É PECADO CELEBRAR O NATAL?
Fernando
Dias
Descubra qual atitude o
cristão deve ter em relação à data
O Natal é, de longe, o
feriado mais movimentado do Ocidente. A expressividade da data no calendário é
tão intensa que o evento não se restringe ao dia 25 de dezembro, mas se
antecipa desde meados de novembro e se estende até o começo de janeiro. Nenhuma
outra data comemorativa recebe atenção tão prolongada. O Natal aquece o
comércio, movimenta as pessoas, une as famílias, comove os corações. Enfim, é impossível
passar despercebido.
Apesar de
tradicionalmente comemorar a data do nascimento de Jesus Cristo em Belém da
Judeia, o Natal tem sido uma pedra no sapado de alguns cristãos mais
conscienciosos. Isso porque, popularmente, as comemorações alusivas à data são
associadas a muitos elementos que transmitem tudo, menos os valores ensinados
por Jesus Cristo.
O Natal tornou-se uma
época de consumismo, bebedeira, glutonaria, autogratificação, superstição,
crendices e outros comportamentos que a Bíblia descreve como pecados que
desqualificam uma pessoa de integrar o Reino de Deus (Gl 5:19-21). Soma-se a
isso uma suposta origem obscura dos emblemas natalinos e de dúvidas quanto à
data em que é comemorado. Todas as tentativas sérias de determinar o dia em que
Jesus Cristo nasceu passam longe do dia 25 de dezembro. O astrônomo Colin J.
Humphreys, por exemplo, indicou, calculando eventos siderais, que Cristo deve
ter nascido entre 9 de março e 4 de abril do ano 5 a.C.
Clemente de Alexandria,
escritor cristão que viveu entre os anos 150 e 215, afirmou que o dia do
nascimento de Jesus foi 20 de maio. Muitos suspeitam que Jesus Cristo tenha
nascido nos meses de setembro e outubro, já que teria completado trinta anos
por ocasião de seu batismo, ocorrido muito provavelmente próximo ao início do
outono no hemisfério norte. As igrejas cristãs do Oriente celebram o Natal em 6
ou 7 de janeiro desde poucas gerações após a morte dos apóstolos. Outras datas
já foram sugeridas, mas nunca se chegou a um consenso sobre qual seria o dia
certo do nascimento do Salvador do mundo. Assim, saber que o dia em que se
costuma comemorar o Natal não marca a data exata do nascimento de Cristo
incomoda. Também as alegadas origens ocultas de algumas tradições natalinas
assustam aqueles que desejam evitar a prática de qualquer costume relacionado
às forças espirituais contrárias a Deus.
Essas preocupações têm
seu lugar. Cristãos que valorizam sua fé têm motivos para refletir se uma
festividade tão “mundanizada” como o Natal deva ocupar a extensão de tempo e a
importância que a ele dão as pessoas mais preocupadas com os prazeres festivos
e os lucros comerciais que com a espiritualidade. No entanto, é necessário
considerar algumas coisas a respeito do Natal.
Em nossa cultura, o
Natal é relevante demais para ser ignorado. Não basta simplesmente agir como se
esse dia, por não ser a data mais provável do nascimento de Jesus, possa ser
desprezado completamente. Tentar desconstruir o Natal com medo de sucumbir a
elementos não cristãos associados a essa festa é virtualmente impossível. Quem
tentar fazer isso vai acabar se preocupando com o Natal mais do que as pessoas
que simplesmente o comemoram.
Além disso, há vários
elementos positivos da tradição natalina que jamais devem ser desconsiderados
por pessoas que seguem Cristo. Atos de compaixão e solidariedade para com os
menos afortunados, ocasiões para reuniões familiares, cultos especiais
exaltando a importância da primeira vinda de Cristo ao mundo, um repertório
musical sacro que louva a encarnação de Cristo e a graciosidade de Deus em
conceder um Redentor para a humanidade são algumas dentre as muitas tradições
natalinas que combinam perfeitamente com uma prática cristã fiel às Escrituras.
Aliás, elas podem ser resgatadas durante todo o ano. Mas será que um cristão
deve evitá-las apenas por que é a ocasião do Natal e ele soube que Jesus não
nasceu no dia 25 de dezembro? Uma atitude radicalmente negativa quanto ao Natal
lembra a antiga história da mãe que banhou o bebê na bacia e, ao descartar a
água suja no terreiro, jogou fora a criança também.
Enfim, será que é sábio
desprezar todo o ensejo que o Natal proporciona para atitudes que combinam com
o Espírito de Cristo e se restringir a combater a festividade pelo que ela tem
de negativo? É algo para se pensar.
Não é imperativo
celebrar o Natal. Afinal, não se trata de uma celebração preceituada na Bíblia.
Mas, em função da sociedade em que vivemos, a época do Natal é culturalmente
muito favorável para se divulgar a mensagem de Cristo para pessoas que normalmente
passam o ano sem pensar muito nele.
Quanto aos enfeites,
como as árvores de Natal, que muitos alegam ser reminiscências de antigas
tradições pagãs, é importante saber que as coisas não têm “poderes malignos” em
si. Por exemplo, quem morar numa casa em que existiu anteriormente um templo
pagão só receberá influências espirituais das entidades ali outrora cultuadas
se demonstrar alguma devoção a elas. O mesmo vale para usar um objeto ou mesmo
consumir um alimento dedicado ao culto de falsos deuses. O apóstolo Paulo, em
Romanos 14 e 1 Coríntios 8, esclareceu que se servir de algo dedicado em um
culto idólatra só prejudica espiritualmente quem atribui um significado místico
a isso. Os enfeites de Natal, se é que um dia tiveram um emprego em rituais ocultistas,
atualmente não recebem nenhuma conotação exotérica. Objetos como copos, pratos
e talheres sempre foram empregados no cerimonial pagão e seria insano
demonizá-los por isso. Não há sentido em temer uma possível herança politeísta
dos enfeites de Natal, pois não estão de nenhuma forma relacionados hoje com a
adoração aos ídolos. Muito ao contrário, cristãos que reverenciam o único Deus
têm adornado seus lares ao longo dos séculos por ocasião do Natal sem
reconhecer nos enfeites qualquer simbolismo ocultista. Afinal, as coisas só têm
um significado místico para os que creem nesse significado.
Um cristão que
reconhece o que Cristo fez ao vir ao mundo não pode desprezar a oportunidade
cultural que o Natal proporciona de compartilhar a mensagem de Cristo e de
incentivar a adesão aos seus ensinamentos. O fato de a data não ter sido
estabelecida nas Escrituras não deve servir de impedimento para aproveitar o
contexto do Natal a fim de proclamar que Cristo veio ao mundo morrer pelos
pecados da humanidade e virá outra vez para conceder a vida eterna aos que
creram nele (Jo 3:16). O próprio Senhor Jesus celebrou uma festa não prevista
na Bíblia (Jo 10:22). Em vista disso, aproveite o Natal como ocasião de receber
Jesus como o presente de Deus e de oferecê-lo a outras pessoas como o grande
presente que Deus quer dar a todos. Um Presente que proporciona a libertação do
pecado e confere vida eterna.
Feliz Natal!
FERNANDO DIAS é pastor
e editor da Casa Publicadora Brasileira
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