O ÔMEGA DA APOSTASIA: À IMAGEM E SEMELHANÇA DO ALFA
José Carlos Ramos, D. Min.*
RESUMO:
O
presente artigo compara a atual apostasia relacionada à rejeição da doutrina
bíblica da Trindade com a grave apostasia ligada ao panteísmo na Igreja
Adventista ocorrida no início do século passado, à qual Ellen G. White
denominou de “alfa”. Considerando que a apostasia “alfa” foi combatida com
firmeza pela escritora, que anteviu, por revelação divina, que nos últimos dias
surgiria um movimento dissidente semelhante, porém mais pernicioso – o “ômega”
–, o autor apresenta evidências que apontam para a grande probabilidade de o
atual processo de apostasia antitrinitariana ser o cumprimento daquela
previsão. Além do paralelo quanto ao ataque à natureza e personalidade de Deus,
o artigo também enumera 14 características marcantes, comuns a ambas as apostasias.
INTRODUÇÃO
Em sua trajetória por
este mundo, o povo de Deus tem enfrentado problemas de apostasia, seja o
simples ato de abjuração da fé pelos atrativos do “presente século” (2Tm 4:10),
ou a conduta mais sutil de abandono da verdade por filosofias artificiosas e
perversivas, incompatíveis com os conceitos bíblicos (Cl 2:8). Isto sempre foi
assim. Nos tempos do Antigo Testamento, Israel freqüentemente dava as costas às
orientações divinas e se voltava ao culto pagão. Nessas ocasiões, Deus provia
mensageiros com advertências, mas eram ignorados pelo povo, ou, então,
contraditados por falsos profetas a quem o povo dava mais atenção (2Cr 36:15,
16; Jr 25:3, 4; 35:15; 44:4, 5; 5:31; 14; 13, 14, 15; 23:26-32, 36; 29:8, 9; Ez
13:10).
Esta situação perdurou
até que o desastre do cativeiro se tornou inevitável. Em o Novo Testamento, o
próprio Senhor Jesus preveniu seus seguidores quanto ao fascínio do pecado, que
se intensificaria com a passagem do tempo e levaria muitos a abdicarem da fé
(Mt 24:12). Igualmente os preveniu quanto ao aparecimento de falsos profetas
que enganariam “a muitos” (v. 11, 24). A esse respeito, Paulo também foi claro:
Ora,
o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da
fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela
hipocrisia dos que falam mentiras, e que têm cauterizada a própria consciência
(1Tm 4:1, 2).
Mais que isso, ele
previu que chegaria o momento em que membros da Igreja rejeitariam a verdade
por fantasias muito ao gosto deles, não faltando quem os conduzisse nessa
direção:
...haverá
tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de
mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (2Tm
4:3, 4).
EMPENHO
MALIGNO NOS ÚLTIMOS DIAS
Quanto ao povo de Deus
nos últimos dias, a profecia previu que ele também não estaria a salvo desses
percalços. Muito ao contrário! Apocalipse 12:17 afirma que, nesse tempo, o
dragão irar-se-ia contra a mulher (a igreja), e pelejaria contra “os restantes
da sua descendência”, a comunidade final dos fiéis. Essa ira se manifesta de
duas formas distintas mas convergentes no interesse satânico de se opor a Deus e
à sua obra: a intolerância religiosa, que, cedo, se degenera em arbitrariedade,
perseguição, e morte; e a controvérsia teológica tendenciosa, geradora de
heresias que deturpam o ensino, maculam a verdade, confundem os sinceros, e
desencaminham os incautos e despreparados. A perseguição remove da igreja
apenas os de coração dobre e os hipócritas, e acaba por resultar em maior fervor
e fidelidade da parte dos sinceros e fiéis, fortalecendo, inclusive, o testemunho
em favor da verdade. No tempo do império romano, os próprios adversários da
igreja acabavam por reconhecer que o sangue dos mártires era como semente, produzindo
maior número de cristãos. Se assim foi no passado, por que não o seria em
nossos dias ou no próximo futuro?
Quanto à controvérsia
teológica, é bom lembrarmos que a contestação é útil quando provinda de bons
motivos, tais como a exaltação do direito, a busca da verdade, etc. É, todavia,
deletéria quando fruto do fanatismo e zelo sem entendimento; da mera
especulação; do amor à originalidade e ineditismo visando auto-projeção; da
arrogância intelectual que tenta cobrir a superficialidade de conhecimento; do
orgulho da pseudo erudição que se ostenta com ares de “único detentor da
verdade”; de uma falsa ortodoxia que, a pretexto de reformar a Igreja, não vai
além de criticá-la e combater sua estrutura, sua liderança e seu ministério; e
do mórbido ressentimento de eternos frustrados e inconformistas, que a tudo
questionam e se julgam injustiçados pela maneira como a igreja “os considera”.
O inimigo é astuto no
emprego de todas estas e outras situações para provocar desvios na fé que levem
à formação de movimentos colaterais, à simples defecção, ou mesmo à permanência
de dissidentes no seio da igreja, para que não cessem ali os questionamentos,
as críticas, as discórdias, as dúvidas, e as facções. Muito criteriosamente, ele
se vale de mentes brilhantes, mas irrequietas (e como gosta de usar os que
reúnem maior potencial!), que acabam discordando do parecer da Igreja em questões
doutrinárias e administrativas, gerando uma situação extrema de franca oposição.
NO
CURSO HISTÓRICO DO POVO DO ADVENTO
Desde antes de 1844,
quando tudo se encaminhava para o surgimento do remanescente que restauraria as
verdades lançadas por terra pelo poder apóstata (ver Dn 8:12-14), e muito mais
depois dessa data, o inimigo esteve vigilante e ativo, contrafazendo, tanto
fora como dentro da Igreja, fatos, assuntos e mensagens direta ou indiretamente
ligados a ela, com o objetivo de obliterar a verdade e frustrar os propósitos
de Deus. Uma lista não-exaustiva destas investidas contra a Igreja, em seu
curso histórico, inclui o seguinte:1
1842
–
movimento pré-pentecostal, com Philemon Steward liderando a seita dos tremedores.
Ele ia diariamente a um monte onde, segundo o que afirmava, recebia a visita de
um anjo que lhe trazia revelações consideradas dom de profecia;
1844
–
movimento migratório dos Mórmons de Illinois para o estado de Utah. Nesse ano,
deu-se difusão ao Livro de Mórmon, publicado em 1830 por Joseph Smith, na
pretensão de espírito de profecia e com valor normativo, para eles, igual ao da
Bíblia;
1846
– movimento da santificação consumada. Membros praticavam o magnetismo; caíam
em êxtase, não trabalhavam e diziam estar preparados para a trasladação;
1848
–
o espiritismo moderno nasce em Hydesville, Nova Iorque, no lar da família Fox,
colocando em xeque a verdade bíblica da imortalidade condicional, e impondo um
sistema totalmente antibíblico de salvação;
1850
– movimento dos selados na Nova Inglaterra – as pessoas não poderiam pecar ainda
que o quisessem;2
1853
– começa em Michigan o movimento separatista conhecido como Partido Mensageiro;
pouco depois se liga à Defecção da Era Porvir de Wisconsin; de curta duração;
1855
–
movimento da falsa humildade – crentes rastejam como animais, mesmo nas ruas,
até a igreja;
1858
– surge, também em Michigan, o partido dissidente A Esperança de Israel, logo
desfeito, deixando alguns remanescentes que, em 1866, se uniram ao Partido Marion,
de Iowa, formado por dois administradores da Associação local que se opuseram
fortemente à organização da Igreja. O Partido Marion se tornou conhecido como Igreja
de Deus (Adventista), um ramo que, em 1933, deu origem à Igreja de Deus (Sétimo
Dia);
1858
e 1863 – o dom de línguas é explorado extravagantemente no
leste dos Estados Unidos;
1859
– Charles Robert Darwin (1809-1882) propõe a teoria da evolução, em franco
conflito com o pensamento criacionista, colocando em xeque a verdade bíblica do
sábado;
1887
– Dudley Marvin Canright abandona a Igreja, em desacordo com alguns dos ensinos
dela, incluindo o do santuário.
Em 1889, ele publicou Seventh-day Adventism Renounced, onde explica as
razões de sua atitude e alinha argumentos contra o pensamento adventista;
1888
–
o legalismo quase rechaça o tema da justificação pela fé na Assembléia de
Minneápolis;
1893
–
Ana Phillips, de Battle Creek, alega receber visões autênticas, mas,
felizmente, logo se deixou dissuadir por um testemunho de Ellen G. White;
1900
– heresia da carne santa adotada por um grupo de Indiana – assumiam o perfeccionismo
de que Cristo, na agonia do Getsêmani, fora ali revestido de carne imaculada,
semelhante à de Adão antes da queda, e de que o crente deveria buscar a mesma
experiência. Partidários da ideia criam que a pessoa, uma vez reavivada pelo Espírito
Santo, não mais pecaria nem viria a morrer. Aqui ficava evidenciado que o perfeccionismo,
manifestado desde o princípio, estaria sempre perseguindo a Igreja; mais
recentemente, Robert D. Brinsmead encabeçou o movimento “chamado ao santuário”,
considerado “uma versão mais refinada da heresia da carne santa”;3
1902
– o panteísmo do Dr. John Harvey Kellogg, com a adesão de Ellet J. Waggoner, um
dos campeões da justificação pela fé na Assembleia de Minneápolis, alguns médicos
e outros pastores. O movimento em torno do assunto começara antes de findar o
século;
1905
– defecção de Albion Fox Ballenger, contrariando a doutrina do santuário celestial
conforme sustentada pela Igreja, controvérsia que reapareceria mais tarde com
William W. Fletcher, Louis R. Conradi, E. B. Jones, e, mais recentemente, Desmond
Ford;
1914
–
Primeira Grande Guerra, o problema na Alemanha – um grupo se separa da Igreja,
dando origem aos chamados reformistas. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é
acusada de ser Babilônia, ideia propagada desde 1893 nos Estados Unidos;
1916
–
Margarida Rowen alega ser a sucessora de Ellen G. White (que falecera em 16 de
julho de 1915), e cria a Reforma Adventista do Sétimo Dia Rowenita. De lá para
cá, não tem faltado quem assim alegue. Mais recentemente, Jeanine Sautron, da
França, impôs-se, criando o movimento do Remanescente, com representação em várias
partes do mundo, inclusive no Brasil; mas o movimento feneceu tão logo a “profetisa”
veio a falecer;
1929
– Victor T. Houteff, adventista de Los Angeles, cria o movimento A Vara do Pastor,
especificamente objetivando uma convocação para a reforma e formação dos 144 mil.
Em 1935, ele e seu grupo se transferiram para Waco, Texas, e criaram, numa
fazenda local, o Centro Monte Carmelo, onde pretendiam reunir os 144 mil e prepará-los
para a trasladação, não para o Céu, mas para a Palestina, onde formariam, em
regime de teocracia, o novo reino de Davi. Daí coordenariam a conclusão da obra
de pregação do evangelho no mundo para que Cristo pudesse retornar. Mas por ocasião
da morte de Houteff em 1955, reuniam-se em Monte Carmelo apenas 125 seguidores.
Finalmente, um outro ex-adventista, o texano Vernon Hoell, que passou a se
identificar como David Koresh, reorganizou o movimento, agora com o nome Adventistas
do Sétimo Dia – Ramo Davidiano. O movimento, com forte sabor apocalíptico,
prosseguiu até o trágico desfecho de 19 de abril de 1993, quando mais de 90
pessoas morreram carbonizadas, pressionadas por um cerco policial que já durava
vinte dias. De fato, quando pessoas se lançam numa obra para a qual Deus não as
chamou, mas imaginam que precisam “reformar” a Igreja, ignorando, todavia, como
Deus a tem conduzido e continuará a conduzir, é difícil prever até onde o inimigo
as levará, e que triste fim as aguarda. E o pior de tudo é que o nome
“adventistas do sétimo dia” estava lá, para ser veiculado negativamente nos
noticiários mundiais. Tudo muito triste!
Ninguém se engane; o
inimigo é astuto, e o que ele puder fazer para denegrir a imagem do povo de
Deus diante do mundo, ele fará;
Década
de 1980 – Tem início no seio do adventismo o movimento
antitrinitário moderno, fundamentado no pressuposto de que a Igreja Adventista
do Sétimo Dia apostatou por vir a crer na Trindade, e reclamando, destarte, um
retorno, como alegam seus partidários, à crença dos pioneiros. Originário dos
Estados Unidos, o movimento, qual onda avassaladora, praticamente se alastrou
por todo o mundo.
Bem, esta é uma
listagem parcial das tentativas satânicas, desde antes de 1844, de dificultar, e,
se possível, obstar o avanço do povo de Deus no cumprimento da missão a ele consignada
por Jesus. Mas estas artimanhas não inibiram a Igreja, que, de um pequeno grupo
nos primórdios do movimento, incorpora hoje milhões empenhados num plano
mundial de evangelização. Ellen G. White escreveu em 1904 em plena crise
panteísta:
Somos
o povo de Deus, observador dos mandamentos. Nos passados cinquenta anos tem-se feito
pressão sobre nós com toda sorte de heresias, a fim de embotar-nos o espírito
em relação aos ensinos da Palavra – especialmente quanto ao ministério de Cristo
no santuário celestial e à mensagem do Céu para estes últimos dias, como foi
dada pelos anjos do décimo quarto capítulo do Apocalipse. Mensagens de toda
espécie e feitio têm feito pressão sobre os adventistas do sétimo dia,
pretendendo substituir a verdade que, ponto por ponto, tem sido buscada com
estudo e oração e atestada pelo poder milagroso do Senhor. Mas os marcos que nos
tornaram o que somos, devem ser preservados, e sê-lo-ão, conforme Deus o mostrou
mediante sua Palavra e o testemunho de seu Espírito. Ele nos conclama a nos
apegarmos firmemente, com a mão da fé, aos princípios fundamentais baseados em
autoridade inquestionável.4
O inimigo continua mais
ativo que nunca, “sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12:17). A serva do
Senhor previu que movimentos desta natureza, que denotam o conflito entre
Cristo e Satanás, continuariam até o fim, e cada vez mais intensamente. “Este
conflito será levado a efeito até que a obra de salvação seja cumprida. E ele
se tornará cada vez mais feroz conforme o fim se aproxima.”5 “A
grande controvérsia entre o bem e o mal há de assumir proporções cada vez
maiores até o seu final desenlace.”6 E quanto mais próximos do fim,
“os enganos de Satanás serão mais sutis, seus assaltos mais decididos”.7
Uma das estratégias
satânicas atuais é fomentar, entre os adventistas, especulações nesta ou
naquela direção, bem como prosseguir com controvérsias teológicas (tal como se
nota presentemente em relação à natureza e personalidade de Deus), a ver se
consegue distraí-los do cumprimento de sua principal tarefa: a pregação da
tríplice mensagem angélica.8
A julgar pelo tempo em
que estamos vivendo, e quão próximos nos sentimos da volta de Jesus, é muito
provável que tal controvérsia esteja ocorrendo em cumprimento da apostasia que
Ellen G. White identificou com o emprego do termo ômega, e que, segundo ela,
seguiria ao alfa. Mas para se deduzir que tal é o caso, precisamos analisar
mais detidamente o alfa da apostasia.
O
ALFA DA APOSTASIA
Alfa e ômega são as
letras primeira e última do alfabeto grego. A fórmula é usada no Apocalipse em
referência ao Deus verdadeiro como sendo “o primeiro e o último, o princípio e
o fim” (1:8; 22:13), um eco de Isaías 44:6 e 48:12. Deus é tanto Razão como
Propósito, Autor e Consumador de todas as coisas que se cumprem na efetivação
de seu glorioso plano redentor.
Ele é quem conserva o
inteiro curso da história nas mãos, conduzindo-a rumo ao clímax final, quando
seu plano aparecerá plenamente consumado. É por isso que nada temos a temer
(exceto o pecado).
À luz da profecia
apocalíptica, os eventos da História se processam não na qualidade de um fluxo
descolorido e sem vida de circunstâncias que tomam lugar por obra do acaso, ou,
na melhor das hipóteses, em resultado da pretendida soberania humana nos
assuntos do mundo. Antes de tudo, refletem “a vida de homens e nações vistas à
luz daquele que é a luz de cada homem, e a vida de toda a história; e assim
percebemos que somente uma pessoa viva pode ser o alfa e ômega, o ponto inicial
da criação e seu descanso final.”9 Como afirma R. H. Mounce, “Alfa e
Ômega representam o hebraico Aleph – Tau, que foram consideradas não simplesmente
como a primeira e a última letra do alfabeto, mas como incluindo todas as
demais.”10
Provavelmente, Ellen G.
White não conhecia este pormenor, mas Deus a orientou para que usasse a fórmula
alfa e ômega para, com o primeiro termo, distinguir determinada apostasia que
incorporasse as anteriores e as que viriam, até sobrevir a pior de todas,
referida com o emprego do segundo termo.
Vamos nos imaginar
desconhecendo Ellen G. White, bem como o que ela disse acerca do Alfa da
apostasia. Observando os 20 eventos acima alistados, ocorridos no transcurso de
mais de 160 anos de história da Igreja Adventista, vários dos quais deram começo
a movimentos dissidentes e apóstatas, qual deles, a nosso ver, mereceria o
epíteto de “alfa da apostasia”? Talvez apontássemos o de 1887, a rebelião do Pr.
Canright, afinal ele escreveu um livro contendo duras críticas à Igreja e ao
pensamento doutrinário desta. Poderia ser o de 1905, quando o Pr. Ballenger se
levantou contra a doutrina distintiva da Igreja, o santuário celestial. Quem
sabe seria o de 1914, que abriu espaço para a facção reformista que conhecemos?
Melhor seria, talvez, o de 1916, quando outra facção reformista surgiu, com a
diferença de que os cabeças do movimento acabaram presos, acusados de assassinato.
Nesse caso, ainda mais provável seria o movimento reformista de David Koresh,
que acabou em tragédia.
Nenhum desses, todavia,
se enquadraria na apostasia que a serva do Senhor denominou “alfa”. Algo mais
atraente, fascinante, sedutor, mais sutil (portanto, mais temerário e
ameaçador), e, o pior de tudo, apresentando-se com ares de “nova luz”,11 foi
por ela indicado como sendo esse tipo de apostasia: o envolvimento
do Dr. John Harvey Kellogg, então líder de nossa obra médica,
com o panteísmo.
Por que o erro do Dr.
Kellogg foi tão sério? No que consistiu a gravidade de sua nova posição? Em que
aspecto a defecção do Dr. Kellogg foi tão ameaçadora aos ideais da Igreja, que
ensejou a perspectiva de uma apostasia futura paralela, que ela chamou de
“ômega”, e a fez tremer por nosso povo?12
DADOS
HISTÓRICOS
O alfa da apostasia
envolveu, naturalmente, assuntos de ordem administrativa, mas foi especialmente
no campo do pensamento teológico que ele se tornou mais preocupante. Os
conceitos panteístas, propugnados por Kellogg (que já vinha dando sinais de
tendências para o esoterismo13) despojavam Deus de sua personalidade
e o reduziam a simples energia que a tudo penetra; Deus se fazia presente em
todas as coisas no universo e era a garantia da existência e permanência delas.
Para ele, a vida era a própria essência de Deus, “não simplesmente as
manifestações do seu poder, mas sua presença real.”14 Assim,
qualquer ser vivo carregava Deus dentro de si.
Estes conceitos foram
mais amplamente divulgados com a publicação, em 1903, de The Living Temple,
obra principal de Kellogg sobre suas ideias panteístas. O “templo vivo”, que
serviu de título ao livro, é o corpo humano, e é vivo porque Deus está nele a
partir de uma simples célula. As colocações desta obra provocaram, naturalmente,
grande agitação entre os líderes adventistas, tanto positivamente, levando alguns
a saudá-las com entusiasmo e a acatarem-nas como nova luz, quanto negativamente,
fazendo com que outros reagissem desfavoravelmente. Isto induziu Kellogg, não
muito tempo depois, a fazer uma revisão de sua obra e alterar parte do seu
conteúdo, numa tentativa de torná-la mais aceitável. O novo título, The Miracle
of Life, seria novamente mudado em 1907 para Life, Its Mysteries and Miracles –
a Manual of Health Principles. Com isso, Kellogg tornava efetivo e definitivo o
que desde o início tinha sido sua alegação: a de que ele agia em favor dos
sólidos princípios de saúde.
Ellen G. White nunca se
deixou levar por suas pretensões. Por meio de trabalho pessoal, incluindo
várias cartas a ele enviadas, tentou persuadi-lo do perigo de suas novas
ideias, mas em vão. Foi desligado da comunhão da igreja em 10 de novembro de
1907.
IMPLICAÇÕES
TEOLÓGICAS
Assim colocados, não
seria difícil inferir as implicações destes conceitos para a mensagem do
evangelho. Se a vida do homem é a própria essência de Deus nele, então tudo o
que ele tem que fazer é procurar a salvação em si mesmo. As verdades ligadas
diretamente a Jesus e sua obra, tais como encarnação, expiação, ministério no santuário
celestial, segunda vinda, etc, são simplesmente uma farsa, porque, afinal, o próprio
pecado e o estado pecaminoso do homem são também uma farsa. A Bíblia afirma que
o pecado faz separação entre Deus e o pecador (Is 59:2); mas, para o panteísmo,
esta separação não existe, porque Deus está dentro do próprio homem. Jesus, então,
teria vindo para salvá-lo do quê? De fato, a apostasia encabeçada por Kellogg não
era mais uma entre outras; era uma que englobava as demais, pois conspirava contra
a fé cristã no seu todo. “As teorias espiritualistas acerca da personalidade de
Deus, levadas à sua conclusão lógica, derribam toda a ordem cristã.”15
Enquanto as outras apostasias haviam se voltado contra instituições de Deus
(como, por exemplo, o santuário), essa era uma apostasia que se voltara contra
o Deus das instituições, e, portanto, envolvia a ambos.
É interessante notar
como teólogos não-adventistas, de linha conservadora, reagiram ao panteísmo e
suas implicações. Para o panteísta, afirma D. S. Clark, “Deus é tudo e tudo é
Deus... O universo é Deus e Deus é o universo, e o homem é a mais elevada forma
existencial de Deus. Não existe Deus pessoal à parte da personalidade do
homem...”16 Mas “se Deus é tudo, então todo o mal do mundo faz parte
de Deus, tanto quanto o bem; e como todas as coisas surgem por uma lei de
necessidade, o mal é uma necessidade. Isto faz desaparecer toda a distinção
entre o bem e o mal e destrói toda a moralidade do mundo.”17
Além disso, o panteísmo
“faz a personalidade proceder do que é impessoal. Se a personalidade é uma
virtude ou vantagem preeminente, então o Deus do panteísmo, do qual procedem
todas as coisas, é inferior aos seres conscientes e sensíveis deste mundo.”18
E “se Deus é impessoal, não podemos amar nem orar a tal Deus, e a religião se
torna uma irrealidade.” Assim “o ser absoluto do panteísmo não é absoluto de
modo algum, porque é deficiente no que concerne à personalidade”.19
Para A. H. Strong,
“panteísmo é esse método de pensamento que concebe o universo como o
desenvolvimento de uma substância inteligente e voluntária, ainda que
impessoal, a qual alcança consciência apenas no homem. O panteísmo, portanto,
identifica Deus, não com cada objeto no universo, mas com a totalidade das
coisas”.20 De acordo com esse autor, a “filosofia panteísta deveria
adorar Satanás acima de tudo”, em vista de seu intelecto e força.21
Isto me leva a concluir que, segundo o panteísmo, Satanás, vivo, pessoal e
inteligente como é, deve também conter a presença de Deus.
Para L. Berkhof, o
panteísmo sustenta que “o ser de Deus é realmente a substância de todas as
coisas”.22 Esse fato conspira contra a santidade de Deus, pois o
torna “responsável por tudo o que acontece no mundo, tanto para o mal quanto
para o bem”, e estabelece que a responsabilidade moral do homem “é fruto da
imaginação, e a oração e a adoração religiosa não passam de superstição.”23
Beckwith observa que
“todo panteísmo é monismo [isto é, oposto ao pensamento trinitário]”, embora
“monismo envolva mais que panteísmo.”24 Champlin e Bentes confirmam
esse detalhe dizendo que
o
panteísmo é uma espécie de monismo, que identifica a mente e a matéria, e que
pensa que a unidade é divina. E assim o finito e o infinito tornam-se uma e a
mesma coisa... Concebidos como um todo, todos os seres e toda a existência é
[sic] Deus.25
Segundo esses autores, para
o panteísmo “a redenção tem muito mais a ver com os atos éticos dos homens, em
sua natureza e em suas expressões.”26 Em outras palavras, a redenção
depende do próprio homem, pois não passa de mera consecução humana. Assim o
panteísmo começa por aviltar a Deus e termina por dignificar o homem.
Não foi, portanto, por
mero acaso que Ellen G. White classificou a heresia sustentada por Kellogg como
o alfa da apostasia, o que requereu dela uma firme tomada de posição para
combater e rebater o mal. E da forma como ela a repeliu podemos detectar suas
próprias características.
CATORZE
CARACTERÍSTICAS
A situação criada entre
os adventistas com a crise panteísta no apagar das luzes do século 19 e início
do 20 ensejou uma das mais solenes advertências do Espírito de Profecia. Elas
estão especialmente contidas num documento intitulado Testimonies for the Church Containing Letters to Physicians and
Ministers (médicos e pastores foram os mais contagiados com a heresia, com
destaque para os primeiros), referido como Special
Testimonies, Series B, nº 2. Parte desse material foi reproduzido em Mensagens Escolhidas, 1:193-208. Outras advertências
foram registradas no oitavo volume dos Testemunhos para a Igreja e em A Ciência
do Bom Viver. Por meio de suas ponderações, podemos elaborar o perfil da
heresia:
(01) HERESIA LETAL – “No
livro [The] Living Temple acha-se apresentado o alfa de heresias letais.”27
Por que letal? Porque os “que continuarem a manter essas teorias espiritualistas
hão de, sem dúvida, comprometer sua experiência cristã, cortar a ligação com
Deus e perder a vida eterna”.28
(02) MISTURA DO FALSO
COM O VERDADEIRO – Advertiu a sra. White:
Apartai-vos
da influência exercida pelo livro [The] Living Temple; pois encerra
ensinamentos especiosos. Há nele opiniões inteiramente verdadeiras, mas estas
se acham mescladas de erro.29
O
próprio Satanás foi educado nas cortes celestiais, e tem conhecimento do bem da
mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isso que o habilita
a enganar.30
(03) ALEGAÇÃO DE SER
UMA GRANDE VERDADE – Ellen G. White denunciou a pretensão do engano panteísta
nos seguintes termos:
Ensinamentos
que estão desviando as pessoas da verdade vêm sendo apresentados como de grande
valor... Muitos fatos serão apresentados que parecerão verdadeiros, e, contudo,
terão que ser ponderados cuidadosamente, com muita oração; pois podem ser sutis
artifícios do inimigo.31
Há
muitos que... trarão suas imperfeições para dentro da igreja, e negarão a fé,
adotando teorias estranhas, que promoverão como se fossem verdades.32
(04) APARENTE APOIO DA
BÍBLIA E DO ESPÍRITO DE PROFECIA – É claro que os proponentes da heresia
panteísta para, diante da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sustentarem-na como
de grande valor, teriam que se valer da Bíblia e dos escritos de Ellen G.
White; assim, procuraram o apoio dos escritos inspirados.33 Quanto a
isso, Ellen G. White declarou:
Os
textos são tirados de seu contexto, e usados para sustentar teorias errôneas...
Através de todo o livro citam-se passagens da Escritura. Essas passagens são
apresentadas de modo a fazerem o erro parecer verdade... Pode haver nesse livro
expressões e opiniões que estejam em harmonia com os meus escritos. E pode
haver em meus escritos muitas afirmações que, tiradas do contexto, e
interpretadas de acordo com o pensamento do autor de [The] Living Temple,
dir-se-iam de acordo com os ensinamentos desse livro. Isso pode dar aparente
apoio à asserção de que as ideias de [The] Living Temple estejam em harmonia
com meus escritos. Deus não permita, porém, que prevaleça esta impressão.34
(05) APARÊNCIA DE
PIEDADE – Misturando a verdade com o engano, pretendendo ser uma grande
verdade, e, para tanto, valendo-se da Bíblia e do Espírito de Profecia, a
heresia deu o passo seguinte: ostentou-se com aparência de piedade. Esta outra
pretensão, todavia, foi igualmente denunciada pelo Espírito de Profecia:
O
pensamento mais triste de todos é o de que, sob a sua [de Satanás] influência,
os homens terão uma forma de piedade, sem ter verdadeira ligação com Deus.”35
Como já visto, a
heresia estava sendo considerada uma nova luz que pretendia confirmar o que o Deus,
por meio dos testemunhos, revelara.
(06) Conceito sobre
Deus à luz da razão humana – O alfa da apostasia preteriu a revelação divina
pela lógica da racionalidade humana. Em uma de suas cartas pessoais endereçadas
a Kellogg, no empenho de ajudá-lo a ver o engano e o perigo em que estava se
envolvendo, ela o advertiu:
Você
tem seguido o inimigo passo a passo examinando mistérios muito altos e santos
para a sua compreensão. Então, em seu ensino, o Santo tem sido rebaixado às ideias
científicas e espiritualísticas do homem.36
Mais ou menos na mesma
ocasião, ela apelou aos obreiros em geral:
Rogo
aos que estão trabalhando para Deus que não aceitem o espúrio em lugar do
genuíno. Não permitam que a razão humana seja posta onde deveria estar a
verdade divina e santificadora.37
Ela também lembrou à
Igreja que
a
inteligência mais privilegiada pode se esforçar até o ponto de se perder em
conjeturas a respeito da natureza de Deus; mas o esforço será inútil... Mente
humana alguma pode compreender a Deus. O ser humano finito não deve tentar interpretar
a Deus. Ninguém deve alimentar a especulação a respeito da natureza divina.
Nesse assunto, o silêncio é eloquência. O Onisciente está acima de qualquer
discussão.38
(07) PRESSÃO SOBRE
ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA – Tal como costuma acontecer com dissidentes no
empenho de disseminar suas ideias, os que defendiam o panteísmo não se preocupavam
em anunciar a “nova luz” àqueles no mundo necessitando de salvação. A pressão
para que a heresia fosse aceita era feita sobre membros da Igreja. Ellen G.
White afirmou no auge da crise panteísta:
Digo
a todos: estejam de sobreaviso, pois, como anjo de luz, Satanás está
percorrendo todas as reuniões de obreiros cristãos, e em cada igreja procura
ganhar para seu lado os membros.39
Aqui parece claro que o
inimigo se faz representar por aqueles dissidentes que instam com membros de
igreja a que aceitem suas opiniões. Ela disse ainda:
Estão atualmente
penetrando as instituições educativas e as igrejas por toda parte, ensinos espiritualistas
que minam a fé em Deus e em sua Palavra.40
“Ensinos espiritualistas”
eram os conceitos panteístas da Divindade, conforme esposados por Kellogg (ver
característica 10 abaixo).
(08) UMA AGRESSÃO À
PERSONALIDADE DE DEUS
Ele
[o livro The Living Temple] introduz aquilo que não passa de especulação acerca
da personalidade de Deus e do lugar de sua presença... As afirmações feitas em
[The] Living Temple acerca desse ponto são incorretas...41
A
força potente que atua por meio de toda a natureza e sustenta todas as coisas
não é, como alguns cientistas descrevem, simplesmente um princípio dominante, uma
energia impulsionante. Deus é espírito; não obstante é um Ser pessoal [...]42
(09) Uma representação
falsa de Deus e, portanto, uma desonra para Ele
A
teoria de que Deus é uma essência que penetra toda a natureza é aceita por
muitos que professam crer nas Escrituras; mas, se bem que revestida de belas
roupagens, esta teoria é perigosíssimo engano. Ela representa falsamente a Deus
e é uma desonra para sua grandeza e majestade.43
(10) “ESPIRITIZAÇÃO” DE
DEUS
Já
se estão infiltrando entre nosso povo ensinos espiritistas, que enfraquecerão a
fé dos que lhes derem ouvidos.44
Médicos,
tendes vós estado a fazer a obra do Mestre escutando fantasiosas interpretações
espiritualistas das Escrituras, interpretações que minam os fundamentos de
nossa fé, ficando quietos? ... Não precisamos do misticismo que há nesse
livro... As teorias espiritualistas acerca da personalidade de Deus levadas à
sua conclusão lógica, derribam toda a ordem cristã.45
(11) FATOR DE
DESAGREGAÇÃO
Os
sentimentos do inimigo estão sendo disseminados por toda a parte. Sementes de
discórdia, de infidelidade, estão sendo amplamente semeadas... Enquanto as
teorias extraviadoras desse livro forem entretidas por nossos médicos, não pode
haver união entre eles e os ministros que estão levando a mensagem evangélica.
Não deve haver união enquanto não houver mudança. Quando os missionários
médicos fizerem sua prática e seu exemplo se harmonizarem com o nome que levam,
quando sentirem a necessidade de se unirem firmemente com os ministros do
evangelho, então poderá haver ação harmônica.”46
(12) “AMOR ESPIRITUAL
NÃO SANTIFICADO”
Vi
as consequências desses fantasiosos pontos de vista acerca de Deus, na
apostasia, espiritualismo e amor livre. A tendência para o amor livre, que esses
ensinos encerram, estava tão disfarçada que, a princípio, era difícil tornar
claro o seu verdadeiro caráter.47 Até que o Senhor mo apresentou, eu
não sabia como denominá-lo, mas fui instruída a chamá-lo amor espiritual
não-santificado.48
Provavelmente a
instrução divina aqui teve a ver com o fervor, o entusiasmo, a devoção, o
interesse como os correligionários do panteísmo propugnavam a heresia,49 bem como os sentimentos
carnais que a heresia pode alimentar.50
(13) TEORIA EM TOTAL
DISSONÂNCIA COM OS ENSINOS DE CRISTO – Para Ellen G. White, a revelação de Deus
em Cristo era “a última palavra”, o fator decisivo, a norma para qualquer
crença ou concepção.
Cristo
veio revelar aos seres humanos o que Deus quer que saibam.51 Cristo
falou com autoridade. Toda a verdade essencial ao conhecimento das pessoas
proclamou Ele com a indubitável certeza do conhecimento. Nada proferiu de
fantasioso ou sentimentalista. Não apresentou sofismas, nem opiniões humanas.
Nada de contos vazios, nenhuma falsa teoria revestida de linguagem bonita brotou
de seus lábios.52
O panteísmo deveria ser
sumariamente rejeitado porque jamais o mínimo vestígio dele se fez presente no
ensino de Jesus.
Podemos
com segurança rejeitar as ideias que não se encontram em seus ensinos... Não
apresentem teorias ou provas que Cristo nunca mencionou e que não têm
fundamento na Bíblia.53
(14) INSPIRAÇÃO PELO
DIABO
Ideias
brilhantes, cintilantes, muitas vezes relampejam de uma mente que se acha
influenciada pelo grande enganador. Os que escutam e aquiescem ficarão
encantados, como ficou Eva pelas palavras da serpente. Eles não podem dar
ouvidos a encantadoras especulações filosóficas, e conservar ao mesmo tempo
clara na mente a palavra do Deus vivo.54
Os
que semeiam enganos acerca de Deus e da natureza, os que inundam o mundo com
ceticismo, são inspirados pelo inimigo caído, que é também estudante da
Bíblia...”55
Naturalmente isto é
verdade com respeito a qualquer ensino falso.
RAZÃO
ELEMENTAR
O que teria contribuído
para que a IgrejaAdventista do Sétimo Dia se tornasse tão vulnerável ao
panteísmo que uma apostasia tal como aquela ocorrida com Kellogg e osque a ele
se uniram, viesse a se tornar uma realidade? LeRoy Edwin Froom define-o de
maneira bem objetiva:
Indubitavelmente,
falta de claro e coeso pensamento quanto à Divindade em nossas primeiras
décadas – as três pessoas da Divindade, e, assim, da personalidade do Espírito
Santo – tornou mais fácil esta temporária e perigosa digressão... Havia também
confusão concernente ao Espírito Santo, com o realce a tais textos como quando
Cristo “assoprou” sobre seus discípulos e disse: “recebei o Espírito Santo” (Jo
20:22).56
Se a Igreja tivesse
estabelecido desde o princípio o conceito trinitário de Deus como ponto
doutrinário definido, efetivo, indisputável, seria mais difícil que se abrisse algum
espaço para o panteísmo no seio do adventismo, pois a crença na Trindade é, reconhecidamente,
o mais poderoso antídoto contra esta heresia. Na época da explosão do panteísmo
em solo cristão, Nitzsch afirmou:
É
a doutrina da Trindade somente que provê uma perfeita proteção contra o
ateísmo, politeísmo, panteísmo e dualismo. Pois a distinção absoluta entre a
essência divina e o mundo é mais segura e firmemente mantida por aqueles que
adoram a Trindade, do que por aqueles que não o fazem. É precisamente aqueles
sistemas de monoteísmo que, no mais alto grau, tem excluído a doutrina da Trindade,
e se orgulham por conta disto – o [pseudo] judaísmo e maometanismo como
exemplos – que têm levado ao mais deplorável panteísmo, em vista de sua
esterilidade e vacuidade.57
Isto assim ocorre
porque se admitimos a unicidade da essência divina sem a necessária caracterização
das três pessoas, despojamos Deus de sua personalidade, já que uma simples
substância é de si mesma impessoal. É o mero ser, vazio, despido, simples e
abstrato. É, portanto, caminho aberto para o panteísmo.
Outros teólogos são do
mesmo parecer. Diz Bloesch:
Ignorar
a Trindade é terminar ou no deísmo ou no panteísmo. Pelo primeiro, Deus se
torna remoto e distante, e, pelo segundo, Ele se torna indistinguível da alma
ou substância do mundo. O verdadeiro Deus não está nem totalmente fora do mundo
nem está incorporado no mundo. Ele é um transcendente e vivo Senhor que se
encarnou no mundo, mas que permanece essencialmente e independente do mundo.58
Strong, por sua vez,
adverte:
Nem
a independência de Deus, nem sua benditibilidade podem ser mantidas sobre as
bases da unidade absoluta. O antitrinitarianismo quase necessariamente torna a
criação indispensável à perfeição de Deus, tende a uma crença na eternidade da
matéria, e conduz por fim, como no maometanismo, e no moderno judaísmo e unitarianismo,
ao panteísmo.59
Igualmente Aulén é bem
objetivo:
[...]
as idéias fundamentais que produziram a doutrina da Trindade pertencem às mais
profundas convicções da fé cristã [...] Não é um acidente que a fé cristã em
Deus é, ao mesmo tempo, fé em Cristo e no Espírito. Nenhuma pode ser eliminada
sem destruir a fé cristã, desde que o evento de Cristo envolve a
auto-realização da amorosa vontade de Deus, e o Espírito revela o imediato e
contínuo trabalho de Deus. Este triplo ponto de vista expressa, portanto, a
significativa e viva revelação do Deus verdadeiro, e, ao mesmo tempo, previne a
fé de ser empobrecida por influências deísticas e panteísticas. Uma fé em Deus,
que é, ao mesmo tempo, fé em Cristo, nunca pode se tornar panteística; e uma fé
que é, ao mesmo tempo, fé no Espírito não pode se tornar deística. Todas as
assim chamadas interpretações unitarianas tendem inevitavelmente a se tornar
panteísticas ou deísticas e empobrecem o conteúdo e vivacidade da fé em Deus.60
Finalmente Kirn:
A doutrina [da Trindade]
é uma salvaguarda contra as falsas representações deísticas da divina transcendência
[...] Contra o panteísmo, a mais segura arma é a concepção ética estritamente
pessoal, da vontade amorosa de Deus [...]61
MOTIVOS
DIVINOS
Se Ellen G. White desde
o princípio foi usada por Deus como sua mensageira, então por que Ele não a
moveu, ainda nos primórdios do movimento, para que instasse com a Igreja no
sentido de incluir a doutrina da Trindade como um de seus artigos de fé? Não
faria isso com que teorias panteístas nunca se manifestassem no seio do
adventismo?
Em primeiro lugar,
devemos observar que não é um corpo doutrinário devidamente sistematizado que
impede a manifestação de movimentos heréticos no seio da Igreja. Fosse isso
verdade e não seríamos vítimas das dissidências que hoje estão ocorrendo.
Divergentes e separatistas sempre houve e sempre haverá. A primeira e maior
dissidência de todas ocorreu num lugar perfeito, com o próprio Deus declarando
de viva voz a sua vontade. Quando alguém resolve divergir da verdade, não se
deixará convencer ainda que Deus desça pessoalmente do céu para dizer que ele
está errado.
Em segundo lugar,
devemos lembrar que o corpo doutrinário sustentado pelos adventistas não foi resultante
de uma interferência prévia do Espírito de Profecia. Jamais Ellen G. White
pretendeu ser fonte primária informativa de verdades bíblicas para formação do
pensamento doutrinário da Igreja. As doutrinas estabelecidas de início emergiram
mediante intenso exame das Escrituras secundado por jejum e muita oração. Quando
ocorria que todos os recursos humanamente possíveis tinham sido exauridos62
sem se chegar a um consenso sobre determinado ponto, só então o Espírito de
Deus atuava mais diretamente para conduzir o grupo à harmonia. “Algumas vezes passávamos
a noite toda em solene investigação das Escrituras, para que pudéssemos
compreender a verdade para o nosso tempo. Em algumas ocasiões o Espírito de Deus
descia sobre mim, e porções difíceis eram esclarecidas pelo modo indicado por
Deus, e havia então perfeita harmonia.”63
Quando determinado
assunto ficava definitivamente assentado como verdade bíblica, Ellen G. White
era eventualmente movida pelo Espírito Santo no sentido de confirmá-la e exortar
a Igreja ao cumprimento da mesma. Seu papel, portanto, era, nesse aspecto, mais
subordinado ao consenso em torno da Palavra, ao qual se chegava como fruto de
acurado estudo. Igualmente, quando ocorriam distorções64 que punham
em risco a unidade da fé, como no caso dos desvios heréticos que foram
surgindo, sua voz de advertência se fazia ouvir.
Tudo isto não
significa, todavia, que uma vez estabelecidos esses marcos incipientes da fé,
nenhuma verdade mais haveria que pudesse se tornar evidente. Em tempo algum a
Igreja pretendeu ter recebido toda a revelação que Deus tinha para ela,
inclusive sobre a Divindade. Ela sempre esteve aberta à contingência de uma nova
luz, sempre foi receptiva às indicações divinas,65 em que pese o
zelo com que assume a necessidade de avaliar qualquer nova pretensão. Disse a
serva do Senhor em 1900:
Ninguém
deve chegar à conclusão de que não há mais verdades a serem reveladas. O que
busca a verdade com diligência e oração encontrará preciosos raios de luz que ainda
hão de brilhar da Palavra de Deus. Ainda se acham dispersas muitas gemas que
devem ser reunidas para tornar-se propriedade do povo remanescente, do povo de
Deus.66
Essa é precisamente a
razão porque a Igreja nunca estabeleceu um credo, como outras entidades
religiosas o fizeram, para fixar definitivamente o que devemos crer; tudo o que
temos é uma declaração de fé, susceptível de alterações quando Deus mostrar
serem necessárias.
Assim, não é correto
afirmar que Deus, em pouco tempo, trouxe à consciência da Igreja recém-surgida
toda a verdade que ela deveria crer, viver e anunciar; e, certamente, até hoje não
a temos. Os motivos por que Deus age desta ou daquela maneira estão quase sempre
acima de nossa capacidade de total compreensão, mas hoje, mais de 160 anos depois
do grande desapontamento, podemos perceber que Deus preferiu utilizar circunstâncias
que, então, ainda viriam a ocorrer, para conduzir a Igreja à plena aceitação de
duas verdades que, por esta ou aquela razão, não haviam ainda sido plenamente assimiladas:
a justificação pela fé e a doutrina da Trindade, a primeira de natureza mais
experiencial e praxiológica (isto é, que tem a ver com a prática ou a conduta),
e a segunda de natureza mais conceitual.
Isto não significa que
a Igreja deva ser caracterizada como uma entidade apóstata no período em que
ainda não possuía uma conceituação mais cabal sobre a Divindade, não tendo a
Trindade como um artigo específico de fé. Afinal, se ela não a admitia explicitamente,
tampouco a negava em sua declaração de fé. Além do mais, apostasia se verifica
somente quando ocorre abandono de uma verdade revelada e previamente aceita.
Por exemplo, um ateu não é um apóstata pura e simplesmente por ser ateu; pode
ser que ele sempre foi ateu, então não teria se apostatado de nada pelo fato de
ser ateu. Mas no momento em que lhe foi revelado que o ateísmo é um erro e ele
deixou de ser ateu, será um apóstata se, renegando sua nova convicção, voltar ao
ateísmo. A dedução lógica desse fato é que o atual movimento dissidente que nega
a Trindade é, este sim, um movimento apóstata, pois reassume uma posição antiga
da Igreja, anterior à subsequente revelação de Deus a ela mediante as
circunstâncias envolvidas com os eventos de 1888 e com a crise panteísta de
Kellogg. A dissidência antitrinitariana é, no mínimo, um retrocesso na fé.
Não haviam ambas as doutrinas,
a justificação pela fé e a Trindade, sido tema de pesquisa nos anos iniciais do
movimento. A segunda provavelmente por acharem nossos pioneiros, vários deles
advindos de comunidades unitarianas, que já possuíam luz suficiente sobre a
Divindade e que não careciam de maior pesquisa nesse assunto; ou então por
sentirem que, quanto a esse tema, havia pontos de divergência e, portanto, não
deviam insistir no assunto.67 A primeira, obviamente, pela ênfase
que a Igreja daria à lei de Deus nas primeiras décadas; afinal a terceira
mensagem angélica reclamava a reforma do sábado, e, por esta e outras razões, a
lei, com justiça, deveria ser exaltada.68
Em outras palavras,
antes de 1888 a Igreja adotava uma postura mais repressora e contestadora dos
erros doutrinários difundidos na cristandade. Era perita na argumentação
doutrinária; os adventistas se viam como um povo chamado por Deus para ciosamente
reivindicar, diante de um mundo em rebelião, o caráter santo da sua lei, e restaurar
as verdades jogadas por terra pela apostasia. Evidentemente nada de errado havia
nesta postura, exceto que, em seu zelo e com sua ênfase, ela se tornou um
terreno fértil para o legalismo. Estava perdendo de vista o fato de que Jesus é
a razão fundamental de todas as coisas, e o único meio de salvação. Aquilo que,
com Ele, deveria ser uma bênção, estava, sem Ele, se tornando uma pedra de
tropeço. Deus, porém, teve misericórdia de seu povo, permitindo que os eventos
de 1888 e os que ocorreram em seguida despertassem- no para a necessidade de
uma identificação mais profunda e significativa com a mensagem e experiência da
justificação pela fé. A partir desse tempo, verificou-se um interesse cada vez
maior neste sublime tema, e em suas implicações para a fé e a vida cristã.
Na verdade, uma postura
pré-1888 como essa jamais poderia ter-se verificado em detrimento da
proclamação do método correto de salvação, mas foi o que infelizmente aconteceu.
Nesse contexto, muitos imaginavam que “o importante, segundo a lógica, era pregar
as verdades peculiarmente adventistas, para que as pessoas pudessem converter-se
doutrinariamente ao adventismo do sétimo dia. Quarenta anos praticando esse
tipo de evangelismo levou a uma espécie de distanciamento entre o adventismo e
o cristianismo básico.”69
Quarenta anos a partir
de 1844 levam à década de 1880, no final da qual ocorreu a Assembléia de
Minneápolis. Como diz Knight, “o adventismo precisava de uma correção de curso
em sua teologia”,70 o que tomou lugar a partir da referida
assembléia. Todavia, o legalismo estava tão arraigado no adventismo, que as
colocações de Alonzo T. Jones e Ellet J. Waggoner diante dos delegados,
principalmente acerca do plano de redenção, encontraram forte resistência da
parte de alguns veteranos, entre eles George I. Butler e Urias Smith.71 Além
disso, Ellen G. White, pouco tempo depois da histórica assembleia, advertiu a
Igreja neste termos:
Por
aproximadamente dois anos temos estado urgindo com as pessoas para que venham e
aceitem a luz e a verdade concernente à justificação de Cristo, e eles não
sabem se vêm, e tomam esta preciosa verdade, ou não. Estão presos por suas
próprias ideias. Não permitem ao Salvador entrar [...] Como um povo, temos
pregado a lei até sermos tão áridos como os montes de Gilboa, que não tinham
orvalho, nem chuva.72
Não é correto, todavia,
supor, como fazem alguns, que a grande maioria de adventistas teria rejeitado a
mensagem da justificação pela fé. Mais de um mês antes de dar o testemunho
acima, Ellen G. White havia declarado:
Tenho
viajado de lugar a lugar, assistindo reuniões onde a mensagem da justiça de
Cristo foi pregada. Eu considerei um privilégio colocar-me ao lado de meus
irmãos, e dar meu testemunho com a mensagem para o tempo; e eu vi que o poder
de Deus amparou a mensagem onde ela foi falada. Você não poderia levar o povo a
acreditar em South Lancaster que não era uma mensagem de luz aquela que viera a
eles. As pessoas confessavam os seus pecados, e se apropriavam da justiça de
Cristo.73
Note-se, então, que,
paradoxalmente, houve os que relutaram em aceitar a “preciosa mensagem”,
enquanto outros prazerosamente a receberam, uma mensagem que, por implicação,
destacaria a Divindade de Jesus idêntica à do Pai, e o valor decisivo do
ministério divino do Espírito Santo em favor do pecador – detalhes que se ligam
à segunda verdade que seria incorporada pela Igreja, a Trindade. Como George R.
Knight destaca,
as
discussões sobre a questão da salvação durante o período de 1888 intensificaram
a conscientização de alguns adventistas sobre a necessidade de corrigir os
pontos de vista denominacionais sobre a Divindade. Alguns passaram gradualmente
a compreender que a posição tradicional da denominação era inadequada. Em suma,
o adventismo precisava de uma concepção cristológica e pneumatológica capaz de
satisfazer as exigências de sua compreensão enriquecida do plano da salvação.74
Em 1892, a Pacific
Press, onde Waggoner exercia a função de editor, publicou o trabalho de um não-adventista
sobre a Trindade, com o título The Bible Doctrine of the Trinity, autoria de
Samuel T. Spear. Em suas considerações, Spear afirma que Jesus “é verdadeiramente
divino e verdadeiramente Deus no mais absoluto sentido [...] e que esta distinção
[...] não conflita com a doutrina da unidade divina como ensinada na Bíblia.” Ligando
seu tema ao plano de salvação, Spear fala do “Deus tri-personal”, “trazido diante
de nossos pensamentos sob os títulos pessoais de Pai, Filho e Espírito Santo”, todos
“no mesmo nível de divindade”. No fechamento de suas considerações, Spear classifica
seu tema, a Trindade, como “uma gloriosa doutrina”.75 Jamais Ellen G.
White censurou a Pacific Press por ter publicado o estudo de Spear, tal como
fizera com a Review quando publicou material contrário à fé,76 ou
mesmo com a própria Pacific Press quando, uns dez anos após a publicação do
trabalho de Spear, publicou matéria comercial também não condizente com o nosso
pensamento.77
Dois anos antes, Ellet
J. Waggoner afirmara:
Com
efeito, o fato de Cristo ser parte da Divindade, possuindo todos os atributos
dela, sendo igual ao Pai em todos os respeitos, como Criador e Legislador, é a
única força que existe na expiação. É isto apenas que torna a redenção uma
possibilidade [...] Mas se lhe faltasse um iota [a menor letra do alfabeto
grego] em ser igual a Deus, não poderia nos conduzir a este [...] Em Jesus
habita a plenitude da Divindade; Ele é igual ao Pai em cada atributo.
Consequentemente, a redenção que há nele – a habilidade de resgatar o homem perdido
– é infinita.78
Contudo, Waggoner
nutria a ideia de que Cristo havia sido gerado do Pai num passado tão remoto
“que para a compreensão finita é praticamente sem começo”,79 posição
que se harmonizava com aquela mais recente de Uriah Smith.80
Inegavelmente, tudo
isso era um notável progresso em direção a um entendimento mais
correto da Divindade, e um afastamento bastante significativo do
unitarianismo sustentado de início pelos pioneiros que
procediam de comunidades religiosas unitarianas, entre elas a
Conexão Cristã, e estavam contagiados por ideias antitrinitárias.
Deus estava usando o confronto com um legalismo inconsciente
que se infiltrara na Igreja, para chamá-la de volta a uma verdade
eclipsada – a justificação pela fé – e, por meio desta, a uma noção
mais inequívoca da Divindade, com ênfase no Espírito
Santo. Knight assim coloca:
De
muitas formas, a década de 1890 foi a década do Espírito Santo. Nas publicações
adventistas, escritores como E. J. Waggoner, A. T. Jones, W. W. Prescott e Ellen
White exaltavam o papel do Espírito no plano da salvação. Afinal, de uma
perspectiva bíblica, o Espírito tem de ser forçosamente tratado teologicamente,
uma vez o povo comece a pensar seriamente sobre o plano da salvação. A
literatura adventista tinha mais a dizer sobre o Espírito na década de 1890 do
que em qualquer outra década de seu primeiro século.81
E quanto ao detalhe
questionável da cristologia de Waggoner, ficaria por conta de Ellen G. White
uma corrigenda, o que ela fez com a publicação, em 1898, do seu O Desejado de Todas as Nações. Nessa
obra, a autora enaltece a Jesus e o Espírito Santo de forma a contestar aqueles
“saudosistas” que ainda mantinham ideias estreitas sobre a Divindade.
Declarações tais como “desde os dias da eternidade, o Senhor Jesus era um com o
Pai”, “em Cristo há vida original, não [tomada] emprestada, não derivada... A
divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente”, e “o Espírito
Santo era o maior dos dons [...] sem o qual o sacrifício de Cristo de nenhum proveito
teria sido... Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa operação
da terceira pessoa da Trindade [‘Divindade’, segundo o original], a qual viria,
não com energia modificada, mas na plenitude do divino poder. É o Espírito que
torna eficaz o que foi realizado pelo Redentor do mundo”,82 eram uma
“pedra no sapato” de antitrinitarianos que ainda permaneciam na Igreja.
Um deles, jovem obreiro
de vinte e poucos anos, surpreendeu-se com esses “testemunhos” e chegou à
conclusão (tal como dissidentes hoje imaginam que tenha ocorrido com outros
escritos da serva do Senhor) de que aquelas afirmações não procediam da própria
pena de Ellen G. White. Ele supunha que fossem acréscimos interpolados pelos
responsáveis pela editoração e revisão, para final publicação, dos originais de
O Desejado.
O jovem, no entanto,
era sincero, e queria se certificar de toda a verdade. Viajou então para a
Califórnia, onde ela residia, e foi visitá-la. Inquirindo sobre o assunto, foram-lhe
franqueados os manuscritos da obra para que ele mesmo se certificasse, para sua
surpresa e admiração, de que as ditas afirmações eram rigorosamente originais. Não
seria necessário dizer que, por conta disso, Milian Lauritz Andreasen, precisamente
aquele jovem, tornou-se trinitariano convicto. Uns cinquenta anos depois
daquela visita, ele viria a afirmar:
[...]
se Cristo não é essencialmente Deus no mais alto sentido, se Ele não é
auto-existente, então nós temos um salvador que não é Deus por si mesmo, alguém
que deve sua vida a outro, um que teve começo e que pode, portanto, ter um fim.
Assim, a obra salvífica do Filho naufraga na insignificância [...] Isto
deprecia e degrada a Deus e a seu caráter.83
PANTEÍSMO
DE KELLOGG: A GOTA QUE FALTAVA
Mais ou menos dez anos
após a Sessão de Minneápolis, eclodiu em Battle Creek a heresia panteísta de
Kellogg, a gota d’água que faltava. Se até ali ainda restava alguma dúvida quanto
à necessidade de a Igreja possuir uma definição clara, categórica e efetiva de
sua posição quanto à Divindade, a defecção encabeçada pelo famoso cirurgião
evidenciava que se isto não fosse feito ela teria que pagar o alto preço da
perda de sua própria identidade e senso de missão.
Estaria Deus,
entretanto, valendo-se de uma heresia para concitar seu povo a fazer o que
deveria ser feito? Bem, isso não era absolutamente inédito, pois no passado Deus
já havia procedido de forma semelhante. É reconhecido que uma heresia surgida
no segundo século concorreu diretamente, entre outros benefícios, para a
formação do cânon do Novo Testamento, algo sobre o que a Igreja de então não
tinha ainda maiores preocupações; refiro-me ao marcionismo.
Marcion, seu expositor,
afirmava em Roma que Cristo havia estabelecido uma religião nova, sem qualquer
vínculo com a história de Israel. O Antigo Testamento deveria ser totalmente
rejeitado pois apresentava a ação de um Deus que não somente não poderia ser o
Pai de Jesus, mas, em certo sentido, era antagônico a Ele. Sendo rigorosamente
justo, esse Deus impusera aos homens uma lei impossível de ser cumprida,
ocasionando a queda e a degeneração da raça. Por outro lado, o Pai de Jesus, o
Deus onipotente e, ao mesmo tempo, misericordioso e compassivo, enviara-o para
ser o Salvador. Jesus, o Messias, não correspondia ao Messias anunciado pelos
antigos profetas. A religião de Jesus era absolutamente nova. Apenas Paulo era
um apóstolo legítimo, pois fielmente preservara a religião de Cristo em sua
pureza original, sem qualquer contaminação com o judaísmo. Prova disto era o
aparente combate que Paulo fizera à lei (que na mentalidade do herege não havia
sido aparente, mas real), e seus embates contra elementos judaizantes de seu
tempo. Assim, Marcion estabeleceu o seu próprio cânon: apenas as epístolas
paulinas (excetuando as pastorais) e o evangelho de Lucas eram inspirados.
Isso obrigou a Igreja a
reagir. Ela combateu a heresia reafirmando sua aceitação do Antigo Testamento
como Palavra de Deus, e considerando o Novo Testamento o seu complemento final
e absoluto. A mensagem do evangelho deveria ser recebida em suas quatro
versões, e o restante do Novo Testamento não se limitava aos escritos de Paulo.
O valor do livro de Atos no combate à heresia foi logo reconhecido, e foi
naturalmente inserido ao cânon. Assim também outras produções entre as que
compõem hoje o Novo Testamento.
Um mal que resultou em
bem, diríamos. Com efeito, não seria demais considerar qualquer heresia uma
bênção disfarçada não apenas no sentido de joeirar o povo de Deus fazendo com
que a palha se separe do cereal, mas também no sentido de sacudir sua apatia e
prepará-lo mais eficazmente para os desafios que o esperam. Ellen G. White
escreveu em 1889:
Quando
não surgem novas questões em resultado de investigação das Escrituras, quando
não aparecem divergências de opinião que instiguem os homens a examinar a
Bíblia por si mesmos, para se certificarem que possuem a verdade, haverá muitos
agora, como antigamente, que se apegarão às tradições [inclusive a dos
pioneiros], cultuando nem sabem o quê... Deus despertará seu povo; se outros
meios falharem, introduzir-se-ão entre eles heresias, as quais os hão de
peneirar, separando a palha do trigo.84
Assim, o panteísmo de
Kellogg resultou igualmente num bem, pois, como estamos vendo, a posição da
Igreja quanto à Divindade acabou definida. É a partir da ocasião desta
apostasia que temos os mais explícitos testemunhos do Espírito de Profecia
quanto à personalidade e divindade do Espírito Santo. Algumas destas
declarações com suas respectivas datas são como seguem:
1897:
O
príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de
Deus, na terceira pessoa da Trindade [“Divindade”, no original], o Espírito
Santo. 85
1899:
Precisamos
reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus,
está andando por esses terrenos.86
A
Divindade moveu-se de compaixão pela raça, e o Pai, o Filho e o Espírito Santo
deram-se a si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção.87
1901:
Os
eternos dignitários celestes – Deus, Cristo e o Espírito Santo – munindo-os
[aos discípulos] de energia sobre-humana, ... avançariam com eles para a obra e
convenceriam o mundo do pecado.88
1905:
O Consolador que Cristo
prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da
Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e
creem em Cristo como um Salvador pessoal. Há três pessoas vivas pertencentes à
Trindade [“trio”, no original] celeste; em nome deste três grandes poderes – o
Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são
batizados, e esses poderes cooperarão como os súditos obedientes do Céu em seus
esforços para viver a nova vida em Cristo.89
Cumpre-nos
cooperar com os três poderes mais altos no Céu – o Pai, o Filho e o Espírito
Santo – e esses poderes operarão por meio de nós, fazendo-nos coobreiros de
Deus.90
1906:
O
Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que
somos filhos de Deus [...]
O
Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso
espírito, e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também [no
inglês “must also be”, tem que ser também] uma pessoa divina, do contrário não
poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus [...]91
1908:
O Espírito ia ser dado
como agente de regeneração, sem o qual o sacrifício de Cristo de nenhum
proveito teria sido... Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da
poderosa atuação da terceira pessoa da Divindade, a qual não viria com energia
modificada, mas na plenitude do divino poder. É o Espírito que torna eficaz o
que foi realizado pelo Redentor do mundo.92
Mais ou menos
simultânea com a crise Kellogg, outra heresia – exatamente oposta ao panteísmo,
mas envolvendo, também, o Espírito Santo – igualmente contribuiu para que a
Igreja solidificasse sua posição quanto à Divindade: o “movimento
pentecostalizado da carne santa”,93 difundido principalmente em
Indiana. Comentando as duas heresias, Knight salienta como o grande tema de
Minneápolis ainda foi o fator primordial por esta nova tomada de posição da
Igreja.
Em reação a essas
aberrações teológicas, houve a tentativa de esclarecer o conceito bíblico da
Trindade e de outras doutrinas correlacionadas. Essas tentativas, porém, foram
mais do que apenas uma reação a esses problemas da virada do século. Foram uma
consequência natural da necessidade de ter uma compreensão mais apropriada da
Divindade face à nova ênfase sobre o plano da salvação surgida em 1888.94
Fidelidade à maneira
como Deus conduzira as coisas naquela assembleia mais o zelo pelo cumprimento
correto da missão que recebera de Deus, motivaram a Igreja a definir em termos
claros e precisos seu conceito sobre Divindade; tudo muito cristocêntrica e soterocentricamente.
CONCLUSÃO:
O CONHECIMENTO DA VERDADE É PROGRESSIVO
Como visto, os marcos
iniciais de fé, estabelecidos com muito estudo e oração, nunca foram
considerados por Ellen G. White a expressão definitiva daquilo em que
deveríamos crer; ela sempre os considerou o fundamento, o alicerce em cima do
qual “temos estado a construir, nos últimos cinquenta anos.”95 Ela disse também que, durante esse tempo, a
verdade, “ponto por ponto, tem sido buscada com estudo e oração, e atestada pelo
poder milagroso do Senhor.”96
Em verdade, a Igreja nunca parou de estudar a Bíblia em busca de maior
conhecimento da vontade do Senhor, como o demonstra estas duas fórmulas
empregadas por Ellen G. White: “temos estado a construir” e “tem sido buscada
com estudo e oração”. O original inglês registra, respectivamente “we have been
building” e “has been sought out by prayerful study”.
Ambas as expressões
indicam contínua investigação visando o progresso no conhecimento e compreensão
da verdade, em que pese o fato de que a primeira também envolva outras
atividades da obra de Deus. Portanto, cai por terra a teoria sustentada por
dissidentes de que o corpo doutrinário da Igreja foi estabelecido em seus
primeiros anos, e que este fato tornaria supérflua qualquer inquirição
posterior da verdade. Por exemplo, Jairo Pablo Alves de Carvalho, em seu
opúsculo A Divindade (p. 41ss), alardeia que esse corpo doutrinário foi estabelecido
entre 1844 e 1855, e que “não seria necessário um novo esforço para trazê-la [a
temática da Divindade] novamente à luz”; para tanto, ele se vale de citações de
Ellen G. White numa desesperada tentativa de encontrar respaldo à sua
conclusão.
Mas o dissidente ignora
que o conhecimento da verdade é progressivo, e que a própria Ellen G. White
afirmou aquilo que foi visto acima, a saber, que nesses 50 anos (1854-1904) a
verdade, ponto por ponto (o que, naturalmente, inclui o tema da Divindade),
“tem sido buscada com estudo e oração”; ignora também como o Senhor conduziu os
acontecimentos para que este progresso no conhecimento adicional da verdade e
no estabelecimento (ou restabelecimento) de novos artigos de fé se efetivasse.
Em plena crise panteísta ela afirmou:
Não
devemos pensar [no original, “we must not think”, é imperativo que não
pensemos]: “Bem, nós temos toda a verdade, nós compreendemos os pilares básicos
de nossa fé [isto é, aquilo que biblicamente havia sido assentado pelos
pioneiros], e podemos descansar neste conhecimento.” A verdade é progressiva, e
devemos andar na luz crescente. Não devemos pretender que nas doutrinas vistas
por aqueles que estudaram a palavra da verdade, não existia algum erro, pois
homem vivente algum é infalível.97
Pergunto então: se é um
fato que as verdades fundamentais do adventismo foram estabelecidas até 1855, o
que dizer, à luz do que temos considerado, da justificação pela fé, que veio a
lume 33 anos mais tarde, tema que, inclusive, estimulou a Igreja a um estudo mais
acurado da Divindade? E se este magno assunto já estava plenamente
estabelecido, a que devemos tributar a controvérsia panteísta de Kellogg e a
heresia da carne santa, ocorridas logo em seguida, as quais reforçaram ainda
mais a necessidade de a Igreja ter uma posição bem clara, objetiva, definida
sobre a Divindade, resultando numa ainda mais enfática abordagem de Ellen G.
White da divindade de Jesus e da personalidade e divindade do Espírito Santo?
Não estaria ela indicando que a crença na Trindade, como visto acima, é, de
fato, um anteparo contra o insidioso panteísmo?
Knight informa que a
nova concepção em torno da Divindade ocorreu em resultado do empenho não de
teólogos da Igreja, mas da própria Ellen G. White.
Curiosamente, não foram
os teólogos de nenhum lado da controvérsia de 1888 que fizeram o adventismo
recuperar o ponto de vista bíblico a respeito da Divindade, mas Ellen White.
Embora ela não tenha desempenhado papel relevante na formação doutrinária das
principais crenças adventistas na década de 1840 [como foi referido], na década
de 1890 ela ajudou seus companheiros de igreja a compreender como suas
interpretações eram inadequadas.98
Nesse caso, temos de
convir que as novas conclusões a que a Igreja chegou vieram como resultado não
do mero arbítrio humano, mas inteiramente do influxo divino. Utilizando sua
mensageira, Deus demonstrou que esteve invisivelmente conduzindo cada situação,
mesmo porque Ele nunca abandonou o seu povo. A certeza desse fato é um legado
que recebemos daquela geração, o qual devemos com zelo e espírito de oração
conservar, agora quando, segundo posso entender, o ômega da apostasia está
afrontosamente atuando para desestabilizar a Igreja.
O
ÔMEGA DA APOSTASIA: OS PARALELOS ÓBVIOS
Feito um levantamento
do alfa da apostasia, e circunstâncias que determinaram o seu contexto, estamos
em melhor condição de constatar se a presente especulação herética envolvendo a
doutrina da Trindade se ajustaria àquilo que Ellen G. White chamou de ômega da
apostasia. Naturalmente desde o tempo da defecção do Dr. Kellogg, o inimigo tem
sido incansável no combate ao povo de Deus, vez por outra fazendo surgir aqui e
ali novos movimentos heréticos. Para se confirmar esse fato, basta uma olhadela
na lista de investidas satânicas contra a Igreja depois de 1902, na relação
registrada no início deste estudo.99 Mas a exemplo do que ocorrera
com tais movimentos antes da crise Kellogg, as manifestações que ocorreram
depois igualmente envolveram apenas instituições divinas, como a questão do
santuário, o dom de profecia e a Igreja; todos eles com exceção de um: aquele
corrente em nossos dias. Este, justamente como ocorreu com a heresia panteísta
de Kellogg, tem a ver igualmente com a natureza e personalidade divinas, e,
portanto, não apenas se levanta contra as instituições de Deus, mas também
contra o Deus das instituições.
Antes de tudo, é
imperativo que demos atenção a um conselho, ou, melhor dizendo, a uma
advertência dada por Ellen G. White justamente quando ela previu o surgimento
do terrível ômega.
Sabia eu que devia
advertir nossos irmãos e irmãs a que não entrassem em controvérsia em relação à
presença e personalidade de Deus.100
Esse tipo de apostasia
fê-la tremer “pelo nosso povo”,101 e aqui se tem a nítida impressão
de que, em sua ansiedade, ela apelou à igreja a que não especulasse sobre a
personalidade de Deus, considerando que quanto mais isso (não especular) fosse
feito mais postergaria o terrível quadro. Notamos, então, que a apostasia
ômega, a exemplo da alfa, tem a ver com a natureza e personalidade de Deus.
Infelizmente esse tempo
chegou, pois hoje se vive nos círculos adventistas uma verdadeira controvérsia
sobre a personalidade divina, naturalmente envolvendo também a questão de sua
presença.102
Para se constatar essa
triste realidade basta observar o que dissidentes antitrinitários afirmam
especialmente sobre o Espírito Santo,103 o qual, na linguagem de
Ellen G. White, é tão pessoal e divino como o Pai.104 Desprezando um
sem-número de panfletos, folhetins, volantes, etc, que são por aí distribuídos,
tomo por referência os opúsculos inventados por Ricardo Nicotra e Jairo de
Carvalho105 (verdadeiras cópias carbonos de outras produções) para
fazer notar que os dissidentes não têm o mínimo escrúpulo em tomar aquele a
quem a revelação identifica como a inefável “terceira pessoa da Divindade”106
como simples energia, virtude, luz, sopro,107 ou qualquer coisa do
tipo. Outra concepção sustentada por alguns deles é a de que, se o Espírito
Santo deve ser referido em termos de personalidade, então não seria mais do que
um anjo,108 ou, na melhor das hipóteses, fruto de uma fusão ou
absorção de personalidade, ora conceituado como sendo o Pai, ora como sendo o
Filho.109
MAIS
PARALELOS
Estabelecido o paralelo
básico da atual apostasia com a anterior (ambas envolvem a personalidade e
presença de Deus), verifiquemos agora se aquelas catorze características do
alfa, referidas páginas atrás, encontram uma correspondência na apostasia sobre
a Trindade e o Espírito Santo, corrente em nossos dias, de forma a que se
solidifique a suspeita de que esta seja, de fato, o anunciado ômega.
CARACTERÍSTICA 01:
HERESIA LETAL
O alfa da apostasia era
uma heresia letal porque colocava em risco a salvação daquele que a assumia.
Seria a atual apostasia antitrinitariana menos letal, desmerecendo o Espírito
Santo como ela faz? Leve-se em conta que é somente através dele que podemos
vencer o pecado; que é apenas Ele quem aplica ao pecador os efeitos salvíficos
do Calvário; que sem Ele “o sacrifício de Cristo de nenhum proveito teria
sido.”110 Como diz Donald G. Bloesch, “nossa salvação foi planejada
pelo Pai, executada pelo Filho, e aplicada e revelada pelo Espírito Santo.
Cristianismo evangélico será para sempre solidamente trinitariano tanto quanto
fundamentalmente cristocêntrico.111
Evidência contundente
da atividade salvífica da terceira pessoa da Divindade é o fato de que não
haverá mais disponibilidade de salvação para o impenitente depois que a porta
da graça se fechar, isto é, depois que o Espírito Santo for retirado deste planeta.
CARACTERÍSTICA 02: MISTURA DO FALSO COM O VERDADEIRO
A exemplo das demais,
com especial menção do alfa, a atual heresia antitrinitariana não oferece
apenas enganos; basta uma lida em materiais que têm sido preparados por
dissidentes para que isto seja constatado. Aí está um dos maiores fatores de
perigo de qualquer heresia, e com esta não é diferente.
CARACTERÍSTICA 03:
ALEGAÇÃO DE SER UMA GRANDE VERDADE
Não é precisamente isso
que os dissidentes antitrinitarianos alegam? Que a Igreja apostatou por crer na
Trindade e que eles realizam uma grande obra de retorno à verdade?
CARACTERÍSTICA 04:
APARENTE APOIO DA BÍBLIA E DO ESPÍRITO DE PROFECIA
Aqui o ômega se
aproxima consideravelmente do que Ellen G. White disse do alfa:
Os
textos são tirados de seu contexto, e usados para sustentar teorias errôneas...
citam-se passagens da Escritura... de modo a fazerem o erro parecer verdade...112
Como já tive
oportunidade de mencionar,
o
que acontecia no tempo de Ellen G. White, e que mereceu sua veemente censura,
está literalmente ocorrendo hoje, pois tal como a serva do Senhor denunciou, os
atuais dissidentes [antitrinitarianos] igualmente reúnem um punhado de
‘passagens bíblicas’, arbitrariamente catadas aqui e ali e, sem o mínimo
respeito às mais elementares regras hermenêuticas, colocam-nas numa cadeia
temática ilegítima que as obriga a afirmar aquilo que eles pretendem.”113
O mesmo é feito com
testemunhos do Espírito de Profecia.
CARACTERÍSTICA 05:
APARÊNCIA DE PIEDADE
Não se descarta aqui a
eventualidade de haver pessoas sinceras envolvidas no ômega, pois até entre os
pagãos que não conhecem o evangelho há pessoas assim; essa, portanto, não é a
questão. Refiro-me ao fato de que, em seu empenho por “resgatar” adventistas da
condição, segundo alegam, de apostasia em que se encontra a Igreja, líderes do
movimento e pessoas que dele participam revelam zelo e interesse suficientes
para aparentar um bom grau de piedade. Impressiona, por exemplo, os apelos que
fazem a membros da Igreja para que deixem de transgredir o primeiro mandamento
do decálogo adorando “um terceiro deus” (como chamam ao Espírito Santo), e
abandonem o erro “enquanto é tempo”. Mas será mesmo que somos nós que temos de
abandonar o erro?
Apelos nesse sentido,
todavia, não têm o mínimo valor, porque os adventistas do sétimo dia não
transgridem esse mandamento adorando dois ou três deuses, mas um só Deus em
três pessoas distintas, conforme a Bíblia e o Espírito de Profecia revelam.
Além disso, o Espírito Santo é digno de nossa reverência e culto, pois sua
divindade é inquestionavelmente declarada nas Escrituras.114 Em 4 de
janeiro de 1881, Ellen G. White encerrou sua mensagem de ano novo registrando
as palavras do cântico trinitário que várias de nossas igrejas costumam cantar
como doxologia nos cultos de sábado; aquele que precede imediatamente a
“invocação”, e que dissidentes, por uma questão de coerência, não cantam. Mas a
serva do Senhor cantava. Suas palavras foram: “...consagremos a Ele tudo o que
somos e tudo o que temos, e, então, que todos nos unamos no cântico: ‘Praise
God, from whom all blessings flow; praise him, all creatures here below; praise
him above, ye heavenly host; praise Father, Son, and Holy Ghost’”, 115
(correspondente, em português, ao nº 581 do Hinário Adventista do Sétimo Dia:
“A Deus supremo Criador, vós, anjos e homens, dai louvor; a Deus, o Filho, a
Deus, o Pai, a Deus, Espírito, glória dai”).
Ademais, não existe
piedade autêntica que se faça acompanhar da sórdida atitude de demolir aquilo
que Deus edificou. Piedade não combina com heresia e falso ensino. Em 1897,
quando a digressão encabeçada por Kellogg começava a crescer, Ellen G. White
declarou: “Abundam ao nosso redor falsas doutrinas, falsa piedade, falsa fé e
muito do que é na aparência sincero. Mestres virão vestidos como anjos de luz;
e, se possível, enganarão até aos escolhidos.”116
CARACTERÍSTICA 06:
CONCEITO SOBRE DEUS À LUZ DA RAZÃO HUMANA
Conceitos
antitrinitários tendem a explicar a Divindade à luz da razão. Seus expositores
apreciam empregar o argumento simplista de que 1+1+1 é igual a 3 e nunca igual
a 1; assim submetem a Divindade a uma “prova dos nove”. Mas se querem utilizar
uma operação matemática para defini-la, porque não usam a multiplicação em
lugar da adição? pois 1x1x1 é igual a l.
Mas o Deus, cuja “grandeza
é insondável” (Sl 145:3), não pode ser avaliado pela medida finita e elementar
da criação; Ele pergunta: “...que coisa semelhante confrontareis comigo?” (Is
46:5), e declara:
[...]são
os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais
altos do que os vossos pensamentos (55:9).
Embora o binitarista
Ricardo Nicotra denuncie os trinitários de tentarem compatibilizar “as
contradições” da doutrina da Trindade por declararem-na um mistério (o que,
para o dissidente, é uma grande impropriedade,117 ainda que estas
contradições estejam mais na mente dele do que na doutrina propriamente), o
Deus verdadeiro é mesmo um Deus misterioso (ver Is 45:15).118
O conceito trinitário
é, na verdade, a melhor explicação para o aparente paradoxo entre a unidade de
Deus e sua pluralidade. Em sua ação nos domínios humanos, Deus se manifesta
como unidade composta, pela forma plural como é referido no Velho Testamento, e
explicitamente como Pai, Filho e Espírito Santo nas páginas do Novo Testamento.
É por isso que aqueles que creem na Trindade aceitam-na como um item exclusivo
da revelação, enquanto que, como assevera Bromiley, “as objeções racionalistas
à Trindade naufragam por insistirem em interpretar o Criador em termos da
criatura, isto é, a unidade de Deus em termos de unidade matemática... O
cristão não é confundido se permanece um elemento de mistério que desafia a
derradeira análise ou compreensão, porque ele é apenas homem, e Deus é Deus.”119
“Interpretar o Criador
em termos da criatura” envolve também o antropomorfismo, o conceito que toma a
realidade substancial do homem por modelo de Deus: como é com o primeiro, assim
também deve ser com o segundo. Dessa forma, os dissidentes argumentam que se o
homem tem um espírito que não é uma entidade pessoal à parte dele, assim também
Deus tem um espírito que é algo inerente a Ele mesmo.120 Mas Deus
continua perguntando: “A quem me comparareis para Eu lhe seja igual?” (Is
46:5).
CARACTERÍSTICA 07:
PRESSÃO SOBRE ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA
Seria interessante
fazer-se um levantamento das atividades missionárias cumpridas por grupos
separatistas; por exemplo, quantas almas foram efetivamente ganhas pelos
dissidentes que abandonaram a igreja por descrerem da Trindade? Certamente
constatar-se-ia que eles não estão preocupados com a salvação de perdidos,
exceto dos adventistas do sétimo dia que consideram perdidos por crerem na
Trindade. Sem qualquer plano de evangelização, dissidentes se limitam a
cirandar igrejas a ver se conseguem demover este ou aquele membro de suas
convicções e atraí-lo para o lado deles.
A Bíblia afirma que
Jesus voltará apenas quando o evangelho for proclamado “por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações” (Mt 24:14). Pelo que se nota, se esta tarefa for
deixada sob a responsabilidade desses dissidentes, podemos nos preparar para
permanecer ao menos mil anos mais neste planeta.
CARACTERÍSTICA 08: UMA
AGRESSÃO À PERSONALIDADE DE DEUS
A presente apostasia
agride a personalidade de Deus porque elimina uma das pessoas divinas, o
Espírito Santo, para transformá-la numa abstração, ou numa criatura
(primeiramente Lúcifer, então o anjo Gabriel ou qualquer outro).
Já imaginamos, uma
criatura no seio da Divindade? Era isso o que Lúcifer ambicionava, e o que o
motivou a encetar sua rebelião no Céu:
Desejava
participar dos conselhos e propósitos divinos, dos quais foi excluído por sua
própria incapacidade, como ser criado que era, de compreender a sabedoria do
Infinito Deus. Foi esse orgulho ambicioso que o levou à rebelião [...]121
Veja, então, que
Lúcifer quis participar dos conselhos de Deus, mas não pôde, porque era uma
criatura.
Pela forma como
entendem o Espírito Santo, os dissidentes tornam a Deus um incoerente.
Carvalho, por exemplo, afirma que o Espírito Santo e Gabriel são o mesmo
ser.122 A Bíblia mostra que o Espírito Santo participa dos conselhos de Deus,
afirmando que Ele “a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de
Deus” (1Co 2:10,11). Mas se Ele e Gabriel são o mesmo ser, por que, então,
Lúcifer não pôde participar desses conselhos por ser uma criatura, enquanto que
Gabriel, também uma criatura, participa? Faz Deus acepção de pessoas (nesse
caso, acepção de anjos)? Usa Ele de parcialidade? Tem os seus preferidos?
Proíbe algo para um enquanto permite para outro? É difícil não concluir que,
para esses antitrinitanos, Deus não tem critério; o que nega para um, faculta
para outro. Esse, todavia, não é o Deus que se revela na Bíblia, pois o
Espírito Santo, segundo ela, não é um mero anjo, ainda que Gabriel.123
Outra agressão à
personalidade de Deus imposta pela apostasia antitrinitariana é a forma atípica
e artificial como esse mesmo dissidente traduz e interpreta o inglês “of the
Godhead” empregado por Ellen G. White em alusão ao Espírito Santo como terceira
pessoa da Divindade.124
Carvalho traduz essa
expressão por “a partir da Divindade”,125 e não “da Divindade” como
seria o correto, 126 obrigando Ellen G. White a concordar com os
conceitos antitrinitarianos dele: o Espírito Santo não é a terceira pessoa da
Divindade, mas uma terceira pessoa a partir dEla! É o caso de se perguntar ao
dissidente: se ela quisesse afirmar que o Espírito Santo é a terceira pessoa da
Divindade, como teria escrito?
O fato é que Ellen G.
White admitia três pessoas na Divindade, O Pai, o Filho e o Espírito Santo,
enquanto o dissidente, tomando a Divindade como ponto de partida, coloca o
Espírito Santo em terceiro lugar depois desta, cabendo respectivamente ao Pai e
ao Filho o primeiro e o segundo postos. A ideia, entretanto, perpetra dois erros:
o primeiro, de menor gravidade, é a violência contra o idioma inglês no tocante
à estrutura e significado dos termos; o segundo, porém, implica numa aberração
teológica séria. Com o seu contrassenso, o dissidente acaba provocando uma
separação crítica entre a Divindade e as pessoas que a constituem. Se nesse
raciocínio o Espírito Santo, como o dissidente supõe, não participa da
Divindade, igualmente o Pai e o Filho também não participam, pois aquele é a
terceira pessoa a partir dela, enquanto estes são a primeira e a segunda. Temos
aqui, portanto, quatro entidades separadas e autônomas, a saber, uma substância
impessoal (a Divindade) e três pessoas:
A DIVINDADE |
O PAI |
O FILHO |
O ESPIRITO
SANTO |
|
Primeira
pessoa |
Segunda
Pessoa |
Terceira
pessoa |
A partir da Divindade |
|||
Esta
estrutura separa a Divindade da personalidade, e vice-versa, e torna a
primeira uma substância abstrata, simples, vazia, impessoal, e isto é puro
panteísmo, o mal do alfa da apostasia repetido no ômega; uma agressão à
personalidade de Deus. O paralelo é perfeito. Além do mais, a estrutura é
também politeísta, pois além da Divindade estão o Pai, o Filho e o Espírito
Santo, cada um ocupando uma posição definida, tal como ocorria no ranking dos
deuses pagãos. |
CARACTERÍSTICA 09: UMA REPRESENTAÇÃO FALSA DE DEUS E, PORTANTO, UMA DESONRA PARA ELE
É no que a presente
apostasia antitrinitariana resulta. Ela reduz a terceira pessoa da Divindade às
vezes a uma abstração e, outras, a uma criatura. Em qualquer destas duas
hipóteses, Deus está sendo desonrado. Por exemplo, numa interpretação
equivocada de Atos 2:33,127 Carvalho chegar ao extremo de tachar o
Espírito Santo de “isto”,128 o que seria uma ofensa até para um ser
humano.
CARACTERÍSTICA 10:
“ESPIRITIZAÇÃO” DE DEUS
Também aqui a presente
apostasia se aproxima consideravelmente do “alfa”, pois o conceito abstrato que
sustentam sobre o Espírito Santo equivale ao conceito abstrato de Deus do
panteísmo de Kellogg. Pode-se constatar que isso é verdade observando-se como
Ellen G. White condenou as diferentes abstrações aplicadas na época ao Espírito
Santo e como elas são praticamente equivalentes às que são aplicadas hoje.
Ela classificou essas
abstrações de seus dias como “misticismo”129 , “fantasiosas
interpretações espiritualistas das Escrituras”,130 “teorias espiritualistas da personalidade de
Deus”,131 “ensinos espiritistas que enfraquecerão a fé”,132
“teorias espiritistas acerca de Deus”,133 “teorias espiritualistas”
que comprometem a “experiência cristã”,134 “teorias espíritas” que
mereciam repreensão,135 “ensinos espiritualistas que minam a fé em
Deus e em sua Palavra”,136 “espiritismo” consequente de “fantasiosos
pontos de vista”,137 etc. Ela considerou todas as abstrações sobre o
Espírito Santo como de cunho espiritualista ou espiritista. “São imperfeitas,
inverídicas. Enfraquecem e diminuem a Majestade a que não pode ser comparada
nenhuma semelhança terrena.”138 Como essas abstrações praticamente
se equivalem às de hoje,139 compreendemos que a atual heresia também
consegue a façanha de “espiritizar” a Deus.
CARACTERÍSTICA 11:
FATOR DE DESAGREGAÇÃO
Tem a atual dissidência
em torno da Trindade e da pessoa e Divindade do Espírito Santo contribuído para
fortalecer a unidade da Igreja? A resposta é um categórico “não!” Ao contrário,
ela tem sido causa de discórdia e divisão, e consequente enfraquecimento do
corpo de Cristo. A esse respeito, e de como nos posicionar frente a tal
situação, a Palavra de Deus é incisiva: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem
aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que
aprendestes; afastai-vos deles” (Rm 16:17).
A Igreja não pode ficar
indiferente diante daqueles que semeiam dúvida e suspeita com respeito à
organização, aos obreiros, e às doutrinas que sustentamos e que formam a
substância e conteúdo do que cremos. Enquanto um membro guarda suas ideias
divergentes para si mesmo, sem permitir que as mesmas interfiram mesmo em seu
comportamento cristão, ele pode continuar em comunhão com a Igreja; mas no
momento em que ele passa a pregá-las aos companheiros de fé, gerando confusão e
facções, deve ser advertido, e disciplinado, caso continue com sua postura.
Infelizmente é isso o
que tem acontecido com respeito a atual dissidência. Igrejas têm sido invadidas
e divididas por ideias controversas; que o digam as comissões que têm cumprido
o desagradável dever de dar baixa a nomes de membros queridos que antes
comungavam na mesma fé; que o digam as congregações que se viram subtraídas de
vários de seus membros.
E mais um ponto
importantíssimo: não é raro dissidentes (sem se declararem como tal) se fazerem
presentes às reuniões da igreja a fim de tomar conhecimento de algo que venha a
favorecer a própria dissidência. Na época do alfa da apostasia, Ellen G. White
exortou as igrejas nestes termos:
Devo advertir a todas
as nossas igrejas a que se acautelem contra homens que estão sendo enviados
para fazer a obra de espiões em nossas associações e igrejas – uma obra
instigada pelo pai da mentira e do engano.140
Portanto, cuidado com
eles!
CARACTERÍSTICA 12: AMOR
ESPIRITUAL NÃO-SANTIFICADO
O fervor, o entusiasmo,
a devoção, o interesse, a dedicação, o empenho com os quais os propugnadores de
um falso ensino se devotam à disseminação do mesmo indicam uma qualidade de
amor espiritual não-santificado, por se expressar em favor de uma causa
equivocada. Também os não-cristãos amam aquilo a que se dedicam, e alguns
estariam até dispostos a disponibilizar a própria vida em favor da causa amada,
fosse assim requerido. O verdadeiro amor, porém, “somente é achado no coração
em que Jesus reina”,141 e tais corações jamais se levantarão contra
sua causa e contra sua Igreja.
CARACTERÍSTICA 13:
TOTAL DISSONÂNCIA COM OS ENSINOS DE CRISTO
Qual o conceito da
Divindade apresentada por Cristo? Expressou-se Ele contrário à ideia de um Deus
triúno? O que disse Ele acerca da natureza do Espírito Santo?
Aos judeus incrédulos,
Jesus se apresentou como Filho de Deus e em igualdade com Ele em natureza e
obras, razão porque quiseram apedrejá-lo (Jo 5:18; 10:31-33). Além disso,
Cristo definiu a unidade e pluralidade de Deus com a conhecida fórmula “Eu e o
Pai somos um” (10:30). Que esta pluralidade não era binitária mas trinitária,
infere-se do fato de Ele identificar o Espírito Santo como “outro Consolador”,
o que denota sua personalidade142 e sua natureza divina idêntica à
dele mesmo.143 Finalmente, Ele confirmou o conceito trinitário de
Deus ao conferir à Igreja a grande comissão evangélica, segundo a qual o
batismo nas águas deveria ser ministrado “em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”. 144
CARACTERÍSTICA 14:
INSPIRAÇÃO PELO DIABO
O que se deveria dizer
de um movimento...
(01) que apregoa uma
heresia letal?
(02) que mistura o
falso com o verdadeiro?
(03) que alega ser uma
grande verdade, quando oferece uma heresia?
(04) que se vale
deslealmente da Bíblia e do Espírito de Profecia?
(05) que ostenta
aparência de piedade ao tempo em que dissemina um engano?
(06) que impõe a lógica
humana como norma de interpretação e compreensão de algo tão transcendente como
a natureza e personalidade de Deus?
(07) que não se
preocupa com a evangelização de um mundo perdido, mas tão somente com
proselitismo entre os próprios adventistas para arrebatá-los para as suas
próprias fileiras?
(08) que agride a
personalidade de Deus?
(09) que oferece uma
representação falsa dEle, e que lhe é, portanto, uma desonra?
(10) que resulta, com sua mensagem, na
“espiritização” de Deus?
(11) que é um fator de desagregação e
enfraquecimento do corpo de Cristo?
(12) que é imbuído de amor espiritual não
santificado?, e
(13) que está em dissonância com o que Cristo
ensinou?
Que dizer de um
movimento assim, senão que é resultante do influxo diabólico? Com efeito, o
alfa e o ômega da apostasia provêm de só um lugar: a mente satânica.
CONCLUSÃO
Observamos como o
panteísmo do alfa da apostasia desmereceu a Deus a ponto de torná-lo inferior à
própria criatura e de fazê-lo residir no próprio Satanás.145 A presente
dissidência que nega a Trindade, com ênfase no demérito do Espírito Santo, não
deixa por menos. O dissidente Jairo de Carvalho, ao classificar o Espírito de
“isto”146 (como visto, em resultado de uma interpretação equivocada
de At 2:33), rebaixa a terceira pessoa da Divindade a um plano inferior ao da
criatura.147 Não sendo suficiente este ultraje, o mesmo dissidente
atinge o limiar da insensatez ao identificar a mesma augusta pessoa com a
glória divina para, então, afirmar pateticamente que o próprio Satanás possui o
Espírito Santo.148
Assim, os antitrinitarianos
da dissidência adventista se prestam decididamente a leviandades como esta. Faz
algum tempo, recebi de outro dissidente um e-mail no qual ele deixou bem claro
sua vil convicção envolvendo a Trindade, ao declarar: “Se o Espírito Santo é
uma pessoa, então Deus Pai é um corno, porque foi o primeiro que gerou seu
Filho no útero de Maria.” Considerando esses blasfemos despropósitos149
sobre o santíssimo Deus revelado nas páginas sagradas; considerando as
advertências de Ellen G. White à Igreja sobre o vindouro ômega; e, afinal,
considerando o fato de que, em seu preciso paralelismo com o alfa, a presente
dissidência antitrinitariana cumpre o que poderiam ser chamadas as
especificações do ômega, sinto-me fortemente inclinado a crer que a referida
dissidência é, com efeito, o anunciado ômega da apostasia.
A serva do Senhor
tremeu ao tomar dele conhecimento, tremeu por nosso povo. E não poderia ser
diferente, se levarmos em conta que o ômega se revela bem mais preocupante:
(1) em sua propagação, pois, enquanto o alfa se
limitou praticamente a uma região na América e não avançou muito para além do
círculo de um grupo de obreiros,150 o atual movimento, por meio dos
rápidos meios de comunicação disponíveis em nossos dias (com especial alusão a
sites de Internet), tem se alastrado por várias regiões do globo;
(2) em sua penetração, pois, enquanto o alfa
atingiu parte da classe médica e ministerial de Battle Creek, a presente
dissidência tem contagiado diferentes camadas da força leiga da Igreja
(precisamente esse potencial sem a participação do qual a obra não será concluída151),
numa amplitude tal que pode penetrar em cada lar adventista no mundo, bastando
para isso o acionar de alguns botões;
(3) em seus resultados
devastadores, dada a maneira como a dissidência tem sido poderosa em semear
dúvidas e incertezas, acabando por dividir e enfraquecer nossas congregações;
e, por fim,
(4) na implicação dos conceitos alardeados. No
alfa da apostasia, a natureza de Deus foi aviltada em seu todo, por uma
filosofia que o reduzia a uma simples energia que permeia o mundo e que nele se
integra, de tal modo a se tornar com ele uma unidade; mas se o mundo é Deus e
Deus é o mundo, então sua obra a ser nele cumprida é pura ilusão. Na presente
apostasia antitrinitariana, embora Deus e o mundo se mantenham distintos, a
Divindade é fragmentada e, dependendo do conceito adotado pelo dissidente,
reduzida a uma ou a duas pessoas, e mais uma influência, o Espírito Santo, que
deverá, a exemplo do que determina o panteísmo, permear a matéria. Se no
primeiro caso, a obra de Deus no mundo era ilusão, agora ela é um sonho
inatingível, pois sem o Espírito Santo como pessoa divina unindo sua força ao
nosso esforço, continuaremos nesse mundo indefinidamente; simplesmente porque a
obra divina em nós e no mundo jamais será concluída sem Ele.152 É
isso o que o inimigo mais deseja, razão pela qual ele inspira determinados
elementos a questionarem mesmo a existência desse sublime ser, e confundir as
mentes quanto à maneira como Ele atua.
Como
o ministério do Espírito tem importância vital para a igreja de Cristo, é o
decidido empenho de Satanás, por meio dessas excentricidades de gente
desequilibrada e fanática, cobrir de opróbrio a obra do Espírito Santo e
induzir o povo a negligenciar a fonte de virtude que Deus proveu para o seu
povo.153
Graças a Deus, porém,
que a onda avassaladora do ômega, a exemplo da do alfa, passará, sejam muitos
ou sejam poucos os que venham a ser levados por ela. Os sinceros e fiéis entre
o remanescente, porém, não serão desencaminhados.
Por entre a confusão de
doutrinas enganadoras, o Espírito de Deus será um guia e um escudo aos que não
têm resistido às evidências da verdade, silenciando todas as outras vozes além
da que vem daquele que é a verdade.154
A obra de Deus
continuará “vencendo e para vencer” (Ap 6:2), pois seu grande Comandante jamais
perdeu uma batalha. A vitória final se efetivará em breve, pois a Igreja se
fundamenta no triunfo da cruz, o mesmo que lhe garante todos os recursos
disponíveis pelo Céu, por meio do ministério da terceira pessoa da Divindade, o
Espírito Santo, impulsionando-a para as grandes conquistas que a esperam.
Este mesmo Espírito, em
1889, moveu a serva do Senhor a declarar: “Espero que os irmãos sejam
fortalecidos e estabelecidos na fé. A obra certamente progredirá, quer avancemos
com ela quer não. Ela será vitoriosa.”155
Avançar ou não avançar
com ela, é você quem decide!
*José
Carlos Ramos é
professor de Daniel e Apocalipse no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho,
SP
REFERÊNCIAS
1. Para adequada
abordagem dos empenhos satânicos para obstar a obra de Deus entre os
adventistas desde o início de sua história, ver Enoque de Oliveira, A Mão de
Deus ao Leme (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 115-142.
2. Este movimento era
quase uma repetição do movimento dos selados, que surgira quatro anos antes.
Acerca disso, Ellen G. White comentaria mais tarde:
“Depois de 1844,
tivemos que enfrentar fanatismos de todas as espécies. Foram-me dados
testemunhos de repreensão, que eu deveria apresentar a alguns que mantinham
teorias espíritas.
Havia os que estavam
ativos em disseminar ideias falsas acerca de Deus. Foi-me dada luz de que esses
homens estavam tornando sem efeito a verdade, por meio de seus falsos ensinos.
Fui instruída de que estavam desviando pessoas, apresentando teorias especulativas
relativamente a Deus.
Dirigi-me ao lugar onde
se encontravam e apresentei-lhes a natureza de sua obra. O Senhor me deu força
para lhes revelar, claramente, o seu perigo. Entre outros pontos de vista,
sustentavam que os que se achassem uma vez santificados, não poderiam mais
pecar. Seu ensino falso estava operando grande mal entre eles mesmos e entre
outros. Estavam adquirindo influência espiritista sobre os que não viam o mal
dessas teorias vestidas de lindos trajes. A doutrina de que todos eram santos
levara à crença de que as afeições dos santos não levariam nunca ao mal. A consequência
desta crença foi o cumprimento dos maus desejos de corações que, embora
professassem ser santos, estavam longe da pureza de pensamentos e de vida.”
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2006), 8:292, 293.
3. Oliveira, A Mão de
Deus ao Leme,133.
4. Ellen G. White,
Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 1:208.
5. Ellen G. White,
Special Testimonies, Série B, nº 2, 8.
6. Ellen G. White, O
Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 11.
7. Ibid., 13.
8. Ellen White foi
suficientemente incisiva a esse respeito: “Não deve ser enfrentado [o panteísmo
assumido por Kellogg] retirando nossas forças operantes do campo a fim de
investigar doutrinas e pontos de divergência. Não temos tal investigação a
fazer” (Mensagens Escolhidas, 1:200). “O inimigo está procurando desviar o
espírito de nossos irmãos e irmãs da obra de preparar um povo que subsista
nestes últimos dias. Seus enganos destinam-se a desviar a mente dos perigos e
deveres do momento” (Testemunhos para a Igreja, 8: 296).
9. B. Carpenter, cit.
em R. Tuck, The Preacher’s Complete Homiletic Commentary (London & New
York: Funk & Wagnalls Company, s/d), 31:411.
10. R. H. Mounce, The
Book of Revelation, The New International Commentary on the New Testament
(Grand Rapids: Eerdmans, 1980), 73. Esta maneira de considerar as letras
inicial e terminal do alfabeto hebraico como incorporando as demais coincide
com o significado do nosso termo alfabeto: as duas primeiras letras gregas
(alfa e beta) são reunidas para integrar as demais.
11. Cf. o que Ellen G.
White afirmou em plena crise panteísta: “Ensinamentos que estão desviando as
pessoas da verdade vêm sendo apresentados como de grande valor... Muitos fatos
serão apresentados que parecerão verdadeiros, e, contudo, terão que ser
ponderados cuidadosamente, com muita oração; pois podem ser sutis artifícios do
inimigo” (White, Testemunhos para a Igreja, 8:231, 290). Os ensinamentos
panteístas de Kellogg se diziam fundamentalmente bíblicos, com premissas
extraídas de 1Coríntios 6:19 e passagens afins, onde o corpo humano é referido
como santuário do Espírito Santo; isso é evidente a partir do título do livro
onde o reconhecido médico expôs sua teoria: The Living Temple (O Templo Vivo).
Portanto, não seria fácil, de início, perceber o sentido pernicioso deste
ensino.
12. White, Mensagens
Escolhidas, 1:202. O alfa da apostasia fez Ellen G. White também tremer:
“Quando considero o estado de coisas em Battle Creek, tremo por nossos jovens
que ali estão”, disse ela em 1903 (White, Testemunhos para a Igreja, 8:227).
13. Sistema filosófico
que admite uma doutrina secreta, a que apenas um grupo de pessoas, os
iniciados, tem acesso.
14. Cit. em LeRoy Edwin
Froom, Movement of Destiny (Washington, DC: Review and Herald, 1972), 353.
15. White, Mensagens
Escolhidas, 1:204. Cf. White, Testemunhos para a Igreja, 8:291: “Estas teorias,
seguidas até à sua conclusão lógica, derribam toda a organização [inglês
economy] cristã. Removem a necessidade da expiação e fazem do homem o seu
próprio salvador. Essas teorias a respeito de Deus tornam sem efeito a sua
Palavra, e os que as aceitam estão em grande perigo de ser afinal levados a
considerar a Bíblia toda uma obra de ficção.”
16. David S. Clark,
Compêndio de Teologia Sistemática (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
1988), 90.
17. Ibid., 91. O
panteísmo “torna Deus tanto bom como mau” (Norman Geisler, Christian Apologetics
[Grande Rapids: Baker, 1976], 189), e o faz “responsável pelas mais abjetas
impurezas que se encontram no coração humano.” (Carsten Johnsen, The Mystic
“OMEGA” of End-Time Crisis [Mezien, França: The Untold Story Publishers, s/d],
84). Se esse é o caráter do Criador, a repercussão em suas criaturas será
devastadora; daí a observação que Ellen G. White faz sobre panteísmo e amor
livre (ver característica 13, abaixo). Ela afirma: “As teorias panteístas não
são apoiadas pela Palavra de Deus. A luz de sua verdade mostra que essas
doutrinas são meios destruidores de vida. As trevas são o seu elemento; a
sensualidade a sua esfera. Satisfazem o coração natural, e favorecem a
inclinação” (White, Testemunhos para a Igreja, 8:291). Grifos acrescentados
18. Clark, Compêndio de
Teologia Sistemática, 91. Nesse ponto, o panteísmo seguramente é contraditório,
pois ele não admite a personalidade de Deus por considerá-lo a suprema força no
universo. Para o panteísmo, personalidade também é, “na melhor das hipóteses, um
nível menor e mais inferior de Deus... Um Deus pessoal é um cidadão de segunda
classe nos Céus. O absoluto como absoluto e último está além da personalidade e
consciência” (Geisler, Christian Apologetics, 189).
19. Clark, Compêndio de
Teologia Sistemática, 91.
20. Augustus H. Strong,
Systematic Theology (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1979), 1:100.
21. Ibid., 2:567.
22. Louis Berkhof,
Systematic Theology (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1976), 61.
23. Ibid., 139, 168.
Ver também 171. Geisler observa que, no panteísmo, “tanto a comunhão como a
adoração se tornam impossíveis” (Geisler, Christian Apologetics, 187).
24. Clarence Augustine
Beckwith, “Pantheism”, The New
Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious
Knowledge, Samuel
Macauley Jackson, ed. (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1959), 8:328. Na
realidade, o monismo é “o background metafísico do panteísmo” (Geisler,
Christian Apologetics, 173).
25. Russel Norman
Champlin & João Marques Bentes, “Panteísmo”, Enciclopédia de Bíblia,
Teologia, e Filosofia ( São Paulo: Candeia, 1991), 5:40.
26. Ibid., 41.
27. White, Mensagens
Escolhidas, 1:200.
28. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:292. 29 White, Mensagens Escolhidas, 1:199.
29. White, Mensagens
Escolhidas, 1:199.
30. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:306. 31 Ibid., 231, 290.
32. White, MS 145,
1905.
33. Em 1906, Ellen G.
White comentou esse fato da seguinte forma: “Antes do desenrolar dos recentes
eventos, o procedimento que o Dr. Kellogg e seus associados seguiriam foi
claramente delineado perante mim. Ele e outros planejavam como ganhar a
simpatia do povo [adventista]. Eles procurariam dar a impressão de que criam em
todos os pontos de nossa fé, e tinham confiança nos Testemunhos. Assim muitos
seriam enganados, e tomariam posição ao lado dos que se haviam apartado da fé.”
Carta 328, 1906.
34. White, Mensagens
Escolhidas, 1:199, 202, 203.
35. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:294. 36 Ellen G. White, Carta 253, 1903.
36. Ellen G. White,
Carta 253, 1903.
37. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:298.
38. Ibid., 279.
39. Ibid., 294.
40. White, A Ciência do
Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2004), 428.
41. White, Mensagens
Escolhidas, 1:202, 203.
42. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:263.
43. White, A Ciência do
Bom Viver, 428. Cf. Gustaf Aulén: “O Deus do panteísmo, que penetra todas as
coisas, justamente é tão inativo como o deus do deísmo que é exaltado e
removido do mundo” (The Faith of the Christian Church [Philadelphia: Fortress, 1981], 125).
44. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:291.
45. White, Mensagens
Escolhidas, 1:196, 202, 204.
46. Ibid., 195,199.
47. O próprio Kellogg,
cabeça do movimento, não se apercebeu desse lado imoral do panteísmo. Maxwell
assim o comenta: “O conceito bíblico de que o corpo do cristão é o ‘templo do
Espírito Santo’ (1Coríntios 6:19) foi por ele levado a extremos numa forma de
panteísmo que tornava Deus residente de modo pessoal em cada criatura vivente,
nos animais, insetos e plantas, chegando mesmo a identificar a Deus com a lei
da gravidade e a luz solar. Tal posição solapava a doutrina adventista
fundamental de Cristo num santuário celestial, e estabelecia uma base potencial
para o fanatismo e a imoralidade (com base no fato de que Deus está em mim,
qualquer coisa que eu deseje fazer deve estar certa, uma conclusão a que o
próprio Kellogg nunca chegou).” C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo
(Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982), 226, 227.
48. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:292.
49. Sobre a qualidade
de fervor, Ellen G. White afirmou em 1903: “Falsas teorias estarão misturadas
com cada fase da experiência e serão advogadas com fervor satânico a fim de
cativar a mente de toda a alma que não estiver arraigada e fundamentada no
pleno conhecimento dos sagrados princípios da Palavra” (MS 94, 1903).
50.Veja acima o tópico
“Implicações Teológicas”.
51. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:265.
52. Ibid., 201.
53. Ibid., 296, 300.
54. White, Mensagens
Escolhidas 1:197.
55. White, Testemunhos
para a Igreja, 8:292.
56. Froom, Movement of
Destiny, 345, 347.
57. Karl Immanuel
Nitzsch, System of Christian Doctrine ( Edinburgh, E.T., 1849), 81.
58. Donald G. Bloesch,
Essentials of Evangelic Theology (San Francisco: Harper & Row, 1982), 1:37.
59. Strong, Sistematic
Theology, 1:347.
60. Aulén, The Faith of
the Christian Church, 229.
61. Otto Kirn,
“Trinity”, The New Schaff-Herzog Enciclopedia of Religious Knowledge, 12:22.
62. Ver White,
Mensagens Escolhidas, 1:206.
63. Ellen G. White,
Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1993), 25.
64. Entre elas a
tendência por marcação de novas datas por alguns pioneiros, Tiago White e José
Bates como exemplos (ver George R. Knight, Em Busca de Identidade [Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2005], 83, 84).
65. Não se ignora aqui
o comportamento entre líderes adventistas de se deixarem levar pela “crescente
tendência”, entre 1870 e 1880, “de preservar e proteger suas concepções
teológicas, em vez de continuar a progredir no conhecimento.” (Ibid., 89). Essa
tendência se nota hoje entre dissidentes.
66. Ellen G. White,
Conselhos Sobre Escola Sabatina (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996)
, 34.
67. O espírito de
fraternidade, harmonia e coesão era nutrido e mantido a todo custo por estes
primeiros pesquisadores da verdade (ver White, Testemunhos para Ministros, 25).
68. Significativamente,
a partir da Assembléia de 1888, Ellen G. White passaria a insistir que a
pregação da justiça pela fé é “a mensagem do terceiro anjo em verdade”
(“Repentance the Gift of God”, Review and Herald, 1º de abril de 1890, 193).
69. Knight, Em Busca de
Identidade, 92.
70. Ibid.
71. Ibidem.
72. Ellen G. White,
“Christ Prayed for Unity Among His Disciples”, Review and Herald, 11 de março
de 1890, 146.
73. Ellen G. White,
“The Present Message”, Review and Herald, 18 de março de 1890, 147. Ela havia
pregado esse assunto em 4 de fevereiro de 1890 , em Battle Creek, MI.
74. Knight, Em Busca de
Identidade, 112.
75. Conforme
republicado in totum em Milian Lauritz
Andreasen, The Book of Hebrews (Washington, DC: Review and Herald, 1948),
115-124 (grifos acrescentados).
76. Ver especialmente o
capítulo 17, “Advertência Solene”, em White, Testemunhos para Igreja, 8:90-96.
77. Ver especialmente o
capítulo 30, “Trabalhos Comerciais”, em Ellen G. White, Testemunhos Para a
Igreja (Tatuí, SP: Casa, 2005), 7:161-168.
78. Ellet J. Waggoner,
Christ and His Righteousness (Oakland, CA: Pacific Press, 1972), 44, 63. A
primeira edição desta obra data de 1890.
79. Ibid., 22. É
possível que esta idéia um tanto acristológica (no sentido histórico do termo)
de Waggoner tenha contribuído para que ele descambasse mais tarde para o
panteísmo de Kellogg.
80. Semi-ariano como
era, Uriah Smith não aceitava a plena divindade de Jesus e tampouco a
personalidade e divindade do Espírito Santo. Antes, José Bates e Tiago White
partilharam desse mesmo ponto de vista.
81. Knight, 115.
82. Ellen G. White, O
Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 13,
395 e 501.
83. M. L. Andreasen,
The Faith of Jesus (Washington, DC: Review and Herald, 1949), 22.
84. Ellen G. White,
Testemunhos Seletos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 2:312.
85. Ellen G. White,
Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 617.
86. Ibid., 616.
87. Ellen G. White,
Conselhos Sobre Saúde (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998), 222.
88. White, Evangelismo,
616.
89. Ibid., 615.
90. Ibid., 617.
91. Ibid., 616, 617.
92. Ellen G. White,
“Christ’s Most Essential Gift to His Church”, Review and Herald, 19 de novembro
de 1908, 16.
93. Knight, Em Busca de
Identidade, 117. Vale lembrar que é crido ter o pentecostalismo moderno surgido
em 1901 em Topeka, Kansas, o qual acabou, finalmente, dividido em dois grupos
principais: o movimento da santidade (coincidentemente o assunto da carne santa
em Indiana), e o da Trindade (envolvida pelo menos indiretamente na crise
Kellogg). O segundo grupo pentecostalista adotava uma posição sabeliana, que
afirmava ser Jesus, Ele unicamente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e
assumiam que a única forma correta de batismo era em “nome de Jesus”, desde que
acompanhado de manifestação glossolálica (ver Vinson Synam, “Pentecostalismo”,
Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Walter A. Elwell, ed. [São
Paulo: Vida Nova, 1990], 131-135). A maneira como processavam o batismo,
excetuando-se o falar línguas, é defendido e seguido por dissidentes
adventistas antrinitarianos hoje. 94 Knight, Em Busca de Identidade, 117.
95. White, Mensagens
Escolhidas, 1:207.
96. Ibid., 208.
97. Ellen G. White,
“Open the Heart to Light”, Review and Herald, 25 de março de 1890, 177.
98. Knight, Em Busca de
Identidade, 117.
99. Confira a listagem
de eventos inserida por data no tópico “no Curso Histórico do Povo do Advento”.
100. White, Mensagens
Escolhidas, 1:203. Ênfase acrescentada.
101. Ibid.
102. Que este é o caso,
basta conferir a maneira exótica como Ricardo Nicotra e Jairo Pablo Alves de
Carvalho fazem a exegese de João 15:26, com especial atenção voltada ao verbo
grego ekporeúomai, “proceder”, só para demonstrar que o Espírito Santo tem,
como seu habitat natural, o íntimo do Pai – uma dedução com cheiro de panteísmo
(ver respectivamente página 35 e páginas 114, 115 dos opúsculos, relacionados
na nota 105, da autoria desses dissidentes). Para uma avaliação desta
interpretação, ver José C. Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito
Santo”, Parousia, nº. 2, ano 4, 42, 43.
103. A esse respeito,
veja Ibid., 41-51.
104. White,
Evangelismo, 616, 617.
105. R. Nicotra, Eu e o
Pai Somos Um (São Paulo: Ministério Bíblico Cristão, 2004) e Jairo P. A. de
Carvalho, A Divindade, e a maravilhosa conexão entre o céu e a terra, chamada
Espírito Santo (Contenda, PR: Ministério 4 Anjos, [2003]).
106. White, O Desejado
de Todas as Nações, 501.
107. Nicotra, Eu e o
Pai Somos Um, 8, 9, 28; Carvalho, A Divindade, 21, 22, 44-46, 52, 74, 110, 114,
116 , 117, 118, 121, 122, 124, 125, 142, 143,
159.
108. Carvalho, A
Divindade, 24.
109. Nicotra, Eu e o
Pai Somos Um, 8, 12, 28, 32, 33, 36; Carvalho, A Divindade, 18, 19, 20, 21, 26,
31 , 32, 50, 51.
110. White, O Desejado
de Todas as Nações, 501.
111. Bloesch,
Essentials of Evangelic Theology, 2:239.
112. White, Mensagens
Escolhidas, 1:199, 202.
113. Ramos, “Uma pessoa
maravilhosa chamada Espírito Santo”, 44.
114. Ver Ibid., 48, 49.
115. Ellen G. White,
“The New Year”, Review and Herald, 4 de janeiro de 1881, 5. Tradução: “Louvai a
Deus de Quem todas as bênção fluem; louvai-O todas as criaturas cá embaixo;
louvai-O acima, vós exército celestial; louvai ao Pai, Filho e Espírito Santo.”
116 White, Evangelismo, 364.
117. Nicotra, Eu e o
Pai Somos Um, 3, 4. Este dissidente argumenta que não se pode continuar
considerando um mistério aquilo que Deus já revelou. Mas o mistério que Deus
achou por bem revelar é o evangelho (Rm 16:25, 26), e o que ocorre é que o
dissidente simplesmente confundiu conhecimento salvífico de Deus, aquele
conhecimento experiencial, espiritual que resulta em nossa salvação, com uma
compreensão da personalidade e natureza divinas (exatamente do que trata o
ensino da Trindade) que podemos obter na dependência exclusiva do que é exarado
nas Escrituras.
118. Àqueles que
tentavam sondar a realidade divina estribados no raciocínio, Ellen G. White foi
bem explícita: “Tanto na divina revelação, como na natureza, Deus deixou aos
homens mistérios para lhes exigir fé” (White, Testemunhos para a Igreja, 8:261;
grifos acrescentados).
119. Geoffrey W.
Bromiley, “Trindade”, em Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,
3:577.
120. Nicotra, Eu e o
Pai Somos Um, 8, 9, 11.
121. Ellen G. White,
Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004),
5:702.
122. Carvalho, A
Divindade, 24, 80, 132, 133, 134-137.
123. A inspiração
claramente nega que o Espírito Santo é Gabriel. Este disse à Maria, anunciando
a geração de Jesus em seu íntimo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder
do Altíssimo te envolverá com a sua sombra...” (Lc 1:35). Gabriel não poderia
estar falando de si mesmo.
124. A fórmula aparece
em White, Conselhos Sobre Saúde, 222; O Desejado de Todas as Nações, 501;
Evangelismo, 617; Testemunhos para Ministros, 392; The Seventh-Day Adventist
Bible Commentary (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1980), 6:671; e My Life
Today (Washington, DC: Review and Herald, 1952), 36.
125. Carvalho, A
Divindade, 107, 128.
126. Ver Ramos, “Uma
pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 50, nota 27, quanto ao equívoco da
versão “a partir de” para “of the Godhead”.
127. Sobre o erro de
interpretação do dissidente, ver Ibid., 44, 45.
128. Carvalho, A
Divindade, 21.
129. White, Mensagens
Escolhidas, 1:202.
130. Ibid., 196.
131. Ibid., 204.
132. Testemunhos Para a
Igreja, 8:291.
133. Ibidem; A Ciência
do Bom Viver, 428.
134. White, Testemunhos
Para a Igreja, 8:292.
135. Ibid.
136. White, A Ciência do
Bom Viver, 428.
137. White,
Evangelismo, 602.
138. Ibid., 614.
139. Quanto a esta
equivalência, ver Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 44,
45.
140. White, Special
Testimonies, série A, 12, 9.
141. Ellen G. White,
Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999), 551.
142. Por meio do termo
“Consolador”, grego parákletos, que significa etimologicamente “chamado para
estar ao lado de”; o termo é masculino e se aplica à pessoa que apoia,
conforta, orienta, defende, etc, o que uma abstração não faz.” (Ramos, “Uma
pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 47, 48).
143. Por meio do termo
“outro”, grego állos, outro da mesma espécie ou natureza, em contraste com
héteros, outro de natureza diferente, como em
Gálatas 1:6, héteron euangélion – “outro evangelho”, distinto daquele
que Paulo pregava, e que deveria ser denominado “anátema” (v. 8, 9). Assim, a
divindade de Jesus e a do Espírito Santo são idênticas. “Mas, qual a qualidade
da divindade de Jesus? A Bíblia e o Espírito de Profecia não deixam por menos:
Ele é tão divino quanto o Pai, e é um com Este desde toda a eternidade (Jo 1:1;
10:30). ‘Cristo era Deus em essência e no mais alto sentido. Ele esteve com
Deus desde toda a eternidade...’ [Ellen G. White, ‘The Word Made Flesh,’ Review
and Herald, 5 de abril de 1906, 8]. Se assim é com o primeiro Consolador
[Cristo, ver 1Jo 2:1] não será diferente com o segundo. O mesmo Espírito de
Profecia confirma esse fato: ‘O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de
ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando
manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo
como um Salvador pessoal.’ [Evangelismo, 615 (grifos acrescentados)]. ‘Toda a
plenitude da divindade’ é precisamente o que Colossences 2:9 afirma residir
corporalmente em Cristo. Com efeito, o Espírito Santo é o segundo Consolador,
da mesmíssima natureza do primeiro” (Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada
Espírito Santo”, 48).
144. Quanto à
autenticidade dessa fórmula registrada por Mateus em seu Evangelho, ver José
Carlos Ramos, “Mateus 28:19 – falso ou autêntico?”, Revista Adventista, maio de
2005, 10, 11.
145. Ver acima o tópico
“Implicações teológicas”.
146. Carvalho, A
Divindade, 21.
147. Ver Ramos, “Uma
pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 44.
148. Carvalho, A
Divindade, 165.
149. Para outros sérios
despropósitos ver o tópico “Ironia vulgar”, em Alberto R. Timm, “Hermenêutica
Antitrinitariana Moderna”, nesta edição de Parousia.
150. Em que pese o ter
sido propagado em várias igrejas e instituições na época (ver, acima, a sétima
das 14 características que distinguem o alfa da apostasia).
151. Sem a participação
da assim chamada força leiga, evidentemente em sintonia com a liderança e o
corpo de obreiros, jamais a Igreja chegará a cumprir a missão que Cristo lhe
confiou. “A obra de Deus na Terra nunca poderá ser finalizada enquanto os
homens e mulheres que compõem nossa igreja não de 2006 cerrem fileiras, e
juntem seus esforços aos dos ministros e oficiais da igreja” (Ellen G. White,
Serviço Cristão [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999], 68). O diabo
sabe disso, daí seu empenho de, com o ômega, quebrar essa força indispensável
aos interesses do reino de Deus na Terra.
152. “Em toda a sua
divina beleza devem elas [as jóias da verdade] resplandecer nas trevas morais
do mundo. Isso não pode ser realizado senão com o auxílio do Espírito Santo,
mas com Ele podemos fazer todas as coisas” (Ellen G. White, Obreiros
Evangélicos [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993] , 289).
153. White, O Grande
Conflito, 10. Que este texto é, de fato, da pena da serva do Senhor, embora
seja extraído da introdução desta obra, é evidente do fato que nela a autora
está contanto a sua própria experiência como mensageira de Deus.
154. White, Obreiros
Evangélicos, 289.
155. Ellen G. White,
Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, 5:571.
FONTE:
Artigo
publicado na Revista Parousia, 1º Semestre de 2006, p. 119-151.
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