FRUTOS DA OBRA SALVADORA DE JESUS
Otoniel Tavares de Carvalho*
Isaías afirmou que
Jesus veria "o fruto do penoso trabalho de Sua alma”
Duas horas da
madrugada. Acordo ouvindo gemidos abafados. Era minha esposa que sentia as
primeiras dores de parto de nosso primeiro filho. As dores aumentam. Corro à
casa da enfermeira do colégio e não a encontro. Aflito, vou à casa do Pastor
José Monteiro e lhe peço ajuda. "Preciso levar minha esposa à cidade de
Caruaru", que dista sessenta quilômetros do ENA. Enquanto o automóvel
avança estrada a fora, seguro com firmeza a mão de minha esposa e noto em seu
rosto um ricto de dor. Finalmente, chegamos ao hospital. A médica a recebe e
procura transmitir coragem e entusiasmo. As dores, porém, aumentam e a hora se
aproxima. Mais uma hora de sofrimento, e tudo termina. Entro no quarto, e vejo
a alegria estampada em seu rosto. Feliz pelo nascimento de uma bonita e sadia
garota, minha esposa já não fala de dor e sofrimento. Ri de alegria e felicidade.
Nasceu o fruto do seu ventre.
Penoso
trabalho
Deus teve muito trabalho
para consumar a obra de redenção do homem. A partir do momento em que Deus Se
fez homem, na pessoa de Jesus, o Cristo, até ao Calvário, quando concluiu a
fase decisiva da salvação do homem, verifica-se uma vida marcada por lutas e
sofrimentos. Satanás estava mais do que nunca decidido a impedir que aquele Homem
tivesse sucesso em Sua obra. Opor-se-ia a Ele com todas as sutilezas. Poria em
Sua estrada pedras e espinhos. Perseguilo-ia minuto a minuto. Não Lhe daria
tréguas. Ele sabia que o sucesso do Homem Jesus representaria sua derrota, o
esmagar de sua cabeça, como fora anunciado no Éden (Gên. 3:15).
Quando Jesus estava
para nascer, Satanás criou certas condições adversas, impedindo que houvesse
para Ele um lugar adequado para o Seu nascimento. O diabo desejava matá-Lo na
hora do nascimento. Apesar de ter nascido numa manjedoura, Jesus não foi infectado.
Nasceu sadio e perfeito.
Depois do batismo,
Jesus foi levado ao deserto. Ali, defrontou-Se com Satanás. Satanás trabalhou incansavelmente
para levar Jesus ao fracasso. Desejava que o Mestre cedesse terreno. Um vacilo
só, e eis que tudo estaria perdido. Tentou-O no apetite (Mat. 4:3 e 4); tentou-O
na presunção (4:5-7); e na cobiça por honras, poder e fama mundanos (4:8 e 9).
Até que ouviu dos lábios de Jesus a ordem: "Retira-te, Satanás..."
(4:10).
Outros
agentes
Não conseguindo sucesso
em sua tentativa de enganar a Jesus e levá-Lo a desistir ou a vacilar em Seu
trabalho de redenção do homem, Satanás usa muitos homens, líderes religiosos do
povo, como opositores. Os escribas e fariseus foram continuamente manipulados
pelo demônio para tentar barrar o trabalho de Jesus. Acusações levianas;
interpretações fantasiosas da Lei de Deus; perguntas cheias de veneno de
víbora; insinuações grosseiras quanto à Sua filiação (João 8:41); pressões e
ameaças de apedrejamento; tudo isto tornou o trabalho de Cristo uma obra penosa
e difícil.
Satanás não sossegava.
Semeou desunião entre os apóstolos. Discutiam constantemente sobre quem seria o
mais importante no Reino de Deus. Certa vez, quando Jesus terminou de
apresentar Seu programa de trabalho na reta final, falou da necessidade de
morrer e ao terceiro dia ressuscitar.
Pedro, então,
manipulado pelo diabo, chamou Jesus à parte e O repreendeu. Jesus viu naquela
reprovação a atuação direta de Satanás, e o desmascarou: "Arreda,
Satanás..." (Marcos 8:33).
Judas Iscariotes foi um
fantoche nas mãos do diabo, para trair e vender seu Mestre. Pedro também foi
usado mais uma vez, negando conhecer a Jesus. Todos foram manipulados por
Satanás, que lhes pôs pesado sono, impedindo que vigiassem em oração em favor de
seu Mestre, lá no Getsêmani. Sozinho, sem nenhum apoio humano, Jesus foi levado
de sala em sala para ser julgado. Interrogatórios, zombarias, acusações falsas,
agressões físicas, humilhações, infâmias, indignidade. Num simulacro de
julgamento, foi Jesus condenado a morrer numa vergonhosa e maldita cruz, entre
ladrões.
Satanás, porém, estava
frustrado e insatisfeito. Não queria apenas que Jesus morresse. Morrer por
morrer não era suficiente. Satanás queria que Jesus morresse como pecador, e
não pelo pecador. Ele não queria que Jesus morresse como substituto do homem,
mas como cúmplice do homem. Ele desejava levar Jesus a cometer Seus próprios
pecados. Se isto não ocorresse, não teria servido de nada toda a canseira e
enfado que pusera sobre o Mestre.
Quando Satanás viu
Jesus posto na cruz, já prestes a exalar o último suspiro, e declarar concluído
seu penoso trabalho de redenção da humanidade, ficou impaciente. Com o mesmo
afã com que trabalhou para levá-Lo à cruz, agora agia celeremente para tentar
fazer com que Ele voluntariamente descesse da cruz. O Cristo na cruz, morrendo
sem cometer pecados pessoais, significaria a sentença de morte sobre ele,
Satanás. Imediatamente o diabo manipula a mente de vários homens, os quais
cobram de Jesus alguma ação, descendo da cruz para salvá-los. Não sabiam eles
que fora da cruz Jesus não seria o Salvador deles todos. O ladrão à esquerda
disse-Lhe: "Não és Tu o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também." Lucas
23:39. "Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a Si
mesmo Se salve, se é de fato o Cristo de Deus, o escolhido." Lucas 23:35.
"Igualmente os soldados O escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-Lhe
vinagre, dizendo: Se Tu és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo." Lucas 23:36
e 37. O diabo insistia para que Ele saísse da cruz.
"Contudo, Jesus
dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34.
Realmente todos ignoravam o que pediam. Desistir de morrer pelo homem seria
ceder aos apelos de Satanás, submetendo-Se desse modo aos seus caprichos. E
isto representaria união com o maioral dos demônios e cumplicidade com sua
tirania. Jamais Se prestaria a tal subserviência. No Getsêmani concordara em
aceitar a vontade do Pai.
Já Se submetera a Seu
Pai. Agora não haveria de desistir. Sorveria o cálice até a última gota. Teria
de concluir a penosa e difícil obra que o Pai Lhe confiara. Assim refletindo,
deixou-Se conduzir pelos Seus algozes até o momento final. Cansado, ferido e
oprimido, sem aparência nem formosura, entrega ao Pai o Seu espírito, exalando
um último brado: "Está consumado."
Frutos
agradáveis
Quando Isaías foi
inspirado por Deus para escrever a profecia que apresentava o sofrimento
vicário do Messias, do Cristo sofredor, ele o fez com arte e estilo, afirmando no
final: "Ele verá o fruto do penoso trabalho de Sua alma e ficará
satisfeito." Isa. 53:11.
Observando-se o
trabalho penoso e difícil que Jesus executou, até o momento de Sua morte,
tem-se a impressão de que não houve resultados positivos. Quando se vê um Judas
ganancioso e traidor; um Pedro falastrão e medroso; um grupo de homens tímidos,
que fugiram da luta, deixando seu comandante sozinho a lutar com o inimigo,
parece que Jesus havia trabalhado em vão.
Depois da ressurreição,
e, principalmente, a partir do Pentecoste, quando o Espírito do Senhor Se apossou
deles, ocuparam seu espaço como continuadores da propagação do Reino de Deus.
Agora não mais um grupo de homens tímidos e medrosos, mas um exército de pessoas
destemidas e corajosas, dispostas a servir "mais a Deus do que aos
homens".
Fixaram o olhar em
Jesus e O tomaram como ponto de referência de sua vida. Imitar seu Mestre, na vida
e na morte, era o lema daqueles discípulos. Não se intimidariam com ameaças e
prisões. Estavam prontos a caminhar com Jesus até o final da estrada.
Jesus observava do Céu
essa mudança de atitude, fruto de uma conversão sincera, e ficava satisfeito.
Esses apóstolos e discípulos eram os agradáveis frutos do penoso trabalho que
por eles executara.
O Mestre contemplou a
Pedro perante seus carrascos, pedindo para ser crucificado de cabeça para baixo,
por não se achar digno de morrer como seu Senhor. Pedro, que dera tanto
trabalho a Jesus, agora se transforma em agradável fruto.
Jesus contemplou o
destemor de Estêvão, ousado no testemunho perante uma multidão de homens
ensandecidos e manipulados por Satanás, o qual não tolerava ouvir esse bendito
nome: Jesus. Então o Mestre olhou para Estêvão, e este encontrou o olhar
generoso do Mestre.
Saulo de Tarso ajudou a
matar a Estêvão. E Jesus notou esse detalhe. Saulo, em seu zelo cego e
fanático, decidira acabar com a Igreja de Jesus Cristo, o Nazareno. Satanás o
usou como fantoche para essa missão. Jesus queria Saulo trabalhando em Seu
exército.
Encontrou-o na estrada
de Damasco. Derrubou-o do cavalo, cegou-o e o humilhou. Ele não sabia o que fazia.
Era apenas um jovem ousado, a quem Satanás usara para causar danos ao povo de
Deus. Jesus então trabalhou com Saulo.
Converteu-o em apóstolo
e pregador do Evangelho da redenção. Chamou-o de Paulo, e o ungiu com poder do
alto. Paulo tornou-se, nas mãos de Jesus, um fruto precioso.
Através
dos séculos
O Senhor olhou através
dos séculos e viu Sua Igreja sendo perseguida e agredida por Satanás. Observou
a firmeza e coragem com que se punham perante seus agressores. A fogueira, a
tortura, as ameaças, nada era suficiente para fazê-los retroceder e desistir da
caminhada. Enquanto o diabo ficava desesperado e ensandecido com tamanha
coragem e fé, Jesus sorria feliz, lá do Céu, ao ver aquela multidão de homens e
mulheres, adultos, jovens e crianças, pecadores salvos pela graça, transformados
em agradáveis frutos de Sua penosa obra de redenção, troféus de um Guerreiro
vencedor.
Jesus olha, hoje, para
cada alma que se arrepende de seus pecados, e abandona as hostes do demônio, e
os vê marchando fiéis, dispostos a dar sua vida em louvor ao Senhor, e fica
muito contente. Eles representam os agradáveis frutos dessa geração final, que
procuram viver de maneira santa no meio de uma geração corrompida e manipulada
por Satanás.
Nós somos os penosos e
agradáveis frutos da obra salvadora de Jesus. Muitas e muitas vezes causamos-Lhe
tristeza e decepção. Quando, porém, nos arrependemos sinceramente e nos pomos à
Sua disposição para servir voluntariamente, Ele sente prazer em nós, e fica
muito feliz.
Paulo nos oferece um
oportuno conselho: "E não entristeçais ao Espírito Santo, no qual fostes selados
para o dia da redenção." Ef 4:30. Deus quer sentir prazer em nós. Deseja
sentir-Se feliz tendo-nos como amigos. Espera, pois, que haja reciprocidade.
*Otoniel
Tavares de Carvalho, Pastor da Igreja Central de Vitória,
Espírito Santo
FONTE:
Revista Adventista, Março de 1990, p. 11-13.
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