QUEM É JESUS PARA VOCÊ?
Ricardo André
“Jesus e os Seus discípulos dirigiram-se para
os povoados nas proximidades de Cesareia de Filipe. No caminho, Ele lhes
perguntou: ‘Quem o povo diz que Eu sou?’ Eles responderam: ‘Alguns dizem que és
João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, um dos profetas.’ ‘E vocês?’,
perguntou Ele. ‘Quem vocês dizem que Eu sou?’ Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo’”
(Marcos 8:27-29, NVI)
Esse diálogo entre
Jesus e Seus discípulos ocorreu enquanto Jesus estava ativo – ensinando,
pregando e curando em todas as cidades e aldeias da Galileia. Mais e mais
pessoas ouviam falar de Jesus e passavam a segui-Lo. Seu ministério foi marcado
por muitos milagres: transformou água em vinho, restaurou a vista aos cegos,
curou leprosos, alimentou multidões, expulsou espíritos imundos, ressuscitou
mortos, acalmou tempestades e muitos outros milagres. Os líderes religiosos suspeitosamente
observavam e planejavam o que fazer. Os discípulos foram testemunhas dos
milagres de Jesus e de Sua autoridade e poder divinos. Toda a Galileia parecia
estar em grande agitação. Em meio ao aumento de sua popularidade, Ele fez a
pergunta que confronta todas as pessoas até hoje: Quem é Jesus? Essa é talvez a
pergunta mais notável da história.
Mateus 16:13-20 e Lucas
9:18-20 também relatam esse episódio, com pequenas variações e detalhes
adicionais. Ao analisar os três relatos, vejo um cenário intrigante. Por que
Jesus fez essa pergunta especificamente naquele momento? Será que Ele Se
importava com o que as pessoas pensavam dEle? Era realmente essa Sua intenção?
O que Ele estava tentando descobrir ao perguntar a Seus discípulos o que estava
sendo falado sobre Ele?
Esse diálogo ocorreu em
Cesareia de Filipe, uma cidade predominantemente gentílica localizada vários
quilômetros ao norte da Galileia (Bíblia
de Estudo Andrews [CPB, 2015], p. 1259, 1296). Por que Jesus escolheu a
cidade de Cesareia de Filipe para fazer essa relevante questão? Em cada atitude
de Jesus, havia um objetivo específico. Suas palavras, Seus milagres e viagens
sempre tinham uma mensagem a transmitir. Não foi diferente em Sua ida de
Cafarnaum para Cesareia de Filipe.
Possivelmente, Jesus
tenha escolhido ir a essa cidade porque era o centro do culto ao Deus Pan. Os
gregos acreditavam que os deuses habitavam ali. Não foi sem razão que
Alexandre, o Grande, construiu um santuário na cidade. Ao ir até lá, Jesus
queria contrastar Seu ministério com a idolatria, as falsas religiões e a
mitologia grega. Buscava salientar que os falsos deuses não mudariam o mundo. Isso
só poderia ser feito pelo Filho de Deus. Portanto, aquela cidade
era um lugar apropriado para Jesus ser declarado o Filho de Deus. E também para
ter a oportunidade de instruir os discípulos e “prepará-los para as provações”,
que em breve levaria Seu ministério ao fim (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2004],
p. 411).
Ademais, Jesus havia
sido rejeitado em Nazaré, Sua cidade natal. Assim, precisava redirecionar Seu
ministério para outras regiões porque Seu povo se recusara a aceitá-Lo como
Messias. Onde quer que fosse, a aceitação era acompanhada pela rejeição. A
principal preocupação dos líderes religiosos da época, os fariseus e os
saduceus, era encontrar todos os meios possíveis para eliminar Jesus (Lc 4:29).
Crescia o espírito de conspiração entre eles. Observavam Jesus de forma
contínua, analisando Seus ensinamentos e ações. Buscavam uma palavra ou ação
que pudesse ser usada contra Ele, que provasse ser Ele um transgressor da lei,
de modo a justificar o fim de Sua vida e de Seu ministério.
Ao passo que Jesus
crescia em popularidade entre as pessoas comuns, aumentava a suspeita e
conspiração por parte dos fariseus e saduceus que queriam matá-lo. Foi
justamente por ter consciência de que o Seu tempo estava se esgotando, que
Jesus abriu a discussão a Seu respeito. Nesse contexto conflitante, Ele se
dirige a Seus discípulos e os confronta com a mais importante questão: “Quem o
povo diz que Eu sou?” (v. 27).
“Evidentemente, Jesus
sabia muito bem o que as pessoas pensavam Dele. [...] Sua razão para fazer aos
discípulos essa pergunta era preparar a mente deles para a pergunta seguinte: o
que eles mesmos haviam concluído sobre Ele (Mt 16:15)” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, V. 5, p. 451). A
resposta deles seria uma resposta redentora, a confissão que foi crucial para o
discipulado. “Eles responderam: ‘Alguns dizem que é João Batista; outros,
Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas.’” (Mt 16:14, NVI). As
respostas dos discípulos quanto à opinião do povo sobre a identidade de Jesus
foi uma triste constatação de que, apesar das inúmeras evidências, “os Seus”
não O haviam reconhecido como o Messias anunciado nas profecias (Jo 1:12).
“Todos eles tinham
feito uma obra extraordinária. João, um revolucionário, anunciou o começo de um
novo tempo, a era do Messias, a época do Reino dos Céus. Elias, profeta de
poder, fez grandes milagres e converteu homens poderosos como Naamã, o sírio.
Jeremias, um reformador, pregou a esperança em tempos de desastrosa crise
nacional. Qualquer ser humano se daria por satisfeito com essas comparações.
Mas Jesus não era um ser humano comum. Nenhum dos notáveis do passado israelita
comunicava algo especial e único que havia em Jesus. Ele era mais que tudo
isso” (Mário Veloso, Mateus – Comentário
Bíblico Homilético [CPB, 2006], p. 215, 216).
CONFISSÃO
ESSENCIAL DO SER HUMANO
Depois de eles
responderem sobre o que o povo pensava, Jesus foi mais longe: “‘E vocês?’,
perguntou Ele. ‘Quem vocês dizem que Eu sou?’” (Mc 8:29).
Pedro foi rápido em
perceber a importância da natureza pessoal da questão e respondeu sem
hesitações: “Tu és o Cristo.” Mateus e Lucas registram a resposta de Pedro como
“o Filho do Deus vivo” e “o Cristo de Deus”, respectivamente. Em grego, o termo
Christos é uma tradução do hebraico Mashiach, e significa “o Ungido” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia
[CPB, 2014], v. 5, p. 278). Era uma forma de dizer que Jesus era o Messias,
o rei que era esperado para libertar Israel. Mas Pedro não chama Jesus apenas
de “Cristo”; ele vai mais longe. O apóstolo O chamou de “Filho do Deus vivo”.
Essa era uma forma de dizer que Ele era mais do que um homem bom e gentil que
se destacou em Seu tempo. Era o Rei divino que viera salvar Seu povo.
Os discípulos tinham
muitas evidências para acreditar e concordar que Jesus era o Cristo, o Messias.
Eles haviam ouvido Suas palavras de autoridade e visto Suas obras ao realizar
grandes e poderosos milagres. Eles O tinham visto trabalhar como o Messias – o
“Ungido” –, pregar o evangelho aos pobres, proclamar o reino e chamar todos ao
arrependimento. Eles reconheceram a Jesus como rei e governante. Eles O
reconheceram como Aquele que havia de vir conforme estava predito nas
Escrituras. Apesar de reconhecerem Jesus como o Messias, os discípulos, naquele
momento, não compreendiam completamente a natureza da pergunta de Jesus em Cesareia
de Filipe. Eles não estavam preparados para responder com a profundidade que o
Senhor esperava, possivelmente por ainda não terem compreendido a extensão de
sua missão e o sofrimento que viria. (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2004], p. 410-418).
O episódio contém
importantes premissas. Os discípulos, líderes religiosos e muitas das pessoas
tinham diferentes expectativas em relação a Jesus. Devido a isso, eles não compreendiam
bem Sua missão. A maioria esperava que Jesus fosse um poderoso governante
militar, prestes a derrubar a servidão imposta por Roma e estabelecer o reino
messiânico. Eles esperavam que Jesus, o Messias, “reinasse como príncipe
temporal” (Ellen G. White, Ibdem, p. 415).
Claramente, estavam pensando no estabelecimento de um reino terreno. Mas o
reino do qual Jesus falava era um reino diferente, o reino da salvação, um
reino que não é deste mundo. A missão de Jesus não era conquistar, mas sofrer e
morrer como o Servo do Senhor. Um sacrifício expiatório pelos pecados.
Jesus ficou satisfeito
e aliviado, pois pelo menos Pedro O reconhecera como o Messias, apesar de que a
um ser humano não seria possível descrever completamente a Jesus Cristo. “Você
está certo”, respondeu Jesus. Eu posso imaginar o sentimento de orgulho de
Pedro por dar a resposta correta. No entanto, Pedro não tinha realmente
entendido o que estava acontecendo porque, em um momento posterior, no relato
de Mateus, Jesus repreendeu Pedro por discordar da previsão de Sua própria
morte (Mt 16:23).
REFLEXÕES
PESSOAIS
Ao refletir sobre esse
diálogo em Cesareia de Filipe, continuo pensando em como poderíamos responder à
pergunta de Jesus hoje: “Quem vocês dizem que Eu sou?” Essa é a pergunta mais
importante de toda a Bíblia. Ela foi feita no século I, mas continua relevante
no século XXI. Quem é Jesus para você? Você realmente sabe quem Ele é? É uma
pergunta que todas as pessoas devem responder um dia. A resposta é essencial,
porque dela depende seu destino eterno. Pedro sabia quem Ele era: “Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16). Jesus então elogia Pedro, afirma sua
identidade e muda seu futuro. “Você é feliz”, “você é Pedro” e receberá “as
chaves do Reino do Céu” (Mt 16:17-19, NTLH).
Assim como Jesus estava
tão interessado na confissão dos Seus discípulos no passado também está muito
interessado em nossa confissão hoje. A resposta para a pergunta vai depender de
quão bem conhecemos a Jesus. Não sabemos quem é Jesus? Não é suficiente saber o
que os outros dizem sobre Jesus: Você deve conhecer, entender e aceitar por si
mesmo que Ele é o Messias. “A verdade professada por Pedro é o fundamento da fé
do crente. É aquilo que o próprio Cristo declarou ser a vida eterna [Jo 17:3]”
(Ellen G. White, Ibdem, p. 412).
Conhecer a Jesus significa
ir além de ouvir sobre Ele. É necessário ler e estudar as Escrituras, meditar
em seus ensinamentos e buscar um relacionamento pessoal com Ele. Através do
estudo cuidadoso e diário da Palavra de Deus, sabemos que quando Jesus faz uma
pergunta, Ele também fornece a resposta. Ele não deixa nada ao acaso. Ele é
claro e direto. Nós nunca devemos ficar confusos ou inseguros em relação à
identidade de Cristo. Podemos conhecê-Lo por meio do poder de Sua obra em nossa
vida, pela comunhão íntima e tempo pessoal com Ele, e pelo estudo aprofundado e
aplicação de Sua Palavra. Em toda a Escritura, do Gênesis ao Apocalipse,
encontramos o que precisamos saber sobre Jesus e o Pai.
Assim, a eterna
pergunta de Jesus feita em Cesareia de Filipe confronta todas as gerações e
exige uma resposta. O ponto central não é o que os outros dizem de Jesus, mas o
que pessoalmente penso dEle. Como me relaciono com o Seu chamado e
reivindicações. Por intermédio das palavras assertivas de Jesus, eu O ouço
dizendo a mim e a todos os cristãos receptivos a Suas palavras: “O que você
sabe sobre Mim? Eu estou confiando em você para compartilhar isso com os
outros. Eu Sou a salvação para este mundo, e você é o ‘elo’ para ajudar aqueles
que não Me conhecem e não estão preparados para o Meu retorno.” A resposta para
a pergunta “O que você acha de Mim?” não é encontrada em seu conhecimento de
história ou filosofia, mas em um compromisso pessoal com Jesus. Diz William
Barclay: “Nosso conhecimento de Jesus jamais pode ser de segunda mão. Alguém
pode conhecer tudo o que se tem dito a respeito de Jesus; pode conhecer todas
as cristologias concebidas pela mente do homem; pode ser capaz de brindar um
resumo competente do ensino sobre Jesus que fizesse cada pensador e teólogo do mundo
– e, entretanto, não ser cristão. O cristianismo nunca consiste em conhecer
algo sobre Jesus; sempre consiste em conhecer a Jesus. Jesus Cristo exige um
veredito pessoal. Não só perguntou a Pedro; pergunta a cada homem: ‘Você, o que
pensa a meu respeito?’” (William Barclay, O Evangelho de Mateus, vol. 2, 567;
versão digital).
Muitas pessoas
acreditam que Jesus foi somente um grande homem, uma figura histórica, mas O
consideram apenas como um mestre da ética um filósofo da moralidade, um líder
carismático, um rabino sonhador, um profeta revolucionário, mas não reconhecem
a Sua divindade. Aqui reside a questão central desse tipo de raciocínio: Se
Jesus não é Deus, então Seu oferecimento de salvação eterna é meramente uma
especulação infantil. Aceitá-la é uma questão de opinião humana. Entretanto, se
Ele é Deus e Sua oferta de salvação eterna é real. Logo, rejeitar essa oferta é
perder a vida eterna no novo mundo de Deus, que Ele trará quando retorna a
Terra, e isso é extremamente sério e grave.
Nossa resposta não pode
ser nem filosófica nem sociológica. Não temos a opção de considerar Jesus um
grande professor ou um especialista em ética, ou mesmo um reformista radical. “Jesus
expôs um maravilhoso sistema de ética; mas Ele é muito mais que um filósofo
ético. Sua vida foi um exemplo brilhante de conduta moral; mas Ele é mais que
um grande exemplo de vida. Seus ensinos revelam a verdade sobre Deus de uma maneira
que jamais será igualada; mas Ele é muito mais do que um teólogo. Ele é o nosso
Salvador porque veio para nos salvar dos nossos pecados. Ele é o nosso
Restaurador porque veio curar o quebrantado de coração e restaurar e
transformar vidas arruinadas” (Mark Finley, O Mistério da Profecia [CPB, 2019], p. 87).
Jesus é a Palavra
encarnada. Um com o Pai desde a eternidade no passado. Não um simples ser
humano, mas o próprio Deus que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:1-3). Ele
é Emanuel, Deus conosco (Mt 1:23).
“A ideia de que Jesus
era apenas um grande e bom homem, talvez o melhor homem que já tinha existido,
mas nada mais, é tão absurda quanto incrível. Ele afirmava ser o Filho de Deus
e esperava que Seus seguidores compartilhassem essa crença. Ou Ele era, ou não
era. E, se não fosse, Jesus teria cometido a maior farsa e fraude. Aquele que
fizera essa afirmação e incentivara outras pessoas a considera-Lo como Salvador
do mundo, se não fosse, não podia ser digno de adoração, para não dizer de
admiração. Ou Jesus de Nazaré era o Cristo, o Filho do Deus vivo, ou era um
impostor” (Comentário Bíblico Adventista
do Sétimo Dia [CPB, 2014], v. 5, p. 452).
Nossa resposta deve ser
profundamente pessoal, com foco em nossa necessidade de permanecer em Jesus e
somente nEle. A decisão de permanecer em Jesus não é fácil nem temporária. A
vida cristã não é uma estrada pavimentada para a riqueza e facilidade, pois,
muitas vezes, ela envolve trabalho duro, opressão, negação e sofrimento
profundo. Nossos dramas humanos são inúmeros e diversos. Jesus
sempre nos diz a verdade e é por isso que em João 16:33 Ele afirma: "No
mundo tereis aflições [...]”. Ele não disse que poderíamos, Ele disse teríamos.
Isso significa dizer que em nossa jornada cristã vamos ter desafios, assim como
os discípulos os tiveram. Mas sabemos, porém, que Jesus está sempre conosco e
não vai nos deixar.
Ellen White nos garante
que, apesar do sofrimento, “Deus não conduz jamais seus filhos de maneira
diferente do que eles escolheriam se pudessem ver o fim desde o princípio, e
discernir a glória do propósito que estão realizando como Seus colaboradores” (A Ciência do Bom Viver [CPB, 2015], p. 479)
Amigo leitor, ninguém –
somente Jesus – pode verdadeiramente libertar-nos do pecado. Somente Ele pode
nos dar paz, alegria, esperança e um futuro melhor, livre da dor, do sofrimento
e da morte (2 Pd 3:13; Ap 21:1-5). Não podemos esquecer do que Ellen G. White
afirmou: “Sua esperança não está em si mesmo, mas em Cristo. [...] E ao amá-Lo,
imitá-Lo e depender inteiramente Dele é que você se transforma à Sua
semelhança” (Caminho a Cristo, p. 70).
Que nossa resposta seja
como a de Pedro, uma confissão sincera e transformadora de nossa fé em Jesus
Cristo, o Deus Salvador do mundo. Você estenderá a mão, aceitando Sua salvação?
Essa decisão fará a diferença hoje e por toda a eternidade.
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