Ricardo
André
A maior certeza do ser
humano é de que um dia ele vai morrer. É a única certeza que o homem não
questiona. A certeza da morte, ligada à incerteza da sua hora é fonte de
angústia durante toda a vida. O apóstolo Paulo afirmou que ela constitui o
exorbitante preço do pecado. “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no
mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os
homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12, NVI). A morte atinge
indiscriminadamente a todas as pessoas. Ricos ou pobres, sábios ou indoutos,
potentados ou desvalidos, jovens ou idosos, todo no seu devido tempo são
levados em seus braços frios e sinistros ao silêncio da sepultura.
Querendo ou não um dia
a morte irá acontecer, e todos nós viveremos o luto em algum momento, mas nem
por isso é um acontecimento fácil de superar. Após a morte de um ente querido
ou uma separação de um casal, entre muitas outras situações dolorosas que podem
acontecer, a pessoa entra no “quarto” do luto. Preso dentro desse “quarto escuro”
passa uma longa temporada de momentos de solidão e tristeza, sentimentos de
desesperança e a perda do desejo de seguir em frente. É importante dizer que viver
o luto é um direito de todos que perdem seus entes queridos. “Não é direito
dizer aos que estão de luto: "Não chore! Não é direito chorar." Estas
palavras pouca consolação encerram. Não há pecado em chorar. Embora o falecido
tenha sofrido por anos, devido à fraqueza e dor, isso não enxuga de nossos
olhos as lágrimas” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 264). Porém,
as pessoas enlutadas não podem permanecer a vida toda presa no luto.
Embora lidar com a
perda de uma pessoa amada e superar o luto seja uma das situações mais difíceis
que poderemos enfrentar na vida (se não for a mais difícil de todas), ela
precisa ser superada. Então, como superar o luto? Como podemos libertar-nos desse
poço de tristeza, onde estamos afogados nas nossas próprias lágrimas? Para
ajudar você a passar por esse momento, ou se preparar para quando ele chegar,
neste texto apresentamos uma importante dica, a partir da minha própria
experiência, que pode te ajudar a superar o luto e a dor. Acompanhe.
Em abril de 2002,
recebi um telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro que informou que nossa
mãe, Noêmia Cordeiro de Souza, não estava bem, e que encontrava-se no hospital
para submeter-se a uma cirurgia para a retirada de mioma. Ela falou que se eu
quisesse vê-la ainda com vida fosse lá. O pensamento de perdê-la doía tanto que
eu mal conseguia puxar o fôlego entre um soluço e outro. Então clamei a Deus:
“Senhor Jesus, Tu sabes o quanto eu desejo que minha mãe viva, por isso peço-Te
que cures minha mãe. Eu não quero que mamãe morra, mas não sei como orar”.
Contei a situação de
minha mãe as minhas duas amigas Vânia Higino e Luzinete Carvalho, que me
orientaram a ir rapidamente ver minha mãe em Pernambuco. O valioso conselho
daquelas irmãs em Cristo e amigas foi fundamental para que eu tomasse a decisão
de ir ver minha mãe. Sou eternamente grato a essas preciosas amigas. Um dia
depois da minha chegada ao Cabo de Santo Agostinho/PE, fui com meu irmão
Roberval André visitá-la no IMIP (Instituto de Medicina Integral, em Recife).
Ao chegar lá encontrei minha querida mãe. Que emoção! Que alegria para nós! Que
abraços gostosos! Vi a alegria estampado no seu rosto por me ver ali. Lembro-me
que ela nos apresentou para sua colega de quarto, com as seguintes palavras:
“Esses são os meus dois gatos”! (era mãe coruja). Mas, ao mesmo tempo fui tomado
por um sentimento de tristeza ao ver minha mãe tão debilitada, com andar
trôpego, resultante do derrame que havia sofrido. Eu contive minhas lágrimas.
Eu não queria que ela me visse chorando, e aumentasse o seu sofrimento. Ela
precisava da minha força naquele momento. Ficou vários dias naquele hospital.
Sua pressão arterial estava descontrolada. Ela era hipertensa. Somente depois
que a sua pressão foi controlada, os médicos puderam realizar a cirurgia para
retirar o mioma. Minha mãe teve oito filhos e lutou por eles. Penso que ela
lutou pela família, mais até do que por si mesma.
Aquele dia no IMIP
marcou indelevelmente minha vida. Nunca vou esquecer aquele encontro. Foi o meu
último encontro em que ela falava e estava lúcida. Meses depois sofreria o
segundo, terceiro e quarto derrame que lhe tiraria sua capacidade motora, sua
fala e memória.
Em junho de 2004,
recebi um outro telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro. Usando quase as
mesmas palavras de dois ano antes, informou-me que nossa mãe ficou muito doente
e que estava hospitalizada, que eu precisava ir ao Cabo de Santo Agostinho se
quisesse vê-la ainda com vida.
No dia 20 de junho de
2004, viajei ao Cabo de Santo Agostinho para ver minha mãe, que se encontrava
em coma no Hospital São Sebastião. Fui
ao hospital vê-la nos dias 22 a 25. Ela não mais se movia nem falava. Ao vê-la
naquele leito do hospital definhando e inerte tive a certeza de que minha mãe
guerreira e batalhadora, e que amava muito estava bem próximo de encerrar sua vida
aqui. A certeza de que aquela indesejada despedida estava chegando aumentava a
cada dia de internação. Eu não queria que ela partisse, mas, no fundo, eu sabia
que não sairia mais daquele hospital com vida.
Nessa hora difícil, eu
precisava de Deus mais do que nunca. Abri a Bíblia e li: “(...) Transformarei o lamento
deles em júbilo; eu lhes darei consolo e alegria em vez de tristeza” (Jeremias
31:13). No dia 25, fui pela tarde ao hospital novamente. Quando cheguei
no hospital, sentei ao lado do seu leito, peguei em sua mão, desabei. Não consegui segurar. Chorei copiosamente. Eu
queria orar, mas o que devia pedir? Então clamei: Senhor, salva minha mãe!
Tenha misericórdia dela! Senti que a misericórdia do Senhor se estendeu sobre
nós. Isso não mudaria minha dor, mas me ajudaria a suportá-la.
Minha mãe faleceu na
madrugada do dia 25 de junho de 2004, aos 53 anos. Infelizmente, tivemos que
dizer adeus à mãe mais forte e maravilhosa que conheci. Não poderia estar mais
impressionado por sua força e me sinto um afortunado por tê-la como minha mãe.
Foi uma grande tristeza para mim, para meus irmãos, para sua mãe Deutrudes
Cordeiro (que faleceu meses depois), seus irmãos e amigos sepultar aquela que
era cara ao nosso coração.
“O
Deus de toda consolação”
Ao longo daquele ano
fartei-me de chorar. Eu havia vivido o ano mais triste e difícil da minha vida.
A casa dos meus pais (meu primeiro lar) ficou vazia. Eu e meus sete irmãos
sentimos de modo muito agudo o golpe. Todavia, nosso compassivo Deus
consolou-nos em nosso luto mediante as promessas das Sagradas Escrituras, e com
fé e ânimo retornamos a nossa vida. Até porque Ele “não deseja que qualquer de
nós permaneça oprimido por surda tristeza, de coração ferido e quebrantado.
Deseja Ele que olhemos para cima, para ver o arco-íris da promessa, e refletir
luz sobre outros” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 257).
Escrevendo sua segunda
carta aos coríntios, o apóstolo Paulo apresenta a Deus como o “Deus de toda
consolação”. Ele o faz para encorajar a fé dos coríntios, contando para eles
sobre as adversidades que lhe sobrevieram. Ele destaca a grandeza e o cuidado
de Deus na trajetória. Ele, isto é Paulo, viveu situações desesperadoras, no
entanto sua fé permaneceu guardada na consolação de Jesus Cristo. Escreveu ele:
“Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de
toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com
a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por
tribulações” (2 Coríntios 1:3,4, NVI).
Eu e meu irmãos
enfrentamos o “vale da sombra da morte” (Sl 23:4) de mãos dadas com o “Deus de
toda consolação”. Foi em Deus e em suas promessas constantes nas Sagradas
Escrituras que encontramos consolo. A escritora cristã Ellen G. White escreveu
estas confortantes palavras: “O bendito Salvador está ao lado de muitos
cujos olhos estão de tal modo cegados pelas lágrimas que não O distinguem! Ele
almeja apertar firmemente nossa mão, enquanto a Ele nos apegarmos com fé
simples, implorando-Lhe que nos guie. É privilégio nosso alegrar-nos em Deus.
Se dermos entrada em nossa vida ao conforto e à paz de Jesus, seremos
conservados bem perto de Seu grande coração de amor” (Ibdem, p. 258).
A
esperança bíblica é fundamental para superarmos o luto
Tenho a esperança
bíblica de que um dia encontraremos nossa querida mãe, não muito longe, no Novo
Céu e na Nova Terra, pois ela faleceu, pondo sua inteira confiança em Jesus,
nosso Salvador. Sua morte foi para nós um grande golpe, mas foi uma vitória
mesmo em presença da morte; pois sua vida estava “escondida com Cristo em Deus”
(Cl 3:3). Portanto, no encantador mundo do amanhã, caminharemos pelas ruas de
ouro da Santa Cidade que Deus preparou para aqueles que O amam (Ap 21).
Estaremos juntos por toda eternidade sem fim com o nosso compassivo Salvador
Jesus e todos os remidos do Senhor.
Esta separação que nos
causa tanta dor não será eterna. Quando nosso querido Jesus voltar em glória e
Majestade poderemos reencontrar todos os nossos queridos que morreram em
Cristo, se crermos em Jesus. Esta ESPERANÇA está baseada sobre um sólido e
indestrutível fundamento... Sim, ela se baseia na realidade de um Cristo vivo
(I Co 15:4). A ressurreição do Senhor é o fundamento de nossa esperança (I Ped.
1:3; I Co 15:12-19). Assim como Deus, o Pai, trouxe Jesus, nosso Salvador,
dentre os mortos na manhã de Sua ressurreição no jardim, fora dos muros de
Jerusalém, assim com Ele também trará nossos queridos mortos à vida novamente,
quando voltar a segunda vez. Ela também está fundamentada no prometido e
esperado retorno do Senhor à Terra (I Tes. 1:10; Atos. 1:10, 11).
Haverá, então, uma
feliz e eterna reunião! Viveremos por toda a eternidade sem fim com todos os
remidos de todos os tempos. No encantador Mundo do Amanhã que Deus trará para
todos os que crerem nele não haverá mais morte. Ele nos promete: “Ele enxugará
de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto,
nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas." (Ap
21:4).
Caro amigo leitor,
todos nós cedo ou tarde enfrentaremos a morte de nossos queridos. “Nossas mais
acarinhadas esperanças são aqui muitas vezes frustradas. Nossos queridos
são-nos arrebatados pela morte. Fechamos-lhes os olhos e vestimos-lhes a
mortalha, depondo-os para além de nossa vista. Mas a esperança nos ergue o
ânimo. Não nos separamos para sempre, pois havemos de rever os queridos que
dormem em Jesus. Hão de voltar da terra do inimigo. Virá o Doador de vida.
Milhares de santos anjos O escoltarão em Seu caminho. Ele romperá os laços da
morte, partirá os grilhões da tumba, e os preciosos cativos sairão, com saúde e
imortal beleza” (Ibdem, p. 260).
Nosso Senhor Jesus
afirmou: “Não temas (...) Sou Aquele que vive (...) Tenho as chaves da morte”
são para cada um de nós. Porque Ele vive, nós e nossos queridos que foram
ceifados pela morte também viveremos. A ressurreição de Jesus não é
simplesmente a história de um escape temporário da morte e da sepultura. Jesus
não viveu para morrer de novo. Sua proclamação sacode o mundo: “Eis que estou
vivo pelos séculos dos séculos”; essa é a altissonante palavra de vitória
definitiva de um Conquistador sobre a morte. A obra da morte terá um termo; sua
história um ponto final. Será finalmente destruída no último dia (I Co 15:26 e
27). Como Cristo, o Deus-homem vivo, venceu a sepultura, nós podemos enfrentar
a morte destemidamente! Ele nos dará um dia a vida eterna (Ap 21:1-4). “E esta
é a promessa que ele nos fez: a vida eterna” (João 2:25).
Recebemos a esperança
de Vida Eterna quando reconhecemos e aceitamos a Jesus como Senhor e Salvador
de nossas vidas (João 17:3) e passamos a viver “em esperança da vida eterna, a
qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos” (Tito 1.2).
Creia e receba a Vida
Eterna em Jesus!
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