Teologia

domingo, 27 de agosto de 2017

É POSSÍVEL GUARDAR O SÁBADO NAS REGIÕES POLARES DA TERRA?



Ricardo André

Nosso amado Deus, o Criador, em Sua infinita sabedoria, no final da semana da Criação estabeleceu o sábado para o homem descansar e manter íntima comunhão com Ele nesse dia (Gn 2:3, 4). Aliás, Ele colocou esse plano dentro de Sua lei eterna, onde o quarto mandamento diz:

"Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou” (Êxodo 20:8-11, NVI).

A escritora cristã Ellen G. White comentando os atos de Deus no sétimo dia, afirmou:

“Depois de repousar no sétimo Dia, Deus o santificou, ou pô-lo à parte, como Dia de repouso para o homem. Seguindo o exemplo do Criador, deveria o homem repousar neste santo dia, a fim de que, ao olhar para o céu e para a Terra, pudesse refletir na grande obra da criação de Deus; e para que, contemplando as provas da sabedoria e bondade de Deus, seu coração pudesse encher-se de amor e reverência para com o Criador” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 47).

É importante ressaltar que, descansar no dia escolhido por Deus, o sábado, traz-nos um duplo benefício: a recuperação física das fadigas e dos embates da semana; e a alegria que transborda de nosso coração pela satisfação de cumprir o que Deus estabeleceu. Guardar esse dia significa deixar de lado nossos “próprios interesses” (Isaías 58:13) para descansar nos méritos da graça divina e nos alegrar nas obras do nosso Maravilhoso Criador-Redentor. Ao comungarmos com Deus nesse dia, descobrimos por que foi ele abençoado e santificado; e há algo indescritível que ocorre em nossa alma que não acontece em outros dias. É muito bom e agradável observar o sábado como dia de repouso!

Os Limites do Sábado

Mas, quando começa e termina o sábado? Para compreendermos esta questão é preciso considerarmos o que é dito a respeito da semana da criação. Antes de ser dito: “Haja luz (Gn 1:3)”. Está escrito que: “havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”. (Gen. 1:2). Mas no verso 1 diz que o Criador criou  os “Céus e a Terra”. Então, logicamente, neste caso foi Ele que também criou as trevas que cobriam o nosso Planeta Terra (Isaías 45:7). Sendo assim, ela é a primeira parte do período de 24 horas do dia (do hebraico yôm). A duração da noite (lailâ; chōshek - trevas) é de 12 horas, como afirmou Jesus: “O dia não tem doze horas? Quem anda de dia não tropeça, pois vê a luz deste mundo” (João 11:9, NVI). No contexto Ele está opondo o dia à noite (João 11:10 e 9:4).

Por isso, em função de Gen. 1:1-2, é que temos a ordem de Levítico 23:27 e 32. "O décimo dia deste sétimo mês é o Dia da Expiação” (v. 27, NVI). No verso 32: “Desde o entardecer do nono dia do mês até ao entardecer do dia seguinte vocês guardarão esse sábado" (v. 32, NVI).

Esse princípio de observação do sábado – dia da expiação, segue o mesmo princípio da observação do sábado, sétimo dia da criação, em função do tempo que inicialmente existiu em nosso Planeta – período de doze horas de trevas (noite) seguido por um período de doze horas de luz (dia). Portanto, tanto a noite quanto a manhã estão situadas entre a tarde do nono dia e a tarde do décimo dia.

O que foi dito em Neemias 13, cujo contexto começa no verso 15, é importantíssimo. Ele descreve nos versos 15-16 o que estava acontecendo em Jerusalém no dia (yôm - nas 24 horas) de sábado, o sétimo dia. No verso 17 ele diz que o que estava sendo feito (comercialização) era um grande mal (Transgressão direta do quarto mandamento: “Nem tu, (...) nem o teu servo, (...) nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas”). Isso era uma profanação do sábado (v. 18). Já no verso 19 ele ratificou, de acordo com Gên. 1:2 e Lev. 23:27 e 32, os limites do sábado para cidade de Jerusalém.

Disse ele: “ao começar a fazer-se escuro nas portas de Jerusalém, antes do sábado, eu ordenei que elas fossem fechadas, e mandei que não as abrissem até passar o sábado (...) para que nenhuma carga entrasse no dia de sábado”.

Se as horas sagradas do sábado fossem apenas a parte clara do dia, qual o problema de entrar mercadorias durante a noite? Ainda mais, que ele, no mesmo verso deixou claro em duas expressões: “antes do sábado” (antes do pôr-do-sol da noite de sábado), e “até passar o sábado” (após o pôr-do-sol do dia de sábado). Por que os vendedores não poderiam entrar durante a noite do sétimo dia da semana, mas poderiam entrar durante a noite do primeiro dia da semana? Por essa parte, após passar o sábado, está explicito que o sábado começa e termina com um pôr-do-sol.

Esse princípio também era observado nos dias de Jesus, tanto por parte dos discípulos quanto por parte dos judeus em geral.

Isso é claramente observado no que diz respeito à morte de Jesus: “Era o dia da preparação, e ia começar o sábado. (...) Então voltaram e prepararam especiarias e unguentos. E no sábado repousaram, conforme o mandamento”. (Luc. 23:54 e 56).

O que significa esta afirmação: “Era o dia da preparação, e ia começar o sábado”? Qual o objetivo de tal preparação? A resposta para tal pergunta apenas pode ser encontrada em Êxodo 16:5: “Mas ao sexto dia prepararão o que colherem; e será o dobro do que colhem cada dia”. No verso 22 foi dito: “Mas ao sexto dia colheram pão em dobro”. E o verso 23 é conclusivo: “Amanhã é repouso, sábado santo ao Senhor”.

A palavra preparação é encontrada nos quatro livros que compõem o Evangelho. Em Mateus 27:62 encontramos: “Ao cair da tarde, como era o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado”.

Em João 19:31: “Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali”. Portanto, todos esses versos são enfáticos ao afirmando a mesma coisa.

Os líderes judeus procuravam condenar Jesus porque, segundo eles, Jesus era um transgressor do sábado, por isso o povo não levava os seus enfermos para serem curados durante as horas do mesmo. Mas ao cair da tarde, já nas primeiras horas do primeiro dia da semana eles procuravam a Cristo com os seus enfermos, a fim de que Ele os curasse. Marcos 1:32 afirma: “Sendo já tarde, tendo-se posto o sol, traziam-lhe todos os enfermos, e os endemoninhados”. (Leia os versos 21-34 e Lucas 4:31-41).

Portanto, de acordo com as Escrituras Sagradas, o descanso semanal começa ao pôr-do-sol da sexta-feira e se estende até ao pôr-do-sol do sábado, perfazendo um período de 24 horas. E que, o princípio que determina o começo do sábado é o mesmo que fundamenta o primeiro dia e as primeiras horas da criação.

O sábado nas regiões polares

Sabendo que as Escrituras Sagradas ensinam a observância do Sábado do pôr-do-Sol ao pôr-do-Sol, muitas pessoas que não amam o santo sábado e, numa tentativa de justificar sua desobediência a Deus, argumentam ser isso impossível nas regiões polares da Terra, onde há todos os anos um período durante o qual o Sol permanece no alto, e outro em que ele permanece oculto abaixo do horizonte, durante as completas vinte e quatro horas do dia.

É verdade que nos polos do Planeta, por causa da inclinação de 23º27’ do eixo da Terra em relação ao plano da eclíptica (caminho da Terra em torno do Sol), o sol, em certos meses, nunca se põe e, em certos meses, nunca nasce. No Cabo Norte, por exemplo, extremo norte da Noruega, o sol permanece acima do horizonte, não se põe, de 10 de maio a 31 de junho e permanece abaixo do horizonte, não chega a nascer, não aparece, de 18 de novembro a 24 de janeiro. Já Longyearbyen, a cidade mais setentrional do mundo, localizada a 1.000 km do Cabo Norte, a 78º 15’N, capital do arquipélago de Svalbard, de soberania norueguesa, durante quatro meses é noite e durante outros quatro é dia.

A igreja de Svalbard permanece aberta 24 horas e acolhe todas as confissões religiosas.

Conforme mostramos acima, a Bíblia ensina que o sábado começa ao pôr-do-sol. Mas, como pode alguém saber quando ocorre o pôr-do-sol nessas regiões, uma vez que há meses que o Sol permanece acima do horizonte e há meses que ele não nasce? A questão é simples, os habitantes das regiões polares determinam o fim e o começo do dia, do seguinte modo: durante os dias em que o sol não se põe, coisa que ocorre no verão, ele descreve um círculo no céu cada 24 horas. Há um ponto alto no círculo, o zênite (é a região do céu que está acima da cabeça do observador), e há um ponto baixo, o nadir (é a região do céu que fica na direção abaixo dos pés do observador). Quando o sol atinge o ponto mais baixo, o nadir, isso corresponde ao pôr-do-sol, e também ao nascer do sol. Esse momento assinala o fim do dia e o começo do novo dia. No inverno quando o sol não aparece, não sobe acima do horizonte, ele não obstante sobe até bem próximo da linha do horizonte. Quando está no ponto mais alto, embora ainda oculto atrás do horizonte, ele produz um clarão qual o que vemos quando ele está para nascer. A máxima intensidade desse clarão indica que o sol está no seu ponto mais alto. Isso assinala o fim de um dia e o começo de outro. Naturalmente há também o auxílio dos relógios acertados pelo rádio e que dão em todo o tempo a hora exata. Nenhum habitante das regiões polares tem a menor dificuldade em determinar quando começa e quando finda o dia. Com efeito, se um visitante lhes pergunta como o determinam, eles o olham com expressão de surpresa.


Sol da meia-noite na Noruega

“E mesmo na terra do ‘Sol da meia-noite’, pergunte-se a um explorador dos polos e ele achará ridícula a ideia de não ter ali noção do dia, seu começo e fim. Os exploradores árticos mantêm a exata contagem dos dias e semanas em seus diários, relatando o que fizeram em determinados dias. Eles dizem que naquela estranha e quase desabitada terra, é possível notar a passagem dos dias durante os meses em que o Sol está acima do horizonte, pelas posições variáveis do Sol, e durante os meses em que o Sol está abaixo do horizonte, pelo vestígio perceptível do crepúsculo vespertino. E se um sabatista se encontrasse lá no polo, e tivesse algum receio de perder a contagem das semanas, bastar-lhe-ia dirigir-se, por exemplo, a uma missão evangélica entre os esquimós, e lá obteria a informação do que deseja, pois os missionários sem dúvida saberiam quando é domingo para nele realizarem sua Escola Dominical (…) Certamente que eles não perderiam o ciclo semanal.” (Arnaldo B. Christianini, Subtilezas do Erro, pág. 177-178).

Portanto, os adventistas dos sétimo dia que residem no extremo Norte do Planeta não tem dificuldade nenhuma para determinar os limites do sábado. “Em dois períodos do ano o visível pôr-do-Sol serve de sinal para marcar o princípio e o fim do sétimo dia para os adventistas na região ártica. E nos dias em que o Sol não aparece acima do horizonte, o Sábado é observado de sexta-feira, ao meio-dia, até o meio-dia do Sábado, por isso que essa hora corresponde ao tempo do pôr-do-Sol, segundo o prova o último pôr-do-Sol visível ocorrido no princípio do período, e o primeiro pôr-do-Sol visível ocorrido no final do período. Mas durante o tempo em que o Sol está no Céu continuamente, o Sábado é observado de sexta-feira à meia-noite, até meia-noite do Sábado, porque o Sol está em seu nadir nesse momento do dia, como o provam o último pôr-do-Sol visível no princípio do período, e o primeiro visível pôr-do-Sol ocorrido no final do período.” (R.L. Odom, The Lord’s Day On a Round World, págs. 121, 122,138,140,141,143,144. Citado em Consultoria Doutrinária, pág. 154).

Dizer que pelo fato do Extremo Norte da Terra possuir essa circunstância descrita acima justifica a não observância do sábado nas demais regiões do Planeta, ou que enfraquece a importância da guarda do sábado não passa de pretexto para não obedecer a Deus.  Infelizmente, tal pensamento só existe na mente dos que não querem obedecer aos mandamentos do Senhor. Por que, em lugar de criar desculpas como esta para escapar-se do mandamento do sábado não observam o dia que o Senhor Jesus descansou, abençoou e santificou (Gn 2:1-3; Êx 20:8-11; Is 58:13)? 

A verdade é que, quando muitos cristãos grosseiramente falam contra aqueles que na atualidade guardam o sábado, na realidade o que fazem é blasfemar contra Paulo e contra o nosso Senhor Jesus Cristo uma vez que é comprovado que eles guardavam o sábado. Leia Lucas 4:16 e Atos 13:42; 18:1-4. Quero dizer, pois para sermos imitadores de Paulo assim com ele o era de Jesus Cristo (1 Co 11:1), devemos guardar o sábado, assim como todo o restante da lei moral de Deus. Não para nos salvar, mas como fruto de nosso relacionamento salvífico com Deus. A base de nossa religião é Cristo, e este crucificado. A justificação é inteiramente pela fé, não pelas obras, como diz Paulo em Efésios. 2:8, 9. Este texto é acompanhado por outro que os evangélicos se “esquecem” de mencionar junto com estes dois: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas”. Em outras palavras, fomos salvos por Cristo Jesus para obedecer, descrito pelo apóstolo “boas obras”.

O sábado é parte dos mandamentos de Deus sobre que Paulo, o próprio grande campeão da mensagem de salvação somente pela fé, disse: “A circuncisão nada é, e a incircuncisão nada é, senão o guardar os mandamentos de Deus” (1 Co. 7:19). A obediência aos mandamentos de Deus não entra no campo da justificação, senão no da santificação, que os calvinistas chamam de “perseverança dos santos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário