Ricardo
André
Com a aproximação do
dia 25 de dezembro, data em que o mundo cristão celebra o Natal do Senhor Jesus, muitos cristãos
adventistas mostram-se preocupados com o fato de muitas das nossas igrejas comemorarem
um festival de origem pagã. Vale ressaltar que o debate sobre se os cristãos
devem ou não celebrar o Natal tem sido discutido por séculos. Há cristãos
igualmente sinceros e comprometidos em ambos os lados da questão, cada um com
várias razões por que o Natal deve (ou não) ser comemorado em lares cristãos.
Entretanto, o que diz a Bíblia e o Espírito de Profecia? É o Natal uma festividade pagã? Devemos
celebrar o Natal de Jesus?
Em primeiro lugar,
vejamos alguns fatos. Ninguém sabe o dia em que Jesus nasceu. Certamente não foi
em 25 de dezembro. Não sabemos as razões reais pelas quais Deus omitiu a data
do nascimento de Jesus. Entretanto, Ellen G. White apresenta uma possível razão
para o ocultamento do dia. Ela afirma: “A Bíblia não nos informa a data precisa. Se
o Senhor tivesse considerado este conhecimento essencial para a nossa salvação,
Ele Se teria pronunciado através de Seus profetas e apóstolos, para que
pudéssemos saber tudo a respeito do assunto. Mas o silêncio das Escrituras
sobre este ponto dá-nos a evidência de que ele nos foi ocultado por razões as
mais sábias. Em Sua sabedoria o Senhor ocultou o lugar onde sepultou Moisés.
Deus o sepultou e Deus o ressuscitou e o levou para o Céu. Este procedimento
visava prevenir a idolatria. Aquele contra quem se haviam rebelado quando
estava em serviço ativo, a quem haviam provocado quase além dos limites da
resistência humana, era quase adorado como Deus depois de separado deles pela
morte. Pela mesma razão é que Ele ocultou o dia preciso do nascimento de
Cristo, para que o dia não recebesse a honra que devia ser dada a Cristo como
Redentor do mundo - Aquele que deve ser recebido, em quem se deve crer e
confiar como Aquele que pode salvar perfeitamente” (O Lar Adventista, p. 477).
Muitos estudiosos acham
que o Natal de Jesus deve ter ocorrido em setembro ou outubro. O dia 25 de
dezembro já era um feriado comemorado pelos romanos: era a festa do Sol
Invictus. Com o triunfo do cristianismo no Império Romano, esta data foi
escolhida pela Igreja Romana para a celebração do nascimento de Jesus.
O Comentário Bíblico Adventista informa que “foi só no 4º século da
era cristã que o dia 25 de dezembro passou a ser observado como aniversário.
Segundo o calendário Juliano, esta era a data do solstício de inverno, quando o
sol se volta em direção ao norte. Nas regiões pagãs, essa época era
marcada pelas celebrações festivas, conhecidas entre os romanos como a Sartunália,
realizadas em honra a várias divindades solares. Na igreja ocidental é que o
nascimento de Cristo foi primeiramente associada ao feriado pagão” (v. 5, p.
767).
Antes de concluirmos
que os adventistas nada têm a ver com o Natal, precisamos levar em consideração
alguns fatos:
1) Tanto para os
cristãos como para os não-cristãos, o dia 25 de dezembro é associado com o
nascimento de Jesus. Embora certos elementos como Papai Noel, festejos e
bebedice sejam uma herança do passado pagão, outros aspectos como corais e
histórias de pastores e magos apontam para um núcleo de significado cristão.
2) O mais importante não é a data, mas o evento.
A Bíblia revela que Jesus nasceu numa noite em Belém da Judeia (Lc 2:10, 11).
Isto é fato para nós. Logo, o estabelecimento do Natal celebra um evento
profundamente cristão, a encarnação de Jesus Cristo. O EVENTO celebrado é que
cristianiza a data.
3) O Natal se tomou uma
ocasião para reuniões familiares, por simples conveniência. Os feriados
públicos que caem nesse período tornam possível as viagens para visitar os
pais, os filhos, e os amigos. E os adventistas participam de tais oportunidades.
Que
Espécie de Testemunho?
É claro que os
adventistas poderiam se recusar a tomar conhecimento do dia 25 de dezembro e a
ter qualquer coisa a ver com o Natal. Poderíamos manter abertas as nossas instituições,
a exemplo das escolas e faculdades. Poderíamos deixar de realizar uma Programação
especial em nossas igrejas. Poderíamos recusar-nos a mencionar o nascimento de
Jesus, ou a reunir-nos com os queridos e amigos. Poderíamos recusar-nos a
realizar a ceia em nossos lares e a trocar presentes.
Em assim fazendo,
estaremos deixando claro que a festa celebrada no dia 25 de dezembro é de
origem pagã. Mas que espécie de testemunho estaríamos dando em favor de nosso
Senhor? Creio que nenhum!
E por que eliminar
apenas o Natal? Em muitos idiomas os nomes dos dias da semana também são de
origem pagã. Em inglês, domingo é Sunday, ou dia do Sol; Monday vem de
Moon-day, ou dia da Lua, e assim por diante. Para sermos coerentes, deveríamos
parar de usar tais nomes também.
A Bíblia tem vários
exemplos de símbolos pagãos que foram usados para expressar verdades eternas,
como a serpente no deserto que era símbolo de um deus egípcio e símbolo do
Dragão (Apo. 12), mas que Deus usou como símbolo de Cristo (João 3:14). A cruz
era símbolo de tortura e opressão pelos romanos mas Deus a usou para realizar a
expiação. O uso cristão desses símbolos modificou suas conotações.
Invertendo um pouco a
analogia, o arco-íris foi usurpado pelo movimento homossexual e tem hoje fortes
associações pagãs. Por que não vemos os críticos do Natal rejeitando o
arco-íris como um símbolo da promessa divina por causa dessa associação?
Não há dúvida de que
nossa cultura é uma amálgama de ideias e práticas procedentes de várias fontes.
A origem de algumas ideias se perdeu; outras, deixaram de ser importantes, como
é o caso dos nomes dos dias da semana. O cristão deve ser uma pessoa de sua
própria época, mas enraizado na filosofia das Escrituras, e sempre alerta para
o significado que a soberania de Jesus Cristo tem em sua própria cultura.
Creio que como
adventistas podemos deixar claro que o dia 25 de dezembro não é o dia do
nascimento de Jesus, mas não devemos deixar de nesse dia demonstrar nosso
regozijo pelo nascimento de Jesus, nosso Salvador e Senhor. Todos nós sabemos
que o Natal, há muito tempo, tem sido associado ao comércio, a Papai Noel,
bebidas, ao consumismo e muita comida. Devemos evitar tudo isso, podemos por
outro lado participar do júbilo e do espírito doador. Mas o cristão sincero não precisa fugir do que é bom
por causa dos excessos incentivados pelo mal. O mais importante é
depurar os equívocos, como a comercialização da data e enaltecer a celebração
de Cristo, nosso Salvador, mesmo que tenha sido instituída pelo catolicismo.
Ellen G. White nos
orienta nesse sentido. Ela afirma:
“Lembremo-nos de que o
Natal é celebrado em comemoração do nascimento do Redentor do mundo. Este dia é
geralmente gasto em festas e glutonaria. Grandes somas de dinheiro são gastas
em desnecessárias condescendências pessoais. O apetite e os prazeres sensuais
são satisfeitos a expensas da força física, mental e moral. Todavia, isto se
tornou um hábito. O orgulho, a moda e a satisfação do paladar têm tragado
imensas quantias que a ninguém, em verdade, beneficiaram, mas animaram uma prodigalidade
de meios desagradável a Deus. Esses dias são passados mais em glorificar ao
próprio eu do que ao Senhor. A saúde tem sido sacrificada, o dinheiro, pior do
que se fosse jogado fora; muitos têm perdido a vida. (Ellen G. White, Mensagens
aos Jovens, p. 311).
“As festividades de
Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é
glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para
sustentar”. (Ellen G. White, Manuscrito 13, 1896).
Com essa atitude
daremos um melhor testemunho de Jesus Cristo. E isto estará em harmonia com a
herança que os pioneiros do adventismo nos legaram — aqueles homens e mulheres
que tomaram suas próprias decisões ao lado do Senhor, ao deixarem de observar o
dia do Sol e ao passarem a observar o sábado bíblico. Afinal de contas, Ellen
White afirmou: “Sendo que o dia 25 de dezembro é observado em comemoração do
nascimento de Cristo, e sendo que as crianças têm sido instruídas por preceito
e exemplo que este foi indubitavelmente um dia de alegria e regozijo, será
difícil passar por alto este período sem lhe dar alguma atenção. Ele pode ser
utilizado para um bom propósito” (O Lar Adventista,478). E até mesmo
apoiou a colocação de uma árvore de Natal na igreja. Observe o que ela disse: “Deus
muito Se alegraria se no Natal cada igreja tivesse uma árvore de Natal sobre a
qual pendurar ofertas, grandes e pequenas, para essas casas de culto. Têm
chegado a nós cartas com a interrogação: Devemos ter árvores de Natal? Não
seria isto acompanhar o mundo? Respondemos: Podeis fazê-lo à semelhança do
mundo, se tiverdes disposição para isto, ou podeis fazê-lo muito diferente. Não
há particular pecado em selecionar um fragrante pinheiro e pô-lo em nossas
igrejas, mas o pecado está no motivo que induz à ação e no uso que é feito dos
presentes postos na árvore” (Idem, p. 482).
Ellen G. White ainda aprovou a celebração do Natal na igreja de Battle Creck, em dezembro de 1889. Note o que ela disse: “Na noite passada a celebração [da Véspera] do Natal foi realizada no Tabernáculo [de Battle Creck] e decorreu muito bem de maneira modesta, solene, e com gratidão expressa em tudo que se fez e disse, porque Jesus, o Príncipe da Vida, veio a nosso mundo como bebê em Belém, a fim de ser uma oferta pelo pecado. Veio cumprir a predição dos profetas e videntes que Ele mandara proferissem para cumprir os desígnios do Céu e confirmar Sua própria palavra nessa grande missão e obra. E por isso, toda pessoa está sob a mais solene obrigação e gratidão para com Deus, porque Jesus, o Redentor do mundo, comprometeu-Se a realizar a completa salvação de todo filho e filha de Adão. Se eles não aceitam o Dom celestial, só podem culpar-se a si mesmos. O sacrifício foi amplo, inteiramente de acordo com a justiça e a honra da santa lei de Deus. O Inocente sofreu pelos culpados, e isso deve suscitar abundante e completa gratidão” (Este Dia Com Deus, [MM 1980], p. 366).
Poucas semanas antes do
Natal de 1884, a mensageira do Senhor escreveu o seguinte: “Que todos tenham sabedoria para
torná-lo [Natal] um período precioso. Que os membros mais antigos da igreja se
unam, alma e coração, com seus filhos nessa diversão inocente e recreação, na
concepção de formas e maneiras de mostrar o verdadeiro respeito a Jesus,
trazendo-Lhe presentes e ofertas. Que cada um se lembre das reivindicações de
Deus. Sua causa não pode avançar sem sua ajuda. Que os presentes que geralmente
vocês têm dado uns aos outros sejam colocados no tesouro do Senhor” (Review and
Herald, 9 de dezembro de 1884).
Ellen G. White ainda aprovou a celebração do Natal na igreja de Battle Creck, em dezembro de 1889. Note o que ela disse: “Na noite passada a celebração [da Véspera] do Natal foi realizada no Tabernáculo [de Battle Creck] e decorreu muito bem de maneira modesta, solene, e com gratidão expressa em tudo que se fez e disse, porque Jesus, o Príncipe da Vida, veio a nosso mundo como bebê em Belém, a fim de ser uma oferta pelo pecado. Veio cumprir a predição dos profetas e videntes que Ele mandara proferissem para cumprir os desígnios do Céu e confirmar Sua própria palavra nessa grande missão e obra. E por isso, toda pessoa está sob a mais solene obrigação e gratidão para com Deus, porque Jesus, o Redentor do mundo, comprometeu-Se a realizar a completa salvação de todo filho e filha de Adão. Se eles não aceitam o Dom celestial, só podem culpar-se a si mesmos. O sacrifício foi amplo, inteiramente de acordo com a justiça e a honra da santa lei de Deus. O Inocente sofreu pelos culpados, e isso deve suscitar abundante e completa gratidão” (Este Dia Com Deus, [MM 1980], p. 366).
Penso que os cristãos devem
aproveitar o Natal como uma oportunidade para exaltar a Cristo e testemunhar do
Seu grande amor por nós.
Obviamente, não devemos
observar o Natal com qualquer pensamento de ser esse um dia santificado cuja
observância seja necessária à nossa salvação. Mas isto não quer dizer que haja
algum mal em aproveitar a época do ano em que o nascimento de nosso Senhor
possa ser especialmente relembrado, servindo-nos dessa ocasião par a passar um
período feliz e contente no círculo familiar.
Independente
do dia, Jesus nasceu e foi por você
Embora não exista
nenhum meio para sabermos o dia exato do nascimento de Jesus, este é um fato
histórico. “Por mais de mil anos aguardara o povo judeu a vinda do Salvador.
Nesse acontecimento fundamentara suas mais gloriosas esperanças. No cântico e
na profecia, no ritual do templo e nas orações domésticas, haviam envolvido o
Seu nome. Entretanto, por ocasião de Sua vinda, não O conheceram. O Bem-Amado
do Céu foi para eles "como raiz duma terra seca"; não tinha
"parecer nem formosura" Isa. 53:2; e não Lhe viam beleza nenhuma para
que O desejassem. "Veio para o que era Seu, e os Seus não O
receberam." João 1:11.” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p.
27.
O evangelho de João começa
assim: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle,
e, sem Ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nEle e a vida era a luz
dos homens.” (João 1:1-4).
Na Bíblia, o termo Verbo
refere-se a Jesus. “João usa o termo aqui como uma designação para Cristo, que
veio para revelar o caráter, a mente e a vontade do Pai, assim como uma fala é
a expressão das ideias da mente (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 989).
O Verbo, que tudo fez,
deixou Sua morada eterna para viver neste mundo caído. Como nos sentimos quando
temos de deixar nossa casa, um grupo de amigos ou quando temos que nos mudar?
Deixaríamos tudo o que temos para viver num lugar em que não seríamos reconhecidos?
Podemos imaginar a mudança que houve na vida de Jesus? Certamente, não podemos alcançar
a grandeza desse amor!
A prioridade de Jesus
era você, era eu, cada um de nós que O aceitamos em nosso coração. Por esse
motivo, Jesus deixou toda a perfeição celeste e veio a este mundo manchado pelo
pecado. Foi por você! Ou melhor, diga: Foi por mim que Jesus nasceu neste
mundo!
O texto bíblico de João
1 diz nos versos 10 e 11: “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por
intermédio dEle, mas o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu, e os Seus
não O receberam.”
Neste Natal devemos nos
lembrar de que essa celebração é a mais importante para este mundo. Lembra a vinda
do Filho Unigênito de Deus à Terra. Lembra o maior Dom de Deus aos homens, o
maior amor já demonstrado em nosso favor, pois foi por você e por mim que “o
Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14).
Ellen G. White descreve
belamente esse amor de Deus assim: “Todo o amor paternal que veio de geração em
geração através do coração humano, toda fonte de ternura que se abriu na alma
do homem, não passam de tênue riacho em comparação com o ilimitado oceano,
quando postos ao lado do infinito, inexaurível amor de Deus. A língua não o
pode exprimir, nem a pena é capaz de o descrever. Podeis meditar nele todos os
dias de vossa vida; podeis esquadrinhar diligentemente as Escrituras a fim de
compreendê-lo; podeis reunir toda faculdade e poder a vós concedidos por Deus,
no esforço de compreender o amor e a compaixão do Pai celeste; e todavia existe
ainda um infinito para além. Podeis estudar por séculos esse amor; não obstante
jamais podereis compreender plenamente a extensão e a largura, a profundidade e
a altura do amor de Deus em dar Seu Filho para morrer pelo mundo. A própria
eternidade nunca o poderá bem revelar. No entanto, ao estudarmos a Bíblia e
meditarmos sobre a vida de Cristo e o plano da redenção, esses grandes temas se
desdobrarão mais e mais ao nosso entendimento. E pertencer-nos-á a bênção que
Paulo desejava à igreja de Éfeso ao orar “que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, vos dê em Seu conhecimento o espírito de sabedoria e
de revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais
qual seja a esperança da Sua vocação e quais as riquezas da glória da Sua
herança nos santos e qual a sobre excelente grandeza do Seu poder sobre nós, os
que cremos”. Efés. 1:17-19” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 337).
Não devemos nos
esquecer nunca de que o Cristo humano era Deus conosco, “um Salvador”. Essa é a
mensagem de Natal, as “boas-novas de grande alegria” (Lc 2:10). Nasceu Emanuel!
Ele pode mudar o coração das pessoas, ressuscitar os mortos e salvar-nos da
destruição eterna. Mas fazer isso custou-Lhe a vida. Devemos sempre contemplar
Belém à luz do Calvário – contemplar a esperança que a manjedoura e a cruz nos
dão.
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