O QUE A SÉRIE “ADOLESCÊNCIA” PODE ENSINAR AOS PAIS?
Ricardo André
A série britânica
Adolescência, disponível na plataforma de streaming Netflix está sendo sucesso
de público e da crítica por sua história impactante que funciona como um
espelho da sociedade contemporânea. Nas últimas semanas, o assunto da minissérie
invadiu as redes sociais e vem sendo assaz comentada. Particularmente, não
gosto de assistir séries. Contudo, quando vi alguns colegas de trabalho
comentarem a série, meu interesse foi imediato. E, no sábado passado (29/03)
assisti. Ela está dividida em quatro episódios, e conta a
história de um adolescente de 13 anos acusado de assassinar a facadas uma
colega de escola. Durante os quatro episódios, a produção
mostra a busca dos policiais pelas motivações do crime.
O menino suspeito fazia
parte de um grupo cada vez mais presente nas escolas: o dos incels. O termo incel (abreviação de “celibatário
involuntário”) se refere a homens que, em resumo, acreditam ser
sistematicamente rejeitados por mulheres e, em casos extremos, desenvolvem um
ódio profundo pelo público feminino.
Como todo mundo que
assistiu à produção britânica, fiquei muito impressionado com o papel nefasto,
negativo que a internet pode ter na vida de jovens, fazendo com que, inclusive,
cometam assassinatos, como é a história do personagem adolescente Jamie Miller.
No meu entendimento, um dos maiores méritos da obra é provocar discussões sobre
o bullying (retrato de uma realidade de inúmeros adolescentes nos dias de hoje),
violência, a misoginia crescente entre os adolescentes, redes sociais e especialmente
sobre a educação de adolescentes. Como é possível que um garoto de 13 anos,
aparentemente comum e sem histórico significativo de delinquência, cometa um
assassinato brutal contra uma colega da mesma idade? Onde os pais falharam?
Qual o papel das redes sociais nesse processo? A série suscita reflexões sobre
múltiplas dimensões. Nesta minha reflexão, vou me concentrar na responsabilidade
dos pais na educação dos adolescentes – tema subjacente no 4º episódio, quando
os pais começam a se questionar se foram realmente bons pais, e concluem que
poderiam ter feito mais na educação do filho.
A questão de capital
importância é: Como educar os filhos? Como protegê-los da delinquência juvenil?
Essa é a grande preocupação dos pais modernos. A preocupação com o sucesso dos
filhos nesta era de delinquência juvenil é legítima, exatamente por conta de que a delinquência juvenil se constitui um caso alarmante.
A primeira e mais
importante escola onde as crianças devem ser educadas é onde estão os mais
importantes educadores: O lar. Os pais são os primeiros professores dos filhos
e devem seguir o conselho sábio das Sagradas Escrituras: “Instrua a criança
segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não
se desviará deles” (Pv 22:6, NVI).
Sobre isso, Ellen G.
White, uma grande educadora, escreveu: “É no lar que a educação da criança deve
ser iniciada. Ali está sua primeira escola. Ali, tendo seus pais como
instrutores, a criança terá de aprender as lições que a devem guiar por toda a
vida - lições de respeito, obediência, reverência, domínio próprio. [...] Pais,
lembrai-vos de que vosso lar é uma escola de formação, na qual vossos filhos
devem ser preparados para o lar de cima. Negai-lhes tudo, menos a educação que
devem receber em seus mais tenros anos. Não permitais nenhuma palavra
impertinente. Ensinai vossos filhos a serem bondosos e pacientes. Ensinai-lhes
a pensar nos outros. Assim os estareis preparando para mais elevado ministério
nas coisas religiosas” (Orientação da
Criança, p. 17, 18).
Portanto, de acordo com
o texto bíblico, é responsabilidade dos pais transmitir os valores morais,
éticos e espirituais para os filhos. A mensagem escrita traz uma promessa, a
continuidade dos filhos no caminho do bem, no caminho de Deus. Isso significa
que, quanto mais cedo as crianças forem ensinadas, maior a possibilidade de
que, quando crescerem, elas continuem no caminho aprendido na infância.
Contudo, para que os
pais possam realmente exercer esse importante papel de educar os filhos para serem "bondosos e pacientes", transmitindo a eles valores e princípios firmes, é preciso
passar tempo de qualidade com eles. Não se trata apenas de estar no mesmo
ambiente nas 24 horas do dia, mas de cada um aproveitar a presença do outro. Por isso,
o tempo de qualidade com os filhos é aquele período que os pais dedicam para
conhecer melhor a criança, suas angústias, suas preferências e sua rotina. Afinal,
por mais que seja seu filho, é uma pessoa independente e em formação e saber
mais sobre ele é uma tarefa que requer dedicação e vontade de estar perto.
É imprescindível dizer
que na sociedade moderna, pai e mãe trabalham para prover aquilo que é necessário
para a família. Então, a rotina é cada vez mais intensa e exigente, o que diminui
o tempo disponível para estar com os filhos. É nesse contexto que o tempo de
qualidade se torna ainda mais importante, porque é esse período que permite que
você aproveite cada dia com a criança de maneira verdadeira.
Com uma simples
pergunta, por exemplo “Como foi seu dia na escola?”, é possível conhecer muito
sobre seu filho, suas amizades, o que chama sua atenção e assim por diante.
Então, seu filho começa a ter mais segurança para perguntar ou contar qualquer
coisa. Tudo isso resulta em mais transparência para o relacionamento.
Certa vez, li uma
história, que não tenho certeza que ela é real. Segundo o texto, na Índia, onde
muitas pessoas consideram sagradas as serpentes, uma mulher viu entrar em sua
casa uma enorme serpente que se enroscou no corpo de sua filhinha de apenas
seis meses de idade. A mãe crendo que era um animal sagrado não livrou a menina
deixando-a morrer. Fiquei pasmado quando li esse relato, mas me levou a pensar
que alguns pais agem hoje como essa mãe indiana. Há serpentes que estão entrando
em muitos lares, envolvendo nossos filhos e matando sua utilidade e futuro.
Entre essas “serpentes” podemos citar:
1)
Romances vazios. Há um conhecido
pensamento: “Quem lê vale mais”. No entanto, isso depende da qualidade do que se
lê, pois não é a quantidade que valorizará a pessoa. É inegável que nunca se
leu tanta bobagens como em nossos dias; nunca se leu tanta coisa banal e vazia
nos dias atuais. É preciso compreender que a sombria realidade de que existem
muitos romances que pintam vícios, crimes, assaltos em linguagem agradável. Saturam
a mente de crimes e imoralidades. Esse tipo de literatura são verdadeiros
veículos de ideias pobres, negativistas, fundamentadas na areia movediça de um
realismo sem precedentes. Tais ingredientes têm alimentados a mente dos
adolescente e jovens enfraquecendo-a.
Os pais devem ensinar
os filhos selecionar bem os livros que eles lerão. “A maioria das crianças e
jovens terão matéria que ler”, escreveu Ellen G. White, “e se não lhes for
selecionada, eles o farão. Eles podem encontrar qualidade nociva de leitura em
qualquer lugar, e logo aprenderão a apreciá-la; mas se se lhes fornece leitura
boa e pura, cultivarão o gosto por esta” (O
Lar Adventista, p. 411).
2)
Certos Filmes. Há muitos bons filmes, podem ajudar a
desenvolver valores como empatia, respeito, coragem e amizade. Mas, ao passo
que existem bons filmes existem muitos filmes nocivos ao desenvolvimento
emocional e do caráter das crianças. Estes apresentam o absurdo, a imoralidade,
a violência, a prostituição, a fantasia oca. Nesse sentido, é preciso que
eduquemos nossos filhos – e a nós mesmos – para o uso seletivo da televisão e
escolha bons filmes para assistir, verificando se as mensagens e temas sejam
adequados e positivos.
3)
As más companhias. “Não se deixem enganar: ‘as más companhias
corrompem os bons costumes’”, diz as Sagradas Escrituras (1 Co 15:33, NVI). O texto do apóstolo Paulo quer dizer que
as pessoas com quem convivemos têm um impacto direto na nossa vida, seja para o
bem ou para o mal. A Bíblia ensina que certas amizades podem influenciar os
hábitos de muitas maneiras. O convívio por muito tempo com más companhias pode levar
uma pessoa a adquirir seus maus hábitos. A rua é um foco de impiedade mais
terrível que se conhece. O vício multiforme anda nelas todas as horas. Por
isso, os pais precisam ensinar seus filhos a escolherem bons amigos, e vigiar
as companhias deles. Pedir que eles levem os amigos para casa, para poder
observar suas atividades e comportamento é muito importante. É preciso que os
pais cuidem para que os lugares que seus filhos frequentam lhes permitam
encontrar amigos que possam levar para casa e dos quais sintam orgulho.
A escritora cristã
Ellen G. White orienta nesse sentido, quando afirma: “Resguardai-os, como devem
fazer as mães fiéis, de serem contaminados pela associação com qualquer novo companheiro.
Guardai-os, como joias preciosas, da influência corruptora desta época. Se
estiverdes em tal situação que seu intercâmbio com os jovens companheiros nem
sempre possa ser controlado, como gostaríeis que fosse, então deixai que eles
visitem vossos filhos em vossa presença” (Orientação
da Criança, p. 460).
4)
A internet. Essa é uma importante fonte de
informação, mas pode ser perigosa para os adolescentes de várias formas, incluindo exposição
a conteúdos inapropriados, violentos e geradores de ódio, cyberbullying, e
riscos de abuso sexual. Para além disso, o uso excessivo da internet também
pode levar a problemas de saúde mental e isolamento social.
A maioria dos
adolescentes se trancam no seu quarto e passam horas a fio navegando na
internet. Eles pensam que estão navegando, mas na realidade, estão
“naufragando”. A própria minissérie retrata exatamente isso. O personagem Jamie
Miller estava inseridos em grupos de whatsapp de caráter misóginos. Submetidos
a conteúdos desses grupos passou a desenvolver um sentimento de ódio as
mulheres. E nós, pais, não temos ideia e não sabemos o que os adolescentes
passam nas redes. Na série, a mãe do menino conversa com o pai e diz que pelo
fato do filho estar no quarto, no computador, pensava que estava seguro. As
relações sociais virtuais aumentam as possibilidades de nos encontrarmos, de
nos comunicarmos, mas também potencializam os riscos. Estamos expostos a situações
que fogem do nosso controle, por isso, ainda que tenhamos o máximo de cuidado e
cautela, ainda assim, os riscos podem ser iminentes.
Certamente existem
outras “serpentes” além destas, mas estas nos pareceram de maior relevância e
amplitude para este momento atual.
Diante disso, para
segurança de nossas crianças e adolescentes é preciso fiscalizar o que fazem na
internet. Importante ressaltar que não estou dizendo aqui que os adolescentes
não devem ter seus espaços de privacidade respeitados, mas é preciso que haja
limites claros para eles de que onde a privacidade acaba e entra em jogo a sua
própria segurança. É importante também os pais impor limites com relação ao
tempo de uso da internet, mas não podemos achar que isso é suficiente. É
preciso caminhar no sentido de tratar dessa temática de maneira educativa,
pensando junto com os adolescentes as melhores formas de portar e de se relacionar
nesses espaços.
Quantas vezes nos
sentamos com os adolescentes para conversar sobre isso e outros assuntos
fundamentais para a formação do caráter deles? Quanto tempo passamos com nossos
filhos para transmitir-lhes valores, lições relevantes para a vida deles? Quanto
os jovens se sentem seguros em também se abrir conosco? Essas são indagações
que devem estar presentes o tempo todo para quem trata desses assuntos com
crianças e adolescentes.
Com tristeza percebemos
em nossos dias que muitos pais estão cada vez mais se omitindo de exercer seu
papel de pais. Estão cada vez mais permissivos, permitindo que os filhos façam
o que bem entendem. E entregam seus filhos para serem educados pela TV,
celular, tablete, redes sociais e, em muitos casos pelas babás. Muitos pais por
trabalharem e passarem pouco tempo com os filhos, se tornam permissivos com os
desejos dos adolescentes para compensar essa ausência. É a chamada educação
liberal.
Aos pais permissivos,
Ellen G. White adverte: “Consentir, porém, que a criança siga seus impulsos
naturais corresponde a consentir que ela se corrompa e se torne hábil no mal.
Os pais prudentes não dirão a seus filhos: "Sigam o que quiserem; vão
aonde quiserem; façam o que quiserem"; antes dirão: "Ouvi a instrução
do Senhor". Devem-se fazer regras e regulamentos sábios, e pô-los em
execução, a fim de que a beleza da vida doméstica não se perverta” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes,
p. 112).
Não poderia finalizar
minha reflexão sem dizer que a educação religiosa é fundamental para proteger
nossos filhos da delinquência juvenil. Estudos revelam que 95% dos jovens ou
adolescentes vêm de lares arruinados, ou lares sem religião. A educação
religiosa dos filhos não é responsabilidade de escola, nem mesmo da igreja, mas
dos pais. Os pais tem a missão de atrair os filhos a Jesus e convidá-los a ser
discípulos Dele.
Uma vida sem Deus é uma
vida vazia, desprovida de motivos para o desenvolvimento da mente. Na
atualidade vemos jovens com potencial mental elevado se envolvendo em atitudes
de vandalismo e agressividade contra pessoas inocentes, espancando e assassinando
mulheres em pontos de ônibus, sem causa, sem motivo. Simplesmente estão vazios
da fonte que poderia fazer a diferença na vida de cada um.
Conta-se que uma mãe
levou a sua filhinha à escola pela primeira vez e a mãe disse para ela:
- Filha, você deve
olhar sempre a torre daquela igreja para voltar para casa, pois a nossa casa fica
ao lado.
E assim ela fazia
sempre. Mas certo dia houve festa na escola e as crianças saíram por outro
portão e a menina procurava a torre da igreja e não encontrava. Começou a
chorar. Ao ser interrogada pela professora porque estava chorando, respondeu:
- Perdi a torre da
igreja e não sei voltar.
Milhões de meninos e
meninas perdem o caminho do Senhor, perdem a Deus e não sabem voltar.
Caro leitor, se você é
pai ou mãe de crianças e adolescentes peça a Deus sabedoria para orientá-los
corretamente (Tg 1:5), protegendo-os das “serpentes” da literatura barata, dos
filmes de baixa qualidade, das más companhias e do mau uso da internet. Ajude-os
a encontrar a Deus. Ensine sobre Jesus e Seu amor para conosco. Entenda que
cada criança trazida ao mundo é propriedade de Jesus Cristo. O salmista Davi
declara serem os filhos “herança do Senhor”, legada aos pais (Sl 127:3). Como
pertencentes a Jesus, eles devem ser educados para amar e obedecer a Deus.
Você sente que falhou
ou que poderia ter feito mais pelos seus filhos adolescentes? Não desanime. Com
a sabedoria dos altos céus é possível aproximar-se deles e
desenvolver um relacionamento de amor e confiança, orientando-os no sentido de protege-los
do mal prevalecente no mundo.
O apóstolo Paulo diz: “Pois
não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas,
mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem
pecado” (Hb 4:15, NVI). Jesus também já passou por situações desafiadoras, e
quer nos dar sabedoria para usarmos estes itens aqui descritos e nos ajudar a
retificar o que for necessário.
Deus abençoe a vocês
pais e que Ele faça vocês serem vencedores na tarefa de conduzir suas crianças
no caminho do Senhor Deus, protegendo-os do mundo mau.
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