Ricardo
André
Ao longo dos meus 45
anos de idade fiz inúmeras decisões, algumas das quais me arrependi. Mas houve uma
especial que marcou indelevelmente minha vida, que foi a decisão de seguir a
Jesus ainda na minha tenra idade. Como diz a letra de um hino, foi a mais certa
que eu já fiz. Aceitei a Ele quando tinha apenas 10 anos de idade, num culto de
domingo da Igreja Assembleia de Deus, em 1983. Desde esse dia a minha vida se
transformou e o amor de Deus a mim se revelou. ... Tornei-me adventista aos 11
anos após participar de um série de Estudos Bíblicos numa campanha
evangelística dirigida pelo saudoso irmão Wilson, em abril de 1984, no Bairro
São Francisco, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Não
obstante demonstrar imenso desejo de me batizar, a igreja entendeu que aquele
não era o momento mais apropriado para realizar meu batismo, por conta de que eu
era muito novo e meus pais não eram adventistas.
O tão almejado batismo
ocorreu somente no ano seguinte, no dia 17 de agosto de 1985, quando tinha 12
anos, na Igreja Adventista do Sétimo Dia, na cidade de Cabo de Santo
Agostinho/PE. O Batismo foi administrado pelo peruano brasileiro naturalizado Pastor
Daniel Asin (hoje jubilado). Lembro-me com emoção e carinho como se tivesse
ocorrido hoje. Para mim deixar a velha vida e seguir uma nova com Cristo foi a
melhor decisão que pude tomar em minha vida. Desde então, não mais vivo eu, mas
Cristo vive em mim, e meu prazer é adorá-Lo em Espírito e em verdade!!
34 anos depois da minha
filiação a Igreja percebo que, por vezes pertencer a igreja é por demais
desafiador. Política interna, muitas regras, pessoas assustando com histórias
de perseguição nos últimos tempos, legalismo, conflitos interpessoais, erros e
pecados de alguns poucos líderes, trazendo opróbrio a causa de Deus. Um dia, há
muitos anos atrás, presenciei um jovem membro e um ancião da igreja trocando
farpas porque o ancião não permitiu que aquele jovem cantasse na igreja porque
fez um corte de cabelo à moda da época. Foi muito deprimente ver aquela cena na
igreja.
Como líder de igreja,
frequentemente tive razões para me perguntar: por que permaneço dentro da
igreja? Por que suportar todos os problemas que encontro dentro dela? Minhas reflexões
me levaram a anotar diversas razões, mas quero destacar apenas cinco razões
para permanecer na igreja.
1.
O fardo de Deus não é pesado. “Pois o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:30).
Há muitos que sentem o
adventismo pesado, mas Jesus diz: “Venham a mim, todos os que estão cansados e
sobrecarregados, e eu lhes darei descanso... Pois o meu jugo é suave e meu
fardo é leve” (Mateus 11:28 e 30). Se você sente que sua religião é pesada,
você não obteve isto de Cristo. Esse verso se tornou um verso de definição para
mim. Então tive que rever todo o meu adventismo, até que o senti leve.
Jesus fez esse convite
para “pecadores e publicanos, desprezados pelos mais religiosos, tinham perdido
a esperança. Pesavam as leis dos dirigentes, pesava o custo dos ritos com os
impostos do templo, pesavam as exigências sempre crescentes do sistema
religioso judeu, pesava a frieza das formas religiosas que deveriam ser
observadas meticulosamente, pesava a relação suspeita que viviam. Pesava a
culpa. Nada os libertava da amargura que o pecado deixa na alma. Estavam
cansados. Oprimidos também” (Mario Veloso, Mateus, p. 150).
Isso é o que acontece
com muitos novos cristãos. Eles vêm à igreja, amam a graça, o descanso
sabático, o céu, o batismo e os novos amigos. Então eles adquirem todas as leis
e regras e logo se sentem carregando um fardo pesado. Mas Jesus diz: “Meu
jugo é suave e meu fardo é leve.”
O que eles e nós que temos
muito tempo de adventismo temos que fazer? Simplesmente ir a Jesus.
Aproximarmo-nos como pecadores, desamparados, sem justiça, sem esperança;
lançar aos pés dEle o peso da regras, nossa culpa, nossa vergonha, problemas, frustrações,
medo, dúvidas, sonhos, ansiedades, sentimento de solidão. Tudo.
Que peso ou pesos
estamos carregando, que gostaríamos de depositar aos pés de Jesus para receber
o descanso que Ele oferece?
Ao longo de minha
experiência espiritual aprendi que o cristianismo não é uma religião de peso
para se carregar, mas de uma amizade, um relacionamento a desenvolver com
Cristo.
Ellen G. White afirmou:
“Encontra-se
o descanso quando se abandona toda a justificação própria, todo raciocínio
partido de um fundo egoísta. Inteira entrega, aceitação de Sua vontade, eis o
segredo do perfeito descanso em Seu amor (Mente, Caráter e Personalidade, v. 2,
p. 803). É nosso privilégio aceitar o convite de Jesus, experimentar
Sua graça, tomar Seu jugo e encontrar descanso.
2.
A “Bendita esperança”. A igreja me ajudou a desenvolver a
esperança da volta de Jesus. Esta esperança tem alimentado a minha fé e me
fortalecido nos momentos mais difíceis da minha vida, não somente a mim, mas a
muitos cristãos através dos tempos. O apóstolo Paulo deu uma definição especial
para o evento da segunda vinda de Jesus, ele a chamou de “bendita esperança”
(Tito 2:13). Para ele, essa esperança não era um mero desejo ou coisa incerta.
Não era algo que, caso mantenhamos a esperança, talvez chegue a se cumprir. Não
cabe aqui nenhum sentimento de ansiedade, nem de meia verdade, que admita que
talvez Cristo não volte. A esperança de Paulo era segura. Era uma expectativa
confiante na vinda de Cristo.
Quantas mães cansadas
de lutar para manter os filhos se levantam cedo, trabalham o dia todo, deitam
tarde e aguardam o dia em que essa luta vai terminar! Quantas pessoas sofrem a
perda de seus entes queridos que foram ceifados pela morte anseiam pelo dia da
volta de Jesus para o reencontro com eles! Quantos enfermos crônicos necessitam
diariamente de cuidados médicos e gostariam que logo essa fase passasse!
“Por isso, não abram
mão da confiança que vocês têm; ela será ricamente recompensada. [...] Pois em
breve, muito em breve "Aquele que vem virá, e não demorará” (Hebreus
10:35, 37, NVI).
34 anos de adventista
continuo firme nesta esperança. Ela tem dado sentido para minha vida.
3.
A igreja me ensinou sobre o significado e importância da observância do sábado.
O quarto mandamento da lei declara: "Lembra-te do dia de sábado, para
santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas
o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás
trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas,
nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis
dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no
sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou”
(Êxodo 20:8-11, NVI).
De acordo com o mandamento,
o sábado é um monumento no tempo e eterno da obra de Deus como Criador e
Salvador da humanidade. Como símbolo mais importante de nossas origens, o
sábado ajuda a dizer quem somos, por que estamos aqui, e aonde estamos indo. O
senhor quer lembrar-nos, cada semana, que estamos aqui não por acaso, mas
porque Ele nos criou. Assim o sábado, a cada semana, nos lembra de quem somos
realmente. Um dia para ser focado em quem você realmente é, alguém feito à
imagem de Deus, para ser Sua alma gêmea.
O sábado é esse
lembrete semanal. Se o guardarmos da maneira como Ele quer, nunca estaremos em
perigo de esquecermos nossas raízes. Tão importante é essa mensagem que somos
solicitados a dedicar um sétimo de nossa vida a lembrar-nos disso. A discussão
sobre o sábado não trata de um dia; trata de sermos lembrados – cada semana! –
da verdade mais fundamental e mais básica de nossa existência – somos seres
criados por Deus com um propósito.
Há 34 anos que guardo o
sábado porque ele me traz um gostinho do Céu. O sábado é o memorial da Criação:
“Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles
há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o
santificou” (Êxodo 20:11). O Céu oferecerá tudo do modo como era na Criação. O
sábado aponta para o futuro, tanto quanto ou mais que para o passado.
Desfrutar aqui a
alegria do sábado de Cristo é, na realidade, um antegozo se sua celebração com
Ele no povir. No Céu estaremos com Deus o tempo todo. Não trabalharemos aos sábados
e estaremos livres para estar com Deus em tempo integral. Ali adoraremos a
Deus. Por isso vamos à igreja aos sábados para adorar a Deus. Caminhamos pela
natureza, descansamos, comemos com nossa família e amigos, porque essas são as
coisas que faremos no Céu. Ali o tempo passará lentamente porque nós o teremos
em abundância. E assim, no sábado, reduzimos a velocidade de tudo, em protesto
contra a loucura de nossa vida diária. “O sábado rompe com a frenética rotina
da vida, permitindo que o ser humano disponha de tempo para a comunhão com
Deus, o convívio com a família e os amigos, bem como para ajudar os
necessitados” (Alberto R. Timm, O Sábado na Bíblia – Por que Deus faz questão
de um dia, p.108).
Isso significa que se
você de fato quer ter uma regra definitiva para o que pode fazer no sábado,
aqui está: se é certo fazê-lo no Céu, também é próprio fazê-lo no sábado. Daí
se conclui que o sábado tem gosto de Céu.
4.
Liberdade. “Onde está o Espírito do Senhor, ali há
liberdade” (II Coríntios 3:17).
Muitos de nós crescemos
sem o sentimento de liberdade. Pessoas guardaram os sábados, deram seus dízimos
e ofertas, mudaram sua dieta, tiraram suas joias, mas não se sentiram livres.
Se a sua religião não o faz sentir-se livre, então não pode ter vindo do Espírito.
Porque a Bíblia diz claramente que “onde está o Espírito do Senhor, ali há
liberdade”.
A liberdade de que fala
Paulo, não é a liberdade de viver da maneira que nos agrade. Ele não quis dizer
que o cristão ao ser perdoado e receber a graça de Cristo deve, então, viver
“livre, leve e solto”, totalmente despreocupado com erros e pecados. A ideia da
“liberdade cristã” não pressupõe a ausência de um senhor, mas a mudança do
senhorio: em lugar de servir ao mundo, ao diabo e à carne (Ef 2.2,3), o cristão
passa a servir a Cristo: “E, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos
da justiça” (1Co 6.18). Ser “servo da justiça” significa que o crente não está
livre de servir, mas que agora ele serve em obediência ao Senhor conforme o
novo padrão de conduta que lhe é ensinado: “Mas graças a Deus porque, outrora,
escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina
a que fostes entregues” (1Co 6.17).
Por fim, a liberdade
cristã faz com que sejamos escravos — em um sentido positivo do conceito de
servidão — daquele que morreu na cruz para nos libertar do pecado e das suas
consequências mortais: “Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é
liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo
de Cristo” (1Co 7.22). Portanto, em Cristo, somos livres. Nossa obediência
brota de um coração cheio de amor e de apreço pelo Mestre. Uma vez que
verdadeiramente apreciamos o Seu imenso sacrifício, não podemos fazer outra
coisa senão servi-Lo e amá-Lo. Pessoalmente, não me sinto privado da liberdade
por não participar de alguns programas que o mundo oferece, muitos dos quais
aprisionam as pessoas nas práticas pecaminosas. Sinto que sou uma pessoa livre
em Cristo Jesus. A liberdade que desfrutamos em Cristo não é para continuarmos
no pecado, mas para romper suas cadeias e impedir seu domínio sobre nós.
5.
Eu não tenho vergonha. “Não me envergonho do evangelho”
(Romanos 1:16).
Ao refletir sobre meu
adventismo, com esta lista, finalmente cheguei a um cristianismo e adventismo
que podem me orgulhar. Recuso-me a acreditar em algo do qual tenha que me
sentir envergonhado.
Estou orgulhoso de ser
um cristão, orgulhoso de ser um adventista do sétimo dia. Temos o melhor quadro
de Deus que conheço. O melhor pacote de verdade. A maior fidelidade à Bíblia
que conheço. Tenho certeza da nossa identidade. Creio que somos o povo a quem
Deus chamou para pregar ao mundo a Tríplice Mensagem Angélica (Ap 14:6-12). Os
nossos símbolos (o Sábado, a Bíblia, o Espírito de Profecia, entre outros),
aquilo que mostra para o mundo quem somos, está arraigado no nosso ser e no
nosso estilo de vida. Não obstante ser a Igreja da profecia bíblica (Ap 12:17),
ela, evidentemente, não é perfeita, vamos encontrar erros e defeitos nela, e
talvez, não seja o que deveria ser, porque ela é formada por pessoas falhas,
pecadoras. Essa realidade tem levado muitos a ficar descontentes e infelizes
com a igreja. Mas, isso é motivo para sairmos dela? Não, absolutamente! “Embora
existam males na igreja, e tenham de existir até o fim do mundo, a igreja
destes últimos dias há de ser a luz do mundo poluído e desmoralizado pelo
pecado. A igreja, débil e defeituosa, precisando ser reprendida, advertida e
aconselhada, é o único objeto na Terra ao qual Cristo confere Sua suprema
consideração” (Ellen G. White, A Caminho do Lar [MD 2017], p. 238).
Ellen White ainda diz
que a igreja é "o cenário" (em inglês, theater, "teatro")
da graça de Deus, onde ele "se deleita em revelar seu poder de
transformar corações" (Atos dos Apóstolos, p. 12). A igreja é o
palco para Deus expressar seu amor e mudar vidas.
Nesse
"teatro", podemos ter um vislumbre do caráter de Deus, experimentar
seu perdão e obter salvação. Podemos esquecer nossa realidade e sonhar com
outro mundo. Podemos entrar em outras dimensões do espaço e do tempo para
vislumbrar o Céu e a eternidade. Podemos alimentar a esperança e remodelar
nossa visão da realidade.
Quando entramos no cenário
(teatro) da igreja, como pecadores que somos, experimentamos a graça divina,
sentimos o amor divino em um grau suficiente para transformar nossa vida.
Ir à igreja e não
encontrar a graça é o mesmo que ir à padaria e não encontrar pão, ir à farmácia
e não achar remédio, ir à livraria e não ver nenhum livro ou ir ao banco e não
encontrar dinheiro. Ir à igreja e não ter um encontro com Deus é como ir ao
hospital e não se consultar com um médico. Para cumprir sua função, a igreja
precisa expressar a graça de Deus em todos os momentos.
Caro irmão, se você
está infeliz com a igreja, tem algumas alternativas. Pode ficar dentro,
mantendo as aparências, entorpecido; pode sair de fininho pela porta dos
fundos; pode ficar bravo e sair pela frente; ou pode escolher suas convicções
“a la carte”, imaginando que não precisa jogar tudo para o alto por ter
problemas com algum ponto. Bastaria manter o que funciona para você!
Ou você pode ainda
ficar e trabalhar. Fazer melhor. E foi isso o que escolhi. Tive amigos deixando
a igreja. Já vi pastores abandonado o ministério. Eu olhei para isso, mas
finalmente decidi ficar. Se você e eu partirmos, outras pessoas terão a palavra
final sobre o que a igreja se tornará. Se você partir, você não adquire um
voto, então eu decido ficar. Contanto que eu tenha um púlpito ou você tenha o
seu papel na igreja, nós temos algo a dizer e podemos trabalhar para fazer com
que a Igreja Adventista seja aquilo que deveria ser. Então fique! Decida hoje
que nada o poderá afastar – nenhuma hipocrisia, nenhuma política, nada.
Permaneça. Ame a igreja porque Jesus ama a igreja e morreu por ela.
Hoje, ao ir para a
igreja, contemple a graça de Deus nas mensagens apresentadas e a vivencie nos
detalhes dos relacionamentos.
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