Teologia

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

QUEM CONSTITUI BABILÔNIA?


Os adventistas do sétimo dia, como organização, ensinam ou creem que os membros das várias denominações protestantes, bem como das igrejas católica, grega e russo-ortodoxa, devem ser identificados com Babilônia, o símbolo da apostasia?

Admitimos plenamente o fato animador de que uma multidão de verdadeiros seguidores de Cristo está espalhada através das várias igrejas da cristandade, inclusive na comunidade católico-romana. A estes, Deus claramente reconhece como Seus. Tais pessoas não formam parte da “Babilônia” descrita no Apocalipse. A questão de lealdade e deslealdade à verdade é, enfim, uma questão de relacionamento pessoal com Deus e os princípios fundamentais da verdade. O que é denominado “Babilônia”, nas Escrituras, obviamente abrange aqueles que quebraram o espírito e a essência do verdadeiro cristianismo e seguiram o caminho da apostasia. Tais pessoas estão sob a desaprovação do Céu.

1. É necessário considerar a Base História. A fim de expor o que os adventistas do sétimo dia creem a respeito deste ponto, é essencial considerar primeiro os antecedentes das aplicações históricas que se estendem a uns oitocentos anos no passado. A mais primitiva aplicação do termo simbólico “Babilônia” ao papado, ou à Igreja Católica Romana, aparece nos escritos dos valdenses e albigenses do século 12. Mas, ao mesmo tempo que identificavam a dominante apostasia eclesiástica daquele tempo como sendo a organização descrita nas profecias bíblicas, também afirmavam que muitos dos filhos de Deus ainda se encontravam na Babilônia papal. E sentiam-se constrangidos a chama-los “para fora”, ou instar para que se separassem das apostasias de “Babilônia”. Depois, veio uma longa lista de católicos inclinados às coisas espirituais, que viveram nos séulos 14 e 15, incluindo o pseudo-Joaquim, Olivi, Eberhard, Wycliffe, Huss e Savonarola. Todos declararam ousadamente que “Babilônia” representa a corrupta igreja de Roma e advertiram sobre sua futura retribuição. E, por causa disso, muitos foram levados à fogueira.

2. Empregado Pelos Fundadores do Protestantismo. Durante a Reforma protestante, todos os líderes, a começar com Lutero em 1520, e daí para a frente, ensinaram praticamente a mesma coisa. Esse homens encontravam-se dispersos na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra. Neste último país havia homens como William Tyndale, os bispos Ridley e Hooper, o arcebispo Cranmer, os bispos Bale, Jewel e Coverdale; e John Knox e Lorde Napie, na Escócia. A carta de despedida de Ridley, antes de seu martírio em 1555, fazia reiteradas referências a “Babilônia” e evocava a separação de Roma.

3. Continuou Após a Reforma. Nos tempos posteriores à Reforma, cerca de trinta preeminentes expositores mantiveram a mesma posição, inclusive pessoas famosas como o rei Tiago I, Joseph Mede, Sir Isaac Newton, o bispo Thomas Newton, João Wesley (fundador do metodismo), Johann Bengel e várias outras pessoas da Europa continental. Mesmo na América colonial, John Cotton, Roger Williams, Increase Mather, Samuel Hoperkins e muitos outros, até o tempo do president Timothy Dwight, de Yale, em 1812, empregaram expressões semelhantes. Um deles foi o notável historiador batista Isaac Backus, que escreveu em 1767: “Ela [a igreja de Roma] é a mãe das prostituições, e todas as igrejas que vão após quaisquer amantes e não após Cristo em busca de uma existência temporal são culpadas de prostituição” (ver Profhetic Faith of Our Fathers, v. 3, p. 213). Antes disso, Roger Willians queixara-se ao Parlamento britânico de que os protestantes apegavam-se ao espírito e aos feitos da Babilônia papal.

Entretanto, diversos escritores protestantes da Europa da Europa mencionaram que Babilônia, a “mãe” de Apocalipse 17, possuía “filhas” que levava o mesmo nome de família. E, crendo que certas corporações protestantes retinham algumas características e erros do papado, começaram a incluí-las sob o nome familiar de “Babilônia”. Entre esses escritores encontravam-se não-conformistas como Browne, Barrow e John Milton.

4. Babilônia, Mãe e Filha. Nos primórdios do despertamento religioso do século 19, Lacunza, dentro do catolicismo, chamou Babilônia de “Roma sobre o tibre”. E vários líderes anglicanos e não-conformistas, como Cuningham, Brown, M’Neile e Ash, reforçaram a aplicação. A Associação Protestante, organizada no Exeter Hall em 1835, com homens como Croly e Melville, fez soar em 1839 o chamado para “sai de Babilônia”, incluindo tanto o protestantismo como o papismo.
E o Christian Herald (Arauto Cristão) de Dublin, dirigido pelo reitor anglicano Edward N. Hoare, declarou em 1830 que as abominações de Babilônia papal, a mãe, “cobriam toda a cristandade”. Alexander Fraser, da Escócia, e o anglicano David Simpson, da Inglaterra, mantinham opiniões semelhantes. Fraser disse que todas as igrejas estavam impregnadas do espírito de Babilônia. E Simpson declarou que as igrejas protestantes, de “qualquer denominação”, que participam do mesmo espírito, das mesmas doutrinas e circunstâncias devem ser consideradas filhas.

Na América do norte, omitindo Elias Smith e Lorenzo Dow, que escreveram fortemente sobre as filhas protestantes como estando relacionadas com Roma, Samuel M. McCorcle, ministro da Igreja dos Discípulos, declarou que o protestantismo fora embriagado com o vinho de Babilônia e sustentou que a “igreja-mãe” tinha filha protestantes. E o eminente clérigo Isaac T. Hinton (1799-1847) insinuava abertamente que as igrejas protestantes oficiais, devido à união com o Estado e à transigência, são filha de Babilônia.

5. Empregado no Despertamento do Advento. Então, durante o movimento do segundo advento na América, nas décadas de 1830 e 1840, entre as maiores corporações protestantes, houve crescente interdição contra aqueles que mantinham pontos de vista pré-milenistas, e crescente oposição eclesiástica à ênfase sobre o segundo advento, particularmente entre os metodistas e congregacionalistas da Nova Inglaterra, proibindo a disseminação do adventismo. Essa oposição promoveu a propagação do chamado para “sair” das igrejas que rejeitaram a mensagem do segundo advento e que aderiram às corruptas doutrinas de Babilônia. Foi assim que o “chamado” veio a ser proclamado nesse tempo. Não era uma condenação às pessoas piedosas nas várias igrejas protestantes, mas sim às atitudes e ações oficiais em rejeitar a verdade vital do segundo advento (Há um relato histórico em Profhetic Faith of Our Father, v. 1-4).

6. Mil Anos que servem de Precedente. À luz do registro histórico de um milênio, nada há de novo ou estranho com referência à aplicação que os adventistas fazem de um termo que fora usado constantemente por outras denominações, ao perceberem que a luz e a verdade haviam sido rejeitadas e combatidas. E a aplicação do termo “filhas” de Babilônia tem sido usada igualmente por volta de trezentos anos.

Grupos e organizações como os fundamentalistas, o Conselho Internacional das Igrejas Cristãs e a Associação Nacional dos Evangélicos afastaram-se das organizações mais antigas devido ao que acreditavam ser apostasia modernista, entretecida na liderança dominante de várias denominações.

7. Evidências de Afastamento. Esses são os precedentes históricos. Os adventistas creem que a expressão “Babilônia”, a que, a que se faz alusão em Apocalipse 17, tem sido aplicada corretamente ao papado. A grande Babilônia, no entanto, de acordo com o verso 5, é mencionada como “mãe”. Assim, o termo “Babilônia” também se aplica a outros. Portanto, cremos que onde houver pessoas ou grupos que adotem e defendam as doutrinas, as prática e os procedimentos anticristãos da igreja papal, podem ser acertadamente denominados de “Babilônia” – parte, portanto, da grande apostasia. Onde quer que prevaleçam tais condições, os adventistas, juntamente com outros, creem que as organizações culpadas podem ser apropriadamente chamadas de “Babilônia”.

8. Questão de Afinidade Pessoal. Cremos que as condições no mundo religioso irão piorar, não melhorar, ao nos aproximarmos do clímax do mundo (1 Tm 4:1, 2; 2 Tm 3:1, 5). E o abismo entre a apostasia e a fidelidade à verdade vai se tornar cada vez mais amplo à medida que a profecia se cumprir diante de nossos olhos. Mas as declarações que fazemos relativamente a Babilônia não tem o caráter difamatório que alguns querem atribuir-nos. São proferidas com pesar, não para comparações ofensivas.

Estamos cientes do fato de que ser membro de qualquer igreja não é, em si mesmo, evidência de comunhão com Cristo nem de fidelidade aos princípios fundamentais do evangelho. Como foi o caso de Israel no passado, a igreja cristã através dos séculos tem sido prejudicada pela presença de uma “mistura de gente” (Êx 12:38; Nm 11:4; 13:3). E isso é especialmente verdade nestes últimos tempos, em que muitos se afastaram da fé, como foi predito claramente na profecia bíblica (1Tm 4:1; 2Tm 4:3, 4). Cremos firmemente que Deus hoje convida Seus filhos a romperem com tudo o que é contrário aos princípios fundamentais e apostólicos da verdade.

Texto extraído do livro Questões Sobre Doutrina: o clássico mais polêmico da história do adventismo, CPB, 2008, p. 168-170.



Nenhum comentário:

Postar um comentário