Teologia

domingo, 9 de dezembro de 2018

DEIXE O SEU LIXO PARA TRÁS


Ricardo André


INTRODUÇÃO

Ao final do memorável Sermão da Montanha, Jesus deu um conselho a seus discípulos, dizendo-lhes: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mateus 7:13, 14, NVI). Nas suas palavras, Jesus descreve sinteticamente dois caminhos, sendo cada um descrito por seus marcos visíveis e por seu fim. Eles conduzem a dois destinos distintos. Um deles conduz através duma porta estreita que, vista de fora, não tem nada que a recomende, a vida eterna. Estranhamente, poucos encontram esta estrada. Está tão deserta que facilmente pode ser perdida. De outro lado, há uma avenida larga, ampla, espaçosa e extensa, com muitos fatores convidativos e que impelem a progredir nela. Ao seu fim há um portal amplo e imponente. Mas esta estrada e este portão, com todas as qualidades que os recomendam, com todos os convites para satisfazer-se no viver livre e desenfreado do mundo, conduz à destruição. Seu fim é a condenação eterna.  O que se nota de imediato nestes versículos é a natureza absoluta da escolha que se nos apresenta. Todos nós preferiríamos ter muito mais opções do que uma só, mas há uma só escolha, porque só há duas possibilidades. Só há dois destinos possíveis.  Somos confrontados a tomar uma decisão entre escolher um ou outro caminho. Moisés também tornou isso explícito, ao dizer para o povo de Israel: “Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal (...) a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas (…)” (Deuteronômio 30:15-19; Jeremias 21:8). Todos os seres humanos devem escolher sempre entre o reino de Satanás e o reino de Deus; a cultura prevalecente ou a cultura cristã.

O CAMINHO LARGO

O que é o caminho largo de que falou Jesus? É o estilo de vida adotado pela grande maioria das pessoa do mundo, em que há muito espaço nele para a diversidade de opiniões e a frouxidão moral. É o caminho da tolerância e da permissividade. É a vida desligada da lealdade a Jesus. As pessoas podem fazer ou ser o que desejar. Não tem freios nem limites de pensamento ou de conduta. Se você se sente bem, faça-o. Se o deixa eufórico, beba-o. Os resultados desse modo de vida são lares desfeitos, filhos abandonados, a AIDS aumentando em números geométricos, as cadeias repletas de criminosos e contraventores, e a corrupção tomando conta de quase todos os setores da sociedade. Enfim, essa é a correnteza na qual se envolvem todos os que acham que têm o direito de fazer o que pensam e de imitar o que os outros fazem.

Os que palmilham este caminho seguem as suas próprias inclinações, isto é, os desejos do coração humano em sua degradação. Superficialidade, egoísmo, hipocrisia, religião mecânica, falsa ambição, condenação; estas coisas não precisam ser aprendidas ou cultivadas. É preciso esforço para resistir a elas, e nenhum esforço para praticá-las. Por isso o caminho é largo e fácil. É o caminho aparentemente bonito, atraente aos olhos e que parece ser verdadeiro, mas termina em morte eterna (Provérbios 14:12).

Obviamente, não há limites para a bagagem que as pessoas podem levar com elas. Não precisam deixar nada para trás, nem mesmo seus pecados, a justiça própria ou o orgulho, a cobiça, o preconceito, o ódio e os vícios.  O caminho do mundo, dos incrédulos, daqueles que não são discípulos do Reino, é fácil de ser percorrido, pois tem amplo espaço para receber todos os tipos de pessoas, com muitas e diferentes ideias sobre os alvos e valores da vida. O caminho largo é o caminho da grande massa, por onde trilham todos os que andam o caminho do eu, a rota do pecado, que é o afastamento de Deus. É a estrada do fluxo cultural.

O CAMINHO ESTREITO

Por outro lado, o caminho de Jesus é estreito e possui igualmente uma porta estreita. Por que o caminho que conduz a vida eterna é estreito? Porque ele é assinalado por restrições. É estreito porque se baseia no amor a Deus e a Seus princípios delineados na Sua Palavra, e porque leva as pessoas a tratarem seu corpo com respeito. O caminho de Jesus é estreito porque proíbe retaliações, ódio, concupiscência e espírito condenatório. É estreito porque ordena àqueles que o percorrem que seja misericordiosos e pacificadores. É a estrada contracultural.

“O caminho ao Reino é difícil porque exclui todo o egoísmo e obriga a andar com poucas pessoas. Ser parte da maioria é sempre mais atraente. Viver com a minoria produz uma sensação de pouca importância e de fracasso. É um sacrifício. Mas o glamour da maioria é enganoso e o preço cobrado por isso pode ser a destruição. É muito melhor entrar pela porta estreita” (Mario Veloso, Mateus: Contando a História de Jesus Rei, CPB: 2006, p. 95).

Jesus disse: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24). Paulo disse: “Já estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). Para entrar no caminho apertado, precisamos deixar nosso lixo para trás: o pecado, a ambição egoísta, a cobiça. A porta estreita é, pois, a porta da abnegação e da obediência. Jesus era sincero. Ele ensinou claramente que as pessoas não podem entrar no reino com os braços cheios da bagagem deste mundo. No entanto, essa é uma coisa difícil de fazer. Afinal de contas, gostamos de nosso lixo. É interessante observar que, no trecho paralelo em Lucas 13:24, Jesus ensina a porta que conduz ao caminho da vida eterna não é de fácil acesso. "Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”, afirmou Jesus. O problema não é que a salvação seja difícil. Jesus está de braços abertos, convidando a todos que venham a Ele. O problema é que muitos de nós tentamos entrar pela porta carregando a bagagem do mundo.

A Bíblia não conhece religião fácil, que diz: Apenas creia e seja salvo. Ao contrário, a religião de Jesus ordena: “Creia, seja transformado, viva os princípios da Palavra de Deus e seja salvo”. Contudo, tornar-se como Jesus vai contra nossa inclinação natural. Envolve uma luta, um combate interno, tanto contra as potestades do mal como contra nós mesmos.

Render-se é uma batalha. A escritora cristã Ellen G. White afirma que “a vida cristã é uma batalha e uma marcha. Mas a vitória a ser ganha não é obtida por força humana. O campo de luta é o domínio do coração. A batalha que temos a ferir - a maior de quantas já foram travadas pelo homem - é a entrega do próprio eu à vontade de Deus, a sujeição do coração à soberania do amor. A velha natureza, nascida do sangue e da vontade da carne, não pode herdar o reino de Deus. As tendências hereditárias, os hábitos antigos, devem ser renunciados” (O Maior Discurso de Cristo, p. 141). Felizmente, não somos deixados sozinhos nessa batalha. Deus nos oferece o Espírito Santo e o ministério dos anjos. Ele está pronto a nos dar toda ajuda quando pedimos e buscamos. Ele conhece tanto as nossas fraquezas como a intensidade da batalha. Ele está mais disposto a perdoar-nos e ajudar-nos do que imaginamos. O campo de batalha é cada coração humano. Cada pessoa precisa escolher entrar pela porta estreita.

Como encontrá-la? Jesus disse: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo” (João 10:9). Alguns costumam dizer: “Todos os caminhos levam a Deus”. Isso não é verdade! Foi Jesus quem disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Portanto, “aquele que deseja entrar no reino dos céus, que quer ter “vida” e “vida em abundância, deve entrar por meio dEle; não há outro caminho (Jo 10:7-10)” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 371).

CONCLUSÃO

Jesus contrasta dois caminhos, duas portas, dois destinos. Ambas as portas estão abertas e convidando as pessoas. Uma abre sobre uma rua larga e cheia de gente que caminha para a destruição eterna. A outra porta abre-se para um caminho estreito e escassamente povoado que conduz à vida eterna. De acordo com as palavras de Jesus, há apenas dois caminhos: o difícil e o fácil (não existe um caminho do meio), nos quais se entra por duas portas, a larga e a estreita (não existe outra porta), que terminam em dois destinos, a destruição e a vida (não há uma terceira alternativa). Pela graça de Deus, aquele que trilhar o primeiro caminho, inevitavelmente haverá de passar pela porta que conduz à vida; é igualmente certo, porém, que aquele que se mantém no segundo caminho eventualmente haverá de entrar pela porta que conduz à destruição. 

Caro amigo leitor, qual estrada escolhe? Você pode escolher o caminho da vida, em que viaja com Deus, ou o caminho da morte, em que se acha bom o suficiente para chegar ao destino sozinho. A decisão sábia é o caminho da vida. Ele é estreito, a porta de entrada é igualmente estreita, a batalha talvez seja renhida, mas todos quantos verdadeiramente desejarem entrar, poderão fazê-lo e o farão, quando submeterem a vontade e o coração a Jesus. Ele quer que você abandone o seu “lixo”. Leve isso a sério.



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