VEREDAS ANTIGAS: OS PRINCÍPIOS CRISTÃOS NÃO DEVEM MOFAR NO BAÚ DO ESQUECIMENTO!

Ricardo André

Texto base: “Assim diz o Senhor: “Ponham-se à beira dos caminhos e olhem; perguntem pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andem por ele e vocês acharão descanso para a sua alma. Mas eles dizem: ‘Não andaremos nele’” (Jeremias 6:16, NAA, ênfase acrescentada).

INTRODUÇÃO

É próprio da natureza humana interessar-se pelo que é novo. Jornais, revistas e portais de notícias existem para alimentar nossa curiosidade por novidades. A tecnologia avança impulsionada pela busca do que ainda não foi descoberto ou inventado. O comércio sobrevive estimulando o desejo por roupas da moda, aparelhos da última geração e carros recém-lançados. Quem lida com informática sabe bem: muitas vezes compramos algo “novo” que já chega ultrapassado.

Vivemos em uma cultura que valoriza o imediato e descarta rapidamente o que ontem parecia indispensável. A música que fez sucesso há poucos meses já não nos atrai. Os dispositivos mais modernos logo se tornam obsoletos. E, de forma preocupante, até os relacionamentos humanos têm sido tratados como descartáveis. Corremos atrás de novidades nas redes sociais, ainda que sejam vazias, superficiais, ou até carregadas de fofocas e mentiras.

Inseridos nesse ambiente que exalta o novo a qualquer custo, não é surpreendente que essa mesma mentalidade tenha invadido o campo espiritual. Muitos passaram a buscar “novidades religiosas”: novas experiências, novos caminhos, doutrinas ajustadas ao gosto do momento e espiritualidades da moda. Nesse processo, acabam se afastando da verdade eterna revelada pelo Deus que nos criou, nos sustenta e nos conduz.

Foi exatamente a esse tipo de crise espiritual que o profeta Jeremias se dirigiu há cerca de 2.600 anos, quando transmitiu a solene advertência do Senhor:

“Assim diz o Senhor: Ponham-se à beira dos caminhos e olhem; perguntem pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andem por ele e vocês acharão descanso para a sua alma. Mas eles dizem: ‘Não andaremos nele’” (Jr 6:16).

Por que Deus convidou Seu povo a parar, olhar e perguntar pelas veredas antigas? Porque eles estavam seguindo por um caminho errado, um caminho mau. O pecado havia ultrapassado todos os limites. As próprias Escrituras descrevem esse cenário com títulos eloquentes: “Israel abandona a Deus” (Jr 2:1) e “A infidelidade de Israel” (Jr 3:6). O povo mantinha a aparência de religião, mas havia abandonado os princípios da aliança. “O povo havia substituído a palavra de Deus pela execução dos rituais do templo (Jr 6:20), mas Deus rejeitou tudo isso. Os israelitas confiavam em suas riquezas e bens materiais, que não exigiam a obediência. De acordo com a aliança, a obediência às cerimônias religiosas não deveria ser separada da submissão total ao Senhor e às Suas exigências sociais e morais (1Sm 15:22—23; Os 6:6; Am 5:231-24; Mt 9:13; 12:7)” (Comentário Bíblico Andrews [CPB, 2025], v. 2, p. 541).  Os líderes prometiam paz quando não havia paz (Jr 6:14). O pecado havia se tornado normal, e a verdade, incômoda. E o resultado dessa apostasia já se aproximava, como anuncia Jeremias 4:6: “O mal que vem do norte”. O cativeiro babilônico estava às portas.

“Em vez de Israel andar nos caminhos antigos, o bom caminho (pois isso daria “descanso para a sua alma”; v. 16), Deus colocaria pedras de tropeço ou obstáculos em seu caminho, e o povo iria cambalear e cair” (Idem, p. 541, 542). “Em vez de Israel andar nos caminhos antigos, o bom caminho (pois isso daria “descanso para a sua alma”; v. 16), Deus colocaria pedras de tropeço ou obstáculos em seu caminho, e o povo iria cambalear e cair” (Idem, p. 541, 542). Israel caminhava rumo à prisão, à dor e ao sofrimento. No meio desse trajeto, Deus levantou um profeta para advertir, corrigir e apontar o caminho certo. Jeremias clamou, exortou e aconselhou, mas o povo escolheu não ouvir. “Israel foi convidado a uma caminhada obediente: as “veredas antigas” e a verdadeira obediência à palavra de Deus levam à vida (v. 16-20), mas as atividades rituais associadas à idolatria são pedras de tropeços que levam à morte (v. 20-21)” (Idem, p. 542).

Hoje, o Senhor continua falando conosco por meio de Sua Palavra. Ela funciona como as placas à beira da estrada: avisos claros, orientações seguras e apelos de amor para viajantes que seguem rumo à eternidade. Ignorá-las é caminhar conscientemente para o perigo; atendê-las é encontrar descanso para a alma. A mensagem endereçada ao povo de Deus, no passado, é também oportuna para os adventistas do sétimo dia, hoje.

Ellen White afirma: “A reforma levada a efeito por Josias tinha purificado a terra dos altares idólatras, mas o coração da multidão não havia sido transformado” (Ellen G. White, Profetas e Reis [CPB, 2007], p. 410). Hoje, a situação é pior: quase não se fala em reforma em nosso meio; por isso, o coração da maioria dos membros da igreja carece de transformação.

Diante desse cenário, a pergunta que se impõe é inevitável: qual caminho estamos seguindo? Em meio a tantas vozes, tendências e “novidades espirituais”, como discernir a rota segura? A resposta não está no que é mais recente, mais popular ou mais atraente aos olhos humanos, mas naquilo que Deus já revelou.

É por isso que o Senhor nos convida a parar. Antes de continuar caminhando, Ele diz: “Ponham-se à beira dos caminhos e olhem.” Em outras palavras, interrompam a pressa, suspendam o entusiasmo pelas novidades e façam uma avaliação honesta da direção tomada. Em seguida, Deus orienta: “Perguntem pelas veredas antigas.” Não se trata de nostalgia religiosa, mas de um chamado ao retorno — retorno às verdades e princípios que resistiram ao tempo, às doutrinas que foram provadas pelo fogo da história e permanecem firmes porque têm origem divina.

As veredas antigas não são caminhos ultrapassados; são caminhos eternos. São antigas porque procedem do Deus eterno. São boas porque conduzem à vida. E são seguras porque levam ao descanso da alma. O problema não está nas veredas, mas na recusa humana em trilhá-las: “Mas eles dizem: Não andaremos nele.”

Assim, o tema que hoje nos desafia não é se conhecemos as veredas antigas, mas se estamos dispostos a andar por elas. Voltar às veredas antigas é voltar à Palavra, ao padrão divino, à fé dos profetas, à obediência que brota do amor e à confiança plena na direção de Deus. É esse chamado que precisamos ouvir — e decidir se atenderemos.

Como igreja estamos, sem dúvida, crescendo em números, mas empobrecendo em profundidade espiritual. A evidência disso se revela no desprezo cada vez mais comum pela observância dos princípios e normas estabelecidos por Deus. É verdade que a obediência meramente formal aos mandamentos não transforma o coração — assim como, nos dias do rei Josias, a destruição dos altares idólatras não foi suficiente para renovar espiritualmente o povo de Judá.

Contudo, essa negligência generalizada não é algo neutro; ela denuncia que o coração de muitos que se identificam como cristãos ainda não foi verdadeiramente transformado pela graça de Cristo.

O Pastor Alejandro Bullón constuma dizer, com razão, que “conhecer Jesus é tudo”. E de fato é. O problema está em reduzir esse conhecimento a uma simples admiração. Muitos permanecem nesse nível superficial: admiram a Cristo, falam de Cristo, mas não se rendem plenamente a Ele. Não permitem que o Espírito Santo opere a transformação interior que muda desejos, prioridades e conduta.

A igreja de hoje precisa experimentar um reavivamento abrangente: desde os líderes até o mais modesto membro. A igreja precisa refletir o que está escrito em 2 Coríntios 5:17: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.”

Portanto, para que abandonemos as “coisas antigas” precisamos andar pelas “veredas antigas” O caminho de volta às veredas antigas é Jesus. Ele disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6).

O que precisa ser restaurado entre o povo de Deus? Que valores e princípios estão no baú do esquecimento?

I – VALORES E PRINCÍPIOS NO BAÚ DO ESQUECIMENTO

1) Ênfase no Estudo da Bíblia. Entre os anos de 1844 e 1980, os adventistas eram amplamente reconhecidos como “o povo da Bíblia”. Seus pioneiros nutriam um amor genuíno pela verdade e se dedicavam com profundo zelo ao estudo das Escrituras. Para eles, a Bíblia não era apenas um livro devocional, mas a autoridade suprema em matéria de fé, doutrina e prática cristã.

Um exemplo marcante desse espírito é John Nevins Andrews, um dos mais brilhantes estudiosos do adventismo primitivo. Andrews possuía extraordinária capacidade intelectual e profundo domínio das Escrituras, sendo capaz de citar longas porções bíblicas de memória e estudar os textos em seus idiomas originais. Sua obra sobre o sábado - História do Sábado -  não foi fruto de especulação, mas de anos de pesquisa bíblica, histórica e linguística.

Andrews cria firmemente que toda doutrina deveria ser submetida ao crivo da Palavra de Deus. Por essa razão, tornou-se o primeiro missionário oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, disposto a deixar pátria, conforto e até a própria família para levar as verdades bíblicas a outras terras. Sua vida testemunha que, para os pioneiros adventistas, estudar a Bíblia não era um exercício acadêmico apenas, mas um compromisso espiritual profundo, capaz de moldar convicções, sacrifícios e missão.

Em 1849, em um de seus primeiros contatos com Tiago e Ellen White, John Nevins Andrews declarou de forma memorável que “trocaria mil erros por uma única verdade”, expressão posteriormente citada por Ellen G. White (Vida e Ensinos, p. 130). Essa afirmação revela não apenas sua postura intelectual, mas sobretudo seu profundo compromisso espiritual com a verdade bíblica.

Em outra ocasião, conforme relata J. O. Corliss, alguém perguntou a Andrews quanto da Bíblia ele havia memorizado. Com notável humildade, ele respondeu: “Não ousaria afirmar que poderia recitar todo o Antigo Testamento; porém, tenho certeza de que, se o Novo Testamento fosse perdido, eu poderia reproduzi-lo palavra por palavra” (The Experiences of Former Days – nº 8, Advent Review and Sabbath Herald, 15 de setembro de 1904, p. 9).

Ele havia memorizado o Novo Testamento tão bem que poderia reproduzi-lo palavra por palavra se fosse perdido, mesmo sem ousar afirmar o mesmo do Antigo Testamento, destacando seu conhecimento profundo das Escrituras. Além disso, ele foi também um dos mais importantes pesquisadores e expositores das doutrinas bíblicas durante o período formativo da mensagem adventista do sétimo dia.

Ellen White escreveu: "Reunia-me com eles [Tiago White, José Bates, Estêvão Pierce, Hiram Edson e outros], e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiná-la com poder." (Mensagens Escolhidas [CPB, 1985], v. 1, p. 206).

Esses são apenas alguns exemplos do profundo apreço que os pioneiros do movimento adventista nutriam pelo conhecimento doutrinário das Escrituras e pela correta compreensão dos textos bíblicos. Esse mesmo amor pela Palavra permaneceu como uma das marcas distintivas do adventismo, ao menos até o final da década de 1970. Ele se refletia claramente tanto no conteúdo dos sermões e dos estudos bíblicos quanto nas atividades voltadas à juventude - então conhecidas como Ligas MVs.

As novas gerações de conversos ingressavam na igreja com convicções sólidas e bem fundamentadas, de tal forma que raramente abandonavam a fé. Os adventistas eram respeitados - e, em certa medida, até temidos - por outros grupos evangélicos, em razão de seu profundo domínio das Escrituras. Não era incomum que os próprios adventistas afirmassem que uma das evidências de possuírem a verdade residia no fato de que, mesmo quando alguns se afastavam da igreja, dificilmente se integravam a outras denominações, tamanha era a convicção bíblica que haviam recebido.

Contudo, ao contrastarmos essa realidade com o cenário atual, a pergunta que se impõe é inevitável: o que mudou ao longo do caminho? Hoje, em muitos contextos, o compromisso profundo com o estudo das Escrituras foi sendo gradativamente substituído por uma fé superficial, mais emocional do que bíblica, mais pragmática do que doutrinária.

Em lugar de membros firmemente alicerçados na Palavra, multiplicam-se conversos com pouco conhecimento das doutrinas distintivas da fé adventista, facilmente influenciáveis por tendências, modismos e discursos religiosos que pouco se preocupam com a fidelidade bíblica. Já não somos reconhecidos, como outrora, pelo profundo domínio das Escrituras, mas, em muitos casos, pela assimilação de práticas e linguagens estranhas à nossa identidade profética.

O resultado é visível: membros que transitam com facilidade entre denominações, que relativizam verdades antes inegociáveis e que confundem crescimento numérico com maturidade espiritual. Diante disso, o apelo que ecoa da história do adventismo é claro e urgente: é tempo de retornar à Palavra, de resgatar o amor pela verdade e de permitir que as Escrituras voltem a ocupar o centro da fé, da pregação e da vida da igreja.

O Espírito de Profecia nos adverte: “A luz que me foi dada tem acentuado realmente que muitos hão de sair de nosso meio, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios. O Senhor deseja que toda pessoa que professa crer na verdade tenha um conhecimento inteligente do que seja a verdade. Levantar-se-ão falsos profetas e enganarão a muitos. Será sacudido tudo quanto possa ser sacudido. Não cumpre então a cada um compreender as razões de nossa fé? Em lugar de haver tantos sermões, deve haver mais aprimorado estudo da Palavra de Deus, abrindo as Escrituras texto por texto, e procurando as fortes evidências que apoiam as doutrinas fundamentais que nos trouxeram ao ponto em que nos encontramos hoje, sobre a plataforma da verdade eterna” (Ellen G. White, Evangelismo, p. 363 e 364).

Jesus voltará em breve! Sejamos, portanto, como os bereanos, examinando diariamente as Escrituras para conhecer e viver a Palavra de Deus (At 17:11). Que ela não apenas seja lida, mas apreciada, crida, amada e proclamada.

Superemos a crise de Laodiceia permitindo que a Palavra de Deus seja guardada no coração, formando em nós um povo verdadeiramente fundamentado no Livro. E, firmados nessa verdade, compartilhemos com outros a esperança que nos foi confiada.

2) Cristianismo com compromisso. “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2 Timóteo 4:3,4, NVI). Neste versículo, o apóstolo Paulo descreve um problema existente no púlpito e nos bancos da igreja. Torna-se cada vez mais comum encontrar pregadores que, desejosos de popularidade e de atrair discípulos após si, deixam de proclamar uma mensagem clara, direta e de advertência contra os perigos do pecado. Em vez de anunciarem o que o povo precisa ouvir, passam a dizer apenas o que o povo deseja ouvir. Pregam em busca do aplauso dos homens, e não da transformação do coração; buscam aprovação, e não arrependimento.

Paralelamente, multiplicam-se crentes que rejeitam mensagens diretas e confrontadoras. Preferem aquilo que é fácil, agradável aos sentidos e confortável à consciência - um cristianismo diluído, sem renúncia, sem cruz e sem compromisso. A esse respeito, as Escrituras nos alertam solenemente:

“[...] lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos” (Atos 20:29, 30, NVI).

Em vez de chamarem os pecadores ao abandono do pecado, falsos mestres asseguram às pessoas que podem permanecer em paz em sua condição, alegando que Deus é tão gracioso que não exige mudança. Assim, oferecem um falso evangelho, que produz apenas uma falsa sensação de segurança.

Contudo, o verdadeiro evangelho sempre começa com um chamado ao arrependimento. A primeira mensagem de João Batista foi clara e direta: “Arrependei-vos” (Mateus 3:2). A primeira mensagem de Jesus seguiu o mesmo tom: “Arrependei-vos”. E se Cristo nos chama ao arrependimento, é porque podemos — e devemos — responder a esse chamado. Como Ele mesmo afirmou:

“Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Mateus 9:13).

A Mensageira do Senhor afirmou: “Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós, eis a maior e a mais urgente de todas as nossas necessidades. Buscá-lo, deve ser nossa primeira ocupação” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [CPB, 1985], v. 1, p. 121).

A Escritura nos ensina que não devemos ser apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes dela (Tg 1:22). Um cristão não é definido pela regularidade com que frequenta a igreja, mas por um coração transformado, cuja mudança interior se reflete em atitudes concretas. O próprio Jesus questionou: “Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que Eu digo?” (Lucas 6:46). Não podemos reivindicar o nome de cristãos se ignoramos a vontade daquele a quem chamamos de Senhor. Como Ele mesmo advertiu: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21).

Uma dimensão do evangelho que tem sido silenciosamente abandonada em nossos dias é o chamado à obediência. Evidentemente, não somos salvos pela obediência - isso seria legalismo. Contudo, a obediência não é legalismo; ela é a resposta natural de um coração alcançado pelo amor de Deus. O próprio Cristo afirmou: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos” (Jo 14:15).

Uma versão distorcida do evangelho surge quando as pessoas são incentivadas a ter fé apenas o suficiente para crer no perdão de Deus, mas não o bastante para confiar em Seu poder para guardá-las do pecado. Esse falso evangelho afirma que Deus aceita o ser humano como ele é, sem se importar com sua transformação. No entanto, a Bíblia ensina que o evangelho envolve não apenas justificação, mas também santificação. É verdade que podemos ir a Jesus exatamente como estamos — e essa é uma maravilhosa notícia. Mas é igualmente verdade que Ele nos ama demais para nos deixar como estamos. Essa é a notícia ainda melhor. Em Cristo, somos transformados. Como declara a Escritura: “Se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas” (2 Co 5:17). Este é o caminho das veredas antigas.

Diante disso, precisamos urgentemente de uma liturgia em que o púlpito não seja governado pelos bancos; em que a mensagem não seja mercantilizada; em que o evangelho não seja diluído para se adequar às preferências dos inconversos. Precisamos de uma liturgia que glorifique a Deus, exalte a Cristo, honre o Espírito Santo, proclame fielmente o evangelho, edifique os santos e conduza os perdidos ao quebrantamento e ao arrependimento.

3) Normas e princípios.

a) A conduta cristã. Os princípios cristãos são incompatíveis com práticas e conteúdos que corrompem a mente e o caráter: novelas e publicações de cunho pornográfico, sites imorais, filmes que glorificam o crime, a esperteza e a malandragem, piadas de baixo nível, relacionamentos marcados pela falta de respeito, sexo fora do casamento, infidelidade conjugal, bem como atitudes de desonestidade nos negócios e sonegação de impostos.

O apóstolo Paulo resume de forma objetiva aquele que poderíamos chamar de nosso verdadeiro manual de higiene mental e espiritual ao declarar:

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Filipenses 4:8).

b) Namoro. Essa etapa do relacionamento entre duas pessoas tem perdido seu propósito original. O conhecimento mútuo, marcado pelo respeito e pela edificação, foi gradualmente substituído pela exploração física, em que o critério dominante passou a ser o “prazer total”. Cada vez mais raramente se vê a coragem moral demonstrada por José, que declarou com firmeza: “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gn 39:9).

Ao desprezarem o referencial de pureza seguido por José, muitos acabam se comportando como a maioria, tornando-se reféns da pressão social. Contudo, a Palavra de Deus é clara ao advertir: “Não seguirás a multidão para fazeres o mal” (Êxodo 23:2). A voz dominante da cultura insiste em afirmar que o valor supremo está naquilo que é agradável aos sentidos, e essa mensagem é amplamente reforçada por livros, jornais, revistas, televisão e pela internet.

4) Santidade do sábado. Esta é uma das veredas antigas que muitos, infelizmente, abandonaram. Por isso, ecoa ainda hoje o solene conselho divino: “Lembra-te” (Êx 20:8). Lembra-te dessa vereda antiga que aponta para o poder criador de Deus. Lembra-te de que esse dia foi separado para um relacionamento íntimo e especial com o Senhor. Nada deve ocupar o lugar do adorador nem impedir sua plena participação no banquete sabático.

Uma das razões pelas quais tanto amo o sábado é que ele me recorda, semana após semana, que dependo do Criador para existir e de Jesus Cristo para ser recriado. O sábado me ensina a interromper as atividades temporais e a buscar comunhão com Aquele em quem, como afirma a Escritura, “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28).

Nos dias de Neemias, o povo que havia retornado do exílio babilônico profanou o sábado ao se envolver em compras, vendas e no transporte de cargas nesse dia sagrado (Neemias 13:15–21). Diante dessa situação, Neemias não hesitou em promover uma reforma clara, firme e necessária. O texto bíblico revela que ele repreendeu, ordenou, vigiou e admoestou.

A pergunta que se impõe para os nossos dias é esta: que passos precisamos dar para corrigir as práticas que têm profanado o sábado em nossa realidade? Quando for necessário repreender, que isso seja feito com amor e tato. Além disso, precisamos tomar decisões firmes — até mesmo radicais — em relação a tudo aquilo que se torna fonte de tentação nesse dia santo: televisão, internet, jogos eletrônicos e outros entretenimentos que desviam o foco da adoração. Se for preciso, que esses recursos sejam colocados de lado.

Os pais devem assumir o papel de vigilantes espirituais de seus filhos; os cônjuges, cuidarem uns dos outros. E, quando a tentação vier de fora — por meio de amigos, familiares ou vizinhos —, ainda assim devemos admoestar com espírito cristão, demonstrando amor, respeito e fidelidade a Deus.

O sábado é sagrado porque, ao guardá-lo, adoramos o nosso Criador. Quando deixamos de observá-lo como Deus estabeleceu, inevitavelmente manifestamos desprezo por Ele. Em alguns momentos, será necessário repreender ou orientar alguém dentro do próprio lar, quando esse alguém estiver impedindo uma adoração plena. Fazer isso com amor, mas com firmeza, também é parte da fidelidade ao Deus do sábado.

5) Adoração com reverência.

Moisés apascentava o rebanho de seu sogro no deserto de Midiã, nas proximidades do monte Horebe, também conhecido como Sinai, quando Deus decidiu revelar-lhe Sua glória. Essa revelação ocorreu de maneira singular: por meio do fogo que ardia no meio de uma sarça, sem, contudo, consumi-la. Intrigado por aquele fenômeno incomum — chamas que brilhavam sem destruir —, Moisés aproximou-se com cautela, desejoso de compreender o mistério.

A narrativa bíblica nos diz: “O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da sarça, Deus o chamou: ‘Moisés, Moisés!’ ‘Eis-me aqui’, respondeu ele. Então disse Deus: ‘Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa’. Disse ainda: ‘Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’. Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus” (Êx 3:4–6, NVI).

É maravilhoso estar na presença de Deus. É um privilégio incomparável adorá-Lo, ouvi-Lo e apresentar-Lhe nossa gratidão. Diante das chamas da sarça, Moisés percebeu que estava diante do Deus santo e eterno, e sua reação foi de profundo temor reverente. Somente aqueles que se aproximam de Deus com respeito, humildade e reverência são capazes de discernir Sua grandeza. Onde Deus Se faz presente, aquele lugar torna-se santo — seja o templo, seja qualquer ambiente onde Seu nome é buscado com sinceridade.

Nos dias de Moisés, retirar as sandálias era um gesto concreto de reverência, um reconhecimento visível da soberania divina. Hoje, embora os símbolos culturais sejam outros, a atitude interior continua sendo essencial. Demonstramos respeito ao Altíssimo, especialmente, por meio de três atitudes fundamentais.

Primeiro: o silêncio reverente.

O silêncio não é ausência de adoração; ele é, muitas vezes, sua mais profunda expressão. Silenciar é reconhecer a presença de Deus. Como ensina Ellen G. White, “a casa de adoração deve ser marcada por compostura, reverência e espírito de devoção. Conversas triviais, risos e cochichos não condizem com o reconhecimento de que mensageiros celestiais estão presentes. Quando o povo entra na casa de Deus com essa consciência, o silêncio torna-se um testemunho eloquente de fé e respeito, preparando a mente e o coração para ouvir a Palavra e ser transformado por ela” (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 492).

Segundo: o vestir-se com modéstia.

O vestuário de um cristão transformado pela graça deve ser sóbrio, decente e equilibrado. Pode — e deve — ser de bom gosto, mas nunca marcado pelo exibicionismo. A aparência exterior deve refletir uma beleza interior, embora saibamos que roupas modestas, por si só, não garantem um coração puro. O apóstolo Paulo recomenda: “Quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição” (1 Timóteo 2:9).

Esse princípio, embora frequentemente relativizado, continua profundamente relevante. Vivemos em uma cultura que promove a sensualidade, banaliza o corpo e rejeita limites morais. Jesus advertiu que o olhar carregado de intenção impura já constitui pecado no coração (Mt 5:28). Ao vestirem-se com recato, os cristãos — homens e mulheres — cooperam ativamente para a preservação da moralidade e do respeito mútuo.

Infelizmente, a modéstia cristã é muitas vezes descartada como irrelevante, sob o argumento de que “não é ponto de salvação”. Contudo, Ellen G. White alerta que “a conformidade com o mundo é um pecado que está minando a espiritualidade de nosso povo, e seriamente prejudicando a sua utilidade  Inútil é proclamar ao mundo a mensagem de advertência, enquanto a negamos nas realizações da vida diária” (Evangelismo [CPB, 1978], p. 270).  Não se trata de fanatismo, mas de fidelidade à Palavra. O problema não está apenas em joias ou roupas específicas, mas na disposição do coração de adaptar-se ao mundo enquanto se afirma seguir a Cristo.

Fomos chamados para um propósito elevado. A Escritura declara que somos “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pd 2:9). Nossa vida não nos pertence; fomos comprados por alto preço. Portanto, não podemos viver guiados apenas por gostos pessoais ou vaidades humanas. Tudo em nós — atitudes, palavras, escolhas e aparência — deve refletir o Cristo que professamos seguir.

Jesus foi humilde, simples e despretensioso. Nosso verdadeiro adorno deve ser o caráter do Salvador. Somente quando refletimos Seu espírito abnegado somos capazes de amar verdadeiramente o próximo e viver em harmonia com a lei de Deus.

Por fim, é importante lembrar que a modéstia cristã não se resume a um conjunto rígido de regras externas, nem deve ser usada como instrumento de dominação ou julgamento. Ela é expressão de um princípio mais amplo, que envolve não apenas o vestir, mas também a fala, as intenções e o comportamento — aplicável tanto a homens quanto a mulheres. A verdadeira modéstia nasce de um coração rendido a Deus e desejoso de honrá-Lo em todas as dimensões da vida.

Terceiro: O louvor reverente

O louvor reverente vai muito além do simples silêncio exterior. Ele envolve apresentar-se diante do Senhor com um coração agradecido, submisso e verdadeiramente humilde. Significa entoar cânticos que conduzam à reverência, livres de ritmos extravagantes que desviam a mente da adoração. Significa proclamar a Palavra de Deus, e não discursos moldados pela sabedoria humana. É adotar a atitude expressa por Samuel: “Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve” (1 Samuel 3:10).

Diante disso, precisamos fazer uma pergunta honesta: por que deveria prevalecer a minha vontade e não a vontade de Deus, se no momento do batismo assumimos o compromisso solene de reconhecer os princípios bíblicos ensinados pela Igreja Adventista do Sétimo Dia e de ordenar a vida de acordo com esses princípios, pela graça de Deus?

Infelizmente, tanto jovens quanto adultos têm relativizado a questão da música no culto, fazendo pouco caso do uso de músicas espiritualmente inadequadas simplesmente porque lhes agradam ou proporcionam prazer emocional. O critério adotado por muitos para avaliar a música tem sido, com frequência, a preferência pessoal.

Entretanto, essa questão não se resume a gosto ou opinião individual; trata-se de princípios. Nossas escolhas no culto devem estar em harmonia com os valores bíblicos, e não baseadas naquilo que produz apenas bem-estar momentâneo. O gosto pessoal não é um guia seguro, pois é moldado por influências culturais, sociais e, inevitavelmente, pela realidade do pecado.

Há também aqueles que avaliam a música apenas pelo fato de mencionar o nome de Jesus. Esse critério superficial abre espaço para mensagens perigosas, estilos carismáticos e propostas musicais do tipo pop gospel ou rock gospel, cujo resultado é o enfraquecimento da fé nos pilares da mensagem bíblica. A música deixa de ser instrumento de adoração e passa a ocupar um papel recreativo, voltado à satisfação dos sentidos humanos, e não à glorificação de Deus.

Não basta que uma música contenha referências a Deus, citações bíblicas ou ideias religiosas para que ela seja espiritualmente edificante. O louvor verdadeiro envolve forma, conteúdo, propósito e espírito — todos submissos à vontade divina. Quando isso é compreendido, a música volta a ocupar seu devido lugar no culto: conduzir o coração do adorador à reverência, à obediência e à exaltação exclusiva do Senhor.

5. 1. Os Princípios bíblicos e do Espírito de Profecia

a) Distinção entre o santo e o profano (Lv 10:10). Há um conceito filosófico de música evangélica que defende a ideia de que é preciso alcançar a pessoa no nível em que está, em sua cultura e seus costumes. Portanto, se um jovem gosta de rock, faça-se um rock gospel para atraí-lo e agradá-lo, se outro gosta de pop, faça-se um pop gospel, se um outro jovem gosta de forró, faça-se um forró gospel, se outro aprecia música romântica, ofereça-lhe uma suave balada gospel.

Seria este o método de Deus? Jesus desceu à Terra, misturou-se com os piores pecadores, conviveu com eles, mas nunca rebaixou suas normas e padrões para conquista-los.

Reconhecemos com espanto e a maior tristeza que, “Babilônia” e suas filhas, prostituíram-se também na música. Vai-se hoje numa igreja evangélica e ouve-se rock, rock mesmo. Bateria, guitarra, e o som inconfundível do rock. O barulho é o mesmo, a ginga e o balanço são os mesmos, tudo igualzinho.

Aos que apreciam estes novos estilos gospel, letras evangélicas com melodias mundanas (rock, samba, country, jazz gospel, etc), alertamos: “As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do Espírito Santo (...) Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira porque é dirigido” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas [CPB, 1988], v. 2, p. 36 e 38).

Ellen White escreveu essas palavras ao relembrar episódios de fanatismo ocorridos no passado do movimento adventista, especialmente no início do século XX (como o caso de Indiana), em que havia exaltação emocional extrema, uso de música barulhenta, repetitiva e desordenada, típica das músicas gospel da atualidade; confusão entre agitação física, êxtase emocional e a verdadeira obra do Espírito Santo. Ela afirma que aquilo era chamado de “operação do Espírito Santo”, mas não o era. Tratava-se de uma contrafação.

Ao usar a palavra “carnaval”, Ellen White está empregando uma linguagem simbólica forte, para indicar perda de reverência, estímulo dos sentidos acima da mente, supressão da reflexão, da razão e da convicção profunda, uma atmosfera que excita o corpo, mas não transforma o caráter.

Para ela, o verdadeiro Espírito Santo convence do pecado, produz arrependimento, conduz à obediência e santificação, e atua em harmonia com a Palavra de Deus. Já o falso entusiasmo produz euforia momentânea, confunde barulho com poder e troca profundidade espiritual por sensação.

A música por meio da qual adoramos a Deus precisa, necessariamente, distinguir-se da música do mundo. No entanto, observa-se que muitos cristãos têm incorporado, cada vez mais, elementos populares e seculares à chamada música religiosa. Lamentavelmente, esse movimento também tem alcançado compositores, músicos e cantores adventistas, que acabam absorvendo a estética e a lógica do pop gospel e levando esse tipo de música para dentro da igreja.

Esse fenômeno tornou-se tão significativo que levou a Igreja Adventista do Sétimo Dia, por meio da Conferência Geral de 2005, a elaborar e votar um documento oficial sobre a Filosofia Adventista do Sétimo Dia em Relação à Música, o qual expressa claramente o posicionamento da Igreja quanto aos princípios que devem nortear o louvor. Não se trata de opinião pessoal ou preferência cultural, mas de um entendimento coletivo, bíblico e institucional.

Infelizmente, muitos dos que promovem essa mistura não percebem que o resultado é uma mensagem contraditória. Esquecem que a letra, por mais espiritual que seja, não santifica um estilo musical profano. A combinação de palavras sagradas com estilos musicais concebidos a partir de valores contrários ao cristianismo constitui uma desonra a Deus e um rompimento com o princípio bíblico da separação entre o santo e o profano, conforme ensina o apóstolo Paulo: “Que comunhão há entre a luz e as trevas?” (2 Co 6:14–16).

As Sagradas Escrituras nos oferecem um alerta solene ao relatar o pecado de Nadabe e Abiú, que trouxeram “fogo estranho” diante do Senhor, algo que Ele não havia ordenado (Lv 10:1–10). De forma semelhante, quando se introduz no culto um louvor moldado por estilos seculares, ainda que revestido de linguagem religiosa, corre-se o risco de oferecer a Deus aquilo que Ele não pediu e não aceita.

É com profunda tristeza que se percebe que muitos, mesmo dentro da igreja, acabam trazendo esse “fogo estranho” ao altar do Senhor: letras que exaltam a Cristo unidas a estilos musicais que têm origem, propósito e efeito incompatíveis com a reverência, a santidade e a adoração verdadeira. O chamado bíblico, especialmente para o povo que aguarda a breve volta de Cristo, é para um culto que honre a Deus não apenas no conteúdo das palavras, mas também na forma e no espírito com que Ele é adorado.

Ellen G. White diz-nos que essa mistura do bem com o mal foi a mesma técnica usada por Satanás para causar a queda do homem. “Pela mistura do mal com o bem, sua mente tornou-se confusa” (Educação, p. 25).

b) Princípios no Manual da Igreja. “Devemos exercer grande cuidado na escolha da música no lar; nos encontros sociais, nas escolas e igrejas. Toda melodia que partilhe da natureza do jazz, rock ou forma híbridas relacionadas, ou toda linguagem que expresse sentimentos tolos ou triviais serão evitadas” (p. 154). Isso significa que a liderança da Igreja Adventista do Sétimo Dia desaprova qualquer tipo de música que nos faça lembrar os ritmos musicais descritos acima. Mas por quê?

Ellen G. White escreveu, em seu livro Patriarcas e Profetas, que “a música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais. O devido treino da voz é um aspecto importante da educação, e não deve ser negligenciado. O cântico, como parte do culto religioso, é um ato de adoração, da mesma forma que a prece. O coração deve sentir o espírito do cântico, a fim de dar-lhe a expressão correta” (p. 594).

Ao afirmar que “a música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais”, Ellen White estabelece o padrão de referência da música cristã:

·        A música não nasce da cultura humana, mas tem origem celestial;

·        O culto terrestre deve refletir, ainda que imperfeitamente, a ordem, harmonia e reverência do céu;

·        A música no culto não é entretenimento, mas antecipação da adoração eterna (Ap 5:9–13).

Portanto, o critério não é gosto pessoal ou moda, mas: isso reflete o caráter e a santidade de Deus?

Ellen White ensina claramente que o cântico cristão deve refletir, ainda que imperfeitamente, a harmonia reverente dos coros celestiais, elevando a mente e o coração a Deus. À luz desse princípio, grande parte da música gospel contemporânea distancia-se desse ideal, pois tende a enfatizar excessivamente o ritmo e a excitação emocional, muitas vezes em detrimento da reverência, do equilíbrio e da edificação espiritual. Quando a emoção se torna o centro, corre-se o risco de substituir a adoração consciente por mera estimulação dos sentidos, enfraquecendo o propósito sagrado do louvor.

Ellen White não está defendendo perfeição artística elitista, mas intencionalidade espiritual: fazer o melhor possível para Deus.

Aliás, devo dizer que uma ordem divina não foi dada para ser questionada, mas acolhida com humildade e incorporada à nossa própria vontade. Estamos, de fato, dispostos a isso?

Ouve-se com frequência a pergunta: “Como será a música no Céu? Que referência terrena pode nos servir de parâmetro?”

Com sincero amor fraternal, convido você a fazer um exercício simples: pegue sua playlist preferida, coloque-a para tocar e, então, feche os olhos. Agora, imagine que, no lugar do cantor ou da cantora, esteja o seu anjo protetor entoando aquelas músicas. Tente visualizá-lo acompanhado por uma bateria marcando o ritmo de forma intensa, talvez até contrariando o equilíbrio e a harmonia natural da música.

Vá além: imagine esse mensageiro celestial - seu representante diante de Deus e seu mais fiel amigo - tendo dificuldade de retornar ao Céu porque fãs o cercam, pedem fotos, autógrafos e disputam seu mais novo lançamento “pop-gospel”.

Essas cenas lhe parecem coerentes? Se não, seja honesto consigo mesmo: talvez a música que você pratica não esteja voltada para agradar a Deus, mas para exaltar o próprio ego, ainda que, inadvertidamente, acabe servindo aos propósitos do inimigo de nossas almas.

Uma segunda aplicação é que a irmã White fala da harmonia dos coros celestiais. Pergunto: harmonia e coro são palavras adequadas para identificar a prática do solo nos cultos que apresentamos a Deus atualmente? Aliás, a irmã White nos orienta que devemos evitar essa prática. Por que se insiste tanto em questionar ordens dadas por Deus, aquele a quem dizemos que direcionamos nosso “louvor”?

Terceiro, Se um pastor, separado para um ministério específico, antes de subir a este púlpito, dedica anos ao estudo da oratória, da homilética, da teologia bíblica, do hebraico, do grego e de tantas outras disciplinas, tudo isso com um único objetivo — apresentar a verdade com clareza e alcançar uma alma sedenta — por que razão a música, que também faz parte do culto, tantas vezes é oferecida sem preparo técnico e, sobretudo, sem preparo espiritual?

Falo com responsabilidade, porque sei do que estou dizendo. Já presenciei situações em que pessoas, ao serem chamadas para cantar ou tocar, levantam-se com entusiasmo excessivo, trocam sorrisos pelo caminho, quase como se dissessem: “Agora chegou a minha vez.” Concluída a apresentação, não retornam ao lugar para continuar adorando com a igreja, pois precisam divulgar seu “trabalho” - às vezes até em pleno sábado.

Amigos, não me interpretem mal. A música no culto não existe para exaltar o músico, mas para glorificar a Deus. Ela não é um intervalo entre partes importantes do programa; ela é mensagem. Ela ensina doutrina, molda o pensamento e prepara o coração tanto quanto um sermão bem elaborado.

Ainda assim, muitos justificam práticas questionáveis dizendo: “Deus conhece o coração.” E é verdade, Deus conhece o coração. Mas desde quando isso elimina a importância da forma como O adoramos? Se o coração fosse o único critério, por que Deus exigiria preparo, reverência e excelência na pregação da Palavra?

A verdade é que, quando a música perde seu propósito espiritual, corre o risco de se tornar palco, performance e autopromoção. E o culto deixa de ser centrado em Deus para girar em torno do ser humano.

Que o Senhor nos ajude a compreender que tudo o que fazemos aqui - seja pregando, cantando ou tocando - deve ser feito com preparo, reverência e submissão à Sua vontade, para que, em tudo, Ele seja glorificado e Sua igreja edificada.

Devemos ter consciência de que Deus sabe de nossas capacidades e de nossas limitações. Mas Ele sabe também que está à nossa disposição toda a orientação divina publicada quanto à adoração. Cabe a nós ser humildes o suficiente para reconhecer nossas limitações e buscar o conhecimento necessário para um louvor aceitável.

c) Princípios no Documento Oficial Sobre Filosofia de Música Adventista da AG. “Deve haver cuidado especial para não serem utilizadas músicas que apenas agradem os sentidos, tenham ligação com O CARISMATISMO, ou tenham PREDOMINÂNCIA DE RITMO”. (Seção IV Louvor Congregacional, parágrafo 14; https://www.adventistas.org/pt/musica/2017/08/21/filosofia-adventista-relacao-musica/

d) Princípios do Espírito de Profecia. Caros irmãos e irmãs, leiam o que a mensageira do Senhor falou sobre este assunto: “A música forma uma parte do culto de Deus nas cortes do alto. Devemos esforçar-nos em nossos cânticos de louvor, por aproximar-nos o mais possível da harmonia dos coros celeste. Tenho ficado muitas vezes penalizada ao ouvir vozes não educadas, elevadas ao máximo diapasão, guinchando positivamente as palavras sagradas de algum hino de louvor. Quão impróprias essas vozes agudas, estridentes, para o solene e jubiloso culto de Deus! Desejo tapar os ouvidos, ou fugir do lugar, e regozijo-me ao findar o penoso exercício. Os que fazem do canto uma parte do culto divino, devem escolher hinos com música apropriada para a ocasião, não notas de funeral, porém melodias alegres, e todavia solenes. A voz pode e deve ser modulada, suavizada e dominada." (Evangelismo, págs. 507 e 508)

“Tenho ouvido em algumas de nossas igrejas solos completamente inadequados ao culto na casa do Senhor. As notas prolongadas e os floreios, comuns nas óperas, não agradam aos anjos. Eles se deleitam em ouvir os simples cânticos de louvor entoados em tom natural. Unem-se a nós nos cânticos em que cada palavra é pronunciada claramente, em tom harmonioso. Eles combinam o coro, entoado de coração, com o espírito e o entendimento” (Evangelismo, p. 510).

“Pensam alguns que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é música. O bom canto é como a melodia dos pássaros - dominado e melodioso” (Evangelismo, p. 510).

Nessa citação Ellen G. White está corrigindo uma compreensão equivocada do louvor, muito comum em contextos religiosos atual: a ideia de que volume e intensidade equivalem a qualidade espiritual ou musical. Ao afirmar que “quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem” é um engano, Ellen White ensina que: Música não é medida pelo volume, mas pela harmonia, equilíbrio e clareza. Música barulhenta pode mascarar a melodia e destruir a beleza do cântico. Esse tipo de música eleva os sentidos, mas não necessariamente o espírito.

Para ela, barulho desordenado não edifica, não eleva a mente a Deus e pode até afastar a reverência do culto.

O louvor de adoração a Deus é comparada com “a melodia dos pássaros”. E isso é muito significativo. Assim como o canto dos pássaros não é estridente nem forçado, o louvor cristão deve ser dominado, não impulsivo; melodioso, não agressivo aos sentidos; resultado de disciplina, não de exagero.

Em termos simples, Ellen White está dizendo: Louvor verdadeiro não é grito nem barulho, mas beleza harmoniosa, domínio e reverência. O canto que agrada a Deus é equilibrado, melodioso e espiritualmente controlado.

“Aquele que nos tem concedido todos os dons que nos capacitam a ser coobreiros com Deus, espera que Seus servos cultivem suas vozes, a fim de que possam falar e cantar de modo que todos compreendam. Não é necessário um cântico ruidoso, mas entoação clara, pronúncia correta e expressão vocal distinta. Que haja tempo para o cultivo da voz de modo que o louvor a Deus possa ser entoado em tons claros e suaves, não com aspereza e estridência que ofendem o ouvido” (Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2007, Vol. 9, p. 143, 144). De acordo com Ellen White, Deus espera que Seus servos cuidem e desenvolvam a voz para que o louvor e a mensagem sejam claros, compreensíveis e reverentes. Músicas barulhentas e estridentes não cumprem o propósito do louvor cristão, que é glorificar a Deus e edificar a igreja. Quando o volume excessivo e a excitação dos sentidos se tornam centrais, a atenção se desloca da mensagem para a experiência emocional, enfraquecendo a reverência e a compreensão espiritual. O verdadeiro louvor conduz à reflexão, à ordem e à elevação da mente, promovendo edificação coletiva e não apenas impacto sonoro.

“Que haja canto no lar, de hinos que sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e mais de animação, esperança e alegria” (Educação, p. 167). A expressão “hinos que sejam suaves e puros” aponta para dois critérios:

Suavidade: música que acalma, harmoniza e promove paz;

Pureza: letras elevadas, bíblicas, moralmente saudáveis e espiritualmente edificantes.

Ellen White exclui, portanto, músicas agressivas, excitantes ou moralmente vazias, a exemplo das músicas pop gospel e rock gospel, pois elas não produzem o efeito desejado no lar.

Permanecerá a igreja de Laodiceia, em sua mornidão espiritual e autossatisfação, indiferente aos perigos que a cercam? Permitirá que costumes, normas e valores do mundo modifiquem, de forma lenta e quase imperceptível, sua identidade distinta e seu chamado santo? Chegará o tempo em que a música do mundo será plenamente assimilada como música da igreja?

Diante dessas perguntas solenes, impõe-se uma questão ainda maior: o que, afinal, declara a Palavra de Deus a respeito dessas coisas?

A resposta, cabe aos responsáveis pela liderança da Igreja nestes tempos solenes, e aos que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela (Ezequiel 9:4).

CONCLUSÃO 

O profeta disse: “Perguntai pelas veredas antigas”. Perguntar é, quase sempre, uma atitude de humildade. Significa reconhecer que não sabemos tudo nem temos todas as respostas. É estar disposto a ouvir e aprender. Aquelas pessoas deveriam perguntar aos mais velhos e experientes, aos que conheceram os bons tempos de Israel, quando o povo era fiel ao Senhor.

Jovem, pergunte aos seus pais e líderes cristãos a respeito do bom procedimento (Dt 32:7). Esse tipo de informação ainda é gratuito. Descobrir o bom caminho e andar por ele trará excelente resultado: “Achareis descanso para as vossas almas”. Hoje, a despeito de todo o desenvolvimento científico e tecnológico, o que mais falta às pessoas é a paz, o descanso da alma.

Voltemos para as veredas antigas. Elas não são antiquadas, pois a Palavra de Deus não envelhece. É sempre atual.

Se você é músico ou cantor, volte para as veredas antigas. Se você é pastor ou líder, volte para as veredas antigas. Se você é professor, volte para as veredas antigas. Se você é médico missionário, volte para as veredas antigas! Se você deseja morar no reino eterno, volte para as veredas antigas. Ande de mãos dadas com Jesus por essas veredas de paz.

Qual será a nossa resposta? Diremos como Judá: “Não andaremos nele”? Ou aceitaremos o convite do Senhor para voltar às veredas antigas, caminhar com Ele e encontrar descanso para a alma?

Hoje é dia de decisão. Hoje é dia de retorno. Hoje é dia de andar no bom caminho.

 

 

 


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