É A POLIGAMIA APROVADA POR DEUS?
Ricardo
André
Muitas pessoas (inclusive cristãs) usam a
experiência de Salomão e outros personagens bíblicos que tiveram muitas
mulheres, e chamavam virgens para serem suas, tomando-as por esposas, para
advogar a ideia de que não é pecado ter mais de uma mulher, pecado consiste
somente em tomar a mulher alheia, casada, mas o tomar virgens para si não se
constitui pecado. É a poligamia aprovada por Deus? O que diz a Bíblia a
respeito?
De fato, a Bíblia
menciona diversos personagens importantes que foram bígamos ou polígamos. O
primeiro exemplo de poligamia/bigamia na Bíblia foi o ímpio Lameque em Gênesis
4:19: “E tomou Lameque para si duas mulheres (…)” Abraão, Jacó, Davi, Salomão e
outros tinham várias mulheres. Salomão tinha 700 esposas e 300 concubinas
(esposas de um status inferior) de acordo com 1 Reis 11:3. Todavia, é importante
ressaltar que Deus nunca aprovou a poligamia, Ele apenas a tolerou por um
determinado tempo, durante o período de amadurecimento e crescimento espiritual
do povo hebreu. Porém, já no Antigo Testamento, o profeta advertia: “Ele
não deverá tomar para si muitas mulheres; se o fizer, desviará o seu coração”
(Deuteronômio, 17:17, NVI)
Salomão lamentavelmente
incorreu em transgressão da instrução bíblica e a Palavra de Deus descreve
realisticamente como o famoso soberano acarretou sobre si, e sobre a nação que
dirigia, grandes desgraças: I Reis 11:4, 5. Em Eclesiastes 2:4-18, o próprio
rei, após uma fase de franco declínio em sua vida moral e espiritual, lamenta
sua atitude de desobediência a Deus e as consequências de seus atos.
Em todos os exemplos
bíblicos de poligamia, os resultados apresentados são sempre negativos: Jacó,
Raquel, Lia (os ciúmes gerados, os filhos preteridos e os preferidos, Gênesis 29:15-30);
Abrão, Sara e Hagar (conflito na família, descendências em contínua guerra –
árabes e judeus até hoje, Gênesis 16:1-4; 29:18–30:24); Elcana, Ana e Penina
(as zombarias da mulher que gerava filhos sobre a estéril, 2
Samuel 3:2-5, 13:1-29, 15-18 ), enfim, os resultados nunca se revelam
positivos. Todos eles pagaram um alto preço por seus pecados. Isso nos mostra
que a poligamia nunca foi uma coisa boa e que não era da vontade de Deus que
tal coisa se propagasse.
Ademais, o fato da
Bíblia relatar o pecado de poligamia praticado por Salomão e os outros
personagens, não significa que Deus a aprove. Devemos levar em conta que não
há, no texto bíblico, uma reprovação formal e direta ao número de esposas de
Salomão. Porém, é óbvio que não podemos usar a mera citação como exemplo de
aprovação divina, pois a citação em si é neutra, a não ser que o contexto
indique que Deus aprovou (ou não) o ato. Em boa parte dos relatos históricos a
Bíblia não faz juízo de valor, apenas relata os fatos.
Em Romanos 15:4 lemos que “Pois
tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que,
por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos
a nossa esperança” (Romanos 15:4, NVI). Assim, podemos aprender as
grandes lições sobre os maus resultados da poligamia, mesmo quando praticada
por homens do povo de Deus no Velho Testamento.
O
plano original de Deus para o casamento nunca incluiu a poligamia.
As Escrituras Sagradas
não mostram uma ocasião sequer em que Deus dê a Sua aprovação a tais práticas
ou as recomende. Ele apenas as tolerava, sendo aquilo um costume entre os
pagãos que alguns dentre o povo de Deus imitavam, com resultados sempre danosos,
como visto. Quando Deus estabeleceu a Primeira Aliança com os hebreus, eles
tinham uma consciência moral ainda muito precária, afinal, foram séculos de
convivência com povos pagãos. Por isso, Deus decidiu fazê-los compreender
certas coisas pouco a pouco: enquanto os pecados mais abomináveis foram
combatidos com muito vigor – como o assassinato, o roubo, o incesto, a
idolatria etc. –, a poligamia foi temporariamente tolerada, assim como o
divórcio. “(...) Moisés lhes permitiu divorciar-se de suas mulheres por causa da
dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio” (Mateus 19:8,
NVI).
Mesmo quando tolerou a
poligamia, a Bíblia apresenta monogamia como o plano que mais se conforma com o
plano ideal de Deus para o casamento. A Bíblia diz que o propósito original de
Deus era para que um homem fosse casado com uma só mulher: “Por isso, deixa o homem pai e
mãe e se une à sua mulher (não mulheres), tornando-se os dois uma só carne (não
várias carnes)” (Gênesis 2:24). Enquanto Gênesis 2:24 está descrevendo
o que o casamento é, ao invés de quantas pessoas estão envolvidas, o uso
consistente do singular deve ser destacado.
No Novo Testamento, em
I Coríntios 7:2 Paulo fala aos crentes que “cada um tenha a sua própria esposa e cada
uma tenha o seu próprio marido”. Todo o capítulo indica que a poligamia
está totalmente eliminada entre os cristãos. O teor dos conselhos nesse
capítulo indica-o com clareza. Em 1 Timóteo 3:2,12 e Tito 1:6 dá “marido de uma
só esposa” como uma das qualificações para liderança espiritual. Ainda que essas qualificações sejam especificamente
para posições de liderança espiritual, elas devem ser adotadas igualmente por
todos os cristãos. Não devem todos os cristãos ser “irrepreensível (…) temperante,
sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não
violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento (...)” (1 Timóteo
3:2-4)? Se somos chamados a ser santos (1 Pedro 1:16), e se esses
padrões são santos para os presbíteros e diáconos, então esse padrões são
santos para todos.
Efésios 5:22-23,
uma passagem que fala do relacionamento entre maridos e esposas, quando se
refere a um marido (singular) também se refere a uma esposa (singular). “(...)
porque o marido é o cabeça da mulher (singular) (… ) Quem ama a esposa
(singular) a si mesmo se ama. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe
e se unirá à sua mulher (singular), e se tornarão os dois uma só carne (...)
cada um de per si também ame a própria esposa (esposa) como a si mesmo, e a
esposa (singular) respeite ao marido (singular)”. A monogamia foi e continua
sendo o ideal de Deus para todos os homens em todas as épocas e cultura.
Concluímos afirmando
que, não obstante Seu povo no passado ter incorrido nessa prática pecaminosa, Deus
nunca aprovou a poligamia, apenas tolerou e deu tempo para que Seu povo fosse paulatinamente
abandonando essa e outras práticas, a exemplo da idolatria oriundas do
paganismo. E que as experiências de vida daqueles homens do passado, que
sofreram terríveis consequências da poligamia, servem de advertência para nós.
Nunca devemos desobedecer a Deus. Quando Ele diz que devemos ter uma esposa,
Ele sabe o que é melhor.
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