem de surpresa, num trenó. Enquanto ele trabalhava sobre
uma escada, Ellen lhe perguntou: “Que fazes aqui, Elias?” Pasmo, respondeu:
“Estou trabalhando com o irmão Mead na carpintaria.” Ao final de uma série de
reuniões durante mais de uma semana na cidade realizada pelo casal White, John
Loughborough levantou-se solenemente e respondeu: “Deixei meu martelo
descansar! Preguei meu último prego! De agora em diante minha mão sustentará a
espada do Espírito e nunca a abandonará. Que Deus Me ajude!” (Idem, p. 144, 145).
Por causa da visita de
Tiago e Ellen White à cidade de Waukon, a fé dos cristãos adventistas foram
reavivada, e dois grandes pregadores foram resgatados. Loughborough deixou o
trabalho de carpinteiro, e John N. Andrews largou o trabalho agrícola. Ambos
retomaram o ministério, tornando-se pregadores e escritores muito influentes do
adventismo. “Loughborough foi o primeiro adventista do sétimo dia a publicar
uma história denominacional, The Rise and
Progresso f Seventh-day Adventist (“Surgimento e Progresso dos Adventistas
do Sétimo Dia”), de 1892, obra revista e ampliada posteriormente lançada como The Great Second Advent Moviment, Its Rise
and Progress (O Grande Movimento Adventista). [...] desempenhou por vários
anos diversos cargos administrativos” (Enciclopédia
Ellen G. White [CPB, 2018], p. 498).
Caro amigo leitor, está
você vivendo a noite escura da sua alma? Está você enfrentando uma profunda
depressão espiritual? Perdeu o fervor espiritual? A semelhança de Elias, está
vivendo uma vida de caverna, cansado e desanimado? Chegou a hora de sair. Nosso
compassivo Deus quer lhe utilizar na Sua obra. Deus ainda conta
com você e comigo. Ele nos erguerá.
Se você está de
“férias” da missão que o Senhor lhe confiou, agora é o momento certo de voltar.
Por favor, não adie sua decisão!
Comentários
Postar um comentário