VEREDAS ANTIGAS: OS PRINCÍPIOS CRISTÃOS NÃO DEVEM MOFAR NO BAÚ DO ESQUECIMENTO!
Ricardo
André
Texto
base: “Assim diz o Senhor: “Ponham-se à beira dos
caminhos e olhem; perguntem pelas
veredas antigas, qual é o bom caminho; andem por ele e vocês acharão descanso
para a sua alma. Mas eles dizem: ‘Não andaremos nele’” (Jeremias 6:16, NAA,
ênfase acrescentada).
INTRODUÇÃO
É próprio da natureza
humana interessar-se pelo que é novo. Jornais, revistas e portais de notícias
existem para alimentar nossa curiosidade por novidades. A tecnologia avança
impulsionada pela busca do que ainda não foi descoberto ou inventado. O
comércio sobrevive estimulando o desejo por roupas da moda, aparelhos da última
geração e carros recém-lançados. Quem lida com informática sabe bem: muitas
vezes compramos algo “novo” que já chega ultrapassado.
Vivemos em uma cultura
que valoriza o imediato e descarta rapidamente o que ontem parecia
indispensável. A música que fez sucesso há poucos meses já não nos atrai. Os
dispositivos mais modernos logo se tornam obsoletos. E, de forma preocupante,
até os relacionamentos humanos têm sido tratados como descartáveis. Corremos
atrás de novidades nas redes sociais, ainda que sejam vazias, superficiais, ou
até carregadas de fofocas e mentiras.
Inseridos nesse
ambiente que exalta o novo a qualquer custo, não é surpreendente que essa mesma
mentalidade tenha invadido o campo espiritual. Muitos passaram a buscar
“novidades religiosas”: novas experiências, novos caminhos, doutrinas ajustadas
ao gosto do momento e espiritualidades da moda. Nesse processo, acabam se
afastando da verdade eterna revelada pelo Deus que nos criou, nos sustenta e
nos conduz.
Foi exatamente a esse
tipo de crise espiritual que o profeta Jeremias se dirigiu há cerca de 2.600
anos, quando transmitiu a solene advertência do Senhor:
“Assim diz o Senhor:
Ponham-se à beira dos caminhos e olhem; perguntem pelas veredas antigas, qual é
o bom caminho; andem por ele e vocês acharão descanso para a sua alma. Mas eles
dizem: ‘Não andaremos nele’” (Jr 6:16).
Por que Deus convidou Seu povo a parar, olhar e perguntar pelas veredas antigas? Porque eles estavam seguindo por um caminho errado, um caminho mau. O pecado havia ultrapassado todos os limites. As próprias Escrituras descrevem esse cenário com títulos eloquentes: “Israel abandona a Deus” (Jr 2:1) e “A infidelidade de Israel” (Jr 3:6). O povo mantinha a aparência de religião, mas havia abandonado os princípios da aliança. “O povo havia substituído a palavra de Deus pela execução dos rituais do templo (Jr 6:20), mas Deus rejeitou tudo isso. Os israelitas confiavam em suas riquezas e bens materiais, que não exigiam a obediência. De acordo com a aliança, a obediência às cerimônias religiosas não deveria ser separada da submissão total ao Senhor e às Suas exigências sociais e morais (1Sm 15:22—23; Os 6:6; Am 5:231-24; Mt 9:13; 12:7)” (Comentário Bíblico Andrews [CPB, 2025], v. 2, p. 541). Os líderes prometiam paz quando não havia paz (Jr 6:14). O pecado havia se tornado normal, e a verdade, incômoda. E o resultado dessa apostasia já se aproximava, como anuncia Jeremias 4:6: “O mal que vem do norte”. O cativeiro babilônico estava às portas.
“Em vez de Israel andar
nos caminhos antigos, o bom caminho (pois isso daria “descanso para a sua
alma”; v. 16), Deus colocaria pedras de tropeço ou obstáculos em seu caminho, e
o povo iria cambalear e cair” (Idem, p. 541, 542). “Em vez de Israel andar nos
caminhos antigos, o bom caminho (pois isso daria “descanso para a sua alma”; v.
16), Deus colocaria pedras de tropeço ou obstáculos em seu caminho, e o povo
iria cambalear e cair” (Idem, p. 541,
542). Israel caminhava rumo à prisão, à dor e ao sofrimento. No meio desse
trajeto, Deus levantou um profeta para advertir, corrigir e apontar o caminho
certo. Jeremias clamou, exortou e aconselhou, mas o povo escolheu não ouvir. “Israel
foi convidado a uma caminhada obediente: as “veredas antigas” e a verdadeira
obediência à palavra de Deus levam à vida (v. 16-20), mas as atividades rituais
associadas à idolatria são pedras de tropeços que levam à morte (v. 20-21)” (Idem, p. 542).
Hoje, o Senhor continua
falando conosco por meio de Sua Palavra. Ela funciona como as placas à beira da
estrada: avisos claros, orientações seguras e apelos de amor para viajantes que
seguem rumo à eternidade. Ignorá-las é caminhar conscientemente para o perigo;
atendê-las é encontrar descanso para a alma. A mensagem endereçada ao povo de
Deus, no passado, é também oportuna para os adventistas do sétimo dia, hoje.
Ellen White afirma: “A
reforma levada a efeito por Josias tinha purificado a terra dos altares
idólatras, mas o coração da multidão não havia sido transformado” (Ellen
G. White, Profetas e Reis [CPB, 2007], p. 410). Hoje, a situação é pior: quase não se fala em reforma em
nosso meio; por isso, o coração da maioria dos membros da igreja carece de
transformação.
Diante desse cenário, a
pergunta que se impõe é inevitável: qual
caminho estamos seguindo? Em meio a tantas vozes, tendências e “novidades
espirituais”, como discernir a rota segura? A resposta não está no que é mais
recente, mais popular ou mais atraente aos olhos humanos, mas naquilo que Deus
já revelou.
É por isso que o Senhor
nos convida a parar. Antes de continuar
caminhando, Ele diz: “Ponham-se à beira dos caminhos e olhem.” Em outras
palavras, interrompam a pressa, suspendam o entusiasmo pelas novidades e façam
uma avaliação honesta da direção tomada. Em seguida, Deus orienta: “Perguntem pelas veredas antigas.” Não
se trata de nostalgia religiosa, mas de um chamado ao retorno — retorno às
verdades e princípios que resistiram ao tempo, às doutrinas que foram provadas
pelo fogo da história e permanecem firmes porque têm origem divina.
As veredas antigas não são caminhos ultrapassados; são caminhos
eternos. São antigas porque procedem do Deus eterno. São boas porque conduzem à
vida. E são seguras porque levam ao descanso da alma. O problema não está nas
veredas, mas na recusa humana em trilhá-las: “Mas eles dizem: Não andaremos
nele.”
Assim, o tema que hoje
nos desafia não é se conhecemos as veredas antigas, mas se estamos dispostos a andar por elas. Voltar às veredas
antigas é voltar à Palavra, ao padrão divino, à fé dos profetas, à obediência
que brota do amor e à confiança plena na direção de Deus. É esse chamado que
precisamos ouvir — e decidir se atenderemos.
Como igreja estamos,
sem dúvida, crescendo em números, mas empobrecendo em profundidade espiritual.
A evidência disso se revela no desprezo cada vez mais comum pela observância
dos princípios e normas estabelecidos por Deus. É verdade que a obediência
meramente formal aos mandamentos não transforma o coração — assim como, nos
dias do rei Josias, a destruição dos altares idólatras não foi suficiente para
renovar espiritualmente o povo de Judá.
Contudo, essa
negligência generalizada não é algo neutro; ela denuncia que o coração de
muitos que se identificam como cristãos ainda não foi verdadeiramente
transformado pela graça de Cristo.
O Pastor Alejandro Bullón
constuma dizer, com razão, que “conhecer Jesus é tudo”. E de fato é. O problema
está em reduzir esse conhecimento a uma simples admiração. Muitos permanecem
nesse nível superficial: admiram a Cristo, falam de Cristo, mas não se rendem
plenamente a Ele. Não permitem que o Espírito Santo opere a transformação
interior que muda desejos, prioridades e conduta.
A igreja de hoje
precisa experimentar um reavivamento abrangente: desde os líderes até o mais
modesto membro. A igreja precisa refletir o que está escrito em 2
Coríntios 5:17: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas
antigas já passaram; eis que se fizeram novas.”
Portanto, para que
abandonemos as “coisas antigas” precisamos andar pelas “veredas antigas” O
caminho de volta às veredas antigas é Jesus. Ele disse: “Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida” (Jo 14:6).
O que precisa ser
restaurado entre o povo de Deus? Que valores e princípios estão no baú do
esquecimento?
I
– VALORES E PRINCÍPIOS NO BAÚ DO ESQUECIMENTO
1)
Ênfase no Estudo da Bíblia. Entre os anos de 1844 e
1980, os adventistas eram amplamente reconhecidos como “o povo da Bíblia”. Seus
pioneiros nutriam um amor genuíno pela verdade e se dedicavam com profundo zelo
ao estudo das Escrituras. Para eles, a Bíblia não era apenas um livro
devocional, mas a autoridade suprema em matéria de fé, doutrina e prática
cristã.
Um exemplo marcante
desse espírito é John Nevins Andrews, um dos mais brilhantes estudiosos do
adventismo primitivo. Andrews possuía extraordinária capacidade intelectual e
profundo domínio das Escrituras, sendo capaz de citar longas porções bíblicas
de memória e estudar os textos em seus idiomas originais. Sua obra sobre o sábado
- História do Sábado - não foi fruto de especulação, mas de anos de
pesquisa bíblica, histórica e linguística.
Andrews cria firmemente
que toda doutrina deveria ser submetida ao crivo da Palavra de Deus. Por essa
razão, tornou-se o primeiro missionário oficial da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, disposto a deixar pátria, conforto e até a própria família para levar as
verdades bíblicas a outras terras. Sua vida testemunha que, para os pioneiros
adventistas, estudar a Bíblia não era um exercício acadêmico apenas, mas um
compromisso espiritual profundo, capaz de moldar convicções, sacrifícios e
missão.
Em 1849, em um de seus
primeiros contatos com Tiago e Ellen White, John Nevins Andrews declarou de
forma memorável que “trocaria mil erros por uma única verdade”, expressão
posteriormente citada por Ellen G. White (Vida
e Ensinos, p. 130). Essa afirmação revela não apenas sua postura
intelectual, mas sobretudo seu profundo compromisso espiritual com a verdade
bíblica.
Em outra ocasião,
conforme relata J. O. Corliss, alguém perguntou a Andrews quanto da Bíblia ele
havia memorizado. Com notável humildade, ele respondeu: “Não ousaria afirmar
que poderia recitar todo o Antigo Testamento; porém, tenho certeza de que, se o
Novo Testamento fosse perdido, eu poderia reproduzi-lo palavra por palavra”
(The Experiences of Former Days – nº 8, Advent Review and Sabbath Herald, 15 de
setembro de 1904, p. 9).
Ele havia memorizado o
Novo Testamento tão bem que poderia reproduzi-lo palavra por palavra se fosse
perdido, mesmo sem ousar afirmar o mesmo do Antigo Testamento, destacando seu
conhecimento profundo das Escrituras. Além disso, ele foi também um dos mais
importantes pesquisadores e expositores das doutrinas bíblicas durante o
período formativo da mensagem adventista do sétimo dia.
Ellen White escreveu:
"Reunia-me com eles [Tiago White, José Bates, Estêvão Pierce, Hiram Edson
e outros], e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos
reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a
Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se reuniram para estudar a Bíblia, a fim
de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiná-la com
poder." (Mensagens Escolhidas [CPB,
1985], v. 1, p. 206).
Esses são apenas alguns
exemplos do profundo apreço que os pioneiros do movimento adventista nutriam
pelo conhecimento doutrinário das Escrituras e pela correta compreensão dos
textos bíblicos. Esse mesmo amor pela Palavra permaneceu como uma das marcas distintivas
do adventismo, ao menos até o final da década de 1970. Ele se refletia
claramente tanto no conteúdo dos sermões e dos estudos bíblicos quanto nas atividades
voltadas à juventude - então conhecidas como Ligas MVs.
As novas gerações de
conversos ingressavam na igreja com convicções sólidas e bem fundamentadas, de
tal forma que raramente abandonavam a fé. Os adventistas eram respeitados - e,
em certa medida, até temidos - por outros grupos evangélicos, em razão de seu
profundo domínio das Escrituras. Não era incomum que os próprios adventistas
afirmassem que uma das evidências de possuírem a verdade residia no fato de
que, mesmo quando alguns se afastavam da igreja, dificilmente se integravam a
outras denominações, tamanha era a convicção bíblica que haviam recebido.
Contudo, ao
contrastarmos essa realidade com o cenário atual, a pergunta que se impõe é
inevitável: o que mudou ao longo do caminho? Hoje, em muitos contextos, o
compromisso profundo com o estudo das Escrituras foi sendo gradativamente substituído
por uma fé superficial, mais emocional do que bíblica, mais pragmática do que
doutrinária.
Em lugar de membros
firmemente alicerçados na Palavra, multiplicam-se conversos com pouco
conhecimento das doutrinas distintivas da fé adventista, facilmente
influenciáveis por tendências, modismos e discursos religiosos que pouco se
preocupam com a fidelidade bíblica. Já não somos reconhecidos, como outrora,
pelo profundo domínio das Escrituras, mas, em muitos casos, pela assimilação de
práticas e linguagens estranhas à nossa identidade profética.
O resultado é visível:
membros que transitam com facilidade entre denominações, que relativizam
verdades antes inegociáveis e que confundem crescimento numérico com maturidade
espiritual. Diante disso, o apelo que ecoa da história do adventismo é claro e
urgente: é tempo de retornar à Palavra, de resgatar o amor pela verdade e de
permitir que as Escrituras voltem a ocupar o centro da fé, da pregação e da
vida da igreja.
O Espírito de Profecia
nos adverte: “A luz que me foi dada tem acentuado realmente que muitos hão de sair
de nosso meio, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios.
O Senhor deseja que toda pessoa que professa crer na verdade tenha um
conhecimento inteligente do que seja a verdade. Levantar-se-ão falsos profetas
e enganarão a muitos. Será sacudido tudo quanto possa ser sacudido. Não cumpre
então a cada um compreender as razões de nossa fé? Em lugar de haver tantos
sermões, deve haver mais aprimorado estudo da Palavra de Deus, abrindo as
Escrituras texto por texto, e procurando as fortes evidências que apoiam as
doutrinas fundamentais que nos trouxeram ao ponto em que nos encontramos hoje,
sobre a plataforma da verdade eterna” (Ellen G. White, Evangelismo, p. 363 e 364).
Jesus voltará em breve!
Sejamos, portanto, como os bereanos, examinando diariamente as Escrituras para
conhecer e viver a Palavra de Deus (At 17:11). Que ela não apenas seja lida,
mas apreciada, crida, amada e proclamada.
Superemos a crise de
Laodiceia permitindo que a Palavra de Deus seja guardada no coração, formando
em nós um povo verdadeiramente fundamentado no Livro. E, firmados nessa
verdade, compartilhemos com outros a esperança que nos foi confiada.
2)
Cristianismo com compromisso. “Pois virá o tempo em que não suportarão
a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus
próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar
ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2 Timóteo 4:3,4, NVI).
Neste versículo, o apóstolo Paulo descreve um problema existente no púlpito e
nos bancos da igreja. Torna-se cada vez mais comum encontrar pregadores que,
desejosos de popularidade e de atrair discípulos após si, deixam de proclamar
uma mensagem clara, direta e de advertência contra os perigos do pecado. Em vez
de anunciarem o que o povo precisa ouvir, passam a dizer apenas o que o povo
deseja ouvir. Pregam em busca do aplauso dos homens, e não da transformação do
coração; buscam aprovação, e não arrependimento.
Paralelamente, multiplicam-se
crentes que rejeitam mensagens diretas e confrontadoras. Preferem aquilo que é
fácil, agradável aos sentidos e confortável à consciência - um cristianismo
diluído, sem renúncia, sem cruz e sem compromisso. A esse respeito, as
Escrituras nos alertam solenemente:
“[...] lobos ferozes
penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se
levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos” (Atos
20:29, 30, NVI).
Em vez de chamarem os
pecadores ao abandono do pecado, falsos mestres asseguram às pessoas que podem
permanecer em paz em sua condição, alegando que Deus é tão gracioso que não
exige mudança. Assim, oferecem um falso evangelho, que produz apenas uma falsa
sensação de segurança.
Contudo, o verdadeiro
evangelho sempre começa com um chamado ao arrependimento. A primeira mensagem
de João Batista foi clara e direta: “Arrependei-vos” (Mateus 3:2). A primeira
mensagem de Jesus seguiu o mesmo tom: “Arrependei-vos”. E se Cristo nos chama
ao arrependimento, é porque podemos — e devemos — responder a esse chamado.
Como Ele mesmo afirmou:
“Porque Eu não vim
chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Mateus 9:13).
A Mensageira do Senhor
afirmou: “Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós, eis a maior e a mais
urgente de todas as nossas necessidades. Buscá-lo, deve ser nossa primeira
ocupação” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [CPB, 1985], v. 1, p.
121).
A Escritura nos ensina
que não devemos ser apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes dela (Tg 1:22).
Um cristão não é definido pela regularidade com que frequenta a igreja, mas por
um coração transformado, cuja mudança interior se reflete em atitudes
concretas. O próprio Jesus questionou: “Por que vocês me chamam ‘Senhor,
Senhor’ e não fazem o que Eu digo?” (Lucas 6:46). Não podemos reivindicar o
nome de cristãos se ignoramos a vontade daquele a quem chamamos de Senhor. Como
Ele mesmo advertiu: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt
7:21).
Uma dimensão do
evangelho que tem sido silenciosamente abandonada em nossos dias é o chamado à
obediência. Evidentemente, não somos salvos pela obediência - isso seria
legalismo. Contudo, a obediência não é legalismo; ela é a resposta natural de
um coração alcançado pelo amor de Deus. O próprio Cristo afirmou: “Se vocês me
amam, obedecerão aos meus mandamentos” (Jo 14:15).
Uma versão distorcida
do evangelho surge quando as pessoas são incentivadas a ter fé apenas o
suficiente para crer no perdão de Deus, mas não o bastante para confiar em Seu
poder para guardá-las do pecado. Esse falso evangelho afirma que Deus aceita o
ser humano como ele é, sem se importar com sua transformação. No entanto, a
Bíblia ensina que o evangelho envolve não apenas justificação, mas também
santificação. É verdade que podemos ir a Jesus exatamente como estamos — e essa
é uma maravilhosa notícia. Mas é igualmente verdade que Ele nos ama demais para
nos deixar como estamos. Essa é a notícia ainda melhor. Em Cristo, somos
transformados. Como declara a Escritura: “Se alguém está em Cristo, é nova
criação; as coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas” (2 Co
5:17). Este é o caminho das veredas antigas.
Diante disso,
precisamos urgentemente de uma liturgia em que o púlpito não seja governado
pelos bancos; em que a mensagem não seja mercantilizada; em que o evangelho não
seja diluído para se adequar às preferências dos inconversos. Precisamos de uma
liturgia que glorifique a Deus, exalte a Cristo, honre o Espírito Santo,
proclame fielmente o evangelho, edifique os santos e conduza os perdidos ao
quebrantamento e ao arrependimento.
3)
Normas e princípios.
a) A conduta cristã.
Os princípios cristãos são incompatíveis com práticas e conteúdos que corrompem
a mente e o caráter: novelas e publicações de cunho pornográfico, sites
imorais, filmes que glorificam o crime, a esperteza e a malandragem, piadas de
baixo nível, relacionamentos marcados pela falta de respeito, sexo fora do casamento,
infidelidade conjugal, bem como atitudes de desonestidade nos negócios e
sonegação de impostos.
O apóstolo Paulo resume
de forma objetiva aquele que poderíamos chamar de nosso verdadeiro manual de
higiene mental e espiritual ao declarar:
“Finalmente, irmãos,
tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o
que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há
e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Filipenses
4:8).
b) Namoro. Essa
etapa do relacionamento entre duas pessoas tem perdido seu propósito original.
O conhecimento mútuo, marcado pelo respeito e pela edificação, foi gradualmente
substituído pela exploração física, em que o critério dominante passou a ser o
“prazer total”. Cada vez mais raramente se vê a coragem moral demonstrada por
José, que declarou com firmeza: “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e
pecaria contra Deus?” (Gn 39:9).
Ao desprezarem o
referencial de pureza seguido por José, muitos acabam se comportando como a
maioria, tornando-se reféns da pressão social. Contudo, a Palavra de Deus é
clara ao advertir: “Não seguirás a multidão para fazeres o mal” (Êxodo 23:2). A
voz dominante da cultura insiste em afirmar que o valor supremo está naquilo
que é agradável aos sentidos, e essa mensagem é amplamente reforçada por
livros, jornais, revistas, televisão e pela internet.
4)
Santidade do sábado. Esta é uma das veredas antigas que
muitos, infelizmente, abandonaram. Por isso, ecoa ainda hoje o solene conselho
divino: “Lembra-te” (Êx 20:8). Lembra-te dessa vereda antiga que aponta para o
poder criador de Deus. Lembra-te de que esse dia foi separado para um
relacionamento íntimo e especial com o Senhor. Nada deve ocupar o lugar do
adorador nem impedir sua plena participação no banquete sabático.
Uma das razões pelas
quais tanto amo o sábado é que ele me recorda, semana após semana, que dependo
do Criador para existir e de Jesus Cristo para ser recriado. O sábado me ensina
a interromper as atividades temporais e a buscar comunhão com Aquele em quem,
como afirma a Escritura, “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28).
Nos dias de Neemias, o
povo que havia retornado do exílio babilônico profanou o sábado ao se envolver
em compras, vendas e no transporte de cargas nesse dia sagrado (Neemias
13:15–21). Diante dessa situação, Neemias não hesitou em promover uma reforma
clara, firme e necessária. O texto bíblico revela que ele repreendeu, ordenou,
vigiou e admoestou.
A pergunta que se impõe
para os nossos dias é esta: que passos precisamos dar para corrigir as práticas
que têm profanado o sábado em nossa realidade? Quando for necessário
repreender, que isso seja feito com amor e tato. Além disso, precisamos tomar
decisões firmes — até mesmo radicais — em relação a tudo aquilo que se torna
fonte de tentação nesse dia santo: televisão, internet, jogos eletrônicos e
outros entretenimentos que desviam o foco da adoração. Se for preciso, que
esses recursos sejam colocados de lado.
Os pais devem assumir o
papel de vigilantes espirituais de seus filhos; os cônjuges, cuidarem uns dos
outros. E, quando a tentação vier de fora — por meio de amigos, familiares ou
vizinhos —, ainda assim devemos admoestar com espírito cristão, demonstrando
amor, respeito e fidelidade a Deus.
O sábado é sagrado
porque, ao guardá-lo, adoramos o nosso Criador. Quando deixamos de observá-lo
como Deus estabeleceu, inevitavelmente manifestamos desprezo por Ele. Em alguns
momentos, será necessário repreender ou orientar alguém dentro do próprio lar,
quando esse alguém estiver impedindo uma adoração plena. Fazer isso com amor,
mas com firmeza, também é parte da fidelidade ao Deus do sábado.
5)
Adoração com reverência.
Moisés apascentava o
rebanho de seu sogro no deserto de Midiã, nas proximidades do monte Horebe,
também conhecido como Sinai, quando Deus decidiu revelar-lhe Sua glória. Essa
revelação ocorreu de maneira singular: por meio do fogo que ardia no meio de
uma sarça, sem, contudo, consumi-la. Intrigado por aquele fenômeno incomum —
chamas que brilhavam sem destruir —, Moisés aproximou-se com cautela, desejoso
de compreender o mistério.
A narrativa bíblica nos
diz: “O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da
sarça, Deus o chamou: ‘Moisés, Moisés!’ ‘Eis-me aqui’, respondeu ele. Então
disse Deus: ‘Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que
você está é terra santa’. Disse ainda: ‘Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’. Então Moisés cobriu o rosto, pois
teve medo de olhar para Deus” (Êx 3:4–6, NVI).
É maravilhoso estar na
presença de Deus. É um privilégio incomparável adorá-Lo, ouvi-Lo e
apresentar-Lhe nossa gratidão. Diante das chamas da sarça, Moisés percebeu que
estava diante do Deus santo e eterno, e sua reação foi de profundo temor
reverente. Somente aqueles que se aproximam de Deus com respeito, humildade e
reverência são capazes de discernir Sua grandeza. Onde Deus Se faz presente,
aquele lugar torna-se santo — seja o templo, seja qualquer ambiente onde Seu
nome é buscado com sinceridade.
Nos dias de Moisés,
retirar as sandálias era um gesto concreto de reverência, um reconhecimento
visível da soberania divina. Hoje, embora os símbolos culturais sejam outros, a
atitude interior continua sendo essencial. Demonstramos respeito ao Altíssimo,
especialmente, por meio de três atitudes fundamentais.
Primeiro:
o silêncio reverente.
O silêncio não é
ausência de adoração; ele é, muitas vezes, sua mais profunda expressão.
Silenciar é reconhecer a presença de Deus. Como ensina Ellen G. White, “a casa
de adoração deve ser marcada por compostura, reverência e espírito de devoção.
Conversas triviais, risos e cochichos não condizem com o reconhecimento de que
mensageiros celestiais estão presentes. Quando o povo entra na casa de Deus com
essa consciência, o silêncio torna-se um testemunho eloquente de fé e respeito,
preparando a mente e o coração para ouvir a Palavra e ser transformado por ela”
(Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p.
492).
Segundo:
o vestir-se com modéstia.
O vestuário de um
cristão transformado pela graça deve ser sóbrio, decente e equilibrado. Pode —
e deve — ser de bom gosto, mas nunca marcado pelo exibicionismo. A aparência
exterior deve refletir uma beleza interior, embora saibamos que roupas
modestas, por si só, não garantem um coração puro. O apóstolo Paulo recomenda: “Quero que as mulheres se vistam
modestamente, com decência e discrição” (1 Timóteo 2:9).
Esse princípio, embora
frequentemente relativizado, continua profundamente relevante. Vivemos em uma
cultura que promove a sensualidade, banaliza o corpo e rejeita limites morais.
Jesus advertiu que o olhar carregado de intenção impura já constitui pecado no
coração (Mt 5:28). Ao vestirem-se com recato, os cristãos — homens e mulheres —
cooperam ativamente para a preservação da moralidade e do respeito mútuo.
Infelizmente, a
modéstia cristã é muitas vezes descartada como irrelevante, sob o argumento de
que “não é ponto de salvação”. Contudo, Ellen G. White alerta que “a
conformidade com o mundo é um pecado que está minando a espiritualidade de
nosso povo, e seriamente prejudicando a sua utilidade Inútil é proclamar ao mundo a mensagem de
advertência, enquanto a negamos nas realizações da vida diária” (Evangelismo [CPB, 1978], p. 270). Não se trata de fanatismo, mas de fidelidade à
Palavra. O problema não está apenas em joias ou roupas específicas, mas na
disposição do coração de adaptar-se ao mundo enquanto se afirma seguir a Cristo.
Fomos chamados para um
propósito elevado. A Escritura declara que somos “raça eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pd 2:9). Nossa vida não
nos pertence; fomos comprados por alto preço. Portanto, não podemos viver
guiados apenas por gostos pessoais ou vaidades humanas. Tudo em nós — atitudes,
palavras, escolhas e aparência — deve refletir o Cristo que professamos seguir.
Jesus foi humilde,
simples e despretensioso. Nosso verdadeiro adorno deve ser o caráter do
Salvador. Somente quando refletimos Seu espírito abnegado somos capazes de amar
verdadeiramente o próximo e viver em harmonia com a lei de Deus.
Por fim, é importante
lembrar que a modéstia cristã não se resume a um conjunto rígido de regras
externas, nem deve ser usada como instrumento de dominação ou julgamento. Ela é
expressão de um princípio mais amplo, que envolve não apenas o vestir, mas
também a fala, as intenções e o comportamento — aplicável tanto a homens quanto
a mulheres. A verdadeira modéstia nasce de um coração rendido a Deus e desejoso
de honrá-Lo em todas as dimensões da vida.
Terceiro:
O louvor reverente
O louvor reverente vai
muito além do simples silêncio exterior. Ele envolve apresentar-se diante do
Senhor com um coração agradecido, submisso e verdadeiramente humilde. Significa
entoar cânticos que conduzam à reverência, livres de ritmos extravagantes que
desviam a mente da adoração. Significa proclamar a Palavra de Deus, e não
discursos moldados pela sabedoria humana. É adotar a atitude expressa por
Samuel: “Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve” (1 Samuel 3:10).
Diante disso,
precisamos fazer uma pergunta honesta: por que deveria prevalecer a minha
vontade e não a vontade de Deus, se no momento do batismo assumimos o
compromisso solene de reconhecer os princípios bíblicos ensinados pela Igreja
Adventista do Sétimo Dia e de ordenar a vida de acordo com esses princípios,
pela graça de Deus?
Infelizmente, tanto
jovens quanto adultos têm relativizado a questão da música no culto, fazendo
pouco caso do uso de músicas espiritualmente inadequadas simplesmente porque lhes
agradam ou proporcionam prazer emocional. O critério adotado por muitos para
avaliar a música tem sido, com frequência, a preferência pessoal.
Entretanto, essa
questão não se resume a gosto ou opinião individual; trata-se de princípios.
Nossas escolhas no culto devem estar em harmonia com os valores bíblicos, e não
baseadas naquilo que produz apenas bem-estar momentâneo. O gosto pessoal não é
um guia seguro, pois é moldado por influências culturais, sociais e,
inevitavelmente, pela realidade do pecado.
Há também aqueles que
avaliam a música apenas pelo fato de mencionar o nome de Jesus. Esse critério
superficial abre espaço para mensagens perigosas, estilos carismáticos e
propostas musicais do tipo pop gospel
ou rock gospel, cujo resultado é o
enfraquecimento da fé nos pilares da mensagem bíblica. A música deixa de ser
instrumento de adoração e passa a ocupar um papel recreativo, voltado à
satisfação dos sentidos humanos, e não à glorificação de Deus.
Não basta que uma
música contenha referências a Deus, citações bíblicas ou ideias religiosas para
que ela seja espiritualmente edificante. O louvor verdadeiro envolve forma,
conteúdo, propósito e espírito — todos submissos à vontade divina. Quando isso
é compreendido, a música volta a ocupar seu devido lugar no culto: conduzir o
coração do adorador à reverência, à obediência e à exaltação exclusiva do
Senhor.
5.
1. Os Princípios bíblicos e do Espírito de Profecia
a)
Distinção entre o santo e o profano (Lv 10:10). Há
um conceito filosófico de música evangélica que defende a ideia de que é
preciso alcançar a pessoa no nível em que está, em sua cultura e seus costumes.
Portanto, se um jovem gosta de rock, faça-se um rock gospel para atraí-lo e
agradá-lo, se outro gosta de pop, faça-se um pop gospel, se um outro jovem
gosta de forró, faça-se um forró gospel, se outro aprecia música romântica,
ofereça-lhe uma suave balada gospel.
Seria este o método de
Deus? Jesus desceu à Terra, misturou-se com os piores pecadores, conviveu com
eles, mas nunca rebaixou suas normas e padrões para conquista-los.
Reconhecemos com
espanto e a maior tristeza que, “Babilônia” e suas filhas, prostituíram-se
também na música. Vai-se hoje numa igreja evangélica e ouve-se rock, rock
mesmo. Bateria, guitarra, e o som inconfundível do rock. O barulho é o mesmo, a
ginga e o balanço são os mesmos, tudo igualzinho.
Aos que apreciam estes
novos estilos gospel, letras evangélicas com melodias mundanas (rock, samba,
country, jazz gospel, etc), alertamos: “As forças das instrumentalidades
satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é
chamado de operação do Espírito Santo (...) Essas coisas que aconteceram no
passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira
porque é dirigido” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [CPB, 1988], v.
2, p. 36 e 38).
Ellen White escreveu
essas palavras ao relembrar episódios de fanatismo ocorridos no passado do
movimento adventista, especialmente no início do século XX (como o caso de
Indiana), em que havia exaltação emocional extrema, uso de música barulhenta,
repetitiva e desordenada, típica das músicas gospel da atualidade; confusão
entre agitação física, êxtase emocional e a verdadeira obra do Espírito Santo. Ela
afirma que aquilo era chamado de “operação do Espírito Santo”, mas não o era. Tratava-se de uma contrafação.
Ao usar a palavra “carnaval”, Ellen White está empregando
uma linguagem simbólica forte, para indicar perda de reverência, estímulo dos sentidos
acima da mente, supressão da reflexão, da razão e da convicção profunda, uma
atmosfera que excita o corpo, mas não transforma o caráter.
Para ela, o verdadeiro
Espírito Santo convence do pecado, produz arrependimento, conduz à obediência e
santificação, e atua em harmonia com a Palavra de Deus. Já o falso entusiasmo
produz euforia momentânea, confunde barulho com poder e troca profundidade
espiritual por sensação.
A música por meio da
qual adoramos a Deus precisa, necessariamente, distinguir-se da música do
mundo. No entanto, observa-se que muitos cristãos têm incorporado, cada vez
mais, elementos populares e seculares à chamada música religiosa.
Lamentavelmente, esse movimento também tem alcançado compositores, músicos e
cantores adventistas, que acabam absorvendo a estética e a lógica do pop gospel
e levando esse tipo de música para dentro da igreja.
Esse fenômeno tornou-se
tão significativo que levou a Igreja Adventista do Sétimo Dia, por meio da
Conferência Geral de 2005, a elaborar e votar um documento oficial sobre a
Filosofia Adventista do Sétimo Dia em Relação à Música, o qual expressa
claramente o posicionamento da Igreja quanto aos princípios que devem nortear o
louvor. Não se trata de opinião pessoal ou preferência cultural, mas de um entendimento
coletivo, bíblico e institucional.
Infelizmente, muitos
dos que promovem essa mistura não percebem que o resultado é uma mensagem
contraditória. Esquecem que a letra, por mais espiritual que seja, não
santifica um estilo musical profano. A combinação de palavras sagradas com
estilos musicais concebidos a partir de valores contrários ao cristianismo
constitui uma desonra a Deus e um rompimento com o princípio bíblico da
separação entre o santo e o profano, conforme ensina o apóstolo Paulo: “Que comunhão
há entre a luz e as trevas?” (2 Co 6:14–16).
As Sagradas Escrituras
nos oferecem um alerta solene ao relatar o pecado de Nadabe e Abiú, que
trouxeram “fogo estranho” diante do Senhor, algo que Ele não havia ordenado (Lv
10:1–10). De forma semelhante, quando se introduz no culto um louvor moldado
por estilos seculares, ainda que revestido de linguagem religiosa, corre-se o
risco de oferecer a Deus aquilo que Ele não pediu e não aceita.
É com profunda tristeza
que se percebe que muitos, mesmo dentro da igreja, acabam trazendo esse “fogo
estranho” ao altar do Senhor: letras que exaltam a Cristo unidas a estilos
musicais que têm origem, propósito e efeito incompatíveis com a reverência, a
santidade e a adoração verdadeira. O chamado bíblico, especialmente para o povo
que aguarda a breve volta de Cristo, é para um culto que honre a Deus não
apenas no conteúdo das palavras, mas também na forma e no espírito com que Ele
é adorado.
Ellen G. White diz-nos
que essa mistura do bem com o mal foi a mesma técnica usada por Satanás para
causar a queda do homem. “Pela mistura do mal com o bem, sua mente tornou-se
confusa” (Educação, p. 25).
b) Princípios no Manual
da Igreja. “Devemos exercer grande cuidado na
escolha da música no lar; nos encontros sociais, nas escolas e igrejas. Toda
melodia que partilhe da natureza do jazz,
rock ou forma híbridas relacionadas, ou toda linguagem que expresse
sentimentos tolos ou triviais serão evitadas” (p. 154). Isso significa
que a liderança da Igreja Adventista do Sétimo Dia desaprova qualquer tipo de
música que nos faça lembrar os ritmos musicais descritos acima. Mas por quê?
Ellen G. White
escreveu, em seu livro Patriarcas e Profetas, que “a música
faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em
nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia
dos coros celestiais. O devido treino da voz é um aspecto importante da
educação, e não deve ser negligenciado. O cântico, como parte do culto
religioso, é um ato de adoração, da mesma forma que a prece. O coração deve
sentir o espírito do cântico, a fim de dar-lhe a expressão correta” (p.
594).
Ao afirmar que “a
música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais”, Ellen White estabelece
o padrão de referência da música cristã:
·
A música não nasce da cultura humana,
mas tem origem celestial;
·
O culto terrestre deve refletir, ainda
que imperfeitamente, a ordem, harmonia e reverência do céu;
·
A música no culto não é entretenimento, mas antecipação da adoração eterna (Ap
5:9–13).
Portanto, o critério não
é gosto pessoal ou moda, mas: isso
reflete o caráter e a santidade de Deus?
Ellen White ensina claramente
que o cântico cristão deve refletir, ainda que imperfeitamente, a harmonia reverente dos coros celestiais,
elevando a mente e o coração a Deus. À luz desse princípio, grande parte da
música gospel contemporânea distancia-se desse ideal, pois tende a enfatizar
excessivamente o ritmo e a excitação emocional, muitas vezes em detrimento da
reverência, do equilíbrio e da edificação espiritual. Quando a emoção se torna
o centro, corre-se o risco de substituir a adoração consciente por mera
estimulação dos sentidos, enfraquecendo o propósito sagrado do louvor.
Ellen White não está
defendendo perfeição artística elitista, mas intencionalidade espiritual: fazer o melhor possível para Deus.
Aliás, devo dizer que
uma ordem divina não foi dada para ser questionada, mas acolhida com humildade
e incorporada à nossa própria vontade. Estamos, de fato, dispostos a isso?
Ouve-se com frequência
a pergunta: “Como será a música no Céu?
Que referência terrena pode nos servir de parâmetro?”
Com sincero amor
fraternal, convido você a fazer um exercício simples: pegue sua playlist preferida, coloque-a para
tocar e, então, feche os olhos. Agora, imagine que, no lugar do cantor ou da
cantora, esteja o seu anjo protetor entoando aquelas músicas. Tente
visualizá-lo acompanhado por uma bateria marcando o ritmo de forma intensa,
talvez até contrariando o equilíbrio e a harmonia natural da música.
Vá além: imagine esse
mensageiro celestial - seu representante diante de Deus e seu mais fiel amigo -
tendo dificuldade de retornar ao Céu porque fãs o cercam, pedem fotos,
autógrafos e disputam seu mais novo lançamento “pop-gospel”.
Essas cenas lhe parecem
coerentes? Se não, seja honesto consigo mesmo: talvez a música que você pratica
não esteja voltada para agradar a Deus, mas para exaltar o próprio ego, ainda
que, inadvertidamente, acabe servindo aos propósitos do inimigo de nossas
almas.
Uma segunda aplicação é
que a irmã White fala da harmonia dos coros celestiais. Pergunto: harmonia e
coro são palavras adequadas para identificar a prática do solo nos cultos que
apresentamos a Deus atualmente? Aliás, a irmã White nos orienta que devemos
evitar essa prática. Por que se insiste tanto em questionar ordens dadas por
Deus, aquele a quem dizemos que direcionamos nosso “louvor”?
Terceiro, Se um pastor,
separado para um ministério específico, antes de subir a este púlpito, dedica
anos ao estudo da oratória, da homilética, da teologia bíblica, do hebraico, do
grego e de tantas outras disciplinas, tudo isso com um único objetivo —
apresentar a verdade com clareza e alcançar uma alma sedenta — por que razão a
música, que também faz parte do culto, tantas vezes é oferecida sem preparo
técnico e, sobretudo, sem preparo espiritual?
Falo com
responsabilidade, porque sei do que estou dizendo. Já presenciei situações em
que pessoas, ao serem chamadas para cantar ou tocar, levantam-se com entusiasmo
excessivo, trocam sorrisos pelo caminho, quase como se dissessem: “Agora chegou
a minha vez.” Concluída a apresentação, não retornam ao lugar para continuar
adorando com a igreja, pois precisam divulgar seu “trabalho” - às vezes até em
pleno sábado.
Amigos, não me
interpretem mal. A música no culto não existe para exaltar o músico, mas para
glorificar a Deus. Ela não é um intervalo entre partes importantes do programa;
ela é mensagem. Ela ensina doutrina, molda o pensamento e prepara o coração
tanto quanto um sermão bem elaborado.
Ainda assim, muitos
justificam práticas questionáveis dizendo: “Deus conhece o coração.” E é
verdade, Deus conhece o coração. Mas desde quando isso elimina a importância da
forma como O adoramos? Se o coração fosse o único critério, por que Deus
exigiria preparo, reverência e excelência na pregação da Palavra?
A verdade é que, quando
a música perde seu propósito espiritual, corre o risco de se tornar palco,
performance e autopromoção. E o culto deixa de ser centrado em Deus para girar
em torno do ser humano.
Que o Senhor nos ajude
a compreender que tudo o que fazemos aqui - seja pregando, cantando ou tocando
- deve ser feito com preparo, reverência e submissão à Sua vontade, para que,
em tudo, Ele seja glorificado e Sua igreja edificada.
Devemos ter consciência
de que Deus sabe de nossas capacidades e de nossas limitações. Mas Ele sabe
também que está à nossa disposição toda a orientação divina publicada quanto à
adoração. Cabe a nós ser humildes o suficiente para reconhecer nossas
limitações e buscar o conhecimento necessário para um louvor aceitável.
c) Princípios no
Documento Oficial Sobre Filosofia de Música Adventista da AG. “Deve
haver cuidado especial para não serem utilizadas músicas que apenas agradem os
sentidos, tenham ligação com O CARISMATISMO, ou tenham PREDOMINÂNCIA DE RITMO”.
(Seção IV Louvor Congregacional, parágrafo 14; https://www.adventistas.org/pt/musica/2017/08/21/filosofia-adventista-relacao-musica/
d) Princípios do
Espírito de Profecia. Caros irmãos e irmãs, leiam o que
a mensageira do Senhor falou sobre este assunto: “A música forma uma parte do
culto de Deus nas cortes do alto. Devemos esforçar-nos em nossos cânticos de
louvor, por aproximar-nos o mais possível da harmonia dos coros celeste. Tenho
ficado muitas vezes penalizada ao ouvir vozes não educadas, elevadas ao máximo
diapasão, guinchando positivamente as palavras sagradas de algum hino de
louvor. Quão impróprias essas vozes agudas, estridentes, para o solene e
jubiloso culto de Deus! Desejo tapar os ouvidos, ou fugir do lugar, e
regozijo-me ao findar o penoso exercício. Os que fazem do canto uma parte do
culto divino, devem escolher hinos com música apropriada para a ocasião, não
notas de funeral, porém melodias alegres, e todavia solenes. A voz pode e deve
ser modulada, suavizada e dominada." (Evangelismo, págs. 507 e 508)
“Tenho ouvido em
algumas de nossas igrejas solos completamente inadequados ao culto na casa do
Senhor. As notas prolongadas e os floreios, comuns nas óperas, não agradam aos
anjos. Eles se deleitam em ouvir os simples cânticos de louvor entoados em tom
natural. Unem-se a nós nos cânticos em que cada palavra é pronunciada
claramente, em tom harmonioso. Eles combinam o coro, entoado de coração, com o
espírito e o entendimento” (Evangelismo, p. 510).
“Pensam alguns que,
quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é
música. O bom canto é como a melodia dos pássaros - dominado e melodioso” (Evangelismo,
p. 510).
Nessa citação Ellen G.
White está corrigindo uma compreensão equivocada do louvor, muito comum em
contextos religiosos atual: a ideia de que volume
e intensidade equivalem a qualidade
espiritual ou musical. Ao afirmar que “quanto
mais alto cantarem, tanto mais música fazem” é um engano, Ellen White
ensina que: Música não é medida pelo volume, mas pela harmonia, equilíbrio e
clareza. Música barulhenta pode mascarar a melodia e destruir a beleza do
cântico. Esse tipo de música eleva os sentidos, mas não necessariamente o
espírito.
Para ela, barulho
desordenado não edifica, não eleva a mente a Deus e pode até afastar a
reverência do culto.
O louvor de adoração a
Deus é comparada com “a melodia dos pássaros”. E isso é muito significativo.
Assim
como o canto dos pássaros não é estridente nem forçado, o louvor cristão deve
ser dominado, não impulsivo; melodioso, não agressivo aos sentidos; resultado
de disciplina, não de exagero.
Em termos simples,
Ellen White está dizendo: Louvor verdadeiro não é grito nem barulho, mas beleza
harmoniosa, domínio e reverência. O canto que agrada a Deus é equilibrado,
melodioso e espiritualmente controlado.
“Aquele que nos tem
concedido todos os dons que nos capacitam a ser coobreiros com Deus, espera que
Seus servos cultivem suas vozes, a fim de que possam falar e cantar de modo que
todos compreendam. Não é necessário um cântico ruidoso, mas entoação clara,
pronúncia correta e expressão vocal distinta. Que haja tempo para o cultivo da
voz de modo que o louvor a Deus possa ser entoado em tons claros e suaves, não
com aspereza e estridência que ofendem o ouvido” (Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2007, Vol. 9, p. 143, 144). De
acordo com Ellen White, Deus espera que Seus servos cuidem e desenvolvam a voz
para que o louvor e a mensagem sejam claros, compreensíveis e reverentes. Músicas
barulhentas e estridentes não cumprem o propósito do louvor cristão, que é
glorificar a Deus e edificar a igreja. Quando o volume excessivo e a excitação
dos sentidos se tornam centrais, a atenção se desloca da mensagem para a
experiência emocional, enfraquecendo a reverência e a compreensão espiritual. O
verdadeiro louvor conduz à reflexão, à ordem e à elevação da mente, promovendo
edificação coletiva e não apenas impacto sonoro.
“Que haja canto no lar,
de hinos que sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e mais de
animação, esperança e alegria” (Educação, p. 167). A expressão “hinos que sejam suaves e puros” aponta
para dois critérios:
Suavidade:
música que acalma, harmoniza e promove paz;
Pureza:
letras elevadas, bíblicas, moralmente saudáveis e espiritualmente edificantes.
Ellen White exclui,
portanto, músicas agressivas, excitantes ou moralmente vazias, a exemplo das
músicas pop gospel e rock gospel, pois elas não produzem o efeito desejado no
lar.
Permanecerá a igreja de
Laodiceia, em sua mornidão espiritual e autossatisfação, indiferente aos
perigos que a cercam? Permitirá que costumes, normas e valores do mundo
modifiquem, de forma lenta e quase imperceptível, sua identidade distinta e seu
chamado santo? Chegará o tempo em que a música do mundo será plenamente
assimilada como música da igreja?
Diante dessas perguntas
solenes, impõe-se uma questão ainda maior: o que, afinal, declara a Palavra de
Deus a respeito dessas coisas?
A resposta, cabe aos
responsáveis pela liderança da Igreja nestes tempos solenes, e aos que suspiram
e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela (Ezequiel
9:4).
CONCLUSÃO
O profeta disse:
“Perguntai pelas veredas antigas”. Perguntar é, quase sempre, uma
atitude de humildade. Significa reconhecer que não sabemos tudo nem temos todas
as respostas. É estar disposto a ouvir e aprender. Aquelas pessoas deveriam
perguntar aos mais velhos e experientes, aos que conheceram os bons tempos de
Israel, quando o povo era fiel ao Senhor.
Jovem, pergunte aos
seus pais e líderes cristãos a respeito do bom procedimento (Dt 32:7). Esse
tipo de informação ainda é gratuito. Descobrir o bom caminho e andar por ele
trará excelente resultado: “Achareis descanso para as vossas almas”.
Hoje, a despeito de todo o desenvolvimento científico e tecnológico, o que mais
falta às pessoas é a paz, o descanso da alma.
Voltemos para as
veredas antigas. Elas não são antiquadas, pois a Palavra de Deus não envelhece.
É sempre atual.
Se você é músico ou
cantor, volte para as veredas antigas. Se você é pastor ou líder, volte para as
veredas antigas. Se você é professor, volte para as veredas antigas. Se você é
médico missionário, volte para as veredas antigas! Se você deseja morar no
reino eterno, volte para as veredas antigas. Ande de mãos dadas com Jesus por
essas veredas de paz.
Qual será a nossa
resposta? Diremos como Judá: “Não andaremos nele”? Ou aceitaremos o convite do
Senhor para voltar às veredas antigas, caminhar com Ele e encontrar descanso
para a alma?
Hoje é dia de decisão.
Hoje é dia de retorno. Hoje é dia de andar no bom caminho.

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