Teologia

domingo, 11 de junho de 2017

UMA ÉTICA PARA A CRISE MORAL E POLÍTICA



Ricardo André

O Brasil vive a maior crise política e moral do período republicano. Iniciada em março de 2014, a Operação Lava Jato da Justiça Federal de Curitiba trouxe a baila um grande esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobrás, envolvendo poderosas empreiteiras e outras empresas e figurões da política nacional. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Nesse esquema, que vem desde a época da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros e políticos. Parte desses recursos desviados da Petrobrás servia para financiar as campanhas eleitorais dos principais políticos do país, que ao serem eleitos atuariam para beneficiar tais empresas.

As investigações tem revelado que os empresários pagavam propinas aos partidos e aos parlamentares, para conseguir projetos de lei, emendas parlamentares, aprovação de medidas provisórias, para ter acesso às diretorias de estatais (muitas vezes cargos nomeados pelo presidente, mas seguindo indicações de partidos e parlamentares). Eles simplesmente sequestraram o sistema político brasileiro.

Essa relação promíscua entre empreiteiras e políticos, baseada na troca de favores e propina surpreendeu a maioria do povo brasileiro. Esses recentes episódios ocorridos no Parlamento brasileiro e fartamente expostos pela mídia demonstram a total falta de compromisso com interesses coletivos e cristaliza a crise moral. Nossos representantes no parlamento parecem preocupar-se tão somente com a própria manutenção no poder e obtenção de vantagens pessoais, conduzindo-se por uma inclinação devassa que chega a enojar.   

Em 17 de abril de 2016, a Presidente Dilma Roussef, eleita democraticamente, sofre impeachment decorrente de uma articulação de uma quadrilha de políticos corruptos que queria apenas se proteger da Justiça, intensificando a crise política no país. O Vice-Presidente Michel Temer, também integrante desse grupo de políticos oportunistas, assume a Presidência da República. Ele e a maioria de seus ministros são investigados pelo STF por corrupção. Em apenas seis meses, os mais recentes escândalos de corrupção causaram a baixa de quatro dos homens mais próximos ao presidente Michel Temer. Vivemos uma crise de representatividade dos partidos políticos tradicionais, vinculados às oligarquias regionais e às grandes burguesias nacionais, assim como dos partidos de esquerda que se adaptaram velozmente ao status quo e às práticas políticas tradicionais.

Deveras, o Brasil vive uma crise de valores morais e éticos. Todavia, corrupção não se trata de um mal exclusivo do Brasil, mas vício que ocorre em todos os países, democráticos ou não. O mundo vive um vácuo de valores. Diante do relaxamento dos padrões de honestidade, hoje em dia todos nós acabamos nos vendendo um pouco. As pessoas se defendem, dizendo que são honestas porque não matam nem roubam, mas fazem vista grossa para os pequenos deslizes. Furar fila, estacionar o carro em local proibido, aceitar troco errado, roubar TV a cabo, comprar produtos falsificados, não declarar corretamente o Imposto de Renda. Na hora de declarar aquela despesa, muitos brasileiros costumam utilizar notas que não se enquadram ou tentam arranjar dependentes para que a mordida do leão seja mais leve. O dinheiro sonegado poderia contribuir para a construção de estradas, hospitais e melhorar a infraestrutura do Brasil. O dinheiro acabou indo pelo ralo pelas mãos da própria população. Estas são pequenas formas de corrupção que se proliferam em nossa sociedade. A mesma coisa acontece com os atrasos -"vou chegar atrasado porque todo mundo chega" -, e assim por diante: "vou cobrar acima da inflação porque todo mundo cobra", "vou fazer um favor para ele, mas em troca quero uma vantagem para mim". A inversão de valores toma conta de toda a sociedade e de suas instituições - começando na família e nas empresas e terminando no governo da cidade, do estado e do País. Trata-se de uma crise de valores. Até os mais velhos, formados sob uma moral rígida, estão se acomodando.

“Considere, por exemplo, a fome. Há pessoas famintas não por causa de escassez de alimento no mundo, mas por causa de uma terrível desigualdade na sua distribuição. Essa desigualdade, por sua vez, é o resultado de uma distribuição ainda mais desigual da riqueza, educação e meios de produção e transporte. A opressão e a negligência dos que não têm nada por parte dos que têm demais é definitivamente um problema moral” (Loron Wade, Os Dez Mandamentos: Princípios divinos para melhorar seus relacionamentos, p. 9).

Infelizmente tem havido uma grande inversão de valores morais, e poucos têm se apercebido deste fato. A falta de respeito é generalizada. Muitos jovens não respeitam os adultos. E muitos adultos abusam nos cargos de comando - na família, nas empresas, nas repartições. A mesma coisa acontece com as escolas, que hoje limitam-se a informar - e não mais a formar os jovens. A crise de valores decorrente das rápidas transformações do mundo moderno é um fenômeno mundial. Cultua-se a imoralidade, o viver dissoluto, o vício e não se dá crédito às pessoas de viver sadio e puro! E os meios de comunicação que visam ao lucro e à satisfação imediata acabam se aproveitando. As novelas fazem apologia do sexo sem responsabilidade, que transforma as pessoas em objetos, numa espécie de liquidação de mercadorias baratas. Glorificando o egoísmo, elas também valorizam a vingança, a mentira e a truculência, justificando os fins pelos meios.

Isso comumente acontece na televisão, na publicidade, nas músicas, no rádio, no cinema, nos jornais, livros e revistas. Alguns técnicos da publicidade afirmam que o sexo, principalmente o permissivo, aumenta a impulsividade das pessoas, ampliando seus impulsos para comprar supérfluos e tornando-os mais manipuláveis.

Existe tanta zombaria do que é correto, que os honestos procuram ficar no anonimato. Como dizia Rui Barbosa: “Os homens bons têm vergonha de ser honestos”. As pessoas valem pelo que tem e não pelo que são. Valoriza-se o traje e não aquele que o veste!  

Ellen G. White falou da maior necessidade do mundo hoje:

“A maior necessidade do mundo é a de homens - homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus” (Educação, p. 57).

Ela escreveu este texto assaz conhecido a mais de cem anos, mas ainda é e será sempre atual, enquanto esta necessidade perdurar.

Causa da Crise

Antes da crise econômica ou política, vivemos no Brasil uma profunda crise moral e, entre outras razões, decorrente da realidade de que muitos preferem viver em “liberdade”, divorciados de Deus. E essa falsa liberdade levam-nos a rejeitar o código moral dos Dez Mandamentos e da Bíblia como não práticos e irrealísticos. A falsa liberdade levam as pessoas a abandonarem os valores tradicionais, os valores éticos e religiosos. A sociedade hodierna é marcada pela cultura niilista, que segundo a qual não existem valores absolutos, universais e permanentes, as pessoas não têm vínculos duráveis com nada nem com ninguém, vivem só para si mesmas, buscando apenas os prazeres efêmeros, que, segundo a concepção niilista da vida, são os únicos que existem. Dela brotam e se multiplicam o consumismo e o hedonismo.

A Nova Era aparece com a esdrúxula ideia de que o ser humano pode ser o deus do seu próprio destino, porque existe uma ilimitada energia dentro do homem. O ser humano precisa descobrir o “Eu Superior” que dorme em seu interior. Se souber fazê-lo – afirmam os adeptos da Nova Era – não precisam mais de Deus apresentado pela Bíblia, já que Deus não passa de uma “Energia Superior”.

A escritora cristã Ellen G. White, apropriadamente afirmou: “Transgredir Sua lei – física, mental ou moral – é se colocar fora da harmonia do universo, ou introduzir discórdia, anarquia e ruína” (Educação, p.  99, 100). É exatamente isso que temos presenciado na sociedade hodierna: “discórdia, anarquia e ruína”, por conta da emancipação do homem de Deus e da rejeição da Sua imutável lei. Sem Deus e os Dez Mandamentos toda prática humana moralmente reprovável pode ser justificada, até mesmo o estupro. A menos que haja uma autoridade superior (Deus), a quem o homem tem que prestar conta, que deu os Dez Mandamentos, tudo acerca do certo e errado são apenas opiniões pessoais e de crenças, sujeitas a alterações. Tudo será relativo. É exatamente por conta dessas ideias do relativismo moral, diga-se de passagem, insensatas que chegamos ao atual estado de crise no Brasil e no mundo.

A Solução

Existe uma solução para o país e o mundo sair da crise em que está mergulhado? Sim! Há uma saída ao nosso alcance que temos ignorado por muitos anos. A saída para a grave crise política e moral do Brasil e do mundo é, indubitavelmente, as pessoas voltarem-se para o amorável Deus Criador e, por amor a Ele obedecer os grandes princípios morais da lei de Deus incorporados nos Dez Mandamentos (Êxodo 30:3-17; João 14:15). Estes expressam o amor, a vontade e os desígnios de Deus a respeito da conduta humana, e são tão obrigatórios e significativos para as pessoas hoje em dia como eram quando foram dados pela primeira vez.  “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem” (Eclesiastes 12:13). Se bem que a maioria seja expressa na forma negativa, não são principalmente restrições, que privam as pessoas da liberdade, mas representações verbais da espécie de caráter que os filhos de Deus refletirão quando resolverem viver como Ele quer que vivam. “Como uma fonte a jorrar com sabedoria prática, eles oferecem soluções em tempo real para problemas e situações reais com os quais todos nós lidamos a cada dia. São princípios que tem aplicação racional na vida diária de cada um. E a sua comprovação está na sua aplicação” (Loron Wade, Os Dez Mandamentos: Princípios divinos para melhorar seus relacionamentos, p. 11).


Acima de todas as coisas, Deus quer a nossa felicidade, tanto agora como na eternidade. E porque Ele deseja ver-nos felizes, leva nossas necessidades muito a sério. Somos importantes para Ele. Como resultado dessa importância, Deus está fazendo tudo o que pode para conduzir a vida das pessoas. No processo, Ele estabelece princípios de vida, expressos na Sua lei, a fim de que sejamos mais saudáveis em todos os aspectos – espiritual, social, físico e mental. Os Dez Mandamentos são, portanto, salvaguardas. O primeiro nos protege contra o politeísmo. "Outros deuses" pode fazer referência a qualquer coisa que possa ser "adorada" acima de Deus, como dinheiro, poder, sexo, educação, novelas, arte, entre outros; o segundo contra a idolatria. O terceiro protege a honra de Deus, proibindo que o homem cometa o mal em nome de Deus.  

O quarto é uma defesa contra a dissipação das faculdades física e contra a negligência da vida espiritual. “Deus criou o “descanso” no sétimo dia. O sábado é uma fronteira sagrada colocado dentro do ciclo semanal. Ele faz cessar o fluxo de tempo secular, instituindo uma pausa na rotina de nossa luta diária. Estabelece uma parada na agitação do trabalho cotidiano. O sábado é uma maneira idealizada por Deus para escaparmos de um mundo em ritmo frenético. É um dia separado de todos os outros dias da semana. É um tempo especial de qualidade, um tempo em que podemos refletir sobre os relacionamentos mais importantes da vida. É um momento no qual podemos dizer “não” para todas as outras necessidades e coisas que preenchem nossa vida. Os seres humanos precisam desesperadamente desse espaço sagrado, dessa fronteira divina. Precisamos dele hoje muito mais do que antes. O mundo está mais agitado, barulhento, intenso e exigente do que em qualquer outro período da história. O sábado permite que não sejamos consumidos por isso” (Mark Finley, Tempo de Esperança: 24 horas para você renovar suas energias, p. 10).

O quinto assegura o respeito e o cuidado dos pais idosos. Protege os pais de serem maltratados pelos filhos. Em pesquisas recentes, mais de 50% dos velhinhos que são internados nos asilos, recebem uma só visita por ano, dos filhos que os abandonaram lá. Parece que os velhos não tem mais nenhum valor: são desrespeitados nas filas, são desrespeitados no trânsito. Uma geração que não reverencia mais os velhos, é uma geração que não teme mais a Deus. Reverenciar os velhos, equivale a temer a Deus. O sexto protege a vida humana contra o homicídio. O sétimo é uma defesa contra a violação dos laços matrimoniais e contra a impureza. O oitavo protege a propriedade pessoal. O nono constitui uma proteção contra o falso testemunho e as falsidades. O décimo é uma defesa contra intenções e desejos prejudiciais.  Como se vê, ao dar-nos Sua lei moral, Deus deseja o que é melhor para nós, agora e para sempre. A observância dessa lei nos traz felicidade e bênção. Pela desobediência nós nos privamos das bênçãos resultantes de viver em harmonia com as leis de Deus.

De forma inacreditável, a maioria das igrejas cristãs ensina que a lei moral dos Dez Mandamentos foi abolida ou mudada. Que lástima! Ao contrário do que essas agremiações religiosas dizem, Jesus afirmou categoricamente que a lei de Deus é eterna, não pode ser mudada no mínimo grau. Suas exigências são perpétuas. “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra” (Mateus 5:17, 18, NVI). Assim como o céu e a Terra são sinais de perpetuidade, no sentido de que eles estão sempre aí, assim a lei de Deus é perpétua. Não é algo que Ele muda de tempos em tempos porque sente o desejo de fazer alguma coisa diferente, ou porque as culturas dos povos se alteraram. Não, seus princípios estão embutidos na própria estrutura do Universo.

Os caminhos da lei básica de Deus são os caminhos da saúde e da vida. O contrário da lei é a morte, a destruição e a desordem. É impossível ter uma sociedade sadia na qual as pessoas roubam e matam uma às outras e não se pode confiar em ninguém.  A lei de Deus não pode ser mudada porque é uma representação visível do Seu caráter. Seus próprios princípios são para o nosso eterno bem, conforme já demonstrado anteriormente. Por isso, nem a menor partícula da lei de Deus, nem “um i ou um til” (a menor letra e o menor acento do alfabeto hebraico), serão mudados. Isto é para o nosso bem.

Deus deseja escrever Sua lei eterna de amor no âmago do nosso coração. “Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias", declara o Senhor. "Porei minhas leis em suas mentes e as escreverei em seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo” (Hebreus 8:10, NVI). Quando isso for feito, será natural para nós sermos atenciosos para com Ele e para como nossos semelhantes. Que lugares maravilhosos seriam nosso lar, nossa igreja e nossa comunidade, se deixássemos que Deus escrevesse Sua lei em nosso coração!

Caro amigo leitor, torne o antigo código moral chamado de Dez Mandamentos parte de sua vida. Você encontrará a felicidade. Isso só será possível somente com a renovação da nossa mente. Disse o apóstolo Paulo: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Essa mudança radical do coração que resulta em verdadeira moralidade ocorre quando entregamos nossa vida a Cristo. Então, Ele opera em nós essa mudança. Portanto, essa mudança é um ato de criação, um dom de Deus (Salmo 51:10; 2 Coríntios 5:17).

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