ADVENTISTAS: POR QUE ELES ESTÃO REALMENTE AQUI?

Ricardo André

Na primeira metade do ano de 1984, tornei-me Adventista do Sétimo Dia, depois de participar de uma série de estudos bíblicos, num Evangelismo Público, realizado pela Igreja Adventista da Cidade do Cabo de Santo Agostinho/PE. Convencido de que os ensinos e crenças adventistas estavam em perfeita harmonia com as Sagradas Escrituras, decidi me batizar no dia 17 de agosto de 1985. Era ainda uma criança com apenas 12 anos de idade, mas com uma firme convicção de que estava tomando a melhor decisão da minha vida, e de que Cristo estava conduzindo minha decisão.

Devo admitir que, em minha experiência de conversão ainda na tenra idade, algo que me chamou atenção na mensagem adventista foi o fato de fazer sentido em um mundo confuso. Aos 13 anos de idade, ao folhear a Bíblia do irmão Djair, que estava sentado ao meu lado na igreja, num sábado, notei que Daniel 8:14 estava marcado com tinta amarela. Ao lê-lo não entendi nada do conteúdo do versículo. Mas, senti que era importante porque o irmão, a quem admirava tinha marcado em sua Bíblia. Saí da igreja com aquele texto em minha mente. Quando cheguei em casa, embora não entendendo o significado do texto, com um marca-texto marquei-o na minha Bíblia também. A partir daquele dia passei a pesquisar com afinco sobre Daniel 8:14.

Comecei a ler os capítulos 18, 19 e 20 do livro O Grande Conflito, de Ellen G. White, intitulados “Uma Profecia Muito Significativa”, “Luz Para os Nossos Dias” e “Um Grande Movimento Mundial”. Depois de meses de estudos, descobri uma das mais belas doutrinas da fé cristã, a doutrina do santuário. Depois que aprendi a verdade como ela é em Jesus, não só fez sentido, como minha vida nunca mais foi a mesma. Descobri que a lógica e a coerência desse ensino era muito atraente, e pude compreender melhor o plano de Deus para me salvar e salvar a humanidade pecadora. Foi essa doutrina que me fez acreditar que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é um movimento profético suscitado por Deus em um momento específico para um propósito específico na história da Terra: transmitir uma mensagem profética ao mundo e proclamar o breve retorno de Cristo e outros ensinos que gravitam em torno da doutrina do santuário antes da colheita da Terra (Ap 14:14-20).

As crenças adventistas, notadamente a do santuário, não só faziam sentido, como também se sustentavam em um conjunto coerente – um conjunto de esperança em um Deus de amor que porá fim à longa e triste história do pecado de maneira harmônica com Seu caráter. A crença do santuário é um tema que mais aprecio ensinar nos estudos bíblicos com outras pessoas.

A doutrina bíblica do santuário é um ensino basilar da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Foi a interpretação e compreensão da profecia de Daniel 8:14 que deu origem a igreja e explica sua existência como uma entidade distinta dentro do Cristianismo. Compreendi perfeitamente tudo isso. Sinto-me feliz por ser adventista do sétimo dia - espiritual, intelectual, emocional e socialmente. Mas, afinal de contas, por que os adventistas estão realmente aqui?

OS ADVENTISTAS SURGIRAM PARA PERMANECER

O início da igreja foi pequeno e insignificante em meados do século XIX. Com a liderança de Tiago e Ellen White, juntamente com José Bates e outros, a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi oficialmente organizada em 1863, com a criação da Associação Geral dos IASD, com 3.500 membros. Em 21 de maio de 1863, 20 delegados de seis associações se reuniram em Battle Creek, Michigan, para formar a organização, representando cerca de 125 igrejas (Denis Fortin e Jerry Moon, Enciclopédia Ellen G. White [CPB, 2018], p.684; Enoch de Oliveira, A Mão de Deus ao Leme [CPB, 1988], p. 64). De lá pra cá, os Adventistas do Sétimo Dia cresceram e se tornaram um movimento mundial. Segundo o relatório da Secretaria Executiva da IASD ao redor do mundo, em 2022, a igreja chega a quase 22 milhões de membros em mais de 212 dos 235 países reconhecidos oficialmente. E continuamos a crescer.

Esses fatos são surpreendentes quando os comparamos com outra igreja que também surgiu do movimento milerita: a Igreja Cristã do Advento, que em 2006 tinha apenas 100.000 membros distribuídos em 30 países (Igreja Cristã Adventista, Wikipédia, acessado em 30 de junho de 2025).

Por que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem tido tanto sucesso? Não se trata apenas de termos uma compreensão melhor da verdade do que outros sistemas de fé. A vasta maioria das nossas doutrinas é compartilhada com outras denominações cristãs. Os Batistas do Sétimo Dia, por exemplo, descobriram o sábado bíblico no início do século XVII, mas contam com apenas 45.000 membros em 20 países (Batistas do Sétimo Dia, Wikipédia, acessado em 30 de junho de 2025).

Ao tentar descobrir por que a Igreja Adventista tem sido tão bem-sucedida, talvez valha a pena refletirmos no pensamento do antropólogo francês Gustave Le Bon (1841-1931): “O povo que perde a noção de seu passado, isto é, da sua história, das suas crenças, dos seus ideais, perde a sua alma e está fadado à decadência e ao desaparecimento”. A frase destaca a importância da memória coletiva e do conhecimento histórico para a identidade e sobrevivência de um povo. A frase sugere que a perda da conexão com o passado leva à perda da identidade, levando a um declínio e eventual desaparecimento. Gustave Le Bon, ressalta que a história, crenças e ideais de um povo são elementos fundamentais para sua identidade. A falta de consciência do passado pode levar à perda da alma, ou seja, da essência e identidade do grupo, tornando-o vulnerável à decadência e ao desaparecimento.

Indubitavelmente, um dos fatores do sucesso da Igreja Adventista está relacionado ao fato de que ela não esquece seu passado, sua história. Os adventistas possuem o entendimento de que é olhando para o passado que a Igreja do presente renova sua confiança na certeza de que o Movimento Adventista não existe por acaso neste mundo. Acreditam profundamente que a Bíblia apresenta claramente as credenciais que autorizam sua existência. Os livros de Daniel e Apocalipse esclarecem que a Igreja Adventista surgiu pela ação de Deus. Demonstram que o Adventismo tem origem e propósito.

Historicamente os adventistas encontraram Apocalipse 12:17 e 14:6-12 para descrever sua identidade e missão como povo remanescente de Deus no tempo do fim. O primeiro texto bíblico define o remanescente do tempo do fim como um grupo de pessoas que “guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus”. Em Ap 14:12, eles são descritos como os “santos” que guardam os mandamentos e têm a fé de Jesus, sendo considerados os últimos descendentes da igreja fiel de Jesus ao longo da história. Portanto, o remanescente na profecia apocalíptica é caracterizado pela sua fidelidade aos mandamentos divinos, incluindo o sábado como dia de descanso; e por possuir o testemunho de Jesus, o que se refere a manifestação no seu meio do dom profético. (Ap 19:10). “O remanescente será conduzido pelo testemunho de Jesus, manifestado através do dom de profecia. Esse dom do Espírito deveria funcionar continuamente ao longo da história da igreja, ‘até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo’ (Ef 4:13). Essa é, pois, uma das principais características do remanescente” (Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia [CPB, 2018], p. 216).

Além da obediência, o remanescente é marcado pela fé em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Este remanescente desempenha um papel crucial na proclamação do “evangelho eterno [...] a cada nação, e tribo, e língua, e povo”, no tempo do fim, que inclui a advertência sobre o juízo divino, a salvação através de Cristo e a segunda vinda de Cristo. Isso significa ultrapassar os limites territoriais, culturais e linguísticos para alcançar toda a população da Terra, apresentando a tríplice Mensagem Angélica descrita em Ap 14:6-12.

O teólogo e historiador da igreja adventista George R. Knigth afirma: “Devo admitir que sou adventista do sétimo dia hoje em parte porque somos a única denominação que conheço que prega a mensagem remanescente de Apocalipse 12:17-14:12, especialmente Apocalipse 14:6-12, as últimas três mensagens a ser proclamadas ao mundo antes do segundo advento, mencionado no fim do capítulo 14. Preferiria, no entanto, que houvesse centenas ou milhares de denominações pregando a mensagem remanescente de Apocalipse 14, em vez de simplesmente uma.” (A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo [CPB, 2010]. p. 80).

Para cumprir sua missão profética, o remanescente ao longo dos anos fundou instituições médicas e educacionais em muitas parte do Globo. Foram erigidas igrejas, escolas, hospitais e casas publicadoras para ajudar a levar o evangelho eterno a toda não, tribo, língua e povo. Essa Igreja encara com seriedade a ordem: “Importa que profetizes novamente” (Ap 10:11). Portanto, o remanescente é um movimento profético chamado a preparar um povo em todas as parte da terra para estarem prontos para a segunda vinda de Cristo.

Ellen G. White, a mensageira da igreja remanescente, afirmou: “Em sentido especial foram os adventistas do sétimo dia postos no mundo como atalaias e portadores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incide maravilhosa luz da Palavra de Deus. Confiou-se-lhes uma obra da mais solene importância. (...) Não devem eles permitir que nenhuma outra coisa lhes absorva a atenção” (Testemunhos Seletos [CPB, 1985], v. 3, p. 288).

Por 172 anos esta Igreja tem pregado a tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12. A primeira mensagem contém um apelo global para temer a Deus, e adorar o Criador, no contexto do juízo. Já a segunda mensagem apresenta a queda de Babilônia e, a terceira, o conflito contra a besta. Esta Igreja guarda os mandamentos de Deus como resultado da fé em Jesus (Ap 14:12).

George R. Knight, historiador da igreja, afirma que o crescimento do adventismo se deu exatamente pela sua mensagem profética para o tempo presente, e que essa mensagem remodelada para o século XXI é o que manterá o movimento forte. Caso essa mensagem não seja única e valiosa, o autor sugere que a honestidade exigiria o abandono do movimento e a busca por algo mais significativo na vida. Ele escreveu:

“O adventismo fortaleceu-se ao proclamar que possuía uma mensagem profética para nosso tempo. É exatamente essa mensagem remodelada para o século 21 que fortalecerá o adventismo no presente e no futuro. Por outro lado, se descobrirmos que o adventismo não possui algo único e valioso para oferecer, devemos ser honestos, desarmar o acampamento e encontrar algo útil para fazer na vida” (George R. Knight, A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, p. 20).     

De acordo com a profecia de Apocalipse 12, esse movimento profético deveria surgir após 1798, data que marca o término dos 1260 dias proféticos (12:6, 14). Considerando que um dia em profecia equivale a um ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6,7), aquele período de perseguição do fiel povo de Deus totalizou 1260 anos, que se cumpriu nos 1260 anos de supremacia papal (538-1798). Portanto, após 1798 surgiria esta Igreja fiel aos mandamentos de Deus. De fato, a IASD somente surgiu depois dessa data, após o desapontamento milerita, de 22 de outubro de 1844, término da profecia dos 2. 300 dias/anos de Daniel 8:14. Já o Testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia (Ap 19:10), ou seja, a manifestação do verdadeiro dom profético nesta Igreja remanescente (Ap 22:9). O impacto de Ellen G. White, considerada uma profetisa pelos adventistas, foi fundamental no desenvolvimento da igreja. Suas visões e escritos forneceram orientação teológica e espiritual, inspiraram a organização e a expansão da igreja, além de ter sido um auxílio e um guia para confirmar as verdades bíblicas descobertas pouco a pouco pelos seus irmãos de crença.

“Os adventistas se consideram o remanescente de Deus do tempo do fim principalmente por estarem convencidos de cumprir a descrição bíblica do remanescente em Apocalipse 12:17” (Frank M. Hasel, Teologia do Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica Adventista [CPB, 2013], p. 161).

Ellen G. White defende que “os adventistas do sétimo dia foram escolhidos por Deus como povo peculiar, separado do mundo. Com a grande talhadeira da verdade Ele os cortou da pedreira do mundo, e os ligou a Si. Tornou-os representantes Seus, e os chamou para serem embaixadores Seus na derradeira obra de salvação. O maior tesouro da verdade já confiado a mortais, as mais solenes e terríveis advertências que Deus já enviou aos homens, foram confiados a este povo, a fim de serem transmitidos ao mundo” (Eventos Finais, [CPB, 2011], p. 29).

Preservar essa identidade profética é vital para dá sentido ao adventismo e garantir sua permanência no mundo. Segundo o pastor e teólogo adventista Ángel Manuel Rodriguez, há entre os adventistas a consciência “de que se perdermos a ideia de remanescente, perderemos, como igreja, nosso propósito, nossa razão de existência” (The Remmant and the Adventist Church [Silver Spring MD: Biblical Reseatch Institute, artigo não publicado, outubro de 2002], p. 1). Citado em Teologia do Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica Adventista, p. 174.

Alguns acham que somos uma igreja a mais entre a maioria cristã protestante. Entretanto, tudo o que aconteceu no início de nosso movimento aponta para o fato de que há razões para estarmos aqui. Somos um povo distinto porque o movimento do Advento foi criado por Deus, não pelo homem, para proclamar uma mensagem profética. O movimento do Advento foi criado para durar não apenas por gerações, mas pela eternidade. Foi criado para perdurar durante o último grande conflito!

Contudo, é imprescindível ressaltar que, mesmo os adventistas aplicando Apocalipse 12:17 a si mesmo, isso “não significa absolutamente que pensemos que somos os únicos cristãos verdadeiros no mundo, ou que sejamos os únicos que serão salvos. Embora creiamos que a Igreja Adventista do Sétimo Dia seja a organização visível por intermédio da qual Deus está proclamando ao mundo essa derradeira mensagem especial, lembramo-nos do princípio que Cristo enunciou ao dizer: “Ainda tenho outras ovelhas, que não são deste aprisco” (Jo 10:16). Os adventistas do sétimo dia creem firmemente que Deus possui um precioso remanescente, uma multidão de crentes fervorosos e sinceros, em todas as igrejas (não excetuando a comunidade católico-romana). Eles vivem à altura da luz que Deus lhes outorgou. O grande Pastor das ovelhas os reconhece como Seus, e os está convocando para um grande rebanho e uma elevada comunhão, como preparo para Sua vinda” (Questões sobre Doutrina: O Clássico mais Polêmico da História do Adventismo [CPB, 2009], p. 162, 165). Ellen G. White reforçou claramente esse nosso ponto de vista, quando afirmou: “Em que corporações religiosas se encontrará hoje a maior parte dos seguidores de Cristo? Sem dúvida, nas várias igrejas que professam a fé protestante” (O Grande Conflito [CPB, 2006], p. 383).

Portanto, o remanescente do tempo do fim é constituído não somente pelos Adventistas do Sétimo Dia, mas também por um grande número de cristãos sinceros, espalhados por todas as comunidades cristãs, os quais seguem fielmente a luz que possuem, embora incompleta. Por isso, o conceito bíblico de povo escolhido não implica a rejeição dos demais. Em vez de excluí-los, Deus os aceita como são, para que sejam transformados como Ele deseja. Logo, a missão final confiada ao remanescente visa à inclusão de todos os sinceros, não importando as igrejas onde eles encontram-se.

A FÉ ADVENTISTA É BASEADA NA BÍBLIA

A IASD foi construído com base nas Sagradas Escrituras. Em 1897, Ellen G. White escreveu sobre a importância da fé e da obediência à Palavra de Deus como base para a esperança da vida eterna. “A Palavra de Deus é o fundamento sobre o qual nossas esperanças do céu devem ser construídas” (Nos lugares celestiais, 106). Esse pensamento enfatiza exatamente que a fé verdadeira não se baseia em sentimentos passageiros, mas na verdade revelada nas Escrituras. Essa verdade, quando aceita e praticada, oferece segurança e esperança para o futuro celestial.

Uma vez que percebi ainda na minha tenra idade, na década de 1980, que a Bíblia Sagrada compreende a Palavra inspirada de Deus, soube que o mais importante era entender este livro. Embora escrito por cerca de 40 autores diferentes ao longo de um período de 1.500 anos, encontrei não apenas sabedoria divina, mas também relatos da história e da criação incomparáveis ​​em sua franqueza e elegância. Também descobri que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma missão semelhante à de João Batista, baseada em Isaías 40. Curiosamente, a passagem se concentra mais na Segunda Vinda do que na primeira (Is. 40:3-5, 9-10). Esta passagem também enfatiza a prioridade das Escrituras sobre as ideias humanas que são comparadas à grama: “A erva seca, e a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus permanece para sempre” (Is 40:8, NVI). Ao longo da história adventista do sétimo dia, a Bíblia tem sido o único padrão para determinar doutrina e prática. Suas Crenças Fundamentais, votadas em 1980, expressaram exatamente essa posição em relação à Bíblia. Sua primeira declaração indica que “as Escrituras Sagradas são a revelação infalível, suprema e repleta de autoridade de Sua vontade. Constituem o padrão de caráter, a prova da experiência, o revelador definitivo de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na história” (Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia [CPB, 2018], p. 11).

Na mesma linha, as palavras de Ellen White merecem ser repetidas: “Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria - nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro - "Assim diz o Senhor” (O Grande Conflito [CPB, 2006], p. 595). Por meio dessas declarações, os Adventistas do Sétimo Dia têm constantemente se lembrado de que a Bíblia é a fonte primária e a mais alta autoridade para definir doutrina e prática.

COMPREENSÃO DAS PROFECIAS APOCALÍPTICAS

Temos uma compreensão das profecias que se estendem até o fim dos tempos, assim como Daniel previu. Daniel 12:8-10 prediz um povo do fim dos tempos que entenderia claramente coisas que nem mesmo o próprio Daniel entendia naquela época. Apocalipse 10 descreve esse tempo em termos de um pequeno livro, antes fechado e selado, mas agora aberto. Deus levantou o movimento do Advento em um momento específico para um propósito específico na história da Terra. Não somos apenas mais uma igreja, mas fomos levantados por Deus para alertar as pessoas contra o recebimento da marca da besta (Ap 14:9-11). Como jovem, fiquei surpreso ao ver que outras igrejas pareciam incapazes de explicar o que é essa marca.

Quarenta anos atrás, muitas das coisas que li em O Grande Conflito não pareciam possíveis. Tive que aceitá-las pela fé. Entretanto, como as coisas mudaram! Naquela época, eu não conseguia imaginar como os Estados Unidos, descritos em Apocalipse 13 como tendo a aparência de um cordeiro, poderiam falar como um dragão (Ap 13:11). A separação entre Igreja e Estado era forte e ampla. Religião e política mantinham-se educadamente separadas. Surpreendentemente, algumas instituições protestantes fundamentalistas estadunidenses trabalham pela obrigatoriedade da guarda do domingo, a exemplo “Moral Majority” (Maioria Moral), a Christian Coalition (Coalisão Cristã) e a Christian Coalition of American (Coalizão Cristã da América), e para muitos protestantes, a união com Roma parece cada vez mais atraente. A três décadas atrás, eu não poderia imaginar o grau em que tantos protestantes estariam agora dispostos a abandonar suas crenças baseadas na Bíblia em nome de uma unidade com a Igreja Católica.

O movimento que promove a união das igrejas ou religiões cresce no mundo. Desde o alvorecer do novo milênio estamos testemunhando o maior impulso rumo à unidade ecumênica que o mundo já viu. E esse fato é, indubitavelmente, uma importante tendência que apontam para o cumprimento da profecia apocalíptica. Os fenômenos espirituais comuns aos evangélicos pentecostais, católicos carismáticos e espíritas, a exemplo das “revelações”, as curas e os êxtase, levou o espírita kardecista José Reis Chaves a fazer a surpreendente declaração: “E percebe-se que é uma questão de tempo para que os espíritas, os carismáticos católicos e os pentecostais, conhecendo "in totum" a verdade libertadora, dar-se-ão as mãos, formando um só rebanho e um só pastor!” (Portal O Tempo). E a Igreja Católica Romana, por sua vez, está freneticamente construindo pontes para todas as denominações cristãs. 

INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS

Temos uma fonte incrível de informações privilegiadas por meio do nosso entendimento do grande conflito. O tema do grande conflito é para nós a “chave conceitual” para entendermos as mais importantes questões da humanidade: “Como a vida começou? Por que existe o bem e o mal, como se sabe a diferença entre um e outro? Que acontece após a morte? Por que existe o sofrimento e a morte? O tema do Grande Conflito fornece o pano de fundo para o desenvolvimento do mal – a história da rebelião de Lúcifer (Satanás) contra o governo de Deus. O elemento essencial do argumento de Satanás é que não se pode confiar em Deus, que Sua lei é severa e injusta e, portanto, o Legislador é injusto, severo e arbitrário” (Mensageira do Senhor: O ministério profético de Ellen G. White [CPB, 2003], p. 256).

Ao ler O Grande Conflito, descobri que o mal era um intruso no universo de Deus, embora isso não fosse surpresa para Deus. Em vez disso, a possibilidade do pecado era o risco que um Deus de amor estava disposto a correr para que pudesse haver verdadeira liberdade. Percebi que Deus não forçará ninguém a ser salvo - mas também que Ele não esperará para sempre! As profecias da Bíblia foram seladas apenas até o “tempo do fim” e mostram onde estamos na história da Terra. A profecia das 70 semanas (490 dias/anos) de Daniel 9 me impressionou com a confiabilidade da Bíblia, com sua descrição precisa de eventos históricos com centenas de anos de antecedência e seu cumprimento na hora certa. Especialmente impressionante para mim foi a profecia dos 2.300 dias/ano, que apontava para a purificação do santuário celestial em 1844.

Apocalipse 11:19 aponta para este tempo: “o templo de Deus foi aberto no céu, e a arca da sua aliança foi vista no seu templo” (NVI). Que informação privilegiada! Temos insights do santuário interior do templo celestial e da própria arca da aliança. Este versículo marca uma reviravolta significativa no livro de Apocalipse. Ele sinaliza o início da obra dramática de Deus perto do fim da história da Terra. Apresenta o grande conflito entre Cristo e Satanás e o impacto devastador dos ataques do diabo, à medida que o verdadeiro povo de Deus foi implacavelmente perseguido pela igreja romana, uma forma apóstata de cristianismo que dominava o poder na Idade Medieval. De repente, percebi que as atrocidades da história cristã não eram oriundas de Deus e que, ao final do período de 1.260 anos, em 1798, um povo remanescente seria levantado por Ele, em claro contraste com as igrejas caídas da Babilônia.

HARMONIA ENTRE LEI E EVANGELHO

Proclamamos a mensagem do evangelho para o fim dos tempos, que combina perfeitamente lei e evangelho, justiça e misericórdia. João 1:17 afirma que “a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”. Usando esse texto, muitas pessoas de outras comunidades cristãs colocam a lei em oposição à graça e à verdade. Mas essa é uma falsa dicotomia. A lei, a graça e a verdade trabalham juntas para revelar-nos o caráter de Deus, visto no plano da salvação. A lei não nos salva. Efésio 2:8 nos diz que “pela graça sois salvos, mediante a fé”. Agora, o fato da salvação ser somente pela graça, aceita pela fé, e não pela obras da lei, não significa que a fé anula a lei. O apóstolo Paulo faz exatamente a defesa dessa verdade no livro de Romanos. Ele fez a seguinte pergunta retórica: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Rm 3:31). No mesmo livro de Romanos ele afirma que a lei é santa, justa e boa (7:12). O propósito da lei é basicamente definir o que é o pecado, revelar a maldade do pecado, que nos mostra que o pecado não é apenas uma parte da nossa condição natural, mas de fato, é a violação da lei de Deus. A lei revive o pecado e revela nossa necessidade da graça de Deus (Rm 3:20; 5:13, 20, 20; 7:7-12; Rm 6:24). É por isso que Paulo diz: “Onde não há lei, não há transgressão (Rm 4:15). O evangelho indica o remédio para esse pecado, que é a morte e ressurreição de Jesus. O ato de Jesus morrer para nos salvar é um ato de graça, ou favor imerecido. Se não houvesse lei, não haveria pecado, e então, de que seríamos salvos? Só no contexto da lei, e sua validade, o evangelho faz algum sentido.

Nessa mesma linha, Ellen G. White, escreveu: “Para o homem ser salvo, e para ser mantida a honra da lei, foi necessário que o Filho de Deus Se oferecesse como sacrifício pelo pecado. Aquele que não conheceu pecado tornou-Se pecado por amor de nós. Por nós morreu no Calvário. Sua morte demonstra o maravilhoso amor de Deus ao homem e a imutabilidade de Sua lei” (Mensagens Escolhidas [CPB, 1985], v. 1, p. 240). Uma vez salvo pela graça de Deus, a pessoa passa a obedecer a lei. É exatamente a graça que nos capacita a guardá-la da maneira que somos chamados a fazer. O apóstolo Paulo depois de destacar muito claramente em Efésio 2:8, 9 que não somos salvos pelas obras, imediatamente, no verso 10, ele afirma que fomos “criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Isso não significa que nossa obras são uma condição prévia para a salvação, mas fruto de uma vida salva pela graça. Na realidade, o apóstolo está dizendo: “Sim, você é salvo pela fé. Você é salvo pela livre graça de Deus. Mas você é salvo para viver. Sua experiência de fé deve deslocar-se da crença para a vivência. Você deve viver sua salvação. Isso envolve um estilo de vida de obediência, imitando nosso grande modelo – Cristo Jesus, que obedeceu até o ponto da humilhação e da morte (Fp 2:5-12). Além disso, a experiência cristã é sua responsabilidade pessoal; e ninguém mais pode fazer isso por você” (Lição da Escola Sabatina, 4º Trimestre de 2005, ed. de Professor, p. 61). A verdade que Jesus trouxe foi exatamente essa compreensão da graça.

A mensagem do primeiro anjo, encontrada em Apocalipse 14:6, 7, proclama o “evangelho eterno” em termos da “hora do juízo [de Deus]”. Este não é um novo evangelho, porque é chamado de “eterno”. Mas, assim como a “nova” aliança na qual o evangelho se baseia, há algo novo - este novo elemento é a urgência. Urgência porque, como diz o anjo de Apocalipse 10:6, “não haverá mais tempo” (BKJ FIEL 1611). O fim está próximo.

Esta declaração, conectada com o anúncio celestial no capítulo 14, anuncia que a hora do julgamento de Deus chegou. Muitos cristãos pensam no Dia do Julgamento como o dia da vinda de Jesus. E, claro, essa também era a compreensão dos adventistas mileritas - até que encontraram a chave para desvendar o mistério de Daniel 8:14. Através da compreensão da obra de Cristo no santuário celestial como nosso Sumo Sacerdote, eles perceberam um fato importante. Visto que Jesus diz que, quando Ele vier, Sua recompensa estará com Ele “para retribuir a cada um segundo a sua obra” (Ap 22:12, NVI), o julgamento deve preceder Sua segunda vinda. É o juízo investigativo ou o juízo pré-advento, que começou em 1844, ao término do grande período profético dos 2.300 anos de Daniel 8:14.

Além disso, os adventistas entendiam que esse julgamento celestial era simbolizado na "purificação do santuário" no ministério do santuário terrestre no Dia da Expiação (Lv 16). Esse era o único dia no calendário religioso em que todo israelita deveria participar. Ignorar o dia era impensável, pois significava ser “separado” de Israel, excluído do povo de Deus. Esse dia também era o único dia do ano observado como o sábado semanal. Havia sábados cerimoniais, que significavam um dia de folga do trabalho, um feriado. O Dia da Expiação, no entanto, era o único que deveria ser guardado como o sábado do sétimo dia - repouso total. Nenhum trabalho. Não é coincidência que, no antitípico dia da expiação que está acontecendo agora, o sábado do sétimo dia assuma mais importância do que nunca.

Talvez seja surpreendente para alguns que, embora o evangelho do fim dos tempos esteja conectado com o julgamento, ele ainda seja uma boa notícia! É uma boa notícia porque “esse juízo procura essencialmente vindicar o povo de Deus, conforme se vê em Daniel 7, onde os santos são julgados e absolvidos. O povo de Deus permanece num atitude de completa dependência de Deus nas circunstâncias mais angustiosas. Os registros de sua vida são examinados e seus pecados, apagados; ao mesmo tempo, o nome dos falsos crentes é retirado dos livros (cf. Êx 34:33; Lv 23:29, 39). Aqueles cujo nome é conservado nos livros, inclusive os santos mortos, herdam o reino (Dn 7:22; 12:1, 2). Assim o santuário é purificado.” (Ângel M. Rodriguez, “O Santuário”, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: CPB, 2011, p. 455, 456).

A mensagem do juízo é uma boa notícia porque Jesus está voltando em breve. É uma boa notícia porque Ele está vindo para trazer justiça, corrigir todos os erros e recompensar Seu povo fiel (Dn 7:22). É uma boa notícia porque o pecado e os pecadores não existirão mais - não haverá mais sofrimento, tentação ou dor. Até mesmo o tempo de angústia é uma boa notícia. Por quê? Porque nos é dito que, como resultado do julgamento, nossos pecados foram completamente perdoados e removidos pela fé em Jesus, e não serão mais lembrados por Deus nem por nós mesmos, sendo efetivamente apagados da memória divina e da nossa consciência. Que notícia melhor poderia haver?

Quando a crise final termina, João vê um povo: “Aqui está a paciência dos santos: aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). É isso que a mensagem do terceiro anjo faz. A mensagem do terceiro anjo continua como uma mensagem de boas novas, uma mensagem de esperança e uma mensagem de fé para preparar um povo para a vinda do Senhor.

No ano de 1915, pouco antes de sua morte, Ellen G. White escreveu este testemunho de fé:

“Ao recapitular a nossa história passada, havendo revisado cada passo de progresso até ao nosso nível atual posso dizer: Louvado seja Deus! Ao ver que Deus tem obrado, encho-me de admiração e confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado” (Testemunhos Seletos [CPB, 1985], v. 3, p. 443).

CONCLUSÃO

Como Adventistas do Sétimo Dia, nosso movimento profético foi construído para perdurar. Nós somos um movimento baseado na Bíblia; seguimos a Bíblia (Is. 40:8); somos um povo com um entendimento das profecias de tempo reveladas para o tempo do fim, assim como Daniel predisse (Dn 12:8-10; Ap 10). Somos um movimento com informações privilegiadas sobre o grande conflito entre Cristo e Satanás - como ele começou e como ele termina (Ap 11:19; 12), proclamando uma mistura perfeita de lei e evangelho (Ap 14:6-12); e oportuno: O adventismo surgiu no tempo especificado pela profecia, logo após os períodos de 1.260 e 2.300 anos (Ap 12:17).

Deus criou a Igreja Adventista do Sétimo Dia por um motivo. As profecias de Daniel e Apocalipse formam uma imagem convincente de um Deus no controle da história, e Ele levantou um remanescente para concluir Sua obra na Terra. Que Deus nos dê graça para aceitar e cumprir fielmente esta missão profética, pois Jesus em breve voltará!

 

 

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