QUEM SÃO AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ?
Ricardo
André
As Testemunhas de Jeová
se constituem num movimento religioso bastante conhecido por sua atividade de
pregação dominical, ou mesmo em qualquer outro dia da semana, de casa em casa,
mas é também bastante controvertido por sustentar ensinos que não possuem apoio
bíblico e práticas esdrúxulas, a exemplo da proibição das transfusões de
sangue, a rejeição da doutrina da Trindade ou a proibição de celebrarem-se
aniversários. Por conta disso, as igrejas cristãs consideram as Testemunhas de
Jeová uma seita religiosa. Este é um movimento religioso que, ainda que pequeno
na idade (foi fundado no fim dos anos 1800), exerce influência no mundo
religioso de hoje em escala internacional. É, indubitavelmente, um dos movimentos
religioso contemporâneo que mais cresce no mundo. “Segundo o relatório do ano de serviço de
2014, há 24 países com mais de 100 mil Testemunhas de Jeová. Isso inclui a
Venezuela, que alcançou esse marco em 2007. No mundo inteiro, há 115.416
congregações das Testemunhas de Jeová e 8.201.545 publicadores” (https://www.jw.org/pt/testemunhas-de-jeova/atividades/pregacao/auge-testemunhas-de-jeova-2014/)
Mas, qual é a origem das Testemunhas de Jeová? Em que elas creem?
Nos anos de 1989, mesmo
sendo Adventista do Sétimo Dia, aceitei receber estudo bíblico com uma colega
Testemunha de Jeová, no Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. O livro que
estudei foi “Poderá Viver Para sempre no Paraíso na Terra?” Não me tornei TJ
porque percebi muitas distorções dos ensinos bíblicos. Todavia, tenho amigos,
alunos e colegas de trabalho que fazem parte e os respeito como quaisquer
outras pessoas. Embora não concordo com muitas de suas crenças, sempre recebo
muito bem as TJ na minha casa, e possuo muitas de suas literaturas. O presente
artigo não visa denegrir os adeptos da religião em foco, até porque a maioria
dos que fazem parte das Testemunhas de Jeová são pessoas decentes e sinceras,
tendo sua busca de Deus e de Sua verdade as motivações para associarem-se à
religião. Antes, este artigo pretende apresentar de forma concisa e direta, mas
profunda, uma síntese da história desse movimento religioso, bem como de suas
principais crenças. Tal texto merece exame
atento por cada Testemunha de Jeová, bem como por todo aquele que tem
curiosidade em conhecer melhor esta religião, que é – para muitos –
demasiadamente esquisita.
Por considerar não ser
importante contar sua história, não encontramos em suas literaturas relatos
detalhados concernentes ao como e quando teve origem o movimento. Em
decorrência, muitas Testemunhas não conhecem os detalhes da origem de sua
organização religiosa. Quando elas são confrontadas com a afirmativa de que são
uma nova religião, frequentemente respondem que o seu grupo religioso é o mais
antigo de todos, mais antigo que as igrejas católica e protestantes. De fato, o
seu livro As Testemunhas de Jeová no
Propósito Divino afirma que "as
testemunhas de Jeová têm uma história com quase 6.000 anos de duração, que
começa quando o primeiro homem, Adão, ainda estava vivo", que Abel, filho
de Adão, foi "a primeira de uma linha ininterrupta de Testemunhas", e
que "os discípulos de Jesus também eram todos testemunhas de Jeová".
(pp. 8-9)
Obviamente que uma
pessoa que não pertence a organização que ouve essas pretensões percebe
rapidamente que a religião apropriou-se
simplesmente de todas as personagens citadas na Bíblia como testemunhas fiéis
de Deus. Através dessa extrapolação a denominação consegue esticar a sua
história até aos começos da família humana - pelo menos aos olhos dos adeptos
mais novos que estão dispostos a aceitar esses argumentos. Mas observadores de
fora geralmente rejeitam este tipo de retórica e em vez disso reconhecem que as
Testemunhas de Jeová surgiram a partir do movimento Milerita, por volta de
1840. Na sua juventude o fundador da religião Charles Taze Russell, que nasceu
em 16 de Fevereiro de 1852 em Pittsburgh, Pennsylvania, foi influenciado por
Guilherme Miller.
Conforme a própria
religião, “a organização atual das Testemunhas de Jeová começou no fim do
século 19. Naquela época, um pequeno grupo de estudantes da Bíblia perto de
Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos, começou uma análise sistemática da
Bíblia. Eles comparavam as doutrinas ensinadas pelas igrejas com o que a Bíblia
realmente ensina. Eles começaram a publicar suas conclusões em livros, jornais
e na revista que hoje é chamada A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová.
“Um dos membros desse
grupo de estudantes sinceros da Bíblia era um homem chamado Charles Taze Russell.
Embora tenha tomado a dianteira na obra educativa bíblica naquela época e tenha
sido o primeiro editor de A Sentinela, Russell não foi o fundador de uma nova
religião. O objetivo de Russell e dos outros Estudantes da Bíblia, como o grupo
era então conhecido, era divulgar os ensinamentos de Jesus Cristo e seguir o
modelo deixado pelos cristãos do primeiro século. Visto que Jesus é o Fundador
do cristianismo, nós o consideramos o fundador de nossa organização. —
Colossenses 1:18-20”. (https://www.jw.org/pt/testemunhas-de-jeova/perguntas-frequentes/fundador/).
Charles
Taze Russell (1852-1916): O fundador da Religião
Russel foi criado originalmente
como presbiteriano. Aos 16 anos uniu-se a
Igreja Congregacional no ano 1868, quando passou a ter uma crise de fé. Ele
tinha começado a duvidar não só dos credos e doutrinas da igreja, mas também de
Deus e da própria Bíblia. Neste momento crítico um encontro acidental restaurou
a sua fé e colocou-o sob a influência do pregador milerita Jonas Wendell,
pastor da Igreja Cristã do Advento. Quase imediatamente Russell, seu pai e mais
outros, formam um pequeno grupo de estudo da Bíblia em Allegheny, Pensilvânia,
que haveria de evoluir gradualmente até se tornar esse novo movimento
religioso.
Durante alguns anos
depois disso Russell continuou a estudar as Escrituras com e sob a influência
de vários leigos e clérigos mileritas, especialmente o ministro da Igreja
Cristã do Advento George Stetson e o editor do Bible Examiner, George Storrs. Assim ele se expressou:
“Como que por acaso,
certa noite visitei uma sala poeirenta e mal iluminada, onde eu ouvira dizer
que se realizavam cultos religiosos, para ver se o punhado de pessoas que se
reunia ali tinha algo mais sensato a oferecer do que as crenças das grandes
religiões. Ali, pela primeira vez, ouvi algo sobre os conceitos dos adventistas
(Igreja Cristã do Advento), sendo o Sr. Jonas Wendell o pregador… Assim,
reconheço estar endividado com os adventistas e com outras denominações. Embora
a exposição bíblica feita por ele não fosse inteiramente clara, …foi o
suficiente, sob a orientação de Deus, para restaurar minha abalada fé na
inspiração divina da Bíblia e para mostrar que os escritos dos apóstolos e dos
profetas estão indissoluvelmente vinculados. O que ouvi me fez voltar à minha
Bíblia para estudá-la com mais zelo e cuidado do que nunca antes, e serei
sempre grato ao Senhor por esta orientação; pois, embora o adventismo não me
tenha ajudado em nenhuma verdade específica, ajudou-me grandemente a
desaprender erros, e assim me preparou para a Verdade." - Testemunhas de
Jeová” (Proclamadores do Reino de Deus, p. 43 e 44).
Ele reuniu-se
localmente numa base regular com um pequeno círculo de amigos para discutir a
Bíblia, e este grupo de estudo informal passou a encará-lo como o seu líder ou
pastor. Estes membros passaram a ser conhecidos como "Estudantes
Internacionais da Bíblia". Em 1931, numa reunião, no Estado de Ohio,
Rutherford (2º Presidente da Organização) propôs que o grupo passasse a ser
chamado de “As Testemunhas de Jeová”.
Em Janeiro de 1876,
quando tinha 23 anos, Russell recebeu uma cópia de The Herald of the Morning,
uma revista adventista publicada por Nelson H. Barbour, de Rochester, Nova
Iorque. Uma das características distintivas do grupo de Barbour naquele tempo
era a crença de que Cristo tinha voltado invisivelmente em 1874, e este
conceito que era apresentado no The Herald prendeu a atenção de Russell.
Significava que este grupo dissidente não tinha ficado derrotado, ao contrário
de outros, quando Cristo não apareceu em 1874 como os líderes adventistas
tinham predito; de algum modo este pequeno grupo tinha conseguido agarrar-se
àquela data afirmando que o Senhor tinha de fato voltado no tempo designado,
mas de forma invisível.
Era este pensamento
apenas um reflexo dos seus desejos, ligado à sua recusa obstinada em admitir o
erro de cálculos cronológicos falhados? Talvez, mas Barbour tinha alguns
argumentos a oferecer em apoio das suas afirmações. Em particular, ele arranjou
uma base para reinterpretar a Segunda Vinda como um evento invisível. Na
Emphatic Diaglott, tradução do Novo Testamento de Benjamin Wilson, a palavra
traduzida "vinda" na King James Version em Mateus 24:27, 37, 39 é em
vez disso traduzida como "presença". Isto serviu de base para o grupo
de Barbour advogar, além dos seus cálculos envolvendo datas, uma presença
invisível de Cristo (Ver Aproximou-se o reino de Deus de Mil Anos, p. 187).
Embora a ideia
agradasse ao jovem Charles Taze Russell, o público leitor aparentemente
recusou-se a acreditar na história de uma Segunda Vinda invisível, com o
resultado de a publicação de N. H. Barbour The Herald of the Morning estar a
falhar financeiramente. No verão de 1876 o endinheirado Russell pagou a viagem
de Barbour a Filadélfia e encontrou-se com ele para discutir tanto crenças como
finanças. O resultado foi que Russell tornou-se o apoiante financeiro da
revista e o seu nome foi acrescentado ao cabeçalho como Editor Assistente. Ele
contribuiu com artigos para publicação bem como dádivas em dinheiro, e o
pequeno grupo de estudo de Russell também passou a estar afiliado com o grupo
de Barbour.
Russell e Barbour
acreditavam e ensinavam que a volta invisível de Cristo em 1874 seria seguida
pouco tempo depois, mais especificamente na primavera de 1878, pelo
Arrebatamento - a transferência corporal
dos crentes para o céu. Quando este aguardado arrebatamento não ocorreu no
tempo previsto em 1878, o Sr. Barbour, editor do The Herald, apareceu com
"nova luz" sobre esta e outras doutrinas. Russell, porém, rejeitou
algumas das ideias novas e persuadiu outros membros a oporem-se-lhes. Por fim,
Russell desistiu de pertencer à equipe da revista e começou a sua própria
revista. Chamou-lhe Zion's Watch Tower and Herald of Christ's Presence (Torre
de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo) e publicou o primeiro número
com a data de Julho de 1879. No princípio tinha a mesma lista de subscritores que
o The Herald of the Morning e foi devotado espaço considerável a refutar esta
publicação nos pontos em que havia desacordo, tendo Russell levado consigo uma
cópia da lista dos assinantes quando renunciou ao cargo de editor assistente.
Nesta altura Charles
Russell já não se queria considerar a si mesmo um Millerita. Mas continuava a
encarar Miller e Barbour como instrumentos escolhidos por Deus para conduzir o
Seu povo no passado. A formação de uma denominação distinta à volta de Russell
foi um desenvolvimento gradual. A sua ruptura imediata era, não com o
adventismo, mas antes com a pessoa e as políticas de N. H. Barbour.
Também não foram
erigidas imediatamente barreiras em relação ao protestantismo em geral. Os
novos leitores que obtinham assinaturas da Zion's Watch Tower eram
frequentemente membros das igrejas que viam a revista como um ministério para igreja,
não como uma alternativa anti igreja. Russell viajava por vários sítios,
falando dos púlpitos de igrejas protestantes bem como para ajuntamentos dos
seus próprios seguidores. Em 1879, ano do seu casamento com Maria Frances
Ackley e também ano em que começou a publicar a Zion's Watch Tower, Russell
organizou cerca de trinta grupos de estudo ou congregações espalhados desde
Ohio até à costa da Nova Inglaterra. Cada "classe" ou eclésia local
passou a reconhecê-lo como "Pastor", embora a geografia e as atividades
de escrita e editoriais de Russell impedissem mais que uma visita pastoral
ocasional em pessoa.
Inevitavelmente, os
ensinos cada vez mais divergentes de Russell obrigaram os seus seguidores a
separarem-se de outros grupos das igrejas e a criar uma denominação própria.
Tendo começado, como começou, num pequeno ramo do milerismo que foi ao extremo
de estabelecer datas específicas para a volta de Cristo e o Arrebatamento,
Russell foi ainda mais longe em 1882 ao rejeitar abertamente a doutrina da
Trindade. O seu anterior mentor Nelson H. Barbour era um trinitarista, tal como
também o outro editor assistente da The Herald of the Morning, John H. Paton,
que se juntou a Russell quando este se afastou de Barbour para começar a Zion's
Watch Tower. Os escritos de Barbour e Paton que Russell tinha ajudado a
publicar ou a distribuir eram trinitaristas na sua teologia. E a própria Zion's
Watch Tower a princípio era vaga e não se comprometia no assunto. Só foi depois
de Paton cortar relações com ele em 1882, e deixar de ser mencionado no
cabeçalho, que Russell começou a escrever contra a doutrina da Trindade.
Quando morreu, Charles
Taze Russell tinha viajado mais de um milhão de milhas e tinha pregado mais de
30.000 sermões. Tinha escrito obras totalizando cerca de 50.000 páginas
impressas, e cerca de 20.000.000 de cópias dos seus livros e folhetos tinham
sido vendidas.
Mas ele viveu o
suficiente para ver o fracasso de várias datas que tinha predito para o
Arrebatamento, e morreu finalmente em 31 de Outubro de 1916, mais de dois anos
depois da data em que era suposto o mundo ter acabado, de acordo com os seus
cálculos, no início de Outubro de 1914. Os seus discípulos, no entanto, viram a
Guerra Mundial que então decorria como uma razão para crer que "o
fim" ainda era iminente.
Joseph
Franklin Rutherford (1869-1942)
Segundo instruções que
Russell deixou, o seu sucessor na presidência partilharia o poder com uma comissão
editorial e com a diretoria da empresa Torre de Vigia, que Russell tinha
nomeado "vitaliciamente". Mas o vice-presidente Joseph Franklin
("Juiz") Rutherford depressa começou a concentrar toda a autoridade
organizacional nas suas próprias mãos. Sendo um advogado habilidoso que tinha
servido como principal conselheiro legal de Russell, ele combinava a capacidade
legal com o que os oponentes indubitavelmente viam como uma abordagem
maquiavélica à política interna da empresa. Assim, ele usou uma brecha na
nomeação deles para desalojar a maioria dos diretores da Torre de Vigia sem
convocar uma votação dos membros. E até usou um subordinado para chamar a polícia
aos escritórios da sede da Sociedade em Brooklyn para interromper a reunião da
diretoria e expulsá-los do local. (Faith on the March [A Fé em Marcha, 1957] de A. H. Macmillan, pp.
78-80)
Depois de se apoderar
do complexo da sede e das entidades empresariais da religião, Rutherford voltou
a sua atenção para o resto da organização. Substituindo gradualmente os anciãos
eleitos localmente por homens nomeados por ele próprio, conseguiu transformar
um grupo disperso de congregações semiautónomas governadas democraticamente
numa máquina organizacional coesa controlada a partir do seu escritório.
Algumas congregações locais separaram-se, formando grupos russellitas
dissidentes como os Chicago Bible Students (Estudantes da Bíblia de Chicago),
os Dawn Bible Students (Estudantes da Bíblia da Aurora), e o Laymen's Home
Missionary Movement (Movimento Missionário Lar do Leigo), todos eles
continuando a existir ainda hoje. Mas a maioria dos Estudantes da Bíblia
continuaram sob o controle de Rutherford, e ele mudou-lhes o nome para
"Testemunhas de Jeová" em 1931, para os distinguir de todos os outros
grupos de Estudantes da Bíblia.
Entretanto, ele mudou a
ênfase da religião do "desenvolvimento do carácter" individual para
um vigoroso trabalho de testemunho público, distribuindo a literatura da
Sociedade de casa em casa. Em 1927 esta distribuição de porta a porta tinha-se
tornado uma atividade essencial requerida de todos os membros.
A literatura consistia
primariamente das séries de ataques incessantes de Rutherford contra o governo,
contra a proibição [de bebidas alcoólicas], contra o "alto comércio"
e contra a Igreja Católica Romana. Ele também forjou uma enorme rede radiofônica
e lançou-se nas ondas de rádio, explorando os sentimentos populistas e anticatólicos
para atrair milhares de convertidos adicionais. Os seus ataques vitriólicos,
que saíam de forma estridente de fonógrafos portáteis levados até às portas das
pessoas e de altifalantes montados em carros de som estacionados em frente das
igrejas, também trouxeram sobre as Testemunhas violência de multidões e
perseguição dos governos em muitas partes do mundo.
Tal como Russell,
Rutherford experimentou fazer profecias e predisse que os patriarcas bíblicos
Abraão, Isaque e Jacó seriam ressuscitados em 1925 para governar como príncipes
sobre a terra. (Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, 1920, pp. 110-112)
Eles não apareceram, claro, e Rutherford desistiu de predizer datas. De fato,
referindo-se a esse falhanço profético ele mais tarde admitiu: "Eu me fiz
de tolo". (Despertai!, 22 de Setembro de 1987, p. 19)
O Vice-Presidente
Nathan Homer Knorr herdou a presidência quando Rutherford morreu em 1942, mas
deixou os assuntos doutrinais principalmente nas mãos de Frederick W. Franz,
que se juntara à religião nos tempos de Russell e tinha servido na sede de
Brooklyn desde 1920. Não tendo o magnetismo pessoal e o carisma de Russell e de
Rutherford, Knorr focou a devoção dos seguidores na organização "Mãe"
em vez de nele próprio.
Depois de décadas a
publicar livros e folhetos assinados pelos seus presidentes Russell e
Rutherford, a Sociedade Torre de Vigia começou a produzir literatura que era
escrita sob anonimato. Mas não era impessoal, visto que a própria organização
era praticamente personificada, e os leitores eram orientados a "mostrar o
nosso respeito pela organização de Jeová, pois ela é a nossa mãe e a amada
esposa do nosso Pai celestial, Jeová Deus". (The Watchtower [A Sentinela],
1 de Maio de 1957, p. 285 [em inglês])
Nathan
Homer Knorr (1905-1977)
Knorr mudou o foco da
religião de liderança dinâmica para participação dinâmica dos membros. Ele
iniciou programas de treinamento para transformar membros em recrutadores
eficazes. Em vez de carregar um fonógrafo portátil de casa em casa, tocando
discos dos discursos do "Juiz" Rutherford nos degraus das casas das
pessoas, a Testemunha de Jeová típica começou a receber instrução sobre como
falar de forma persuasiva. Homens, mulheres e crianças aprenderam a fazer
sermões às portas sobre uma variedade de assuntos.
Entretanto Fred Franz
trabalhava nos bastidores para restaurar a fé nos cálculos cronológicos da
religião, um assunto largamente ignorado a seguir ao falhanço profético de
Rutherford em 1925. A cronologia revista estabelecia a volta invisível de
Cristo como tendo ocorrido em 1914 em vez de 1874 e, durante a década de 1960,
as publicações da Sociedade começaram a apontar para o ano 1975 como o tempo
provável do Armagedom e do fim do mundo.
A crença prevalecente
entre as Testemunhas de Jeová hoje é que a Sociedade nunca predisse "o
fim" para 1975, mas que alguns membros com excesso de zelo leram
equivocadamente isso na mensagem. No entanto, a predição oficial está bem
documentada. Veja por exemplo, o artigo intitulado "Por Que Está
Aguardando 1975?" na Sentinela de 15 de Fevereiro de 1969, páginas
110-117. Admitindo uma pequena margem de erro, conclui uma longa discussão com
este pensamento: "Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do
Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de
Cristo, há muito aguardado, começará então? Possivelmente, mas, nós esperamos
para ver quão de perto o sétimo período de mil anos da existência do homem
coincide com o reinado milenar de Cristo [...] A diferença talvez envolva
apenas semanas, ou meses, não anos." (p. 115, § 30)
Os programas de Knorr
para o proselitismo e as projeções apocalípticas de Franz para 1975
combinaram-se para produzir um crescimento rápido no número de membros, tendo a
taxa de aumento anual alcançado um máximo de 13,5% em 1974. Tudo isto elevou a
assistência às reuniões nos Salões do Reino das Testemunhas de Jeová de cerca
de 100.000 pessoas em 1941 para cerca de 5 milhões em 1975. O crescimento desde
então tem sido mais lento, mas razoavelmente constante na maioria dos anos, com
o resultado de cerca de 11,5 milhões se terem reunido nos Salões do Reino na
primavera de 1992 para a comunhão anual das Testemunhas ou serviço de Memorial
comemorando a morte de Cristo com pão não fermentado e vinho tinto.
O Pr. Arnaldo B.
Christianini, em poucas palavras, caracterizou adequadamente a liderança de
cada uma destes três presidentes jeovaistas:
“Russel possuía
imaginação fertilíssima, elaborando muitos esquemas proféticos que culminavam
em datas definidas para certos eventos bíblico-históricos. Alguns foram
retificados, e outros abandonados totalmente. Rutherford era menos imaginoso,
porém, mais culto e sagaz, timbrava em modernizar as teorias russelitas. Knorr
pouca coisa acrescentou às bases doutrinárias da seita, e seu empenho é mais no
sentido de arranjar bases científcas ou fundamento nas línguas bíblicas
originais para o Jeovismo” (Radiografia do Jeovismo, p. 104)
Corpo
Governante das Testemunhas de Jeová em 1975
Durante a década de
1970 ocorreram mudanças na sede da Torre de Vigia no que diz respeito ao poder
presidencial. Primeiro, aceitou-se em teoria que a Igreja Cristã (que as
Testemunhas de Jeová acham ser a sua organização) não devia estar sob o
controlo de um homem, devia em vez disso ser governada por um coletivo similar
aos doze apóstolos. A diretoria de 7 membros da Sociedade Torre de Vigia de
Bíblias e Tratados de Pennsylvania tinha sido retratada anteriormente como
cumprindo esse papel, mas em 1971 foi criado um Corpo Governante alargado com
um total de 11 membros, incluindo os sete Diretores. O objetivo era demonstrar
que a liderança derivava a sua autoridade de uma fonte apostólica, e não da lei
que regulava as empresas da Pennsylvania.
Este novo Corpo
Governante foi exibido como mais uma evidência de que as Testemunhas de Jeová
se constituía na religião verdadeira, mas na realidade Nathan Knorr continuou a
governar as Testemunhas de Jeová tanto como Russell e Rutherford tinham feito
antes dele. Isto é, até 1975, quando membros do Corpo Governante começaram a
insistir em exercer os poderes que lhes eram conferidos em teoria, mas que na prática nunca lhes tinham sido
dados. Passando por cima das objecções de Fred Franz, o Corpo que ele tinha
sido instrumental em criar começou de fato a governar, de modo que quando
Nathan Knorr morreu em 1977, Franz herdou uma presidência esvaziada de poderes.
Franz também herdou uma
organização com problemas de descontentamento por causa do óbvio fracasso das
suas profecias sobre o fim do mundo no outono de 1975. Mesmo na sede de
Brooklyn pequenos grupos que se encontravam em privado para o estudo da Bíblia
começaram a questionar não só a cronologia baseada em 1914 que tinha produzido
a data limite de 1975, mas também o ensino relacionado de que a "chamada
celestial" de crentes terminou em 1935, sendo os novos convertidos depois
dessa data consignados a um paraíso terrestre como sua recompensa eterna.
Frederick
William Franz (1893-1992)
A organização religiosa
que até esta altura tinha crescido rapidamente começou a perder membros pela
primeira vez em décadas, à media que as pessoas que tinham esperado o Armagedom
em 1975 se foram desiludindo. Quando as perdas de membros ascenderam a centenas
de milhares - um fato ocultado pelas novas conversões nos
números publicados pela Sociedade, mas relatado num artigo de investigação do
Los Angeles Times de 30 de Janeiro de 1982 (pp. 4-5) - o presidente Franz e a maioria conservadora do
Corpo Governante tomaram ação. Na primavera de 1980 iniciaram ações
disciplinares contra os dissidentes, desmantelando os grupos independentes de
estudo da Bíblia na sede, e formando "comissões judicativas" para pôr
aqueles que eram vistos como cabecilhas em julgamento sob acusações de
"deslealdade" e "apostasia".
Quando esta purga
culminou na renúncia forçada e subsequente desassociação de Raymond V. Franz,
sobrinho do presidente e, tal como ele, membro do Corpo Governante (um
desenvolvimento que a revista Time achou merecer um artigo de página inteira na
edição de 22 de Fevereiro de 1982, p. 66), uma mentalidade de estado de sítio
apoderou-se da organização em todo o mundo. Mesmo Testemunhas que saíram
discreta e voluntariamente por razões pessoais foram denunciadas como desleais
e ordenou-se que fossem evitadas, sendo os seus anteriores amigos proibidos de
lhes dizer nem que fosse "um simples olá".
Assim, embora Frederick
W. Franz tenha servido como o principal teólogo da religião durante cerca de
cinquenta anos - desde o princípio da
presidência de Knorr em 1942 até à sua própria morte em 22 de Dezembro de 1992
- o fato de ele ter sobrevivido às suas
falsas profecias durante mais de quinze anos exigiu que impusesse uma mini inquisição
sobre os membros para poder manter em vigor o seu quadro doutrinal e
cronológico durante o resto da sua vida.
Milton
G. Henschel (1920-2003)
A escolha de Milton G.
Henschel como quinto presidente da Torre de Vigia em 30 de Dezembro de 1992 é
verdadeiramente significativa para os 13 milhões que agora frequentam os Salões
do Reino. À primeira vista, a escolha de um conservador firme para o lugar pode
parecer garantir uma continuação do status quo, com poucas mudanças no futuro
próximo para as Testemunhas de Jeová. Mas um olhar mais detido revela que esta
nomeação é a última posição da velha guarda conservadora - uma
indicação de que são iminentes mudanças radicais na liderança e nas doutrinas
da organização.
Aos 72 anos Henschel
tornou-se o segundo membro mais novo do Corpo Governante, e foi selecionado
para liderar por homens vários anos mais velhos que ele. (Tanto a média como a
mediana das idades na altura da nomeação de Henschel eram cerca de 82 anos.) Com
membros nos seus oitenta e poucos anos a dormirem durante as reuniões e a
votarem nas matérias depois de serem acordados (veja o relato de Raymond Franz
no seu livro Crise de Consciência, p. 40), o Corpo está a perder a sua
capacidade de providenciar uma liderança com objetivos e decisiva. Henschel foi
sem dúvida escolhido em parte devido a ter vitalidade que falta a outros.
Obviamente, estes líderes envelhecidos não poderão manter as rédeas do poder
durante muito mais tempo. Os homens que participaram na construção da Torre de
Vigia até torná-la naquilo que é hoje deixá-la-ão em breve para trás para
outros administrarem.
Nas décadas que se
seguiram à morte do fundador Charles Taze Russell, o seu sucessor J. F.
Rutherford viu-se obrigado a rescrever muitas das doutrinas principais da
religião. Pode-se esperar o mesmo quando as Testemunhas de Jeová de uma nova
geração herdarem as posições atualmente ocupadas por Milton Henschel e pelos
outros membros idosos do Corpo Governante. Quando os novos líderes assumirem o
controle, abandonarão a proibição de transfusões de sangue? Só o tempo o dirá.
Mas, mesmo que o façam, isso não fará diferença para aqueles que já morreram,
nem para aquelas Testemunhas que continuam a morrer enquanto o ensino continua
em vigor.
Crenças
Fundamentais das Testemunhas de Jeová
No que diz respeito à
verdade religiosa, as Testemunhas de Jeová desenvolveram um sofisticado sistema
de crença que acreditam ser “a verdade” do Evangelho. Convictas de que tem a
verdade, elas vão de casa em casa apresentar a outros o que elas consideram que
são os fatos necessários que se deve saber para que alguém também venham para
“a verdade”. Elas explicitam suas convicções religiosas em suas literaturas, a
exemplo de seus livros e as revistas Sentinelas e Despertai. Vamos aqui elencar
alguns pontos fundamentais de suas crenças. Quais sejam:
1) Elas acreditam que o
Reino de Deus foi estabelecido nos Céus ao fim dos “tempos dos gentios”, que
segundo seus cálculos proféticos, ocorreu em outubro de 1914, sendo proclamado
por eles, únicos que possuem “os olhos do entendimento”.
2) São unitaristas. Negam
a divindade absoluta e singular de Jesus Cristo. Não creem que Jesus seja Deus,
mas a primeiro ser criado por Jeová Deus.
3) Não creem na
ressurreição corporal de Cristo, mas sim que ressuscitou como um espírito.
4) São irreconciliáveis
inimigos da doutrina bíblica da Trindade. Ensinam que a doutrina da Trindade se
constitui num ensino pagão.
5) Negam a
personalidade e divindade do Espírito Santo. O Espírito Santo é descrito em
suas literaturas como sendo a “força ativa de Jeová”, como uma força impessoal.
6) Ensinam que a
transfusão de sangue é uma violação da lei de Deus, por isso não aceitam o uso
dessa técnica médica, mesmo ao custo de sua vida.
7) Negam a volta de
Jesus de forma visível, real e pessoal.
Acreditam que Ele já voltou de forma invisível em 1914. Nessa data Ele é
entronizado no Céu como Rei, dando início ao Seu Reino Teocrático.
8) Outra característica
sui generis das Testemunhas de Jeová é o desprezo pela formação em nível
superior de seus jovens. Estes são desaconselhados pelos pais e líderes da
religião a ingressarem nas Universidades.
9) Ensinam que o
Armagedom é a batalha que dentro em breve será ganha pelo povo de Jeová,
ajudada por Ele contra as religiões organizadas, os poderes políticos e
comerciais.
10) Defendem o estabelecimento dramático do Reino de Deus na
Terra através da Batalha final do Armagedom. Acreditam que Cristo reinará na
Terra durante o Milênio, durante o qual terá lugar a ressurreição e o
julgamento.
11) Chamam as leis e os governos terrestres de organizações do diabo. Dizendo-se súditos de Jeová não podem ser súditos de governos terrestres. Por isso, recusam-se a prestar homenagem à bandeira, servir às forças armadas e a votar em eleições políticas.
12) Ensinam que existem
duas esperanças para os cristãos: A celestial e a terrestre. Segundo eles, somente
os 144.000 de Apocalipse 7 e 14 têm esperança celestial, ou seja, acreditam que
o número 144 mil seja literal e que somente esses habitarão com Cristo no Céu.
Os demais farão parte da “Grande Multidão” que morarão no Paraíso terrestre que
Jeová irá construir.
13) São proibidas de
celebrarem aniversários, por acreditarem ser isso uma prática pagã.
Nossa intenção aqui não
é analisar à luz das Escrituras Sagradas cada um desses pontos das crenças dos
Testemunhas de Jeová, mas apenas relatar e descrever sua origem histórica e suas
principais crenças. Em nosso Blog “A Verdade Como é em Jesus”, pode-se
encontrar a refutação de muitas dessas crenças estranhas, com base nas Sagradas
Escrituras.
REFERÊNCIAS:
APOLINÁRIO, Pedro. As
Pretensiosas testemunhas de Jeová. 3ª ed. São Paulo: IAE, 1981.
BRITO, Azenilto G. O
Desafio da Torre de Vigia. 1ª ed. Tatuí, São Paulo: CPB, 1992.
CHRISTIANINI, Arnaldo B. Radiografia do Jeovismo, 1ª ed. São Paulo: CPB, 1975.
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