A LUTA CONTINUA


 Ellen G. White*

A integridade cristã deve ser buscada com irresistível energia, e mantida com resoluta definição de propósito.

O que foi causado pelo pecado

Necessitamos entender mais claramente o que está em jogo no grande conflito em que nos achamos empenhados. Precisamos compreender com mais plenitude o valor das verdades da Palavra de Deus, e o perigo de permitir que nosso espírito seja delas desviado pelo grande enganador.

O infinito valor do sacrifício requerido para nossa redenção revela que o pecado é um tremendo mal. Pelo pecado, perturba-se todo o organismo humano, a mente é pervertida, corrompida a imaginação. O pecado tem degradado as faculdades do ser humano. As tentações exteriores encontram eco no coração, e os pés se volvem imperceptivelmente para o mal.

Como foi completo o sacrifício feito em nosso favor, assim deve ser a nossa restauração do aviltamento do pecado. Nenhum ato de impiedade será desculpado pela lei de Deus; injustiça alguma lhe pode escapar à condenação. A ética do evangelho não reconhece nenhuma norma senão a perfeição do caráter divino. [...]

Perseverança

Não se podem endireitar os erros, nem operar reformas na conduta mediante alguns fracos e intermitentes esforços. A formação do caráter não é obra de um dia, nem de um ano, mas de uma existência. A luta pela conquista do eu, pela santidade e o Céu, é uma luta que se prolonga por toda a vida. Sem contínuo esforço e atividade constante, não pode haver progresso nem ganho da coroa da vitória.

A mais vigorosa prova da queda do homem de uma mais elevada condição é o quanto lhe custa retroceder. O caminho de volta só pode ser conquistado por meio de renhida luta, palmo a palmo, hora a hora. Num momento, por uma ação precipitada, impensada, podemos lançar-nos sob o poder do mal; requer, porém, mais que um momento o quebrar as cadeias e atingir a uma vida mais santa. Pode-se formar o desígnio, começar a obra; sua realização, porém, requererá fadiga, tempo, perseverança, paciência e sacrifício.

Não nos podemos permitir agir por impulso. Não podemos estar despercebidos nem por um momento. Assaltados por inúmeras tentações, devemos resistir firmes, ou seremos vencidos. Se chegássemos ao fim da vida com nossa obra por fazer, isso importaria em perda eterna.

A vida do apóstolo Paulo foi um constante conflito com o próprio eu. Ele disse: “Dia após dia, morro” (1 Coríntios 15:31). Sua vontade e seus desejos lutavam cada dia com o dever e a vontade de Deus. Em vez de seguir a inclinação, ele fazia a vontade de Deus, embora crucificando a própria natureza.

Ao fim de sua vida de conflito, olhando para trás, às lutas e triunfos da mesma, pôde dizer: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto Juiz, me dará naquele dia” (2 Timóteo 4:7, 8).

A vida cristã é uma batalha e uma marcha. Nessa guerra não há trégua; o esforço deve ser contínuo e perseverante. É assim fazendo que mantemos a vitória sobre as tentações de Satanás. A integridade cristã deve ser buscada com irresistível energia, e mantida com resoluta definição de propósito.

Ninguém será levado para o alto sem árduo e perseverante esforço. Todos têm de se empenhar nessa luta; nenhuma outra pessoa pode combater os nossos combates. [...]

A ciência a ser dominada

Há uma ciência do cristianismo a ser dominada – ciência tão mais profunda, vasta e alta que qualquer ciência humana, como os céus são mais elevados do que a Terra. A mente deve ser disciplinada, educada, exercitada; pois nos cumpre fazer serviço para Deus por maneiras que não se acham em harmonia com nossa inclinação inata. As tendências hereditárias e cultivadas para o mal devem ser vencidas. Muitas vezes, a educação e as práticas de toda uma existência devem ser rejeitadas para que a pessoa se possa tornar um aprendiz na escola de Cristo. Nosso coração deve ser educado em se firmar em Deus. Cumpre-nos formar hábitos de pensamento que nos habilitem a resistir à tentação. Devemos aprender a olhar para cima. Os princípios da Palavra de Deus – princípios tão elevados como o céu e que abrangem a eternidade – cumpre-nos compreendê-los em sua relação para com a nossa vida diária. Cada ato, cada palavra, cada pensamento deve estar de acordo com esses princípios. Tudo deve ser posto em harmonia com Cristo, e a Ele sujeito.

As preciosas graças do Espírito Santo não se desenvolvem num momento. Ânimo, fortaleza, mansidão, fé e inabalável confiança no poder de Deus para salvar são adquiridos mediante a experiência de anos. Por uma vida de santo esforço e firme apego ao direito, devem os filhos de Deus selar seu destino.

Não há tempo a perder

Não temos tempo a perder. Não sabemos quão rapidamente nosso tempo de graça pode se encerrar. Quando muito, não teremos senão o curto intervalo de uma existência aqui, e não sabemos quão breve a seta da morte pode nos ferir o coração. Não sabemos quão pronto seremos chamados a abandonar o mundo e todos os seus interesses. Estende-se diante de nós a eternidade. A cortina está a ponto de se erguer. Uns poucos anos apenas, e para todos os que ora são contados entre os vivos, sairá o decreto: “Quem é injusto faça injustiça ainda; [...] e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda” (Apocalipse 22:11).

Estamos nós preparados? Conhecemos a Deus, o Governador do Céu, o Legislador, e a Jesus Cristo a quem Ele enviou ao mundo como Seu representante? Quando a obra de nossa vida terminar, estaremos aptos a dizer, como Cristo, nosso exemplo: “Eu Te glorifiquei na Terra, consumando a obra que Me confiaste para fazer; manifestei o Teu nome”? (João 17:4, 6).

Os anjos de Deus nos estão procurando atrair de nós mesmos e das coisas terrenas. Não os façamos trabalhar em vão.

As mentes que têm liberado as rédeas do pensamento precisam mudar. “Cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo Aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: “Sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pedro 1:13-16).

Os pensamentos devem se concentrar em Deus. Devemos exercer diligente esforço para vencer as más tendências do coração natural. Nossos esforços, nossa abnegação e perseverança devem ser proporcionais ao infinito valor do objetivo que perseguimos. Unicamente vencendo como Cristo venceu, havemos de alcançar a coroa da vida.

Constante dependência

O maior perigo do ser humano está em enganar a si mesmo, em condescender com a presunção, separando-se assim de Deus, a fonte de sua força. A menos que sejam corrigidas pelo Santo Espírito de Deus, nossas tendências naturais encerram em si mesmas os germes da morte. A menos que nos ponhamos em uma ligação vital com Deus, não podemos resistir aos profanos efeitos da satisfação própria, do amor a nós mesmos e da tentação para pecar.

Para que possamos receber auxílio de Cristo, devemos compreender nossa necessidade. Temos que conhecer-nos verdadeiramente. Unicamente ao que se reconhece pecador, pode Cristo salvar. Só quando vemos nosso inteiro desamparo e renunciamos a toda confiança própria, lançaremos mão do poder divino.

Não é apenas no início da vida cristã que se deve fazer essa renúncia. A cada passo de avanço em direção ao Céu, ela deve ser renovada. Todas as nossas boas obras são dependentes de um poder fora de nós; deve haver portanto um constante anelo do coração para Deus, uma contínua e fervorosa confissão de pecado e humilhação perante Ele. Cercam-nos perigos; e só estamos a salvo quando sentimos nossa fraqueza, e nos apegamos com a segurança da fé ao nosso poderoso Libertador.

Verdade ou trivialidade

Devemos desviar-nos de mil assuntos que nos convidam a atenção. Há assuntos que nos consomem tempo e suscitam indagações, mas acabam em nada. Os mais elevados interesses exigem a acurada atenção e a energia que são tantas vezes dispensadas a coisas relativamente insignificantes.

O aceitar teorias novas não traz em si nova vida. Mesmo o relacionar-se com fatos e teorias importantes é de pouco valor a não ser que sejam postos em uso prático. Precisamos sentir nossa responsabilidade de proporcionar alimento que nutra e incentive a vida espiritual. [...]

A questão que devemos estudar é: “Qual é a verdade – a verdade que deve ser acariciada, amada, honrada e obedecida?” Os adeptos da ciência têm ficado derrotados e abatidos quanto a seus esforços para encontrar a Deus. O que eles devem inquirir nestes dias é: “Qual é a verdade que nos habilitará a obter a salvação?”

Como responderemos?

“Que pensais vós de Cristo?” – eis a questão fundamental. Temos recebido a Cristo como um Salvador pessoal? A todos quantos O recebem, Ele dá poder de se tornarem filhos de Deus.

Cristo revelou Deus a Seus discípulos de modo que lhes operou no coração uma obra especial, tal qual Ele deseja realizar em nosso coração. Muitos há que, detendo-se demasiadamente na teoria, têm perdido de vista o poder vivo do exemplo do Salvador. Deixaram de vê-Lo como o humilde e abnegado obreiro. O que eles necessitam é contemplar a Jesus. Necessitamos diariamente uma nova revelação de Sua presença. Cumpre-nos seguir-Lhe mais de perto o exemplo de renúncia e sacrifício.

Carecemos da experiência possuída por Paulo ao escrever: “Estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gálatas 2:20).

O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo expresso no caráter é uma exaltação superior a tudo mais que se estime na Terra e no Céu. É a suprema educação. É a chave que abre as portas da cidade celestial. Deus designa que todos quantos se revestem de Cristo possuam esse conhecimento (CBV, p. 451-457).

*Ellen G. White (1827-1915) é considerada a autora norte-americana mais amplamente traduzida. Suas obras foram publicadas em aproximadamente 150 línguas. Guiada pelo Espírito Santo, ela exaltou a Jesus e apontou para as Escrituras como a base de sua fé.

 

FONTE:

Ellen G. White. A luta continua. In: Reavivamento verdadeiro: a maior necessidade da igreja. Trad. Márcio Dias Guarda. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p.51-54.

 

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