“POR QUE NÃO HÁ MILAGRES NA IGREJA ADVENTISTA”?

Ricardo André

Na lista de dons conferidos à Igreja pelo Espírito Santo estão os de cura e milagres. Escreveu o apóstolo Paulo: “Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de cura, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas” (1 Coríntios 12:8-10, NVI).  O poder para curar e operar milagres são os mais espetaculares dons do Espírito. Todos nós já ouvimos falar da prática desses dons na igreja cristã primitiva. Particularmente, creio, com base nas Sagradas Escrituras, na vigência dos dons miraculosos na atualidade. No entanto, creio que os milagres não aconteçam com a frequência que alguns desejam a ponto de transformá-los em ato vulgar. Conforme ensina Paulo, a soberania sobre eles é do Espírito Santo, não nossa. Quando ocorrem, são sinais de Deus em determinadas situações para trazer glória ao seu nome e autenticar o poder do evangelho.

O dom da cura é a especial habilidade concedida por Deus a certos membros do corpo de Cristo para servir como intermediários humanos através dos quais Deus cura enfermidades e restaura a saúde, independente do uso de recursos naturais.

Há pessoas com esse dom que oram pelos doentes, de acordo com as instruções de Tiago 5:13-20, e as pessoas ficam curadas. Alguns oram por milagres, como Elias, e os milagres acontecem. E a Bíblia diz que “Elias era um homem semelhante a nós” (Tg 5:17).

Deus espera que utilizemos todos os recursos disponíveis para atender aos doentes e restabelecer a saúde dos que sofrem acidentes ou ficam enfermos. Vez por outra, nós nos surpreendemos com a notícia de um câncer que foi curado, possivelmente como resultado de uma unção. Essas exceções levantam questões controversas. Por que tais milagres são tão raros? Por que tantas orações que pedem por milagres de cura não são respondidas com a cura, mesmo quando é seguido o conselho de Tiago – juntar os anciãos, ungir com óleo e fazer a oração da fé? Por que em nossos dias não há milagres nos planos de Deus? O que dizer dos milagres que ocorrem nas igrejas carismáticas? Os adventistas do sétimo dia devem crer nesses milagres?

Não faz muito, um crente adventista me perguntou:

- Por que não há milagres na Igreja Adventista?

- Quem disse ao irmão que não há milagres entre nós? – interroguei-lhe.

Então passei a explicar-lhe por que Deus não instituiu, em caráter público, na igreja, as curas e milagres. Disse também que quando Deus opera o milagre não precisa de espetáculo, mídia ou coisa que o valha. Mas se buscarmos no anonimato, no meio da simplicidade, em locais diferentes de todas as partes do mundo, eles estão acontecendo entre o povo de Deus.

Outro dia um amigo apontando Mateus 10:8, onde Jesus ordena seus discípulos, entre outros, a curar enfermos, fez-me a intrigante indagação:

- Por que essas coisas estão ausentes hoje na igreja e em nós individualmente? Ou essas ‘orientações’ eram apenas para os doze discípulos/apóstolos?

Na verdade, meu amigo ao levantar tal questão não estava duvidando do poder de Deus para operar curas e milagres na atualidade, mas estava realizando uma pesquisa para elaborar um estudo a respeito desse tema. Sinceramente, no passado algumas vezes questionei a Deus porque não estamos vendo grandes milagres nos dias de hoje. Eu vim a compreender isso tempos depois ao estudar mais detidamente as Sagradas Escrituras auxiliado pelo Espírito de Profecia a respeito do assunto.

Mais recentemente, no meu Pequeno Grupo Kerigma travou-se um debate saudável em torno dessas mesmas questões aqui elencadas. Parte das respostas que dei ao meu amigo e aos meus irmãos do PG estão presente neste artigo, e foi justamente esses questionamentos que me motivou a desenvolver o presente estudo.

Respostas as questões controversas

É verdade que muitas orações que pedem por milagres de cura não são respondidas. Nesse sentido Ellen G. White escreveu: “Há casos em que o Senhor opera decididamente por Seu divino poder na restauração da saúde. Mas nem todos os doentes são sarados. Muitos são postos a dormir em Jesus. João, na ilha de Patmos, foi mandado escrever: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam.” Apocalipse 14:13. Vemos por aí que, se as pessoas não forem restituídas à saúde, não devem ser por isso consideradas sem fé” (A Ciência do Bom Viver, p. 231).

Quando oramos a Deus intercedendo por uma pessoa para ela receber a cura de uma doença, “seja qual for o desenlace do caso, não percamos a fé em Deus. Se formos chamados a sofrer a perda, aceitemos o amargo cálice, lembrando-nos de que é a mão de um Pai que nos leva esse cálice aos lábios” (Ibdem, p. 233). Fica claro que precisamos entender os desígnios de Deus, que estão tanto na morte quanto na vida ou na doença.

Mas por que Deus não cura todos os doentes pelos quais oramos? A resposta está além do nosso conhecimento. A vida de fé aguarda pacientemente o tempo da imortalidade, quando será possível entender a resposta, que, sem dúvida, Deus está ansioso por explicar. Porém Ele nos deu alguns lampejos por meio do Espírito de Profecia que nos ajudam a entender um pouco de Seus planos.

As contrafações do inimigo. Vivemos numa época em que o diabo se empenha, a tempo e fora de tempo, na elaboração de estratagemas sutis, a fim de contrafazer a verdade. Diz a escritora Ellen G. White, em O Grande Conflito, p. 571: “Satanás pode apresentar uma contrafação tão parecida com a verdade que engane aos que estão dispostos a ser enganados, aos que desejam excluir a abnegação e o sacrifício exigido pela verdade.”

O fenômeno de curas e milagres será usado pelo inimigo para enganar as pessoas exatamente antes da Volta de Jesus. E isso já está acontecendo em nossos dias. Só o fato de certos indivíduos supostamente possuírem o poder de realizar curas e milagres não significa por isso, que é o poder de Deus que os acompanha. A Volta de Cristo revelará grandes surpresas: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor, porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7:21-23).

Jesus foi muito enfático quando nos alertou sobre o surgimento de falsos profetas operando sinais e maravilhas com o fim de enganar os fiéis: "Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mt 24:24).

Falando sobre a futura vinda do anticristo, o apóstolo Paulo escreveu: “O aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem” (I Tessalonicenses 2:9 e 10).

Finalmente, João, descrevendo um poder apóstata que irá surgir durante os últimos dias da história humana, escreveu: “E ela [a besta] também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à Terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a Terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da primeira besta” (Apocalipse 13:13 e 14).

O cristão deve estar atento, ainda mais porque, embora Deus seja poderoso para efetuar todo e qualquer milagre que desejar, para a Providência divina, a cura nem sempre é o melhor caminho (Veja o caso de Paulo em 2Co 12:7-9, e o de Eliseu em 2Rs 13:14, 20).

Sempre houve contrafação do inimigo. Entretanto, à medida que o fim se aproxima, elas aumentam assustadoramente. Notemos por exemplo, como Satanás atua com oportunismo. De acordo com O Grande Conflito, p. 464, “antes de os juízos finais de Deus caírem sobre a Terra, haverá entre o povo do Senhor, tal avivamento da primeira piedade como não fora testemunhado desde os tempos dos apóstolos”. Entretanto, o diabo procurará “estorvar esta obra; e antes que chegue o tempo para tal movimento, esforçar-se-á para impedi-la, introduzindo uma contrafação (...). Multidões exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito”.

Entre as contrafações estarão os milagres e as curas. E já podemos ver em nossos dias, no contexto carismático moderno, a manifestação do que muitos admitem ser o cumprimento da concessão de dons espirituais, entre os quais o de curar.

Sendo que a Bíblia e o Espírito de Profecia tratam o assunto dessa maneira, surge a questão: São dignas de crédito as curas divinas tão propaladas em muitas igrejas que integram o pentecostalismo ou neo-pentecostalismo? A resposta é: “não necessariamente”.

“Alguns serão tentados a aceitar essas maravilhas como sendo de Deus. Enfermos serão curados à nossa vista. Milagres se efetuarão aos nossos olhos” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 1, p. 100). Daí a advertência de Cristo em Mateus 24:24.

O diabo tem o poder para curar?

A Bíblia Sagrada revela que Satanás tem poder de realizar cura. "E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz" (2Co 11:14).

"Porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso" (Ap 16:14). 

"Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira" (2Ts 2:9). 

Diz-nos a Mensageira do Senhor: “Antes do fim do tempo, ele operará maravilhas ainda maiores. Ao ampliar seu poder, ele há de realizar verdadeiros milagres. Dizem as Escrituras: “E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse” (Apocalipse 13:14), não meramente os que ele pretende fazer. Esse texto apresenta alguma coisa mais que simples ilusões.” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 698). Quando o diabo não consegue curar, ele contrafaz os milagres.

Diz mais a Serva do Senhor: "A Palavra de Deus declara que Satanás operará milagres. Fará com que as pessoas fiquem doentes, e depois, de repente removerá delas seu poder satânico. Serão consideradas então curadas. Essas obras de cura aparente levarão os adventistas do sétimo dia à prova. (...) E Satanás, rodeado de anjos maus, e pretendendo ser Deus, operará milagres de toda espécie para enganar se possível os próprios escolhidos. O povo de Deus não encontrará sua segurança na operação de milagres, pois satanás havia de falsificar qualquer milagre que fosse feito. (...) Devem tomar posição baseados na Palavra viva – 'Está escrito'. Este é o único fundamento sobre que podem estar seguros" (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 53, 55).

Na verdade, há muito embuste e engano nessas curas, tão em voga no charlatanismo carismático moderno. E o grande propósito do arquinimigo é dar a impressão de que tais maravilhas são operadas “em nome de Jesus”.

Pensemos, porém, nalguns pontos: 1) todos os curandeiros carismáticos exigem a cura; 2) nunca pedem que a cura seja efetuada de conformidade com a vontade de Deus; 3) todos eles são presunçosos, porquanto dizem que têm poder para curar (até colocam placas de propaganda em suas igrejas com respeito a suas curas); 4) a vida desses milagreiros não os recomenda: “Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7:15-20); 5) comercializam os dons do Céu. Pedir ofertas para orar pelos doentes, ou por alguém prisioneiro de Satanás não é bíblico, é humano e baixo. O que Jesus ensinou é que, “de graça recebeste, de graça dai” (Mt 10:8). O que há nessas igrejas é uma mercantilização da fé, com apelos para as ofertas.

Dízimos são devolvidos para a manutenção do ministério evangélico. Ofertas representam a gratidão do sincero crente para a construção e manutenção do lugar de culto, onde espera-se que pastores e ovelhas convivam em santidade. Fugir disto é charlatanismo.

Milhares de curandeiros apresentar-se-ão diante de Cristo e Lhe dirão: Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!’” (Mt 7:22, 23).

O inimigo tentará enganar os fiéis até mesmo imitando as obras do profeta Elias: "Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens" (Ap 13:13). Como, então, os fiéis poderão desmascarar o inimigo? Simples. Seguindo a Bíblia: "Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor" (Ml 4:5). O segredo está no verso anterior: "Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos" (Ml 4:4). Portanto, todo aquele que vier no "espírito de Elias", deverá demonstrar sua credencial divina confirmando a Lei de Deus! Dentro dos Dez Mandamentos está o verdadeiro sinal de Deus para o Seu povo: "Certamente, guardareis os meus sábados; pois é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica" (Ex 31:13). Jesus desaprova a tendência humana de valorizar mais as curas e os milagres do que Sua Santa Palavra: "Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis" (Jo 4:48).

O Espírito Santo foi enviado para guiar as pessoas a "TODA A VERDADE" (Jo 16:13). Por isso, podemos ter certeza que jamais Ele falará ou agirá contra a Palavra de Deus (Jo 17:17), ou contra a Santa Lei de Deus (Sl 119:142, 151).

Por que a Igreja Adventista não efetua milagres e curas ostensivas, a olhos vistos?

Ninguém pode duvidar da existência de inúmeras curas entre o povo de Deus atualmente. Creio que cada cristão adventista teria fatos concretos a relatar neste sentido. A Mensageira do Senhor predisse que milagres verdadeiros serão realizados pelo fiel povo de Deus: “Por milhares de vozes em toda a extensão da Terra, será dada a advertência. Operar-se-ão prodígios, os doentes serão curados, e sinais e maravilhas seguirão aos crentes” (O Grande Conflito, p. 612).

No entanto, por que Deus evita a operação pública de curas e prodígios entre Seu povo?

Diz-nos o Espírito de Profecia: “A maneira por que Cristo trabalhava era pregar a Palavra, e aliviar o sofrimento por obras miraculosas de cura. Estou, porém, instruída de que não podemos agora trabalhar dessa maneira, pois Satanás exercerá seu poder pela operação de milagres. Os servos de Deus hoje não poderiam trabalhar mediante milagres, pois espúrias obras de cura, pretendendo ser divina, serão operadas. Por essa razão o Senhor destinou um meio pelo qual Seu povo deve executar uma obra de cura física, aliada ao ensino da Palavra. Devem estabelecer-se hospitais, e com essas instituições devem estar ligados obreiros que façam genuína obra médico-missionária. Estende-se assim protetora influência em torno dos que vão aos sanatórios em busca de cura” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 54).

Retomamos a pergunta anterior: Por que não instituiu Deus, em caráter público na igreja, as curas e milagres? Insistimos: Por causa das imitações ou contrafações do inimigo.

Caro amigo leitor, tenho certeza que você também tem sua opinião a respeito deste assunto a qual eu gostaria de ler nos comentários mais abaixo.

Quero concluir dizendo que temos que andar em toda a verdade de Deus para estarmos seguros e vencermos as astutas ciladas de Satanás” (Ef 6:11). Andando em toda a verdade de Deus é a segura guia para não sucumbir nesta avalanche de curas e milagres que sacode o mundo, nas igrejas e centros espíritas.