ESPERANÇA DA SEGUNDA VINDA: A PRESENÇA DO FUTURO
Ricardo André
“E
eu vi um novo céu, e uma nova terra; porque o primeiro céu e a primeira terra
haviam passado, e não havia mais mar. E eu, João, vi a santa cidade, a nova
Jerusalém, descendo do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada
para o seu marido. E eu ouvi uma grande voz do céu, dizendo: Eis que o
tabernáculo de Deus está com os homens, e ele habitará com eles, e eles serão o
seu povo, e o próprio Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus enxugará
todas as lágrimas de seus olhos; e não haverá mais morte, nem tristeza, nem
choro, nem haverá mais dor; porque as coisas antigas são passadas. E aquele que
está assentado sobre o trono disse: Eis que eu faço novas todas as coisas. E
ele disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis” (Ap
21:1-5, BKJ Fiel 1611).
Esse texto representa
uma das mais emocionantes passagens do Apocalipse. Na ilha de Patmos, João, o
amado, então idoso, teve esta extraordinária visão. A visão é sobre um mundo
renovado e recriado cheio de gozo, nossa gloriosa herança! A visão é tão vasta
que sobrecarrega a nossa imaginação; surpreende, cativa e nos emociona. Assim,
esta visão de um reino futuro e renovado é capaz de transformar as nossas vidas
agora na nossa existência presente. Toda esperança sorri diante dessa certeza:
Jesus voltará em breve, para nos colocar no Éden restaurado! Essa não é uma
utopia. É uma certeza que arde em meu peito e de todos os filhos de Deus. Quando
revelou isso a João, Jesus afirmou categoricamente: “Escreva isto, pois estas
palavras são verdadeiras e dignas de confiança” (Ap 21:5, NVI). Ele assegura
que suas promessas se cumprirão. O apóstolo João celebra as maravilhas da volta
de Jesus nos dois últimos capítulos da Bíblia Sagrada. Percebe-se nitidamente o
esforço que ele faz para tentar colocar tudo isso em palavras.
Ellen G. White comenta
que essa promessa é “uma das verdades mais solenes, e não obstante mais
gloriosas, reveladas na Escritura Sagrada, é a da segunda vinda de Cristo, para
completar a grande obra da redenção. Ao povo de Deus, por tanto tempo a
peregrinar em sua jornada na “região e sombra da morte” (Mateus 4:16), é dada
uma esperança preciosa e inspiradora de alegria, na promessa do aparecimento Daquele
que é “a ressurreição e a vida” (João 11:25), a fim de levar de novo ao lar
Seus filhos exilados” (O Grande Conflito
[Tatuí, SP: CPB, 2006], p. 299).
Você já parou para pensar
longa e seriamente sobre o Céu? Tentar imaginar o que será morar na Nova Terra
é uma verdadeiro desafio à imaginação. Mas esse lugar é real. Ele existe. O
próprio Senhor Jesus Cristo prometeu um lugar para cada crente fiel quando
afirmou: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na
casa de meu Pai há muitas mansões; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Eu
vou preparar-vos um lugar. E quando eu for e vos preparar um lugar, eu voltarei
novamente, e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, ali possais
estar vós também” (Jo 14:1-3, BKJ Fiel 1611). Sobre isso, Ellen G. White
escreveu: “Imagine-se no lar dos remidos e lembre-se de que ele será mais
glorioso do que a mais brilhante imaginação pode pintar. Nos variados dons de
Deus que a natureza apresenta só conseguimos ter um pálido reflexo de sua
glória” (Caminho a Cristo, p. 86, 87).
“A primeira coisa
observada por João na nova Terra foi que não havia mar, o que é especialmente
interessante. O fato de João ter se referido “[ao] mar” (com o artigo definido)
mostra que ele provavelmente tivesse em mente o mar que o cercava em Patmos,
que havia se tornado um símbolo de separação e sofrimento. Para João, a
ausência desse mar na nova Terra significava a ausência da dor causada por sua
separação daqueles a quem amava” (Lição
da Escola Sabatina, 1º Trim. de 2019, ed. de Professor, p. 166).
Todos nós conhecemos
pessoas que nos fazem sentir melhores, pelo simples fato de estarem próximos a
nós. O verso 3 afirma que “o próprio Deus estará com eles, e será o seu Deus”.
É justamente a presença permanente do amado Deus na nova Terra que garantirá a
libertação da dor e do sofrimento que experimentamos nesta vida. Não haverá
mais lágrimas, morte, tristeza, choro nem dor, que são consequências do pecado.
Com a erradicação do pecado, “as coisas antigas” terão passado (v. 4). “Na tua
presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há prazeres para sempre”,
disse Davi no Salmo 16:11. Então haverá música, louvor e gratidão e nunca mais
haverá lágrimas! Não haverá mais cemitério, hospitais nem prisões. Nunca mais
haverá pandemias, roubos ou assassinatos. Não haverá cortejos, cerimônias
fúnebres. Todos os salvos viverão eternamente felizes e livres de qualquer
ameaça de morte.
Fui ancião durante 17
anos, em duas igrejas da cidade de Lagarto, em Sergipe. Oito anos na Igreja
Lagarto I e nove na Igreja Central. Como ancião, ao longo desses anos, quando o
pastor distrital não pôde estar presente, preguei mensagens de conforto e
esperança em dezenas de funerais de irmãos e irmãs que foram ceifados pela
morte, e foi nesses funerais que vi essa visão transformadora de João “chegar”,
e inúmeras vezes observei pessoas com o coração partido pela dor se imaginarem
reunidas com seus entes queridos em uma terra nova e refeita. De alguma forma,
há um poder nesta visão que transforma a nossa dor atual. Mesmo que não elimine
toda a dor do presente, torna possível enfrentar outro dia.
VISÃO
DO FUTURO
No dia 28 de novembro
de 2023, minha esposa, Ana Claudia, precisou submeter-se a uma cirurgia por
conta de que sofreu uma perfuração intestinal, quando realizava um exame de
colonoscopia. No dia 27 de dezembro teve que submeter-se a uma nova cirurgia
por conta da formação de uma fístula intestinal pós-operatória. Dos 17 dias que
ficou no Hospital de Cirurgia, em Aracaju, fiquei como acompanhante dela
durante 14 dias. Foram dias muito difíceis, tristes, de incertezas e
sofrimento. Passamos, inclusive, pela primeira vez o Natal num hospital. Foi o
Natal mais triste da nossa vida.
Antes da segunda
cirurgia, minha esposa ficou internada cinco dias na Emergência do IPES Saúde.
Notei que ao lado do leito da minha esposa havia uma paciente idosa chamada
Delza. Todos a chamavam de “Vó”. Ela era a paciente mais velha da enfermaria,
95 anos. Ela era acompanhada por seus filhos. A pesar de bem debilitada, dona
Delza era engraçada, descontraída e tinha um maravilhoso senso de humor.
Uma dia, enquanto estava
ao lado do leito da minha esposa, percebi que dona Delza havia dormido a maior
parte do dia, o que me fez parar um pouco para observá-la. Então percebi o
enorme contraste entre ela e eu. Lembro-me de ter pensado: um dia serei
parecido com dona Delza, no sentido de que serei um idoso também; algum dia
precisarei de uma pessoa jovem para me ajudar e cuidar de mim. Vez por outra eu
me pego pensando na velhice. Ela me assusta.
Naquela dia, ao
comtemplar “Vó”, vislumbrei o futuro, imaginando-me aos 95 anos. A minha “visão
do futuro” fez-me de fato pensar de forma bastante diferente sobre o presente. Um
olhar para o futuro transformou a forma como eu via o presente.
JOÃO
VISLUMBRA O FUTURO
De uma forma muito mais
dramática, João, o vidente de Patmos, teve o mesmo tipo de experiência. Ele não
viu apenas o envelhecimento de um indivíduo, viu o envelhecimento e a
restauração da Terra! Ele olhou para o futuro e o que viu transformou o seu
presente.
O futuro tornou-se tão
real, tão presente na sua própria experiência que mudou não só a forma como ele
via o mundo, mas como ele reagiu a esse mundo. Transformou, também, a forma
como ele partilhava a sua fé, a forma como apelava aos outros para verem o
mundo.
Enquanto os
contemporâneos de João olhavam para um mundo dominado pelo Império Romano, um
mundo onde o poder vencia todas as discussões, a visão de João permitiu-lhe ver
uma realidade diferente.
João poderia ter visto
apenas um mundo em que aqueles que proclamaram Jesus eram uma seita pequena e
aparentemente insignificante, aparentemente à beira da extinção. Essa foi a
“realidade” que outros viram naquele primeiro século turbulento. Mas eles não
tiveram a visão. Em vez disso, este homem banido do convívio social, preso na
ilha de Patmos, velho e sozinho e prestes a morrer, viu um mundo onde aqueles
que proclamam Jesus como o Cristo seriam vitoriosos.
Em vez de um mundo onde
César era o senhor e Cristo parecia pouco ou nada, João viu um mundo onde o
Deus santo está sentado no trono com "toda criatura que está nos céus, e
na terra, e debaixo da terra" prestando-Lhe adoração efusivamente. (Ap
5:13, BKJ Fiel).
O
SEGUNDO ADVENTO ESTÁ PRESENTE AGORA
Em Apocalipse 4, João nos
diz que viu uma porta aberta no Céu! O Céu é uma das palavras mais doce e mais
sublime das Sagradas Escrituras. É uma palavra que concretiza a esperança e a
promessa dos filhos de Deus de todas as épocas. O Céu é também uma palavra
mágica que desperta esperança no coração humano, que faz vibrar todas as cordas
do peito humano. Ela satisfaz os mais sagrados anseios da alma humana e os mais
altos propósitos de Deus para com o homem. Por quê? Porque representa o nosso
lar, a volta do homem ao lar eterno.
Na mesma visão, João vê
ainda quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prestando adoração do
Deus santo e, na experiência da adoração, esse Deus está presente. Deus não
está distante no tempo e no espaço, mas está presente na adoração. Aquele que é
o Todo-poderoso, aquele que é o Deus de todos os tempos, “que era, que é e que
há de vir” (v.8), o Deus de toda a criação (v. 11), está presente com João e
com todos os crentes que o adoram hoje.
Este Deus caminha entre
os castiçais e recebe as pessoas na sala do trono, no centro do universo. Esta
música proclama a presença do futuro. Todos os que cantam os cânticos do
Apocalipse proclamam a experiência de Deus no presente.
O primeiro cântico do
livro do Apocalipse é cantado pelos quatro seres viventes dia e noite sem
cessar: “Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, que é e
que há de vir”.
Esta canção, assim como
a própria experiência de adoração, nos chama a abraçar uma realidade diferente
daquela que vemos. A palavra Apocalipse significa “descobrir” ou “algo revelado”
(Dicionário Bíblico Adventista [Tatuí,
SP: CPB, 2016], p. 80); implica uma revelação das coisas como elas
realmente são, não como o mundo as retrata. A adoração sempre nos chama para
ver o que é real e então agir de acordo.
Tal adoração tem esse
poder de transformar o nosso presente. Aqueles que adoram a Deus, que vivem em
Jesus antecipam um novo céu e uma nova terra. Logo, o Céu começa aqui e a
glorificação, por ocasião da volta de Jesus, será o ápice do Céu, quando
receberemos a tão almejada vida eterna (1 Co 15:50-55). Sobre isso, Ellen G.
White, escreveu: “Quando por meio de Jesus, entramos no repouso, o Céu começa
aqui. Atendemos-Lhe ao convite: Vinde, aprendei de Mim; e assim fazendo
começamos a vida eterna. O Céu é um contínuo aproximar-se de Deus por
intermédio de Cristo” (O Desejado de
Todas as Nações, p. 331). Portanto, o futuro entra no nosso presente agora,
e vivemos agora como viveremos no futuro.
Como o futuro de Deus
será uma terra “onde habita a justiça” (2 Pd 3:13), os adoradores agora buscam
justiça. Porque o futuro de Deus trará paz à terra, os adoradores agem agora
pela paz. Porque o futuro de Deus será uma terra com abundância para todos, os
adoradores agem agora para acabar com a fome. Porque o futuro de Deus será uma
existência sem lágrimas, os adoradores agem agora para confortar e curar. Como
o futuro de Deus será vida sem morte, os adoradores agem agora para combater
doenças e morte.
À medida que nós,
mediante comunhão com Deus, antecipamos um novo céu e uma nova terra, o futuro
entra no nosso presente, transformando-nos e chamando-nos a viver agora como
queremos num novo céu e numa nova terra.
INCORPORANDO
A ESPERANÇA DO ADVENTO
Enquanto elucubramos
sobre o novo Céu e a nova Terra, precisamos nos lembrar da vida curta, mas
produtiva de Annie Rebekah Smith (1828-1855), irmã de um importante líder
pioneiro da igreja, Uriah Smith, a quem sua experiência ajudou a levar para o
Senhor, no final do ano de 1852. Ela “foi uma talentosa escritora, editora e
artista que dedicou suas habilidades ao trabalho inicial de publicação do que
viria a ser a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ela contribuiu com numerosos
artigos e poemas para os periódicos nascentes da igreja durante o início da
década de 1850 e escreveu vários poemas que seriam usados em hinos, alguns
dos quais estão incluídos no atual hinário da denominação” (Enciclopédia
Adventista do Sétimo Dia).
José Bates estava
realizando uma série de conferências próximo da casa de Annie. Sua mãe insistiu
em que ela assistisse as reuniões, mas a filha não se interessou muito.
Todavia, talvez para agradar a mãe, Annie concordou em ir. Na noite anterior à
reunião, “a jovem teve um sonho segundo o qual entrava em uma sala onde um
estranho estava pregando. Bates, por sua vez, sonhou que, enquanto estava
pregando, uma jovem comparecia a sua reunião. Quando Annie foi a série
evangelística dirigida por Bates, ambos reconheceram o cumprimento exato do que
haviam sonhado. Depois de frequentar as palestras por três semanas, ela aceitou
o sábado [...]” (Enciclopédia Ellen G.
White [Tatuí, SP: CPB, 2018], p. 560). Em 1851, ela escreveu o poema “Não
temas, pequeno povo” e, enviou-o para Tiago White. “Impressionado com o talento
da moça, convidou-a para participar da equipe da Review, em Saratoga Springs, Nova York. A princípio, Annie recusou
devido a um problema de vista; porém, acabou aceitando. Depois de ser ungida e
de orarem por ela, sua visão melhorou” (Idem).
Estava empolgada em participar da obra do Senhor, a fim de ajudar outros a
aprender sobre o reino vindouro. Lá ela se apaixonou pelo belo e jovem pregador
John N. Andrews, que parecia corresponder a seus sentimentos, mas não se casou
com ela mas escolheu se casar com Angeline Stevens, deixando-a decepcionada e
com o coração partido.
Annie trabalhou com
Tiago White por três anos, quando “em novembro de 1854, ela voltou para casa
com tuberculose, e alguns meses mais tarde, aos 27 anos, Annie Smith morreu” (Idem). Meses antes de sua morte, quando
sua força diminuía gravemente, ela e a mãe passaram a conversar abertamente
sobre sua morte.
Numa terça-feira de
manhã, 24 de julho de 1855, Annie escreveu seu último poema:
Ó,
não derrames uma lágrima no lugar onde eu dormir;
Aos
vivos, não aos mortos o choro deves dirigir;
Por
que lamentar pelos cansados que repousam docemente,
Livres
na sepultura dos fardos e os ais da vida justamente?
Annie morreu em paz
dois dias depois, em 26 de julho de 1855. Um dia antes de sua morte, escreveu o
prefácio do poema “Lar Aqui e Lar no Céu”, agradecendo a Deus a obra que Ele
lhe concedera aqui, mas com os olhos voltados para o Céu, à medida que seus
dias “deixaram de fluir”. Apesar de toda a dor emocional e do sofrimento físico,
esse último poema de Annie confirma que ela terminou seus dias em paz com Deus.
Conforme bem expresso em alguns de seus escritos anteriores, a jovem aguardava
o glorioso dia no qual Deus “enxugará dos olhos toda lágrima” de Seus filhos
sofredores. Que bendita esperança nós temos!
A vida de Annie pode
ter sido curta, mas sua influência abençoou a igreja, sobretudo por meio de
seus hinos inseridos no primeiro Hinário Adventista. Ela encarnou aqueles que
cantavam diante do trono de Deus visto pelo profeta João, bem como aqueles cuja
esperança no futuro transforma o seu presente. Era como se ela estivesse
dizendo: Agora vou cantar, porque um dia erguerei do pó e verei meu Salvador claramente.
Adoro e canto agora, porque cantarei “Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus, o
Todo-Poderoso, que era, que é e que há de vir”.
Caro amigo leitor,
deseja você viver para sempre no lar celestial com Jesus? “Foi-me revelada a
glória do mundo eterno. Quero dizer-vos que vale a pena alcançar. Deve ser o
objetivo de vossa vida habilitar-vos para o convívio dos remidos, dos santos
anjos, de Jesus, o Redentor do mundo” (Ellen G. White, Maranata, o Senhor Vem [MM, 1977], p. 353). “E o Espírito e a noiva
dizem: Vem. E aquele que ouve diga: Vem. E que aquele que tem sede, venha; e
aquele que quiser, que tome gratuitamente da água da vida” (Ap 22:17, BKJ Fiel
1611). Esse “aquele que quiser” incluiu a você e a mim! Sendo que Jesus nos ama
o suficiente para preparar-nos um lar na Nova Terra, o mínimo que podemos fazer
é amá-Lo o suficiente para aceitar um lugar ali. Parece inimaginável que alguém
rejeite o oferecimento de um lugar no esplêndido mundo do amanhã de Jesus.
Suponha que esse lugar existisse no mundo atual. Iríamos correndo até lá, não
é? Corra, então, na direção do Céu – agora! Permita que o Senhor
comece a instalar, desde já, o Céu no seu viver. É claro que a esperança do
Advento se concentra no futuro, mas está aqui – agora!
Comentários
Postar um comentário