Teologia

domingo, 23 de janeiro de 2022

IDENTIFICANDO A IGREJA REMANESCENTE DA PROFECIA BÍBLICA – PARTE III


 Por Wilson Borba*

As características do povo que tem por missão manter erguida a verdade até os últimos dias da história

Neste artigo serão apresentadas mais características da Igreja Remanescente. Recomendo fortemente ao prezado leitor que, antes, leia os dois artigos anteriores:

Identificando a Igreja Remanescente da profecia bíblica – Parte I

Identificando a Igreja Remanescente da profecia bíblica – Parte II

A Igreja Remanescente da profecia bíblica será fiel a Cristo, à Sua eterna Aliança e ao Evangelho eterno. Como resultado, atrairá e enfrentará a ira de Satanás. O remanescente deve ter as Escrituras como a suprema regra de fé e prática para o cristão, e basear suas doutrinas na Bíblia completa (Isaías 8:20; Mateus 4:4, 7, 10; 5:18; Lucas 24:27; 2 Timóteo 3:16, 17; 2 Pedro 1:19-21; Apocalipse 12:1). [1] Em acordo com estes princípios, os adventistas do sétimo dia descobriram nas Escrituras um “completo sistema de fé e uma linha de práticas”. [2]

Especialmente “Daniel e Apocalipse constituem a base da compreensão que o adventismo tem de si mesmo”. [3] Estes livros são apresentados no “contexto da cosmovisão bíblica do conflito cósmico”. [4] A propósito, Apocalipse 11:19 a 14:20 é apontado como a seção do grande conflito entre Cristo e Satanás. [5] O capítulo 11:19 é a “cena introdutória”. [6] O capítulo 12 é um resumo do grande conflito desde o início da rebelião de Satanás, a transferência da controvérsia para a Terra, a vitória de Cristo e a guerra final contra o fiel remanescente que “guarda os mandamentos de Deus e mantém o testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17). Já os capítulos 13 e 14 descrevem como será essa guerra. Mas voltemos à cena introdutória.

“Abriu-se, então, o santuário de Deus que se acha no céu, e foi vista a arca da Aliança no seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, terremoto e grande saraivada” (Apocalipse 11:19). Que tremenda referência à arca da aliança do novo concerto no Santuário celestial! Dentro da arca, no antigo concerto, era guardada a sagrada Lei de Deus, os Dez Mandamentos (Êxodo 31:18; Deuteronômio 10:5). Portanto, Apocalipse 11:19 apresenta claramente a existência do Santuário do novo concerto no céu, a vigência da aliança eterna de Deus com Seu povo, a perpetuidade da Lei de Deus, inclusive a vigente santidade do sábado do quarto mandamento (Hebreus 13:20; Êxodo 20:1-20; Isaías 56:4-7; Apocalipse 14:7).

Lei imutável

Deus ainda requer obediência a todos os mandamentos de Sua Lei, porque “são as palavras da aliança, as dez palavras” (Êxodo 34:28; Hebreus 9:1-4; 13:20; 10:16-18; 1João 2:4; 5:3; Apocalipse 12:17; 14:12). A centralidade da Lei divina na aliança é atacada por Satanás como “ponto pivotal” do grande conflito, pois Satanás “está em guerra com a lei de Deus, a qual é o fundamento do governo divino no Céu e na Terra” [7] (João 16:44; 1João 2:4; 3:4; Apocalipse 12:17). Satanás guerreia contra a Igreja Remanescente, pois ela foi comissionada a pregar o Evangelho eterno da salvação em Cristo e convidar pessoas de todas as nações para também entrar no vínculo da santa aliança de guardar todos os mandamentos de Deus pela fé no Senhor e Salvador Jesus Cristo. Somente estes são chamados na Bíblia de “seguidores do Cordeiro por onde quer que vá” (Apocalipse 14:6-12, 4).

Portanto, o Evangelho eterno e a eterna Lei de Deus não são mutuamente antagônicos nem excludentes (Gênesis 26:5; Salmo 119:142; Mateus 5:18-27; Romanos 3:31; Gálatas 3:6-8; Apocalipse 12:17; 14:12). A Lei de Deus é “santa, justa e boa” e não rivaliza com o Evangelho, pois sua função não é salvar, mas definir o pecado (Romanos 7:7, 12). [8] Por sua vez, o Evangelho eterno engrandece a eterna Lei revelando Cristo e Seu sacrifício como única e definitiva solução divina para o pecado (Apocalipse 14:6; 13:8; 1 João 3:4; Romanos 3:22-25, 31; 1 João 3:4; 4:10). Por sua fidelidade em viver e proclamar as verdades para este tempo, o remanescente atrairá a ira de Satanás e dos “homens que amam as fábulas que ele imaginou” (2Timóteo 3:12). [9] Mas não temos o que temer, porque o “Cordeiro os vencerá, pois é Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os eleitos e fieis que se acham com Ele” (Apocalipse 17:14; Daniel 7:27).

A Igreja Remanescente da profecia bíblica tem seu sistema doutrinário integrado pelos conceitos da purificação do Santuário (Daniel 8:14) e das três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12. [10] “O assunto do Santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844” e “revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre si”. [11] Como os primeiros discípulos pela fé seguiram Jesus em Sua ascensão até o lugar santo do Santuário celestial (Hebreus 8:1, 2; 4:12), nossos pioneiros seguiram Jesus ao lugar santíssimo do mesmo Santuário (Apocalipse 14:4; 11:19). [12]

Uma questão de adoração

Viram que as mensagens dos três anjos “apontavam o caminho para o Santuário celestial” [13] e "a teologia do Santuário como proclamada na estrutura escatológica das três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12". [14] A propósito, “tanto a mensagem como a missão profética da Igreja Remanescente é apresentada em Apocalipse 14:6-12”. [15] Notavelmente, os conceitos da purificação do Santuário celestial (Daniel 7:9-14; 8:13, 14; Levíticos 16 e 23; Hebreus 9:23) e das três mensagens angélicas (Apocalipse 14:6-12) integram em Cristo o sistema doutrinário da Igreja Remanescente. [16] Jesus, o Autor das mensagens e centro da nossa esperança, está oficiando no Santuário (Hebreus 8:1, 2; Apocalipse 3:8; 11:19). A mensagem do primeiro anjo é parte integrante do Evangelho eterno do "Cordeiro de Deus que foi morto desde a fundação do mundo” [17] e ensinada nos sacrifícios e rituais simbólicos do Santuário terrestre (Apocalipse 13:8; Gênesis 22:8; João 8:56; Gálatas 3:8; Hebreus 8:5). [18]

Esse anjo anuncia a chegada do juízo investigativo pré-advento realizado por Cristo no santíssimo do Santuário celestial, cujo encerramento será antes de Seu retorno iminente, pessoal e pré-milenial à Terra (Apocalipse 14:6, 40; Atos 24:25; Romanos 14:10; 2Coríntios 5:10). Esse juízo é o mesmo anunciado em Daniel 7:9-14. [19] Em termos religiosos é a purificação do Santuário, conforme Daniel 8:13 e 14 (Levíticos 16:29-34; 23:26-32; Hebreus 9:23, 27-28). [20]

Adoração é o ponto focal em Apocalipse 13 e 14, onde aparece por sete vezes o verbo adorar. O primeiro anjo confronta a adoração à besta com o imperativo “adorai Aquele que fez o céu, a terra e o mar” (Apocalipse 14:7, 9-11). As palavras em itálico são parte do mandamento do sábado da Lei de Deus, na arca da aliança em Apocalipse 11:19 (Êxodo 20:8-11; 31:18). Já a expressão “fontes das águas” em Apocalipse 14:7 lembra Gênesis 7:11 e o juízo sobre o mundo ímpio da antiguidade. A adoração a Cristo como Criador, no conflito final, implica a guarda de todos os mandamentos, inclusive o sábado do quarto mandamento (João 1:1-3; Apocalipse 14:12). Somente o Deus Criador deve ser adorado (Êxodo 20:3, 8-11). E porque Ele é eterno, Sua Lei, Sua aliança e Seu sábado permanecerão eternamente (Hebreus 13:8; 1 João 5:20; Salmo 119:142; Isaías 56:4-6; 65:22, 23; Hebreus 13:20).

“A mensagem do segundo anjo foi pregada primeiro pelo movimento adventista conhecido como milerismo, no verão de 1844, sendo aplicada às igrejas que rejeitaram a mensagem do primeiro anjo a respeito do juízo”. [21] Assim como a mulher de Apocalipse 12 representa a Igreja de Cristo (Apocalipse 12:17; 19:7, 8; 22:17; 2Coríntios 11:1, 2; Efésios 5:23, 24), a mulher desprezível de Apocalipse 17, e citada em Apocalipse 14:8, é símbolo da “Igreja apóstata”, infiel à Lei de Deus. [22] Embora consecutivas, as três mensagens angélicas são conectadas entre si em uma “tríplice mensagem”. Por isso, “todas as três mensagens devem ainda ser proclamadas”. [23]

Finalmente, o terceiro anjo dá “a derradeira mensagem de advertência ao mundo”, para os homens verem “a importância que o Senhor dá à Sua lei”. [24] Este anjo amplia o tema da adoração, advertindo os homens quanto a adorar à besta e receber seu sinal. [25] E aponta novamente para o santíssimo do Santuário celestial ao apresentar os que rejeitam a adoração à besta: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12; 11:19). O poder denominado “besta” em Apocalipse 13 e 14 é o mesmo chamado de “chifre pequeno” em Daniel 8:9-12, e “homem do pecado” em 2 Tessalonicenses 2:3 e 4. Este sistema apóstata de adoração já tem guerreado contra o Santuário de Deus que está no céu, mas no conflito final, por meio de uma falsa aliança, atacará o sábado e a adoração ao único Deus Criador (Apocalipse 13:8-10; 14:7; 16:13, 14). Este poder expandirá a guerra impondo por lei seu sinal de autoridade (Apocalipse 14:9) em lugar do sinal da autoridade do Criador, o sábado do quarto mandamento. “Santificai os meus sábados, pois servirão de sinal entre mim e vós, para que saibais que Eu Sou o Senhor vosso Deus” (Ezequiel 20:20; Apocalipse 11:19; 14:12). “De todos os dez preceitos, só o quarto contém o selo do grande Legislador, Criador dos céus e da Terra”. [26]

Mensagem para este tempo

Nas Escrituras, a verdadeira guarda do sábado é o sinal de lealdade a Deus para todos (Ezequiel 20:20; Isaías 56:2-7). Já a observância do domingo é o sinal da autoridade da Igreja de Roma, ou “o sinal da besta”. [27] “Logo, a observância ao domingo será o sinal, mas isso só ocorrerá quando o poder da besta for reavivado e a observância do domingo no lugar do sábado se tornar lei”. [28] Embora seja uma terrível advertência, “a terceira mensagem angélica é a mensagem do evangelho para os últimos dias”. [29] Ela convida “o povo para receber a justiça de Cristo, que se manifesta na obediência a todos os mandamentos de Deus” (Apocalipse 14:12). [30]

A verdade presente da tríplice mensagem angélica conecta o ministério celestial de Cristo, a perpetuidade da Lei de Deus e do sábado, a segunda vinda de Cristo, a imortalidade condicional da alma e o dom de profecia (Apocalipse 11:19; 14:14, 13; 19:10). [31] Considerando que as palavras  τὴν πίστιν Ἰησοῦ em Apocalipse 14:12 podem ser traduzidas tanto por “fé em Jesus” como “fé de Jesus”, “o povo remanescente de Deus é caracterizado por uma fé semelhante àquela que Jesus possuía. Eles refletem a inabalável confiança de Jesus em Deus e na autoridade das Escrituras”. [32] Isto inclui, no sistema doutrinário da Igreja Remanescente, a totalidade dos ensinos das Escrituras.

Os adventistas do sétimo dia creem que são a Igreja remanescente da profecia bíblica. [33] O item 13 do compromisso descrito no Certificado de Batismo declara: “Aceito e creio que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a Igreja Remanescente da profecia bíblica e que pessoas de toda nação, raça e língua são convidadas a fazer parte de sua comunhão e são nela aceitas”.

É evidente que “a missão não pode existir sem mensagem, e a mensagem não pode existir sem missão”. [34] Cabe à Igreja Remanescente fazer poderosos apelos inclusivos a todos os sinceros filhos de Deus que ainda estão em Babilônia, para aceitar “as marcas bíblicas identificadoras através das mensagens dos três anjos (Apocalipse 14:6-12) e o convite final (18:1-4). O último convite é um chamado para “meu povo” (palavras de Deus) vir e unir-se ao remanescente visível escatológico”. [35] Os adventistas têm o dever de verdadeiramente viver, e anunciar em alto clamor a tríplice mensagem divina global “aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Apocalipse 14:6-12; 18:1).

 

Referências:

[1] Nisto cremos. 10ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2020, p. 11.

[2] WHITE, Ellen G. Mente, caráter e personalidade. 4ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, v. 2, p. 784.

[3] JOHNSSON, William G. “La victoria escatológica de los santos sobre las fuerzas del mal”, en Simposio sobre Apocalipsís – II, editado por Frank B. Holbrook, 1ª ed., Doral, FL: Asociación Publicadora Interamericana, 2011, p. 5.

[4] GULLEY, Norman R. Sistematic theology: The church and the last things. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2016, p. 4.

[5] MAXWELL, C. Mervyn. Uma nova era segundo as profecías do apocalipse. 3ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 318.

[6] Ibídem, p. 168, 169.

[7] WHITE. Fé e obras. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981, p. 25.

[8] KNIGHT, George R. Por la ruta de romanos. Miami: Asociación Casa Editora Interamericana, 2003, p. 173.

[9] WHITE. O grande conflito. 43ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 132.

[10] TIMM, Alberto R. O santuário e as três mensagens angélicas. 5ª ed., Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2009, p. 1.

[11] WHITE. O grande conflito. p. 422. Para estudar o tema do Santuário ver: SOUZA, Elias Brasil de. O santuário celestial no Antigo Testamento. Santo André, SP: Editora Academia Cristã, 2015; HOLBROOK, Frank B. O sacerdócio expiatório de Jesus Cristo, 1ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013; HOLBROOK, Frank B. À luz de hebreus. 2ª ed. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2013; GOLDSTEIN, Cliford. 1844. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

[12] SCHWARZ, Richard W. e GREENLEAF, Floyd. Portadores de luz. 2ª ed., Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016, p. 63-83.

[13] WHITE. Spiritual gifts. Ellen G. White Estate, 1858, 1:165.

[14] TIMM. O santuário e as três mensagens angélicas, p. 247.

[15] CANALE, Fernando. “On Being the Remnant”, em Journal of the Adventist Theological Society. 24/1, Seventh-day Adventist Theological Seminary Andrews University, 2013, 168. Para estudar mais o tema ver: LARONDELLE, Hans K. "O Remanescente e as Três Mensagens Angélicas”, editado por Raoul Dederen em Tratado de teología adventista do sétimo dia. 1ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 949-987.

[16] TIMM. O santuário e as três mensagens angélicas. p. 1, 117, 121.

[17] WHITE. O grande conflito. p. 312.

[18] Para um estudo sobre o ritual do Santuário ler: ANDREASEN, M. L. O ritual do santuário. 3ª ed. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1983.

[19] MAXWELL. Uma nova era segundo as profecias do apocalipse, p. 107-198; RODRIGUEZ, Angel Manuel. “Santuário”, em Tratado de teologia adventista do sétimo dia, p. 421-466.

[20] Para um estudo mais detido sobre o juízo investigativo pré-advento ver: WHITE. O grande conflito, 423-432, 479-491; HASEL, Gerhard F. “Julgamento Divino”, em Tratado de teologia adventista do sétimo dia. editado por Raoul Dederen, p. 904-948.

[21] NICHOL, Francis D. Comentário bíblico adventista do sétimo dia. 1ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014, v. 7, p. 917.

[22] WHITE. O grande conflito, p. 381; MAXWELL. Uma nova era segundo as profecias do apocalipse, p. 379.

[23] WHITE. Eventos finais. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, p. 199.

[24] WHITE. Evangelismo. 3ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012, p. 225.

[25] Para um estudo sobre este assunto ver: WHITE. O grande conflito, p. 433-460; Maxwell, Uma nova era segundo as profecias do apocalipse, p. 321-433.

[26] WHITE. Testemunhos para a igreja. 1ª ed., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012, v. 6, p. 350.

[27] WHITE. O grande conflito. p. 448.

[28] Comentário bíblico adventista do sétimo dia. v. 7, p. 910.

[29] WHITE. Conselhos sobre saúde. 4 ed., Tatuí, São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 524.

[30] WHITE. Evangelismo, p. 190. Para ler sobre a doutrina da justificação pela fé ver: BORBA, Wilson. “Justificação pela fé: sete verdades fundamentais” em Revista Norteteológico. Seminário Adventista Latino Americano de Teologia- Faama, 2012, p. 69-101.

[31] TIMM. O santuário e as três mensagens angélicas, p. 254.

[32] Nisto cremos. p. 216.

[33] GOLDSTEIN, Clifford. El remanente: ¿realidad bíblica o ilusión sin base?. Buenos Aires: Asociacion Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 13.

[34] CANALE, p. 168.

[35] GULLEY. Sistematic theology: The church and the last things, p. 473.

 

*Wilson Borba é Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, e pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul. Atualmente serve como pastor distrital no interior de São Paulo.

 

FONTE: Noticias Adventistas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IDENTIFICANDO A IGREJA REMANESCENTE DA PROFECIA BÍBLICA - PARTE II


 Por Wilson Borba*

Os ensinos e práticas da Igreja Remanescente são totalmente fundamentados nas Escrituras Sagradas

No artigo anterior, vimos que a Igreja Remanescente é profética e visível, sobrevivente e historicista, surgiu após 1798 em resultado de estudos integrados de Daniel e Apocalipse, e guarda os mandamentos de Deus. Demonstramos que nenhuma das denominações fundadas antes de 1798 poderia ser a Igreja Remanescente pois, segundo a profecia, o remanescente no tempo do fim, apareceria depois de 1798, após o longo período das perseguições papais. Lembramos que, várias denominações surgiram após 1798, mas, decisivamente, não podem ser a Igreja Remanescente, pois não tem as marcas bíblicas do remanescente.

Os que insistem em dizer que o remanescente escatológico é invisível devem compreender que: “Nunca houve um remanescente invisível, pois ao longo da história, o remanescente é conhecido pelas marcas identificadoras de sua época.  Não há remanescente invisível escatológico porque as marcas de identificação do remanescente escatológico separam aqueles que aceitam as marcas de identificação daqueles que ainda não aceitaram”. [1] Contudo, provavelmente, a marca mais crucial da Igreja Remanescente é a fonte exclusivamente bíblica de suas doutrinas. É o que fundamentalmente a diferencia de todas as demais igrejas e religiões.

"A Igreja Remanescente é enraizada no Antigo e no Novo Testamento, e tem um sistema teológico doutrinário integrado baseado nos princípios Sola e Tota Scriptura." Apocalipse 12:1 apresenta a Igreja verdadeira sob o símbolo de uma mulher radiante e visível com uma coroa de doze estrelas na cabeça (Isaías 60:1, 2; Mateus 5:14-16). Doze é o número do povo de Deus no Antigo e no Novo Testamento (Êxodo 28:21, 29; Marcos 3:13, 14; Apocalipse 21:12, 14). “Como no Antigo Testamento os doze patriarcas ocupavam o lugar de representantes de Israel, assim os doze apóstolos representam a igreja evangélica”. [2]

Logo, “A coroa com doze estrelas significa as doze tribos de Israel e os doze apóstolos, indicando a continuidade entre o povo de Deus do Antigo Testamento e a igreja Cristã”. [3] Portanto, a mulher em Apocalipse 12 “simboliza tanto a igreja do Antigo Testamento quanto a do Novo Testamento”.[4] Evidência disso, é que a mulher deu à luz a um Filho que há “de reger as nações” (verso 5). O Messias foi anunciado primeiro nas Escrituras do Antigo Testamento (João 5:39; Lucas 24:25, 27), conforme o próprio Novo Testamento menciona (Mateus 1:22; 2:6, 15; João 19:24, 36; Atos 2:25-28). Assim, a Igreja Remanescente está na continuidade da igreja do Antigo Testamento, e da igreja apostólica do Novo Testamento, cujos ensinos e práticas foram fundamentados somente nas Escrituras Sagradas, e em sua totalidade (Isaías 8:20; Mateus 4:4, 7, 10; 5:18; Lucas 24:27; 2 Timóteo 3:16; 2 Pedro 1:19-21; 3:15, 16).

Suficiência bíblica

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem um sistema teológico doutrinário integrado, baseado coerentemente nos princípios Sola e Tota Scriptura. [5] Sola Scriptura é um grande princípio bíblico fundamental de que somente as Escrituras Sagradas são a norma suprema da verdade. O texto clássico é Isaías 8:20: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”. À Lei e ao Testemunho dos Profetas. “As duas palabras torah (lei) e teudah (testemunho) apontam para os dois loci da autoridade nos dias de Isaías”. [6]

Jesus reconheceu esta divisão das Escrituras hebraicas (Mateus 5:17). Evidentemente, “O Novo Testamento acrescenta a revelação autorizada transmitida por Jesus e Suas testemunhas apostólicas (ver Ef 2:20; 3:5)”. [7] O grande princípio Sola Scriptura inclui a Primazia da Escritura.

A Bíblia está acima de qualquer outra fonte de conhecimento que ameaça usurpar sua autoridade definitiva. [8] Por exemplo, a tradição religiosa (Mateus 15:3, 6), a filosofia humana (Colossenses 2:8), e a ciência humana (1 Timóteo 6:20). Sola Scriptura também implica na Suficiência da Escritura “como única guia infalível da verdade” (Isaías 8:19, 20; Salmo 119:105; João 5:39; 17:17; 2 Timóteo 3:15-17; Hebreus 4:12; 2 Pedro 1:19, 20; Apocalipse 22:18, 19). “Toda outra fonte de conhecimento deve ser provada por esta norma infalível”. [9]

Já o segundo grande princípio no qual a Igreja Remanescente está firmada é o Tota Scriptura. Não é suficiente afirmar o Sola Scriptura, sua primazia e suficiência. É necessário também aceitar a totalidade da Escritura como inspirada por Deus, pois a Bíblia não contém a Palavra de Deus. Ela é a Palavra de Deus (Lucas 24:27; 2 Timóteo 3:16, 17).

Os Adventistas do Sétimo Dia descobriram na Bíblia um “completo sistema de fé e uma linha de práticas”. [10] Neste completo sistema de verdades estão agrupadas doutrinas como “a perpetuidade da Lei de Deus e do sábado, o ministério celestial de Cristo em duas fases, a segunda vinda pessoal e visível de Cristo, a imortalidade condicional da alma e a manifestação moderna do dom profético na pessoa e escritos de Ellen G. White”. [11]

Por sua coerência com os grandes princípios Sola e Tota Scriptura, a Igreja Remanescente rejeita os projetos teológicos católico-romano e protestante, os quais tiveram influência da tradição dos Pais da Igreja, marcados pela filosofia grega. “Agostinho batizou no cristianismo a intuição de Parmênides sobre a natureza da realidade, a cosmologia de Platão e a compreensão de Aristóteles sobre Deus”. [12] Como resultado, “gradualmente o Deus atemporal de Parmênides (c. 540-470 a.C.), Platão (c. 427-c. 347 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.), e Plutarco (c. 45-125) substituiu o Deus das Escrituras na teologia Cristã”. [13]

Tradições errôneas

Entre outros, os seguintes ensinos devem ser rejeitados, pois não são bíblicos, mas somente tradições eclesiásticas: imortalidade da alma, tormento eterno, purgatório, batismo de criancinhas, santificação do domingo, veneração de imagens, mediação de Maria e de todos os santos, indulgências, confissão auricular, papado, infalibilidade papal, sacerdócio hierárquico, transubstanciação, e celibato sacerdotal. Como mencionado, a Igreja Remanescente também rejeita o projeto teológico protestante, pois, apesar de professar fidelidade ao princípio Sola Scriptura os protestantes não produzem teologia somente da matriz bíblica, pois “na prática, continuam a produzir suas teologias a partir da matriz das fontes múltiplas”. [14]

Por exemplo: a adoção agostiniana pagã do conceito de um Deus fora do tempo pelos protestantes tem resultado na aceitação de conceitos não bíblicos como imortalidade da alma, predestinação, antinomianismo e, uma vez salvo, para sempre salvo. Não há agora espaço para falar da crença no evolucionismo e do método crítico-histórico do iluminismo racionalista em âmbitos católicos romanos e protestantes.  Devemos lembrar, porém, que: “Diferentes fontes para a reflexão teológica têm levado a diferentes correntes teológicas, com o resultado natural de dividir o cristianismo em várias práticas, igrejas ou denominações conflitantes”. [15]

Característica distintiva

A Igreja Remanescente tem o testemunho de Jesus. “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17). Os textos a seguir explicam o significado da expressão “testemunho de Jesus”. “Prostrei-me aos seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantém o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (Apocalipse 19:10). “Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Apocalipse 22:9).

Estes dois textos são semelhantes, e as expressões “testemunho de Jesus” e “espírito de profecia” estão em paralelo com “profetas”. “Essas expressões paralelas deixam claro que são os profetas que possuem o “testemunho de Jesus”. [16] A propósito, “considerando que os restantes de Apocalipse 12:17 constituem uma referência específica à igreja após o fim dos 1260 dias proféticos dos versos 6 e 14, isto é, após 1798, a passagem demonstra ser uma predição clara da manifestação do “espírito” ou do “dom” de profecia na igreja em nossos dias”. [17]

Para Stefanovic, “Apocalipse 12:17 declara claramente que o remanescente de Deus no tempo do fim é caracterizado por uma posse especial do testemunho de Jesus dado por meio daqueles que foram chamados por Deus para serem seus profetas”.[18] Os profetas foram porta-vozes de Deus ao Seu povo, e a outras nações (Isaías 1:1; 10:5; 13:1; Jeremias 1:5). De fato, “...o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Amós 3:7).

Eles guiaram em segurança o povo em tempos de crise, promovendo a unidade, e a confiança na liderança divina. “Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis” (2 Crônicas 20:20). Eles atuaram como reformadores do povo, e restauradores das instituições divinas (1 Reis 18:20-40; Isaías 58:13, 14; Mateus 3:1-10).  Se no passado, Deus deu este dom para guardar Seu povo, porque não o concederia no perigoso tempo do fim, precedente à segunda vinda de Cristo? (Mateus 24:5, 10-12; Marcos 13:22; Lucas 18:8; 2 Timóteo 3:1-5). Infere-se pela profecia de Apocalipse 12 que, o Senhor deu também este dom a Sua Igreja Remanescente, a fim de protegê-la das armadilhas de Satanás no conflito final (Apocalipse 12:17).

Portanto, o dom profético concedido - o testemunho de Jesus - “corresponde a uma característica distintiva da igreja remanescente”. [19] O dom de profecia prometido foi inconfundivelmente manifestado na Igreja Adventista do Sétimo Dia, no longo e profícuo ministério de Ellen G. White. [20] Porém, é crucialmente importante esclarecer que seus escritos, embora inspirados por Deus, não tem o mesmo nível de autoridade que a Bíblia, pois, conforme a crença fundamental número um da Igreja Adventista do Sétimo Dia, “As Escrituras Sagradas são a suprema, autoritativa e infalível revelação de Sua vontade. Constituem o padrão de caráter, a prova da experiência, o definitivo revelador de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na História (Salmos 119:105; Provérbios 30:5, 6; Isaías 8:20; João 17:17; 1 Tessalonicenses 2:13; 2 Timóteo 3:16, 17; Hebreus 4:12; 2 Pedro 1:20, 21). [21]

A propósito, o dom profético pós-bíblico manifestado no tempo do fim, tem função semelhante ao dom profético de Natã, Gade, Asafe, Semaías, Azarias, Eliézer, Aías, Obede, Miriã, Débora, Hulda, Simeão, João Batista, Ágabo, Silas, Ana e as quatro filhas de Filipe que não tiveram seus escritos registrados nas Escrituras. [22]  “O mesmo Deus que falou por meio dos profetas que escreveram a Bíblia inspirou esses profetas e profetisas. Suas mensagens não entraram em contradição com a revelação divina previamente registrada”. [23] Os escritos de Ellen G. White, não foram dados como adição ou substituição às Escrituras, mas para levar os negligentes de volta à Bíblia.

“Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior. Oh! quanto bem poderia ser feito se os livros que contêm esta luz fossem lidos com a resolução de se executarem os princípios que eles contêm! Haveria uma vigilância mil vezes maior, um esforço abnegado e resoluto mil vezes maior”. [24] Sim, está escrito: “mil vezes maior”! Nunca vi alguém se perder por ler O Desejado de Todas as Nações. [25] Apelo a você, amigo, para que leia a Bíblia e os livros do Espírito de Profecia. E, por favor, ore pelo terceiro artigo desta série.

 

Referências

[1] Norman R. Gulley, Systematic Theology: The Church and the Last Things (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2016), p. 473.

[2] Ellen G. White, Atos dos apóstolos, 9ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 19.

[3] Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ, 2ª ed., (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009),  p. 388. A seguir: Stefanovic.

[4] Francis D. Nichol, ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 7, p. 893.

[5] Para um estudo mais detido ver: Fernando Canale, Princípios elementares da teologia cristã: a Bíblia substituindo a tradição, 1ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2018). A seguir: Canale. Ver também: Raúl Kerbs, El problema de la identidad bíblica del cristianismo: las presuposiciones filosóficas de la teología cristiana desde los pressocráticos al protestantismo (Libertador San Martin, Argentina: Universidad Adventista del Plata), 2014).

[6] Raoul Dederen, ed. Tratado de teologia adventista do sétimo dia, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), p. 70.

[7] Ibidem, p. 71.

[8] Ibidem.

[9] Ibidem.

[10] Ellen G. White, Mente, caráter e personalidade, 3ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), v. 2, p. 784.

[11] Alberto R. Timm, O santuário e as três mensagens angélicas, 5ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2009), p. 1.

[12] Canale, p. 62.

[13] Norman R. Gulley, Sistematic Theology: God as Trinity (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2011), p. 179, 180.

[14] Canale, p. 27.

[15] Ibidem, p. 22.

[16] Nisto cremos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2020), p. 283, 284.

[17] Francis D. Nichol, ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), v. 7, p. 973, 974.

[18] Stefanovic, p. 560, 561.

[19] Nisto cremos, p. 284.

[20] Para estudar Ellen G. White, e seu ministério profético ver: Alberto R. Timm e Dwain N. Esmond, Quando Deus fala, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), p. 291-489; Arthur L. White, Ellen G. White, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016).

[21] Nisto cremos, p. 11.

[22] Ibidem, p. 286

[23] Ibidem.

[24] Ellen G. White, Review and Herald, 20 de janeiro de 1903.

[25] _______, O Desejado de Todas as Nações, 22ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013).

 

*Wilson Borba é Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, e pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul. Atualmente serve como pastor distrital no interior de São Paulo.

 

FONTE: Noticias Adventistas

 

 

IDENTIFICANDO A IGREJA REMANESCENTE DA PROFECIA BÍBLICA - PARTE I


 Por Wilson Borba*

De acordo com o texto bíblico e uma linha de interpretação histórica, como é possível entender as características de uma igreja remanescente?

O tema do remanescente bíblico se encontra em cada livro do Antigo Testamento. [1] O Antigo Testamento usa a palavra sherit para descrever três tipos de povos remanescentes. Um é o remanescente sobrevivente de alguma catástrofe (2Reis 19:31; 25:11; 2Crônicas 34:21; Jeremias 52:15; Ezequiel 9:8). Outro é o remanescente fiel à aliança com Deus (Deuteronômio 30:1-3; 1Reis 19:10, 18; 2Crônicas 30:6, 11). E, finalmente, temos um remanescente escatológico, nos dias finais da história (Daniel 7:25, 27; 12:1; Apocalipse 12:17; 14:12). [2]

Estas características, no entanto, podem fazer parte de um mesmo remanescente. Elias é um exemplo de remanescente sobrevivente, perseguido, e fiel (1 Reis 16:29-33; 18; 19:14). Ele também simboliza o remanescente fiel do tempo do fim que, em meio à apostasia generalizada, restaura a adoração verdadeira, e instituições divinas (1 Reis 18:30-40; Malaquias 4:4, 5). Segundo Ellen White, “Deus sempre preservou um remanescente para O servir”. [3] A necessidade da existência do povo remanescente de Deus é tão crucial, que “onde não há remanescente, já não há futuro”.[4]

Características da igreja remanescente

A Igreja remanescente é profética e visível. Em um certo dia, levei um topógrafo a um terreno, a fim de fazer a topografia do mesmo. Ele observou os marcos antigos, que mostravam os limites do terreno. Então, fez um minucioso levantamento topográfico para ver melhor as características do mesmo, e comprovar sua localização exata.

A propósito, as Escrituras Sagradas revelam, claramente que Deus tem Seu povo remanescente sobre a terra. Na Sua Palavra profética, Ele colocou características ou marcas inconfundíveis em Sua Igreja Remanescente, tornando-a distinta, e a mais visível possível. Como se fosse um farol para que, na escuridão espiritual dos últimos dias, ninguém seja enganado.

A Igreja Remanescente é profética, pois tem “raízes proféticas”, “identidade profética”, “mensageira profética” e “mensagem profética”. [5] Mas, assim como o topógrafo, munido de aparelho autorizado e comprovado, examinou o terreno, e fez o levantamento de suas características, é necessário orar pela iluminação do Espírito Santo. E estudar a fidedigna Palavra de Deus, a Santa Bíblia, e suas profecias, a fim de conhecer as marcas inconfundíveis da Igreja Remanescente.

Linha historicista

A Igreja Remanescente é sobrevivente, e historicista. “Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça” (Apocalipse 12:1). Esta mulher radiante é a noiva pura de Cristo (Apocalipse 12:17; 19:7, 8; 22:17). Ela “representa os fiéis de Deus de todos os tempos, embora a ideia central em Apocalipse 12 é o período subsequente à vinda de Cristo”. [6]

Assim como ao longo da história ela sobreviveu à perseguição de Satanás, o remanescente final de Deus na terra é um sobrevivente histórico. “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência...” (Apocalipse 12:17). O povo de Deus do tempo do fim é sobrevivente, porque é o “restante” da descendência da Igreja verdadeira perseguida através dos séculos. Esta palavra é tradução do grego loipos.

Significa os que “sobraram” ou “remanescentes”. [7] Ele sobrevive à apostasia religiosa, e a perseguição do dragão no tempo do fim (Apocalipse 14:1-5, 12). A Igreja Remanescente da profecia bíblica é uma entidade real, histórica, que deve ser identificada pelo método historicista, pois, os acontecimentos na linha do tempo histórico reivindicam a veracidade da profecia.[8] “Desde o início, os Adventistas do Sétimo Dia seguiram o método histórico de interpretação profética para explicar os símbolos e seu significado. Algumas vezes, essa abordagem é chamada de método historicista, ou método contínuo histórico”. [9]

Relação com Daniel e Apocalipse

A Igreja Remanescente surgiu após 1798, em resultado de estudos integrados de Daniel e Apocalipse. Suas raízes estão em Daniel 7, 8 e Apocalipse 10.[10] Estes capítulos integrados, apontam para o tempo do seu surgimento. A profecia de Daniel 7 repete com mais detalhes a sequência de reinos apresentada no capítulo 2. [11] O leão alado é Babilônia (605-539 a.C.); o urso é a Medo-Pérsia (539-331 a.C.); o leopardo de quatro asas e quatro cabeças é o império grego (331-168 a.C.).

O animal terrível e espantoso representa Roma imperial (168 a.C.-476 d.C.). Já os dez chifres sobre a cabeça simbolizam as tribos bárbaras, que formaram as nações da Europa. E o chifre pequeno é Roma papal, que perseguiu o povo de Deus por “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” ou “1260 dias” proféticos (Daniel 7:25; Apocalipse 11:3; 12:6, 14; 13:5). Deve-se considerar que nas profecias apocalípticas, um dia equivale a um ano (Ezequiel 4:6, 7; Números 14:34). [12]

A história confirma que a perseguição papal, na Europa, durou 1260 anos, de 538 e 1798, quando o general francês Berthier entrou em Roma, e aprisionou o papa Pio VI. [13] Já os 2.300 dias proféticos, descritos em Daniel 8:14, representam 2.300 anos. Este longo período iniciou em 457 a.C., e terminou em 1844. Esta profecia aponta o início do juízo investigativo pré-advento, descrito no capítulo 7. [14] Por sua vez, em Daniel 12:4, um Ser declara que este livro permaneceria selado até o tempo do fim, quando muitos o esquadrinhariam, e o conhecimento dele se multiplicaria. O verso 7 diz que isso aconteceria “depois de um tempo, tempos, e metade de um tempo”.

Este é o mesmo período dos 1260 anos. Portanto, já sabemos que o tempo do fim iniciaria após 1798. E que, conforme o profeta Daniel, neste tempo: “maravilhosa luz iria brilhar sobre as profecias do tempo do fim, apresentadas no livro”. [15] Em Apocalipse 10:1, 2 o mesmo Ser de Daniel 12 apresenta um “livrinho” que seria aberto no tempo do fim, proclamando: “Já não haverá demora” (vs. 6).  Este é o livro bíblico de Daniel. “A passagem que, mais que todas as outras, havia sido tanto a base como a coluna central da fé do advento, foi: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado (Daniel 8:14)”.[16] Apesar da clareza bíblica, nossos pioneiros inicialmente não compreenderam que o Santuário a ser purificado é aquele que “está no Céu” (Apocalipse 11:19; Hebreus 8:1, 2; 9:11, 23-24).[17] Embora tenha-lhes sido “doce” pregar a segunda vinda de Cristo, sofreram um amargo desapontamento, já predito em Apocalipse 10:8-10. [18]

Era cristã

Por sua vez, Apocalipse 12 resume a história da igreja cristã. O dragão vermelho simboliza a Satanás (12:7-9). Ele usou Roma imperial para perseguir a Cristo e Sua igreja nos primeiros séculos (Mateus 2:13-19; 27:1, 24-26; Atos 12:1, 2; Apocalipse 1:9; 2:10). [19] E a seguir, usou longamente a Roma papal (Daniel 7:25; Apocalipse 13:1-7).[20] Apocalipse 12:6 e 14 são textos complementares. O primeiro diz que o dragão perseguiu a Igreja por 1260 dias, e o último informa que foi por um tempo, tempos e metade de um tempo.

Aqui está a chave para saber que um tempo, tempos e metade de um tempo são 1260 dias proféticos. Aplicando o princípio dia-ano, são 1260 anos. Como já mencionado, os 1260 anos de perseguição papal iniciaram em 538 e terminaram em 1798. Note que o remanescente da Igreja apareceria após o final dos 1260 anos, isto é, após 1798.

Goldstein afirma que esta informação elimina as igrejas tradicionais descendentes da Reforma. Pois, segundo ele, “os luteranos, metodistas, batistas, batistas do sétimo dia, episcopais, presbiterianos, e congregacionalistas são demasiado antigos para ser, em qualquer sentido corporativo, o remanescente que descreve Apocalipse 12:17”. [21] Entretanto, outras igrejas surgiram, após 1798. Portanto, é necessário examinar mais informações adicionais, sobre a identidade profética da Igreja Remanescente na seção de Apocalipse 12-14.

Mandamentos divinos

A Igreja Remanescente guarda os mandamentos de Deus. “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17). Assim como Elias em Israel (1Reis 18:17; 19:10), este restante de sobreviventes em meio à apostasia mundial, guarda os mandamentos de Deus, e Sua aliança. Quais mandamentos? A palavra grega para mandamentos em Apocalipse 12:17 é entolas. É a mesma usada por Jesus em Mateus 5:17-27, para mandamentos da Lei dos Dez Mandamentos. Igualmente aparece em 1 João 2:4, e Apocalipse 14:12.

Notavelmente, a seção de Apocalipse 12-14 é introduzida pela abertura do lugar santíssimo do Santuário celestial. João viu o “santuário de Deus que está no Céu”, e nele a “Arca da aliança” (Apocalipse 11:19). No AT, a arca continha as tábuas dos Dez Mandamentos (Êxodo 25:21; 30:6; Deuteronômio 10:1-5; 1 Reis 8:9; 2 Crônicas 5:10; Hebreus 9:4). Após o final da seção, em Apocalipse 15:8, também é dito: “abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do testemunho”. A expressão “testemunho” refere-se à Lei dos Dez Mandamentos (Êxodo 31:18).[22] Esta é o original, da mesma lei dada a Moisés em tábuas de pedra.[23] É chamada “Sua aliança” (Deuteronômio 4:13). No novo concerto, o Senhor a escreve na mente e coração do Seu povo (Jeremias 31:31-34).

A Lei dos Dez Mandamentos inclui a guarda do sétimo dia, “o sábado do Senhor teu Deus” (Êxodo 20:10). “O fato de o anjo enfatizar a adoração a Deus como Criador do Céu e da Terra (Apocalipse 14:7), aponta inequivocamente para o negligenciado quarto mandamento da lei de Deus, o preceito do sábado do sétimo dia (Êx 20:8-11)”. [24] A Igreja Remanescente repara as roturas na Lei de Deus feitas pelo papado, e restaura a guarda do sábado (Daniel 7:25; Isaías 56:56:2-8; 58:12-14; Malaquias 4:4). “No tempo do fim, toda instituição divina deve ser restaurada. A brecha feita na lei quando o sábado foi mudado pelo homem, deve ser reparada. O remanescente de Deus em pé diante do mundo como reformadores, deve mostrar que a lei de Deus, é o fundamento de toda reforma perdurável, e que o sábado do quarto mandamento deve permanecer como memorial da criação, uma lembrança constante do poder de Deus”. [25]

Para Goldstein: “Muitas corporações religiosas, como os pentecostais, os mórmons, os testemunhas de Jeová, e outros, surgiram depois do período dos 1260 anos, mas quase todos rejeitam o quarto mandamento, seja por não guardar nenhum dia, ou por guardar o dia equivocado”. [26] Contudo, não basta guardar apenas alguns dos mandamentos da Lei de Deus (Tiago 2:10). Os “restantes da sua descendência” (Apocalipse 12:17), além de surgir depois do final do século XVIII ou começo do século XIX, tem que ser também guardador do sétimo dia, o sábado”.[27] No próximo artigo, veremos mais marcas da Igreja Remanescente. Até lá.

 

Referências:

[1] Hans K. LaRondelle, “O Remanescente e as Três Mensagens Angélicas”, em Tratado de teologia adventista do sétimo dia, editado em inglês por Raoul Dederen, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), p. 968.

[2] Ibidem, p. 968-969. Ranko Stefanovic, Plain Revelation, (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2013), p. 146. Gerhard F. Hasel fez os estudos mais exaustivos sobre o remanescente de Deus no AT. Ver: The Remnant: History and Theology of the Remnant Idea from Genesis to Isaiah, 3ª ed. (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1980).

[3] Ellen G. White, Patriarcas e profetas, 16ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 125.

[4] Rolf Rendtorff citado por Tarsee Li, “El remanente en el Antiguo Testamento”, em Ángel M. Rodríguez, ed. El remanente: el enfoque adventista, 1ª ed. (Florida: Asociación Publicadora Interamericana, 2013), p. 2.

[5] Dr. Amin Rodor, escreveu uma apostila intitulada “O Remanescente e os Dissidentes”. Este material inédito, de 39 páginas tem servido aos campos da DSA. ver: p. 4, 5.

[6] William G. Johnsson, “La victoria escatológica de los santos sobre las fuerzas del mal”, em Simposio sobre apocalipsis-II, editado por Frank B. Hoolbrook (Doral, FL: Asociación Publicadora Interamericana, 2011), p. 21.

[7] Nisto cremos, 10ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), p. 215.

[8] José Carlos Ramos, Mensagem de Deus, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), 29-36.

[9] “Ellen G. White e a interpretação de Daniel e Apocalipse” em Revista Parousia (segundo semestre 2000), p. 67.

[10] Para um estudo das raízes da Igreja remanescente na profecía bíblica: Ellen G. White, O grande conflito, 43ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 317-432; George Knight, Uma igreja mundial, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013).

[11] O princípio da repetição da uma profecia apocalíptica acrescentando detalhes, é denominado princípio “recapitulacionista”, ou do “paralelismo progressivo”. Arthur J. Ferch, “Autoria, Teologia e Propósito de Daniel”, em Estudos sobre daniel, editado por Frank B. Holbrook, 1ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2009), v. 2, p. 33.

[12] Para um estudo do uso do princípio bíblico dia por ano, ver: Alberto R. Timm, “Simbolização em miniatura e o princípio ‘dia-ano’ de interpretação profética, Revista Parousia, (2º semestre-2004), p. 33-46. William H. Shea, Estudos selecionados em interpretação profética, 2ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2012), p. 73-11; C. Mervyn Maxwell, Uma nova era segundo as profecias de Daniel, 2ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), p. 129. Questões sobre doutrina, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), 231-234.

[13] Maxwell, Uma nova era segundo as profecias de Daniel, 336, 337; Alberto R. Timm, “A importância das datas 508 e 538 d.C. para a supremacía papal”, Revista Parousia, nº 1 (2005), p. 7-18.

[14] Para estudar a profecia das 2300 tardes e manhãs de Daniel 8:14, e a precisão das datas 457 a. C. e 1844, ver:  Clifford Godstein, 1844, 3ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000); Maxwell, Uma nova era segundo as profecias de Daniel, p. 243-248; Heanderson Hermes Leite Pereira Velten e Juarez Rodrigues de Oliveira, A astronomia e a glória do adventismo, 1ª ed. (Vitória, ES: Editora Luz do Mundo, 2018); https://noticias. adventistas.org/pt/coluna/wilson-borba/22-de-outubro-de-1844.

[15] Maxwell, Uma nova era segundo as profecias de Daniel, p.317.

[16] Ellen G. White, O grande conflito, p. 409.

[17] Para um estudo teológico da purificação do Santuário celestial ver: Ángel Manuel Rodríguez, “Santuário”, em Tratado de teologia adventista do sétimo dia, p. 421-466.

[18] Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, 2ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016), 43-75; C. Mervyn Maxwell, História do adventismo, 1ª ed. (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982), 29-67.

[19] Para um estudo mais detido sobre a perseguição generalizada e violenta dos cristãos sob o Império Romano veja: Earle E. Cairns, O cristianismo através dos séculos, 3ª ed. (São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2008), p. 73-97.

[20] Ellen G. White, O grande conflito, 49-288.

[21] Clifford Goldstein, El remanente: ¿realidad bíblica o ilusión sin base?, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociacion Casa Editora Sudamericana, 1994), p. 68.

[22] Ver: Ángel Manuel Rodríguez, “O Decálogo no Apocalipse”, Revista Adventista, (fevereiro-2021), p. 32.

[23] Ellen G. White, O grande conflito, 434, 435.

[24] Tratado de teologia adventista do sétimo dia, p. 969.

[25] Ellen G. White, Profetas e reis, 8ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 678.

[26] Goldstein, El remanente: ¿realidad bíblica o ilusión sin base?, p. 70.

[27] Ibidem. Emilson dos Reis, Renato Groger e Rodrigo Follis (orgs.), Doutrina do sábado: fundamentos, 1ª ed. (Engenheiro Coelho, SP, Unaspress, 2012), v. 1; https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/wilson-borba/santificando-o-sabado-no-caminho-para-canaa/

 

*Wilson Borba é Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, e pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul. Atualmente serve como pastor distrital no interior de São Paulo.

 

FONTE: Noticias Adventistas

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

QUAL É O PERÍODO DA VIDA ADEQUADO PARA ALGUÉM ENTREGAR A VIDA A DEUS?


Ricardo André

O sábio Salomão, consciente da brevidade da vida aconselha, de forma maravilhosa e pertinente, a todas as pessoas a lembrarem-se de Deus nos dias da juventude. Ele diz: “Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e antes que se aproximem os anos em que você dirá: "Não tenho satisfação neles” (Eclesiastes 12:1, NVI). Lembrar-se de Deus é lembrar-se de que Ele nos ama supremamente, que Ele nos ama com cada fibra do Seu Ser, e como resposta a esse amor entregamos a nossa vida a Ele em nossa tenra idade, em nossa juventude, a fim de que tenhamos uma velhice mais feliz. Lembrar-se do Criador é algo urgente na vida de qualquer ser humano, é algo que não pode ser protelado, não pode ser deixado para depois. Algo que não é para a velhice, mas que precisa ser experimentado ainda “nos dias da tua mocidade”.

Quando obedecemos o conselho do sábio Salomão, se torna mais fácil encarar e viver a velhice - fase tão temida pela maioria das pessoas -  mas tão gratificante para quem chega a ela com a consciência de ter vivido bem a mocidade. Lembrar-se de Deus é dar a vida “em flor” a Ele. E para justificar o conselho, o sábio diz: “[...] antes que venham os dias difíceis e antes que se aproximem os anos em que você dirá: "Não tenho satisfação neles”. Imagine se alguém lhe desse, como presente, umas flores murchas e sem vida, que você faria? Por certo, jogaria fora...

Por que dar a vida a Deus depois de arruinada, quando já pouco ou nada podemos fazer para Ele? É uma honra para Deus dar-lhe alguém a vida em pleno vigor, com forças e tempo para muito empreender e fazer pelo céu.  O verdadeiro êxito da vida está em dedicá-la a Deus e ao Seu serviço. Vale a pena nesta idade da vida não se esquecer de Deus. Ele está interessado nos jovens e convida-os a fazerem seus amigos. Mas em geral a tendência dos jovens é deixar Deus para mais tarde, e alguns nunca se lembram dEle.

O tempo voa. Passa tão rapidamente que nós nem damos conta da sua passagem, tão ocupados estamos com as coisas desta vida - o curso universitário, o emprego, o casamento, com todas as suas alegrias e problemas, a chegada dos filhos, e mais alguns problemas, e... já passou tanto tempo, não tardam os netos, e... nós sempre ocupados e, às vezes, esquecidos do principal - lembrarmo-nos do nosso Criador para O adorar, amar e servir.

A juventude é o tempo áureo da vida, quando são tomadas as grandes decisões. A decisão mais importante que um jovem, moço ou moça, possa tomar é dar o coração a Deus. Isso não quer dizer que Deus não aceita a pessoa com idade avançada. O Senhor Jesus está sempre disposto a aceitar o pecador penitente, a qualquer tempo e com qualquer idade. Quanto melhor, porém, é decidir-se por Cristo na juventude, de maneira que se possa dedicar ao Seu serviço toda uma vida de utilidade.

Meu encontro com Jesus em minha mocidade

Na primeira metade do ano de 1984, decidi seguir o conselho de Salomão. Tornei-me um cristão adventista do sétimo dia, depois de participar de uma série de estudos bíblicos, num Evangelismo Público, realizado pela Igreja Adventista da Cidade do Cabo de Santo Agostinho/PE. Convencido de que os ensinos e crenças adventistas estavam em perfeita harmonia com as Sagradas Escrituras, decidi me batizar naquele ano. Porém, a Comissão Administrativa da igreja entendeu que eu não poderia me batizar naquele momento por conta da minha tenra idade (tinha 11 anos) e por meus pais não serem adventistas para me ajudar e apoiar em minha caminhada cristã. Temeram que eu logo abandonasse a igreja. Me incentivaram a frequentar mais a igreja. Foi exatamente isso que fiz. Mesmo não sendo batizado já me considerava um crente adventista. Frequentava todos os cultos e guardava o sábado.

O momento esperando com muita expectativa chegou no ano seguinte. Fui batizado na Igreja do Cabo de santo Agostinho, em Pernambuco, no dia 17 de agosto de 1985, e fui logo integrado ao Grupo do Bairro São Francisco. Era ainda uma criança com apenas 12 anos de idade, mas com uma firme convicção de que estava tomando a melhor decisão da minha vida, e de que Cristo estava conduzindo minha decisão. Aquele foi um dia muito feliz para mim, que marcou indelevelmente minha vida. Esse ano (2022) fará 37 anos que entreguei minha vida a Jesus através do batismo. Nunca me arrependi da decisão que tomei naquele ano.

Conquanto fosse muito jovem, a compreensão de que eu fazia parte de um movimento profético (Ap 10), que possuía uma mensagem profética a ser anunciada ao mundo, denominada no Apocalipse 14 de “Evangelho Eterno”, descritas nas três mensagens angélicas, passei a trabalhar intensamente durante os anos da minha adolescência para anunciar a vinda de Jesus e seus ensinos para muitas pessoas. Dei muitos estudos bíblicos a muitas pessoas, a vários colegas e amigos. Muitas pessoas entregaram-se a Jesus através do meu trabalho missionário. Alguns permanecem firme em Jesus até hoje. Outros, infelizmente, se afastaram da igreja, mas receberam a mensagem do evangelho eterno, e poderão algum dia regressarem a igreja.

Com a fase adulta o meu desejo de levar outras pessoas a Jesus e ajudá-las a se prepararem para o segundo advento de Jesus não mudou. Continuei ministrando estudos bíblicos aos amigos, agora na cidade de Lagarto/SE, onde moro desde 1993. Desde cedo descobri que o compassivo Jesus era de fato meu amigo. E me amava e me deu tantas coisas boas, sempre oferecendo mais do que mereço, Ele nunca deixou faltar nada. E me proveu a subsistência em muitos momentos difíceis, me deu novas oportunidades, me deu uma família (minha base), dois empregos. Há 23 anos sou professor de História das Redes Públicas Estadual e Municipal de Sergipe. Fui ancião da Igreja Adventista do Sétimo Dia Lagarto I (2000-2008) e da Igreja Central de Lagarto (2010-2019). Fui também Diretor de Publicações e Diretor do Minicentro de Pesquisas Ellen G. White da IASD Central de Lagarto de 2016 a maio de 2020. Meu maior interesse é participar da grande obra da pregação do Evangelho, alcançando muitas pessoas pelo conhecimento da Palavra, ajudando a preparar outros filhos de Deus para a breve volta de Jesus Cristo à Terra.

Hoje, olho pra trás e vejo os milagres que Deus me concedeu. Por me amar, simplesmente.

Ellen G. White encontra-se com Jesus em sua tenra idade

Ellen White passou uma experiência maravilhosa em sua juventude ao encontrar-se com Jesus. Realmente ela seguiu o conselho do sábio Salomão ao encontrar a Cristo em sua mocidade.

Ellen cresceu num lar Metodista e quando ainda bem jovem desenvolveu um amor intenso pelo Mestre Jesus. Aos oito anos de idade ouviu falar que Jesus poderia voltar dentro de alguns anos. Esse pensamento foi um choque para a pequena Ellen. Um dia, a caminho da escola, pegou um pedaço de papel no qual havia a mensagem de que Cristo poderia voltar em poucos anos. “Fui tomada pelo terror”, escreveu. “Uma impressão tão profunda se formou em minha mente [...] que mal consegui dormir por várias noites e eu orava continuamente para estar pronta quando Jesus viesse” (Life Sketches of Ellen G. White, p. 20, 21).

Foi em Portland, Maine que, aos nove anos de idade, Ellen sofreu um acidente que mudou completamente o curso de sua vida. Foi através desse acidente que ela foi chamada para ser a Serva do Senhor, para ser a transmissora de boas novas e conforto para o povo de Deus, tão pesaroso e triste pelo desapontamento de 1844. Foi através daquela experiência que o Senhor a preparou para uma vida de serviço à Igreja Adventista, como profetisa e conselheira.

Às vezes não entendemos o porquê de alguns acontecimentos em nossa vida e estamos certos de que o mesmo ocorreu com Ellen, em sua juventude. Ela foi abruptamente transformada no outona de 1836, ao voltar para casa com sua irmã Elisabete. Uma coleguinha de escola, mais velha, irada e impensadamente atirou-lhe uma pedra, que a deixou inconsciente. Mas foi aquele espinho na carne que transformou numa grande profetisa para o Senhor.

Realmente o Senhor protegeu a jovem Ellen e cobriu sua cabeça naquele dia, quando a colega de classe lhe atirou a pedra que mudaria sua vida e a de todos nós. Depois de receber a pedrada, e ao voltar a si mais tarde, encontrava-se numa pequena loja, toda ensanguentada. Um senhor muito afável ofereceu-se para leva-la em sua charrete, mas ela recusou com medo de sujá-la de sangue. Caminhou um pouco, ia quase desmaiando e teve que ser carregada por sua irmã e uma colega de escola por uns 800 metros.

Por três semanas ficou semiconsciente, à beira da morte e os vizinhos e amigos pensaram que Ellen morreria. Depois de três semanas naquele estado semiconsciente, voltou a si, e ficou estupefata ao olhar-se no espelho e verificar que seu rosto estava deformado. A pobre Ellen virou um esqueleto! Até seu pai ao voltar de uma viagem, não a reconheceu. Não poderia crer que aquela era sua pequena Ellen que havia deixado em casa alguns meses antes, e considerada uma menina feliz e alegre. (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 9-13).

Mas foi naquela cama, ao recobrar a consciência, que lhe veio a percepção de que estava morrendo. Os vizinhos vieram oferecendo o roupão para o funeral. Ali no leito de dor, a pequena Ellen de nove anos, pensando que ia morrer, fez as pazes com Deus e durante todo aquele tempo não ficou com medo de morrer.

Esse foi o primeiro passo da conversão da menina Ellen. Foi ali no leito de dor que o Senhor falou ao coração daquela jovem e protegeu-a, preparando-a para um grande ministério em favor de Sua Igreja. Anos mais tarde, Ellen compreendeu que aquele infortúnio em sua vida era uma bênção disfarçada. Ela afirmou: “Eu nunca teria conhecido Jesus se não tivesse sentido a tristeza a tristeza que tornou sombrio meus primeiros anos e me fez buscar conforto nele” (Ellen White: Mulher de Visão, p. 15).

Muitas vezes somos assolados por tristezas e pesares e não entendemos o porquê. Não seria o caso de o Senhor nos estar preparando para grandes coisas em Sua Obra?

Sabemos que vivemos num mundo de pecado e sofrimento e que o inimigo procura destruir-nos. Mas, como no caso de Jó, muitas vezes o Senhor permite que Satanás chegue para mais perto de nós e nos aflija. A mão divina estará sobre nós e nunca permitirá que sejamos afligidos ao ponto de não podermos suportar. Jesus está sempre abrindo as janelas para que possamos vislumbrar Seu amor e carinho por nós.

No ano de 1840 Ellen assistiu, com os pais, à reunião campal metodista em Buxton, Maine, e lá, com a idade de 12 anos, entregou o coração a Deus. “Na tarde de domingo do dia 26 de junho de 1842, ela e outras dez pessoas foram batizadas nas águas da acidentada baía de casco, em Portland” (Ellen White: Mulher de Visão, p. 15). E nesse mesmo dia foi recebida como membro da igreja metodista.

Com outros membros da família, Ellen assistiu às reuniões adventistas em Portland em 1840 e 1842, aceitando plenamente os pontos de vista apresentados por Guilherme Miller e seus companheiros, e confiantemente aguardou a volta do Salvador em 1843, e depois em 1844. Ela relata: "Este foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração transbordava de alegre expectativa" (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 54). Ellen era fervorosa obreira missionária, trabalhando com seus jovens companheiros, e fazia sua parte em proclamar a mensagem do advento. Muitas vezes trabalhava longas horas com abnegação a fim de poder obter os meios para propagar a preciosa mensagem a outros.

A juventude de Ellen não diminui a amargura do grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 e, assim como outros, ela buscou fervorosamente a Deus por luz e direção nos dias de perplexidade que se seguiram. No tempo crítico, quando muitos estavam vacilando ou abandonando sua experiência adventista, juntou-se Ellen Harmon a quatro outras irmãs no culto familiar enquanto estava na casa de um companheiro de fé, no sul de Portland, numa manhã do fim de dezembro. A esse respeito, de quando ela estava ajoelhada humilde e tranquilamente em oração, diz ela: “o poder de Deus veio sobre mim como eu nunca dantes sentira” (Vida e Ensino, pág. 57). O revestimento do poder trouxe-lhe a primeira visão, na qual a essa menina de 17 anos foi mostrada a jornada do povo do advento da decepção de 1844 à Cidade de Deus (Primeiros Escritos, p. 13-31). Seguiu-se pronta ordem para ela ir e relatar o que lhe fora revelado. Seus sentimentos são descritos da seguinte maneira: “Depois que saí da visão, estava excessivamente perturbada. Dirigi-me ao Senhor em oração e roguei-lhe que passasse a responsabilidade sobre outra pessoa. Parecia-me que não a poderia suportar. Fiquei sobre o meu rosto por longo tempo, e toda luz que pude obter, foi: Dá a conhecer aos outros o que te revelei” (Vida e Ensino, p.65). Aquela jovem ergueu-se da oração para assumir a responsabilidade e falar por Deus, desempenhando-se muito bem e fielmente por 70 anos.

Quando Ellen relatou, tremendo e relutantemente, essa visão aos crentes em Portland, foi ela aceita como luz de Deus. Atendendo à direção do Senhor, Ellen viajou com amigos e parentes de um lugar para outro, conforme a oportunidade, relatando aos grupos esparsos de adventistas o que lhe fora revelado, tanto na primeira visão, como nas que se sucederam.

Desde 1844 até 1915 – ano de sua morte – ela recebeu mais de 2000 visões e sonhos proféticos. Através das mensagens que chegavam por meio da Serva do Senhor deram estabilidade, crescimento e solidez ao Remanescente Fiel. Por meio de seus Testemunhos, ela orientou o sistema educacional adventista, a obra de publicação, a reforma pró-saúde.

Durante os 70 anos de serviço à Igreja, como profetiza e conselheira, Ellen G. White viveu e trabalhou na América do Norte, Europa e Austrália, aconselhando, estabelecendo novas frentes de trabalho, pregando e escrevendo. Que mensageira maravilhosa! Como poderíamos negar sua pena inspirada que produziu 100.000 páginas para a Igreja? Suas 2.000 visões têm norteado a Igreja Adventista através dos anos e seus conselhos maravilhosos conservam a Igreja unida, apesar dos vendavais de crítica e discórdia.

Durante toda a sua vida ela escreveu mais de 5.000 artigos e 49 livros; mas hoje, incluindo compilações de seus manuscritos, mais de 150 livros estão disponíveis em inglês, e cerca de 90 em português. O poderoso livro Caminho a Cristo, transformador de vidas, já foi traduzido para mais de 165 idiomas. Acredita-se que ela é a escritora mais traduzida em outras línguas em todo o mundo e a escritora mais traduzida na América, tanto do sexo masculino, como feminino.

Na manhã do sábado, 13 de fevereiro de 1915, ao entrar Ellen White em seu confortável gabinete de estudos, tropeçou e caiu, e viu que não podia levantar-se. Foram buscar auxílio e logo se verificou que o acidente era sério. O exame de raios-X revelou uma fratura no quadril, e a Sra. White ficou durante cinco meses confinada à cama ou na cadeira de rodas. 

Suas palavras a amigos e parentes durante as últimas semanas de vida indicam um sentimento de alegria, e o senso de ter realizado fielmente a obra que o Senhor lhe confiara, confiança de que a obra de Deus avançaria até seu triunfo final, mas a preocupação de que os membros individuais da igreja, especialmente nossos jovens, reconhecessem o tempo em que estávamos e o sério preparo necessário para encontrar o Senhor em Sua vinda. No dia 09 de julho de 1915, seu filho William C. White, “orou e disse a sua mãe que entregariam tudo nas mãos de Jesus. Então, ela respondeu, falando por meio de um fraco sussurro: ‘Eu sei em quem tenho crido’” (Ellen White: Mulher de Visão, p. 537).

Os trabalhos da vida de Ellen White terminaram a 16 de julho de 1915, na idade madura de oitenta e sete anos bem passados, e foi posta a descansar ao lado do esposo no cemitério de Oak Hill, em Battle Creek, Michigan. Embora a voz esteja silente e a pena infatigável descansando, contudo, as preciosas palavras de instrução, conselho, admoestação e encorajamento sobrevivem, para guiar a igreja remanescente até o fim do conflito e o dia da vitória final.

Indubitavelmente, Ellen G. White obedeceu o conselho do sábio Salomão, entregando sua vida a Jesus ainda na sua tenra idade, e teve uma vida de serviço ao Senhor, chegando a velhice muito feliz realizando a obra que o Senhor lhe designara.

Caro leitor, aproveita a tua juventude, a tua maturidade, a tua vida, para servir ao Senhor com todo o teu coração e no tempo próprio. Ele te dará a recompensa: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil” (1 Coríntios 15:58).