“APOCALIPSE NOS TRÓPICOS”: DOCUMENTÁRIO QUE DESNUDA PLANO NEFASTO DE PODER DOS EVANGÉLICOS
Ricardo
André
Nesta segunda-feira
(14/07), assisti o documentário “Apocalipse nos Trópicos”, já disponível na
plataforma de streaming Netflix, da
cineasta brasileira Petra Costa, indicada ao Oscar por “Democracia em
Vertigem”, em 2019.
O filme é dirigido e
narrado por ela, dividido em cinco “atos”, apresentados
como capítulos e um epílogo, e mergulha nos bastidores do crescimento das
igrejas evangélicas no Brasil e no papel determinante que líderes religiosos
passaram a exercer nas decisões políticas da última década, a exemplo dos
pastores Silas Malafaia e Edir Macedo. O documentário revela a visão teocrática
de Malafaia e sua busca por um Brasil que se torne um Estado teocrático. Causou-me
estupefação ao perceber a alarmante relação nítida entre religião, poder e política
no mundo evangélico revelada pela trama, num um período de instabilidade e
polarização política no país.
Por meio de entrevistas
e falas do pastor Silas Malafaia, o documentário desnuda claramente o plano
político dos evangélicos para tomada de poder no Brasil, tornando-se uma ameaça
à democracia, pois os evangélicos no poder pode levar à imposição de uma visão
religiosa específica sobre a sociedade, restringindo a liberdade religiosa e a
diversidade. Ao entrelaçar o presente com passagens marcantes do passado
recente, o documentário expande sua reflexão para além das fronteiras
brasileiras, propondo um olhar universal sobre o avanço do fundamentalismo
religioso e seus efeitos sobre instituições democráticas.
Como todo mundo que já
assistiu a produção brasileira, fiquei muito impressionado com o papel fundamental
dos Estados Unidos da América do Norte no fenômeno de crescimento
das igrejas evangélicas, quando enviou para o Brasil diversos missionários durante
a ditadura civil-militar (1964-1985). O filme mostrou com provas que o grupo de
lobby estadunidense chamado The Family
(A Família) enviou missionários ao Congresso Nacional para evangelizar
parlamentares, desde os anos 60 até o fim da ditadura militar. É
mostrado no filme imagens e vídeos desses missionários fazendo “cafés da manhã
de oração nacional”.
O filme revela, por
meio de documentos, que o esforço do governo dos Estados Unidos em impulsionar as
igrejas evangélicas no Brasil ocorreu por conta de que, à época, o secretário de
Segurança americana e de Relações Exteriores, Henry Kissinger, e outras pessoas
do governo tinham percebido que a Igreja Católica, com a Teologia da Libertação,
estava se alinhando muito com o movimento de esquerda, que eram contrários aos
interesses americanos. Então o plano era de que o Brasil se
tornasse um país evangélico para não ter essa influência subversiva que eles
achavam que havia na Igreja Católica. Certamente, foi um plano que obteve êxito.
De lá pra cá, as igrejas evangélicas não pararam de crescer, correspondendo hoje
a 26,9% da população brasileira, representando desse modo uma importante força
política no país. Havia uma previsão da ultrapassagem dos evangélicos sobre os
católicos até 2030. Porém, essa previsão deverá sofrer um ajuste, uma vez que os
dados do Censo de 2022, revelaram que houve uma desaceleração no crescimento
dos evangélicos. O pastor Silas Malafaia e outros pastores neopentecostais, por
exemplo, projetavam que os evangélicos seriam 30% até antes de 2030 e isso não
se realizou.
É imprescindível
ressaltar aqui, que os missionários e pregadores americanos enviados ao Brasil
durante a ditadura civil-militar (1964-1985), vieram com discurso anticomunista.
Um exemplo emblemático mostrado no filme foi a vinda de Billy Graham - pastor
altamente respeitado pelos evangélicos - ao Brasil em 1974, fez grandes cultos
no Maracanã, no Rio de Janeiro. E um de seus discursos alertava sobre o perigo
do comunismo para o cristianismo. À época, a ditadura televisionou isso em
todos os canais, gerando comoção no país. Não podemos ignorar que tudo isso
aconteceu justamente no período da Guerra Fria, período marcado pela disputa
ideológica entre capitalismo e socialismo, capitaneada pelas duas superpotências
da época: EUA e URSS. E, Billy Graham e os missionários estadunidenses foram
instrumentalizados pelo governo americano no seu plano de combate ao fantasma
do comunismo na região.
A
ESTRATÉGIA DOS EVANGÉLICOS PARA ASCENDER AO PODER POLÍTICO
O terceiro ato do
filme, denominado “Domínio”, trouxe à baila o plano do pastor Silas Malafaia e dos
demais pastores no Brasil, alinhados a extrema direita, de conquistar o poder
político no Brasil. A estratégia política, especialmente de algumas igrejas
neopentocostais para dominar o país é denominado de “Teologia do Domínio” ou “dominionismo”,
desenvolvida primeiro nos Estados Unidos nas décadas de 1970 e 1980, e depois
importada para o Brasil. O filme não aprofunda essa teologia, sequer cita
explicitamente a expressão “Teologia do Domínio”, limita-se apenas a mostrar
Silas Malafaia pedindo votos e condicionando apoio político à pauta moral, e Bolsonaro
aparece como alguém raptado pela promessa de nomear um ministro evangélico ao
STF, que seria o André Mendonça. Mas aqui vamos aprofundar um pouco mais a
respeito dessa temática relevante.
Um conceito relacionado
a Teologia do Domínio é o “Mandato
das Sete Montanhas”, ou 7M, que
propõe que os cristãos devem buscar dominar sete áreas-chave da sociedade:
família, religião, educação, mídia, artes e entretenimento, negócios e governo,
com o objetivo final de estabelecer um reino cristão global e preparar o
retorno de Cristo.
A base bíblica para o
movimento é derivada de uma interpretação equivocada de Apocalipse 17:1-18,
onde o versículo 9 diz: “Aqui
está a mente que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes[...]” (NAA). Segundo seus proponentes, esses “setes montes”
representam as sete áreas mencionadas acima, que o movimento acredita que
influenciam a sociedade e são dominadas pelos “demônios”. Cabe então aos cristãos influenciar essas
áreas tomando-as dos demônios. Eles acreditam que a missão dos cristãos de
influenciar o mundo por meio dessas sete esferas é justificada por Isaías 2:2: “Nos
últimos dias, o monte do templo do Senhor será estabelecido no alto dos montes
[...]” (NAA). Os evangélicos acreditam que,
ao cumprir o Mandato das Sete Montanhas, podem estabelecer o reino de Deus na
Terra e trazer o fim dos tempos.
Para colocar em
execução esse plano de poder político, os pastores influentes de grandes
igrejas evangélicas, ao longo dos últimos 17 anos começaram, em suas pregações
e cursos, a convencer os fiéis de que há uma guerra se desenrolando em nosso
país, uma guerra entre o bem e o mal, uma “guerra santa”. Depois, passaram a
convocar os fiéis a participarem efetivamente, de diversas formas, dessa
suposta “guerra espiritual”. E uma dessas formas de participação
na “guerra santa” é votar e defender candidaturas de pastores ou de evangélicos
ligados a esses pastores para os diversos cargos políticos. É exatamente essa
estratégia de “guerra santa” que explica a entrada em campo de centenas de
pastores e milhares de evangélicos na extrema direita. Portanto, pastores ou
líderes de igrejas descobriram a “fórmula” de se elegerem ou elegerem seus
associados. Eles exercem forte influência ou coação sobre seus fiéis para que
votem em candidatos específicos. Na realidade, essa prática contraria o
princípio de liberdade religiosa e a laicidade do Estado, pois implica em
direcionar o voto com base em crenças e não em escolhas individuais. Essa
prática horrorosa é chamada de "voto de cajado", e faz referência à
ideia de que os fiéis seguem o líder religioso como se fossem um rebanho
seguindo seu pastor, utilizando o cajado como símbolo de direção e controle.
Se você convencer eles
da realidade da desigualdade social, e meia hora depois eles assistirem uma
pregação do pastor, vale a pregação. E a pregação sendo um absurdo. Basta o
pastor dar uns gritos e uns socos no púlpito que o crente fica extasiado.
Para engajar os evangélicos nessa
luta contra o mal, eles se utilizam do velho discurso do perigo comunista. Segundo
esses pastores, os “esquerdistas” ou “comunistas” possuem um suposto “plano”
para destruir a cultura ocidental, essencialmente marcada pelos valores
judaico-cristãos. E, essa destruição ocorreria por meio de ataques culturais
que desprezariam os valores do cristianismo, da família cristã e da nação,
abrindo espaço para uma nova visão de mundo e um sistema de controle,
envolvendo liberação sexual e um declínio moral e estético, bem como
a aprovação de leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras
coisas, que gradualmente implantaria o socialismo no Brasil e no mundo.
Ora, se os pastores e intelectuais religiosos de
extrema direita dizem que o diferente e os esquerdistas vão destruir os valores
e tradições do cristianismo, pregam então que apenas uma “guerra cultural”
imediata contra tais demônios trará a verdadeira paz no Brasil e no mundo. É a partir dessas ideias
enganosas potencializadas pelas redes sociais que a extrema-direita
mobiliza os cristãos de todos os matizes em torno dos seus objetivos e os atrai
para seu campo político. De modo que nesses últimos 17 anos um movimento
fundamentalista religioso tomou força e se aliou a extrema direita, defendendo
a proteção e a restauração de valores cristãos, já que esses estariam
supostamente “sob ataque”. O documentário aborda a retórica de Malafaia, que clama por uma geração
que "faça a diferença". Essa frase, que ecoa um individualismo
neoliberal, é utilizada para justamente mobilizar seus seguidores em torno de
uma agenda política.
Contaminados por essa teoria conspiracionista,
denominada de “Marxismo Cultural”, os cristãos nos EUA, Brasil e em outras
partes do mundo acreditam estar participando de uma guerra entre o bem e o mal,
uma guerra espiritual. Portanto para eles, eleger políticos neofascistas como
Donald Trump e Jair Bolsonaro é batalhar por Deus, pois estão salvando a
família e a pátria do comunismo. Nas eleições presidenciais de 2018 e 2022, os
evangélicos acreditavam piamente que estavam lutando (física e espiritualmente)
contra o mal encarnado em Lula, um “político das trevas”, “diabólico”,
corrupto, que usurpou o sistema político a fim de reintroduzir no Estado
Brasileiro o projeto satânico da esquerda de destruição da família, da Igreja
e, por fim, de toda a civilização judaico-cristã. Acontece que os líderes evangélicos para defender
os chamados valores cristãos e da família pregam o ódio, a intolerância, o
desrespeito ao outro que pensa ou vive de modo diferente daquele que julgam ser
o correto.
Para além da campanha presidencial, alguns líderes
das igrejas evangélicas fundam e filiam-se a partidos políticos de direita para
elegerem vereadores, prefeitos, governadores e deputados estaduais, deputados
federais e senadores, vistos pelos evangélicos como “servos de Deus” ou
“ungidos do Senhor” para dominar a política. Tomando o poder, a nação será uma
nação consagrada ao Senhor Jesus, pensam eles. Essa é a lógica da “Teologia do
Domínio”.
Há anos que os evangélicos de extrema-direita
formaram uma “bancada evangélica” no Congresso Nacional, apelidada de “Bancada
da Bíblia”, que não para de crescer, no embalo dos templos neopentecostais dos
bispos eletrônicos espalhados por todo o país. Ocorre que ela vem votando
sistematicamente contra a democracia, o Brasil e o povo brasileiro sem que uma
parcela considerável dos evangélicos percebam. Ela é campeã
no apoio maciço a projetos que penalizam e sacrificam ainda mais os que já não
têm nada. E todos sabem que a maioria esmagadora dos evangélicos pertence à
parcela mais pobre da população.
A bancada evangélica, com raras e honrosas exceções,
nos últimos tempos apoiou: A farsa do golpe parlamentar, sem crime de
responsabilidade, que tirou do governo uma presidenta honesta, para pôr no seu
lugar um bando de criminosos; A emenda que congelou gastos com saúde e educação
públicas por 20 anos; A mudança na lei do petróleo, que entregou as riquezas
abundantes de óleo da camada do pré-sal aos estrangeiros, verdadeira traição à
pátria; A reforma trabalhista, que liquidou com a CLT (o que nem a ditadura
militar ousou), roubando direitos históricos da classe trabalhadora e abrindo
caminho para a hiperexploração dos que vivem de seu trabalho; Apoiou o projeto
de terceirização irrestrita, inclusive da atividade fim, que destruirá
categorias profissionais e provocará a precarização generalizada do mundo do trabalho.
Exemplo: em vez de contratar um bancário ou um metalúrgico, respeitando os
direitos conquistados por seus sindicatos, o empregador optará por um
terceirizado, com salário menor e sem direitos; Vários projetos de lei e de
emendas constitucionais que representam retrocessos em direitos e garantias
sociais alcançados ou em processo de conquista são articulados por estes
grupos. Entre eles estão a liberação do porte de armas, a redução da maioridade
penal, a privação dos povos indígenas ao direito aos seus territórios, a
obstrução ao direito ao aborto legal em caso de estupro, o desprezo ao Estado
Laico com a imposição de princípios religiosos específicos sobre todos os
cidadãos e cidadãs, entre outros. Mais recentemente votaram para derrubar os
decretos do Presidente Lula que aumentavam o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF). A arrecadação desses recursos tinha o objetivo de, entre
outros, evitar cortes nos recursos dos programas sociais, da saúde e da
educação.
A EXTREMA DIREITA CRISTÃ E OS ATAQUES
GOLPISTAS DO DIA 08 DE JANEIRO
Ao longo do filme, a narrativa se desloca para
eventos marcantes, como o 8 de janeiro, e as instigações golpistas que
precederam essa data. Inconformados com os resultados das eleições de 2022, que
sagraram a vitória do candidato de centro-esquerda Luiz Inácio da Silva,
milhares de cristãos tanto católicos como evangélicos bolsonalistas armaram
acampamentos em frente a vários quartéis generais no Brasil. E permaneceram ali
durante dois meses, preparando-se para um ataque golpista que pretendia demover
do poder o Presidente Lula, eleito democraticamente pela maioria dos eleitores
brasileiro. Esses acampamentos receberam apoio do alto comando do Exército e
foram financiados por empresários bolsonaristas, principalmente ligados ao
agronegócio. A tentativa de golpe aconteceu no dia 08 de janeiro de 2023,
quando milhares de bolsonaristas extremistas invadem os palácios dos Três
Poderes da República – o Planalto, o STF e o Congresso Nacional - e promovem um
quebra-quebra, destruindo as mobílias e muitos objetos de arte que fazem parte
do patrimônio cultural do Brasil, que chocaram o país e o mundo. Toda imprensa
internacional comentava, na TV e nos onlines, no domingo, a tentativa de golpe
de bolsonaristas.
O ataque a essas instituições da República
representou um ataque a democracia. O objetivo claro dos extremistas era
produzir o caos a fim de que as Forças Armadas entrassem com um golpe sob o
pretexto de garantir a lei e a ordem. Sem o apoio da comunidade internacional,
da mídia local e de grande parcela da população, a tentativa de golpe
fracassou. O novo governo tomou medidas rápidas e acertadas, a exemplo do decreto
de Intervenção Federal na segurança pública do Distrito Federal, que garantiu a
ordem e a segurança.
Importa ressaltar que esse triste episódio de
vandalismo visto em Brasília teve a participação efetiva dos cristãos
neofascistas, movidos por discursos religiosos ideológicos de diversos pastores
nas redes sociais. Tais discursos estavam eivados de pautas morais, o
conservadorismo da sociedade brasileira. Exatamente pautas que mobilizam esse
seguimento da sociedade. Nos vídeos divulgados nas redes sociais, e inseridos
no documentário de Petra, viu-se, de forma deprimente, alguns “crentes” de
joelhos orando, cantando hinos e erguendo a Bíblia Sagrada. Os pastores não
estavam presente nos acampamentos tampouco no dia do ataque golpista, mas
pavimentaram o caminho, legitimando os acampamentos bolsonaristas há meses e
atos dos extremistas. Alguns deles organizaram caravanas para levarem fieis a
Brasília. É um vitupério para o cristianismo! Pastores que deveriam ser
exemplos de pacificadores, de respeito às leis do país e a democracia, fizeram
exatamente o contrário, instigaram os fiéis a desobedecerem as leis e a
praticarem a violência.
Não podemos esquecer o efeito das pregações e os
gritos golpistas de Silas Malafaia nas redes, os apelos golpistas de Cláudio
Duarte e de outros pastores usando sem nenhum pudor a Bíblia Sagrada para
justificar suas falas antidemocráticas em favor de uma ditadura teocrática
bolsonarista. Certamente, em Brasília, no dia 08, havia, seguidores de Malafaia
e Duarte. Eles têm propagado um discurso de legitimação da morte e da
destruição, que é antibíblico e anticristão. Esse fato deplorável escancarou o
neofascismo das igrejas cristãs do Brasil.
AS PAUTAS DOS EVANGÉLICOS
EXTREMISTAS E AS SAGRADAS ESCRITURAS
As pautas e atitudes defendidas pelos cristãos de
extrema-direita não se coadunam com os valores expressos na Palavra de Deus. Eles, lamentavelmente, preconizam
o ódio, a intolerância, o desrespeito ao outro que pensa ou vive de modo
diferente daquele que julga ser o correto, contrariando o que Cristo sempre
pregou, que foi o amor ao próximo, amar o outro como a si mesmo. Ele
disse: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus 22:39, NVI).
Muitos evangélicos chegam ao absurdo de defenderem
a famigerada ideologia do “bandido bom é bandido morto”. Como subscrever tal
ideia, quando Jesus não hesitou em impedir o apedrejamento da mulher adúltera
(Jo 8:7) e ainda salvou o malfeitor pregado na cruz ao lado da sua (Lc 23:39)?
Bandido bom é aquele que é ressocializado e transformado. Com que cara
visitaremos os presídios para pregar o evangelho eterno depois de apoiar que
tem como slogan “bandido bom é bandido morto”? Cristãos que apoiam essa ideia
deveriam ler o texto em que Jesus censura Pedro que, mesmo agindo em legítima
defesa, lançaria mão de uma arma, o que apenas reproduz a violência (Mt 26:52).
Lembremo-nos de que “bem aventurados os pacificadores porque serão chamados
filhos de Deus” (Mt 5:9).
A escritora cristã norte-americana Ellen G. White
afirmou que, quando uma pessoa desenvolve “o espírito de ódio e vingança” por
outra, viola o sexto mandamento da santa Lei de Deus, que proíbe não matar (Êx
20:13). Ela escreveu: “Todos os atos de injustiça que tendem a abreviar a vida;
o espírito de ódio e vingança, ou a condescendência de qualquer paixão que leve
a atos ofensivos a outrem, ou nos faça mesmo desejar-lhes mal (pois "todo
aquele que odeia a seu irmão é assassino" I João 3:15) ... são, em maior
ou menor grau, violação do sexto mandamento” (Mente, Caráter e
Personalidade, v. 2, p. 527). E, ainda diz que “aquele que dá ao ódio um
lugar no coração, está pondo o pé no caminho do assassínio, e suas ofertas são
aborrecíveis a Deus” (Ibdem).
Portanto, os discursos de ódio e de violência de muitos cristãos bolsonaristas
contra os mais vulneráveis é profundamente anticristão, porque nega os
princípios bíblicos.
Defendem o armamento da população civil como
solução para a violência. Tal postura não se coaduna com o princípio cristão,
uma vez que incita o ódio. Ademais, Cristo Jesus veio para estabelecer a paz
(Lc 2:14, 29; 19:42), Ele ensinou a necessidade de paz (Mt 5.9). “Deixo-lhes
a paz; a minha paz lhes dou” (Jo 14:27). Pensando nessa carência de
harmonia e união entre os cristãos, Paulo escreveu aos colossenses: “Seja
a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em
um só corpo; e sede agradecidos” (Cl 3:15).
A bancada evangélica no Congresso Nacional sempre
vota em projetos conservadores e reacionários, que retiram direitos dos
trabalhadores, que privam os indígenas de usufruírem do direito aos seus
territórios, que reduz a maior idade penal para punir os menores em conflito
com a lei. As Sagradas Escrituras revelam um Deus amoroso, que ama cada pessoa
com cada fibra do Seu Ser, cuja maior revelação foi a encarnação de Jesus. Elas
dizem: "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho
Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João
3:16, NVI). A pauta do amor de Deus é justiça, despojamento e misericórdia. É a
preferência pelos mais fracos, chamados de “pequeninos”: os pobres, as
crianças, os negros, as mulheres, os desprezados, os presos, os estrangeiros.
Ele assegurou: “Sempre que o fizeram a um destes meus pequeninos irmãos, foi a
mim que o fizeram” (Mt 25:40) e “Sempre que o deixaram de fazer a um destes
mais pequeninos, foi a mim que o deixaram de fazer” (Mt 25:45).
A Bíblia ainda diz: "Erga a voz em
favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados.
Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos
necessitados" (Pv 31:8,9, NVI). Portanto, à luz das Sagradas
Escrituras, a busca da justiça social não é uma opção para os cristãos, mas um
mandado do Senhor.
No passado, movido pelo chamado de Deus e pela
compreensão de que Ele deseja a justiça, os profetas ousaram ser a voz dos
oprimidos (Is 1:17, 23 e 24; Mq 6:8; Ez 16:49). Deus ainda hoje pede que
busquemos a justiça social e lutemos contra a opressão e pelos direitos dos
pobres e excluídos. Como cristãos, antes que Cristo Jesus volte em glória e
majestade, devemos promover as mudanças sociais que refletem os valores e
ensinamentos de Jesus.
Erguer a voz para afirmar de forma abstrata que
defende a família e na prática defende amputar direitos trabalhistas,
previdenciários, dos indígenas e dos quilombolas, retirar dinheiro do SUS e da
farmácia popular é na prática pôr no corredor da morte milhões de famílias
empurrando-as para a fome, a doença e a morte lenta, como a tragédia que está
acontecendo com o povo Yanomami. Estes estão morrendo de fome e de doenças por
terem sido desprezados pelo governo Bolsonaro, e que negou ajuda a eles durante
seus quatro anos de governo, bem como, de forma criminosa, favoreceu a invasão
dos mineradores e madeireiros nas terras dos indígenas yanomais.
O
PLANO DE PODER DOS EVANGÉLICOS NÃO POSSUI APOIO BÍBLICO
As ideias de tomada de
poder pelos evangélicos são completamente contrárias aos princípios bíblicos. Até porque não há nenhuma orientação
nas Sagradas Escrituras no sentido de que os cristãos devem exercer o domínio
político no mundo. A instrução bíblica é de que devemos ser uma influência
positiva no mundo, ser testemunhas fiéis. A grande comissão que Jesus nos deu
não consiste em criar nações teocráticas nem dominar essas nações, mas atuar nelas
e parecer com Jesus, sendo luz e sal nesse mundo que vai de mal a pior (Mt
5:14-16; 2 Tm 3:13). "Sem uma viva fé em Cristo como Salvador
pessoal", escreveu Ellen G. White, "é impossível fazer com que nossa
influência seja sentida em um mundo cético. Não podemos dar a outros aquilo que
nós mesmos não possuímos. É proporcionalmente à nossa própria devoção e
consagração a Cristo, que exercemos uma influência para benefício e erguimento
da humanidade" (O Maior Discurso de
Cristo, p. 36). A Palavra de Deus ensina nitidamente que o reino eterno de
Deus será estabelecido na Terra, mas não será estabelecido por voto, nem por
revolução, nem por golpe de estado, mas pela intervenção do próprio Deus (Dn
2:44).
CONCLUSÃO:
O movimento evangélico no Brasil se aliançou com a
extrema direita fascista Todavia, definitivamente, o fascismo não combina
conosco. O discurso de vários líderes religiosos dá voz aos ódios
internalizados: ódio de classe, de gênero, de gays, das minorias. Ele congrega
vários ódios. Já passou, portanto, da hora de
os evangélicos abrirem os olhos para verem que são manipulados pelos pastores
políticos. Chegou a hora deles abandonarem o ideal fascista e voltarem-se para
o verdadeiro cristianismo, que possui o
Deus encarnado e amoroso como referência.
Se a comunidade evangélica decidir continuar ficar
do lado dos opressores dos fracos e daqueles que desejam fazer da violência o
centro de gravidade de um país, ela estará dando uma clara demonstração de que
o cristianismo não tem valor. Para isso, não existe perdão.
No cristianismo, a neutralidade quando a vida e os
direitos das pessoas estão em jogo é um pecado. O Deus cristão exige a coragem
de saber se posicionar contra os violentos, no pelotão dos indefesos condenados
ao esquecimento e principal alvo da violência.
Os evangélicos continuam crescendo no Brasil, mas
de forma mais lenta, como revelaram os dados de Censo de 2022. Esse fenômeno
ainda está sendo estudado. Preliminarmente, diversos estudiosos da religião têm
apontado várias razões, mas, indubitavelmente, a politização das igrejas
evangélicas é uma das causas da lentidão no crescimento. Muitos evangélicos
estão abandonando as igrejas, tornando-se “desigrejados”, exatamente por conta
da mistura de religião e política promovidas pelos seus pastores. Eles se
queixam que estão indo para o culto, não para ouvir sobre política, mas sim
sobre Deus, sobre a fé. Se os pastores insistirem em instrumentalizar a
religião para alcançar seus objetivos políticos e garantir seus interesses financeiros,
o números dos chamados “desigrejados” tende a aumentar.
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