Teologia

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

QUAL É O PERÍODO DA VIDA ADEQUADO PARA ALGUÉM ENTREGAR A VIDA A DEUS?


Ricardo André

O sábio Salomão, consciente da brevidade da vida aconselha, de forma maravilhosa e pertinente, a todas as pessoas a lembrarem-se de Deus nos dias da juventude. Ele diz: “Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e antes que se aproximem os anos em que você dirá: "Não tenho satisfação neles” (Eclesiastes 12:1, NVI). Lembrar-se de Deus é lembrar-se de que Ele nos ama supremamente, que Ele nos ama com cada fibra do Seu Ser, e como resposta a esse amor entregamos a nossa vida a Ele em nossa tenra idade, em nossa juventude, a fim de que tenhamos uma velhice mais feliz. Lembrar-se do Criador é algo urgente na vida de qualquer ser humano, é algo que não pode ser protelado, não pode ser deixado para depois. Algo que não é para a velhice, mas que precisa ser experimentado ainda “nos dias da tua mocidade”.

Quando obedecemos o conselho do sábio Salomão, se torna mais fácil encarar e viver a velhice - fase tão temida pela maioria das pessoas -  mas tão gratificante para quem chega a ela com a consciência de ter vivido bem a mocidade. Lembrar-se de Deus é dar a vida “em flor” a Ele. E para justificar o conselho, o sábio diz: “[...] antes que venham os dias difíceis e antes que se aproximem os anos em que você dirá: "Não tenho satisfação neles”. Imagine se alguém lhe desse, como presente, umas flores murchas e sem vida, que você faria? Por certo, jogaria fora...

Por que dar a vida a Deus depois de arruinada, quando já pouco ou nada podemos fazer para Ele? É uma honra para Deus dar-lhe alguém a vida em pleno vigor, com forças e tempo para muito empreender e fazer pelo céu.  O verdadeiro êxito da vida está em dedicá-la a Deus e ao Seu serviço. Vale a pena nesta idade da vida não se esquecer de Deus. Ele está interessado nos jovens e convida-os a fazerem seus amigos. Mas em geral a tendência dos jovens é deixar Deus para mais tarde, e alguns nunca se lembram dEle.

O tempo voa. Passa tão rapidamente que nós nem damos conta da sua passagem, tão ocupados estamos com as coisas desta vida - o curso universitário, o emprego, o casamento, com todas as suas alegrias e problemas, a chegada dos filhos, e mais alguns problemas, e... já passou tanto tempo, não tardam os netos, e... nós sempre ocupados e, às vezes, esquecidos do principal - lembrarmo-nos do nosso Criador para O adorar, amar e servir.

A juventude é o tempo áureo da vida, quando são tomadas as grandes decisões. A decisão mais importante que um jovem, moço ou moça, possa tomar é dar o coração a Deus. Isso não quer dizer que Deus não aceita a pessoa com idade avançada. O Senhor Jesus está sempre disposto a aceitar o pecador penitente, a qualquer tempo e com qualquer idade. Quanto melhor, porém, é decidir-se por Cristo na juventude, de maneira que se possa dedicar ao Seu serviço toda uma vida de utilidade.

Meu encontro com Jesus em minha mocidade

Na primeira metade do ano de 1984, decidi seguir o conselho de Salomão. Tornei-me um cristão adventista do sétimo dia, depois de participar de uma série de estudos bíblicos, num Evangelismo Público, realizado pela Igreja Adventista da Cidade do Cabo de Santo Agostinho/PE. Convencido de que os ensinos e crenças adventistas estavam em perfeita harmonia com as Sagradas Escrituras, decidi me batizar naquele ano. Porém, a Comissão Administrativa da igreja entendeu que eu não poderia me batizar naquele momento por conta da minha tenra idade (tinha 11 anos) e por meus pais não serem adventistas para me ajudar e apoiar em minha caminhada cristã. Temeram que eu logo abandonasse a igreja. Me incentivaram a frequentar mais a igreja. Foi exatamente isso que fiz. Mesmo não sendo batizado já me considerava um crente adventista. Frequentava todos os cultos e guardava o sábado.

O momento esperando com muita expectativa chegou no ano seguinte. Fui batizado na Igreja do Cabo de santo Agostinho, em Pernambuco, no dia 17 de agosto de 1985, e fui logo integrado ao Grupo do Bairro São Francisco. Era ainda uma criança com apenas 12 anos de idade, mas com uma firme convicção de que estava tomando a melhor decisão da minha vida, e de que Cristo estava conduzindo minha decisão. Aquele foi um dia muito feliz para mim, que marcou indelevelmente minha vida. Esse ano (2022) fará 37 anos que entreguei minha vida a Jesus através do batismo. Nunca me arrependi da decisão que tomei naquele ano.

Conquanto fosse muito jovem, a compreensão de que eu fazia parte de um movimento profético (Ap 10), que possuía uma mensagem profética a ser anunciada ao mundo, denominada no Apocalipse 14 de “Evangelho Eterno”, descritas nas três mensagens angélicas, passei a trabalhar intensamente durante os anos da minha adolescência para anunciar a vinda de Jesus e seus ensinos para muitas pessoas. Dei muitos estudos bíblicos a muitas pessoas, a vários colegas e amigos. Muitas pessoas entregaram-se a Jesus através do meu trabalho missionário. Alguns permanecem firme em Jesus até hoje. Outros, infelizmente, se afastaram da igreja, mas receberam a mensagem do evangelho eterno, e poderão algum dia regressarem a igreja.

Com a fase adulta o meu desejo de levar outras pessoas a Jesus e ajudá-las a se prepararem para o segundo advento de Jesus não mudou. Continuei ministrando estudos bíblicos aos amigos, agora na cidade de Lagarto/SE, onde moro desde 1993. Desde cedo descobri que o compassivo Jesus era de fato meu amigo. E me amava e me deu tantas coisas boas, sempre oferecendo mais do que mereço, Ele nunca deixou faltar nada. E me proveu a subsistência em muitos momentos difíceis, me deu novas oportunidades, me deu uma família (minha base), dois empregos. Há 23 anos sou professor de História das Redes Públicas Estadual e Municipal de Sergipe. Fui ancião da Igreja Adventista do Sétimo Dia Lagarto I (2000-2008) e da Igreja Central de Lagarto (2010-2019). Fui também Diretor de Publicações e Diretor do Minicentro de Pesquisas Ellen G. White da IASD Central de Lagarto de 2016 a maio de 2020. Meu maior interesse é participar da grande obra da pregação do Evangelho, alcançando muitas pessoas pelo conhecimento da Palavra, ajudando a preparar outros filhos de Deus para a breve volta de Jesus Cristo à Terra.

Hoje, olho pra trás e vejo os milagres que Deus me concedeu. Por me amar, simplesmente.

Ellen G. White encontra-se com Jesus em sua tenra idade

Ellen White passou uma experiência maravilhosa em sua juventude ao encontrar-se com Jesus. Realmente ela seguiu o conselho do sábio Salomão ao encontrar a Cristo em sua mocidade.

Ellen cresceu num lar Metodista e quando ainda bem jovem desenvolveu um amor intenso pelo Mestre Jesus. Aos oito anos de idade ouviu falar que Jesus poderia voltar dentro de alguns anos. Esse pensamento foi um choque para a pequena Ellen. Um dia, a caminho da escola, pegou um pedaço de papel no qual havia a mensagem de que Cristo poderia voltar em poucos anos. “Fui tomada pelo terror”, escreveu. “Uma impressão tão profunda se formou em minha mente [...] que mal consegui dormir por várias noites e eu orava continuamente para estar pronta quando Jesus viesse” (Life Sketches of Ellen G. White, p. 20, 21).

Foi em Portland, Maine que, aos nove anos de idade, Ellen sofreu um acidente que mudou completamente o curso de sua vida. Foi através desse acidente que ela foi chamada para ser a Serva do Senhor, para ser a transmissora de boas novas e conforto para o povo de Deus, tão pesaroso e triste pelo desapontamento de 1844. Foi através daquela experiência que o Senhor a preparou para uma vida de serviço à Igreja Adventista, como profetisa e conselheira.

Às vezes não entendemos o porquê de alguns acontecimentos em nossa vida e estamos certos de que o mesmo ocorreu com Ellen, em sua juventude. Ela foi abruptamente transformada no outona de 1836, ao voltar para casa com sua irmã Elisabete. Uma coleguinha de escola, mais velha, irada e impensadamente atirou-lhe uma pedra, que a deixou inconsciente. Mas foi aquele espinho na carne que transformou numa grande profetisa para o Senhor.

Realmente o Senhor protegeu a jovem Ellen e cobriu sua cabeça naquele dia, quando a colega de classe lhe atirou a pedra que mudaria sua vida e a de todos nós. Depois de receber a pedrada, e ao voltar a si mais tarde, encontrava-se numa pequena loja, toda ensanguentada. Um senhor muito afável ofereceu-se para leva-la em sua charrete, mas ela recusou com medo de sujá-la de sangue. Caminhou um pouco, ia quase desmaiando e teve que ser carregada por sua irmã e uma colega de escola por uns 800 metros.

Por três semanas ficou semiconsciente, à beira da morte e os vizinhos e amigos pensaram que Ellen morreria. Depois de três semanas naquele estado semiconsciente, voltou a si, e ficou estupefata ao olhar-se no espelho e verificar que seu rosto estava deformado. A pobre Ellen virou um esqueleto! Até seu pai ao voltar de uma viagem, não a reconheceu. Não poderia crer que aquela era sua pequena Ellen que havia deixado em casa alguns meses antes, e considerada uma menina feliz e alegre. (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 9-13).

Mas foi naquela cama, ao recobrar a consciência, que lhe veio a percepção de que estava morrendo. Os vizinhos vieram oferecendo o roupão para o funeral. Ali no leito de dor, a pequena Ellen de nove anos, pensando que ia morrer, fez as pazes com Deus e durante todo aquele tempo não ficou com medo de morrer.

Esse foi o primeiro passo da conversão da menina Ellen. Foi ali no leito de dor que o Senhor falou ao coração daquela jovem e protegeu-a, preparando-a para um grande ministério em favor de Sua Igreja. Anos mais tarde, Ellen compreendeu que aquele infortúnio em sua vida era uma bênção disfarçada. Ela afirmou: “Eu nunca teria conhecido Jesus se não tivesse sentido a tristeza a tristeza que tornou sombrio meus primeiros anos e me fez buscar conforto nele” (Ellen White: Mulher de Visão, p. 15).

Muitas vezes somos assolados por tristezas e pesares e não entendemos o porquê. Não seria o caso de o Senhor nos estar preparando para grandes coisas em Sua Obra?

Sabemos que vivemos num mundo de pecado e sofrimento e que o inimigo procura destruir-nos. Mas, como no caso de Jó, muitas vezes o Senhor permite que Satanás chegue para mais perto de nós e nos aflija. A mão divina estará sobre nós e nunca permitirá que sejamos afligidos ao ponto de não podermos suportar. Jesus está sempre abrindo as janelas para que possamos vislumbrar Seu amor e carinho por nós.

No ano de 1840 Ellen assistiu, com os pais, à reunião campal metodista em Buxton, Maine, e lá, com a idade de 12 anos, entregou o coração a Deus. “Na tarde de domingo do dia 26 de junho de 1842, ela e outras dez pessoas foram batizadas nas águas da acidentada baía de casco, em Portland” (Ellen White: Mulher de Visão, p. 15). E nesse mesmo dia foi recebida como membro da igreja metodista.

Com outros membros da família, Ellen assistiu às reuniões adventistas em Portland em 1840 e 1842, aceitando plenamente os pontos de vista apresentados por Guilherme Miller e seus companheiros, e confiantemente aguardou a volta do Salvador em 1843, e depois em 1844. Ela relata: "Este foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração transbordava de alegre expectativa" (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 54). Ellen era fervorosa obreira missionária, trabalhando com seus jovens companheiros, e fazia sua parte em proclamar a mensagem do advento. Muitas vezes trabalhava longas horas com abnegação a fim de poder obter os meios para propagar a preciosa mensagem a outros.

A juventude de Ellen não diminui a amargura do grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 e, assim como outros, ela buscou fervorosamente a Deus por luz e direção nos dias de perplexidade que se seguiram. No tempo crítico, quando muitos estavam vacilando ou abandonando sua experiência adventista, juntou-se Ellen Harmon a quatro outras irmãs no culto familiar enquanto estava na casa de um companheiro de fé, no sul de Portland, numa manhã do fim de dezembro. A esse respeito, de quando ela estava ajoelhada humilde e tranquilamente em oração, diz ela: “o poder de Deus veio sobre mim como eu nunca dantes sentira” (Vida e Ensino, pág. 57). O revestimento do poder trouxe-lhe a primeira visão, na qual a essa menina de 17 anos foi mostrada a jornada do povo do advento da decepção de 1844 à Cidade de Deus (Primeiros Escritos, p. 13-31). Seguiu-se pronta ordem para ela ir e relatar o que lhe fora revelado. Seus sentimentos são descritos da seguinte maneira: “Depois que saí da visão, estava excessivamente perturbada. Dirigi-me ao Senhor em oração e roguei-lhe que passasse a responsabilidade sobre outra pessoa. Parecia-me que não a poderia suportar. Fiquei sobre o meu rosto por longo tempo, e toda luz que pude obter, foi: Dá a conhecer aos outros o que te revelei” (Vida e Ensino, p.65). Aquela jovem ergueu-se da oração para assumir a responsabilidade e falar por Deus, desempenhando-se muito bem e fielmente por 70 anos.

Quando Ellen relatou, tremendo e relutantemente, essa visão aos crentes em Portland, foi ela aceita como luz de Deus. Atendendo à direção do Senhor, Ellen viajou com amigos e parentes de um lugar para outro, conforme a oportunidade, relatando aos grupos esparsos de adventistas o que lhe fora revelado, tanto na primeira visão, como nas que se sucederam.

Desde 1844 até 1915 – ano de sua morte – ela recebeu mais de 2000 visões e sonhos proféticos. Através das mensagens que chegavam por meio da Serva do Senhor deram estabilidade, crescimento e solidez ao Remanescente Fiel. Por meio de seus Testemunhos, ela orientou o sistema educacional adventista, a obra de publicação, a reforma pró-saúde.

Durante os 70 anos de serviço à Igreja, como profetiza e conselheira, Ellen G. White viveu e trabalhou na América do Norte, Europa e Austrália, aconselhando, estabelecendo novas frentes de trabalho, pregando e escrevendo. Que mensageira maravilhosa! Como poderíamos negar sua pena inspirada que produziu 100.000 páginas para a Igreja? Suas 2.000 visões têm norteado a Igreja Adventista através dos anos e seus conselhos maravilhosos conservam a Igreja unida, apesar dos vendavais de crítica e discórdia.

Durante toda a sua vida ela escreveu mais de 5.000 artigos e 49 livros; mas hoje, incluindo compilações de seus manuscritos, mais de 150 livros estão disponíveis em inglês, e cerca de 90 em português. O poderoso livro Caminho a Cristo, transformador de vidas, já foi traduzido para mais de 165 idiomas. Acredita-se que ela é a escritora mais traduzida em outras línguas em todo o mundo e a escritora mais traduzida na América, tanto do sexo masculino, como feminino.

Na manhã do sábado, 13 de fevereiro de 1915, ao entrar Ellen White em seu confortável gabinete de estudos, tropeçou e caiu, e viu que não podia levantar-se. Foram buscar auxílio e logo se verificou que o acidente era sério. O exame de raios-X revelou uma fratura no quadril, e a Sra. White ficou durante cinco meses confinada à cama ou na cadeira de rodas. 

Suas palavras a amigos e parentes durante as últimas semanas de vida indicam um sentimento de alegria, e o senso de ter realizado fielmente a obra que o Senhor lhe confiara, confiança de que a obra de Deus avançaria até seu triunfo final, mas a preocupação de que os membros individuais da igreja, especialmente nossos jovens, reconhecessem o tempo em que estávamos e o sério preparo necessário para encontrar o Senhor em Sua vinda. No dia 09 de julho de 1915, seu filho William C. White, “orou e disse a sua mãe que entregariam tudo nas mãos de Jesus. Então, ela respondeu, falando por meio de um fraco sussurro: ‘Eu sei em quem tenho crido’” (Ellen White: Mulher de Visão, p. 537).

Os trabalhos da vida de Ellen White terminaram a 16 de julho de 1915, na idade madura de oitenta e sete anos bem passados, e foi posta a descansar ao lado do esposo no cemitério de Oak Hill, em Battle Creek, Michigan. Embora a voz esteja silente e a pena infatigável descansando, contudo, as preciosas palavras de instrução, conselho, admoestação e encorajamento sobrevivem, para guiar a igreja remanescente até o fim do conflito e o dia da vitória final.

Indubitavelmente, Ellen G. White obedeceu o conselho do sábio Salomão, entregando sua vida a Jesus ainda na sua tenra idade, e teve uma vida de serviço ao Senhor, chegando a velhice muito feliz realizando a obra que o Senhor lhe designara.

Caro leitor, aproveita a tua juventude, a tua maturidade, a tua vida, para servir ao Senhor com todo o teu coração e no tempo próprio. Ele te dará a recompensa: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil” (1 Coríntios 15:58).

 

 

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