Teologia

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O QUE AS SAGRADAS ESCRITURAS DIZEM SOBRE O PIERCING?



Ricardo André

Temos notado que, à semelhança da tatuagem, o uso de piercings está se tornando cada vez mais popular entre os jovens e adolescentes de todas as camadas socioeconômicas. Esse fato decorre tanto pela procura de novidades - característica própria da juventude, quanto pelo estímulo indiretamente provocado pela mídia.

A adolescência é marcada pela procura de identidade e de independência, pela necessidade de experimentação, com oscilações e mudanças frequentes. Por influência de amigos, para participar de um determinado grupo social, por atrativo sexual, para esconder alguma imperfeição ou simplesmente por modismo, muitos adolescentes estão usando cada vez mais os piencings. Os adolescentes cristãos não estão isentos de tal influência. Muitos deles ao verem seus amigos usando piercings sentem desejo também de usá-los. Os pais devem dar orientações claras aos filhos, sobre todas as complicações que podem vir em curto e longo prazo. Mas, afinal o que é piercing? Quais são os riscos do seu uso para a saúde? Pode um cristão usar piercing? O que as Sagradas Escrituras dizem sobre os piercings?

Como cristãos precisamos estar absolutamente certos, com base na Bíblia Sagrada, de que a perfuração e a tatuagem do corpo são coisas lícitas, antes de nos engajarmos nestes comportamentos. O presente artigo foi preparado para ajudar aqueles jovens cristãos que têm alguma duvida se pode ou não colocar um pircing ou mesmo fazer uma tatuagem.

O que é piercing?

A expressão piercing tem sido usada para designar um tipo de adorno metálico inserido por perfuração em diversas partes do corpo, como no septo nasal, na boca e nos lábios, na língua, no lóbulo das orelhas e umbigo. O uso do piercing é milenar e era utilizada por vários povos por questões religiosas e culturais, como uma distinção de realeza, e mais recentemente como moda. A história desta prática teve sua origem com as primeiras comunidades e clãs das mais antigas raças humanas. Ela estava presente nas tribos de todo o planeta, nas castas indianas, entre os faraós egípcios e os soldados romanos. Nos séculos XVIII e XIX, este hábito se disseminou pela classe média e aristocracia, porém foi abandonado na Europa no século XX. A partir de 1970, porém, eclodiu mais uma vez através dos ícones da moda londrina e dos criadores artísticos que frequentam o circuito alternativo. Seu retorno atinge o ápice nos anos 1990, sendo praticado em todo o mundo.

Princípios Bíblicos Norteadores

A Bíblia Sagrada não fala diretamente a respeito de piercing, mas estabelece princípios que servem para nortear nossa decisão a respeito do assunto. Há pelo menos cinco princípios que podemos aplicar, para determinar se a perfuração e a tatuagem dos nossos corpos são ou não são lícitas.

a) Devemos glorificar a Deus em nossos corpos (I Co 6:19, 20)

Fomos comprados e redimidos a um elevado custo. Pertecemos a Deus e tudo que possuímos, inclusive nossos corpos. Fomos colocados por Ele na posição de  mordomos, ou seja, administradores das possessões de Deus. Embora I Coríntios 6:19-20 não se aplica diretamente a tatuagens ou piercings , ele nos dá um princípio : “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês” (Coríntios 6:19,20, NVI).

“O organismo vivo é propriedade de Deus. A Ele pertence pela criação e pela redenção; e pelo mau uso de qualquer de nossas faculdades roubamos a Deus da honra que Lhe é devida” (Ellen G. White, Conselho Sobre Regime Alimentar, p. 16). Esta grande verdade deve ter um impacto real sobre o que fazemos com o nosso corpo. Se nossos corpos pertencem a Deus, devemos nos certificar de que temos Sua clara “permissão” antes de “marcá-lo” ou “perfurá-lo”. Devemos levar sempre em consideração o seguinte princípio bíblico: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra coisa , fazei tudo para a glória de Deus” (I Coríntios 10:31).

Temos que exaltar Cristo em nossos corpos. O apóstolo Paulo ainda afirma: “Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei envergonhado. Pelo contrário, com toda a determinação de sempre, também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida quer pela morte” (Filipenses 1:20, NVI).  Se nós devemos glorificar a Deus em nossos corpos, como é possível que as perfurações dos nossos corpos glorifiquem a Cristo? Em 1Reis 18 encontramos a história de Elias contestando os profetas maus de Baal (um deus falso daqueles dias, cujos seguidores praticavam feitiçaria). Os profetas de Baal forçaram a si mesmos até se porem em um frenesi que tentava conseguir com que o deus deles, Baal, mostrasse ser mais poderoso do que o Deus verdadeiro e vivo. Ao contrário, o Deus de Elias provou ser Ele o único Deus verdadeiro. Durante o frenesi dos adoradores de Baal eles começaram a mutilar e desfigurar seus corpos conforme nós vemos a partir das Escrituras em 1Reis 18:28.

b) O homem, a “imagem e semelhança” de Deus não precisa de complemento (Gn 1:27)

Segundo o livro de Gênesis, o homem, coroa da criação de Deus, foi feito “a sua imagem e semelhança” (1:27). Desse modo, não precisa de complementos em seu corpo, pois já foi feito semelhante ao Ser mais perfeito do universo.

Fazer algum tipo de marca que mude esta imagem e que traga dor naquilo que é considerado o “santuário do Espírito Santo” (ver I Coríntios 3:16-17, 6:19-20) é demonstrar que não está contente com sua imagem (semelhante a de Deus) e desrespeitar a Deus.

Ademais, a Biíblia nos exorta: “Não façam cortes em seus corpos por causa dos mortos, nem tatuagem em si mesmos. Eu sou o Senhor” (Lv 19:28, NVI).

Sobre este texto assim se posiciona o Comentário Bíblico Adventista: “Pode se referir à tatuagem, um costume não imoral em si mesmo, mas indigno do povo de Deus, pois tende a macular a imagem do Criador” (vol. 1, p. 856 e 857).

Temos vistos os corpos daqueles que não somente perfuraram e tatuaram seus corpos, mas foram um passo além, realmente mutilando seus corpos. É repulsivo ver alguém deformar o corpo que o Senhor fez em perfeição.

c) Fazer somente aquilo que é respeitável (Fl 4:8)

As Sagradas Escrituras nos orientam a pensar e fazer, consequentemente, somente as coisas que são honoráveis e respeitáveis, e “fazer o que é correto aos olhos de todos” (Rm 12:17).

“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Filipenses 4:8, NVI).  

d) Nossa aparência exterior deve ser um público testemunho de piedade [dedicação a Deus] (2Cor 1:12; 1Tim 2:2,10; 4:7-8; 6:11; 2Tim 3:12; 2Pe 3:11).

O apóstolo Pedro nos admoesta: “Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa” (2 Pedro 3:11, NVI). Indubitavelmente, a aparência de muitos jovens tatuados e com piercings não revelam uma pessoa dedicada a Deus, como orienta a Bíblia, ao contrário, as perfurações revelam jovens com um estilo de vida licencioso, insubordinado, desordenado, depravado e pervertido (2Cor 12:20-21), embora nem sempre todos os que fazem uso das tatuagens e dos piercing são depravados e pervertidos. Mas, tais práticas estão sempre associadas a esse estilo de vida questionável.

e) Se há dúvida se o que fazemos agrada a Deus, é melhor não fazer (Rm 14:23)

Quando lidamos com uma questão controversa que a Bíblia não aborda especificamente, e se há espaço para a dúvida no tocante aquilo que fazemos (ou queremos fazer), então o bom senso sugere que é melhor não se envolver nessa atividade, uma vez que Romanos 14:23 nos lembra que “tudo o que não provém da fé é pecado”.  Vale ressaltar que uma significativamente grande parcela da sociedade brasileira de hoje acredita que as perfurações do corpo (à exceção das discretas perfurações de bom gosto das orelhas femininas) refletem um estilo de vida licencioso, insubordinado, desordenado, depravado e pervertido. Estas perfurações foram popularizadas na segunda metade do século XX por pessoas dentre a cultura pop conhecidas por seus pecaminosos, depravados, pervertidos estilos de vida. Por causa das conotações pecaminosas associadas com estas perfurações, este comportamento é questionável, na melhor das hipóteses. Consequentemente, os fiéis filhos de Deus devem se abster destas perfurações, uma vez que elas contrariam aos princípios bíblicos delineados aqui.

Os riscos das tatuagem e dos piercings

Os jovens precisam entender que as tatuagens e as perfurações no corpo, além de ser contrários aos princípios bíblicos, elas estão relacionadas com diversas doenças infecciosas. Segundo os profissionais da saúde, o principal risco é a transmissão da Hepatite B (HBV), da Hepatite C (HCV) e do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Sífilis, tétano, tuberculose cutânea e lepra são outras infecções que podem ocorrer.

Por exemplo, a piercing no nariz pode causar infecção com progressão da infecção para dentro da face. A infecção pode atingir o seio cavernoso - que é uma estrutura situada bem perto do cérebro, podendo gerar complicações para o sistema nervoso central e até a morte.

No uso oral pode levar à obstrução das vias aéreas, fratura dos dentes, interferência na mastigação e halitose e até a problemas de dicção quando o piercing é colocado na língua. Outro risco é de sangramento e mesmo hemorragia, com necessidade de intervenção cirúrgica.

Considerando que tais práticas podem trazer sérios riscos a saúde dos jovens, essas atividades devem ser evitadas pelos cristãos. Os cristãos devem praticar bons hábitos de saúde a fim de proteger  o comando central de seus corpos, que como vimos são templos para morada interior do Espírito Santos (I Co 6:19). A escritora cristã Ellen G. White afirmou: “Nosso primeiro dever para com Deus e nossos semelhantes é o do desenvolvimento próprio. Cada faculdade com que o Criador nos dotou deve ser cultivada ao máximo grau da perfeição, a fim de podermos fazer a maior porção de bem de que formos capazes. Logo é bem-empregado o tempo que se usa no estabelecer e preservar a saúde física e mental. Não podemos permitir que definhe ou invalide qualquer função do corpo ou da mente. É indubitável que ao fazermos isto sofreremos as consequências” (Conselho Sobre o Regime Alimentar, p. 15).

Diante do exposto, afirmamos que os jovens que querem ser fiéis a Deus não podem fazer tatuagens e nem usar os piercings. À semelhança do apóstolo Paulo, as únicas marcas que deveríamos trazer em nós deveriam ser aquelas em favor de Cristo: "Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus." Gálatas 6:17. Marcas do Senhor Jesus! É isso mesmo! Aceitar a Jesus como nosso Senhor e Salvador, seguir Seus desígnios e Seus caminhos trazem marcas. Depois de ser de Jesus você não é mais seu, você foi comprado (I Co 6:19 e 20) e leva as marcas de quem um dia lhe adquiriu com muito dar, com morte até: São marcas do amor. O amor é a grande marca de Jesus, e deve ser a maior marca de Seus discípulos (Jo 15:12, 13; 13:34 e 35). A marca da obediência. Jesus foi obediente em tudo ao Pai (Fl 2:5-8). Ele foi completamente obediente ao Pai até a morte na cruz para nos salvar. A obediência foi uma das marcas do Senhor Jesus, do apóstolo Paulo e deve ser a nossa marca como Seus discípulos.

Referências: 


Nisto Cremos: 27 Ensinos Bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia. 4ª ed. CPB. Tatuí, São Paulo: 1997.

WHITE, Ellen G. Conselho Sobre o Regime Alimentar. 12ª ed. Tatuí, São Paulo: 2010.

Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 1.

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