OS VENDILHÕES DO TEMPLO DA PÓS-MODERNIDADE
Ricardo
André
No domingo, 09 de Nisan,
da semana da Sua última Páscoa, Jesus entrou em Jerusalém. Ele começou
inspecionar silenciosamente o templo, e deparou-se com uma cena chocante: o
templo estava cheio de animais, comerciantes e bancas de moedas. O pátio do templo
mais se assemelhava a um mangueiro de gado ou uma bolsa de valores do que a uma
casa de oração. Despercebido em meio ao burburinho, Jesus Se retirou para
Betânia.
Mas, no dia seguinte,
Ele voltou para demonstrar com o cetro da justiça o propósito do Templo que os
sacerdotes haviam corrompido, em sua ganância e avareza (Mc 11:11-19; Mt
21:12-16; Is 56:4-8; Je 7:8-15), a quem havia sido confiada a realização dos
serviços, que “aos olhos do povo tinha sido destruída, em grande parte, a
santidade do serviço sacrifical” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as
Nações, p. 590). Os peregrinos que subiam a Jerusalém três vezes ao ano não
podiam trazer consigo os seus sacrifícios. Ao contrário, tinham que comprá-los
em Jerusalém. Os sacerdotes controlavam essa venda de animais. Além disso, os
animais só podiam ser comprados com moedas do Templo e, portanto, os peregrinos
primeiro tinham que trocar seu dinheiro na banca ali existente e depois comprar
os animais para o sacrifício. Em ambas as transações - o câmbio de dinheiro e a
venda de animais – as autoridades religiosas se beneficiavam grandemente.
Assim, a adoração do
Templo havia ficado corrompida. O que devia ter sido uma casa de oração para
todas as nações se deteriorara em um esquema de fazer dinheiro que explorava o
povo comum e enriquecia os líderes religiosos. Não é de admirar que Jesus
ardesse de justa ira. Palavras não eram suficientes: Imediatamente, com “ um
chicote de cordas”, Ele próprio foi expulsando esses profanadores (Jo 2:15). “Jesus
entrou no templo e expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo.
Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e lhes
disse: "Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; mas
vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’" (Mt 21:12, 13, NVI).
“Não suportava a ideia de que o templo havia se transformado em centro
comercial. Quando a religião se transforma em um negócio, nada mais resta e seu
vazio é transferido às pessoas que vivem uma religião formal. Apenas formas
religiosas sem conteúdo, que em lugar de aproximar de Deus Seus seguidores, os
afastam dEle” (Mario Veloso, Mateus – Comentário Bíblico Homilético, p. 267).
Que ironia brutal! Os
próprios animais que simbolizavam o sacrifício de Cristo estavam sendo vendidos
pelos sacerdotes por preços exorbitantes! Com o objetivo de lucro, eles
sufocavam as gloriosas lições o evangelho, corporificadas nos serviços do
santuário. Ofendido pela enorme perda espiritual assim provocada, Jesus mostrou
Sua legítima autoridade para purificar do tráfico profano o templo do Seu Pai,
que havia transformado Sua casa de oração em um antro de ladrões.
Se os sacerdotes
houvessem dado valor ao significado dos serviços do templo e a essência do
verdadeiro judaísmo, que influência eles poderiam ter exercido para a expansão
do evangelho, e que dons espirituais eles poderiam ter desempenhado!
Os
modernos vendilhões do Templo
Em nosso tempo,
denominado de pós-moderno, há outro registro de líderes religiosos que se
utilizam da religião para obter lucro, explorando a fé alheia. Como na
Antiguidade, hoje, os negociantes e suas negociatas profanam a Casa do
Senhor: Os pastores das maiores igrejas neo-pentecostais enriqueceram-se a
custa dos símplices do Evangelho (2 Pe 2:3). Os pastores Edir Macedo (fundador
da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record), Valdemiro Santiago
(ex-pastor da IURD e fundador da Igreja Mundial da Graça de Deus), Romildo R.
Soares (cunhado do Edir Macedo e fundador da Igreja Internacional da Graça de
Deus) e Estevam Hernandes (fundador da Igreja Renascer em Cristo) acumularam,
com a facilidade, verdadeiras fortunas. E com elas construíram verdadeiros impérios
da Comunicação, ao comprarem rádios, jornais e TVs. Há um claro interesse
comercial, uma rede de negócios, que envolve meios de comunicação, gravadoras,
editoras, shows, viagens turísticas, empreendimentos imobiliários, franquias e
muito mais. As “campanhas”, “correntes”, dízimos e ofertas doados pelos fiéis,
bem como a vendas de uma infinidade de materiais “sagrados” fazem com que essas
igrejas pentecostais sejam negócios altamente lucrativos, e seus líderes,
milionários. É a chamada "indústria da fé".
Muitos analistas comparam
os templos neopentecostais com eficientes centros de arrecadação de dinheiro, bem
como grandes empreendimentos de geração de capital. Surpreendo-me cada dia mais
com a incalculável arrecadação diária dessas igrejas, suficiente para abrir
mais templos e financiar horário televisivo e radiofônico. Parte desse dinheiro arrecadado entre os
fieis vão para os políticos, para financiar campanhas eleitorais de políticos evangélicos,
que propiciou a formação da bancada evangélica, bem como o aumento desta
bancada no Congresso Nacional, na eleição de 2014. A maioria dos deputados que fazem parte dessa bancada evangélica são corruptos.
Dados do Transparência Brasil indicam que:
Dados do Transparência Brasil indicam que:
1) Da bancada
evangélica, a maioria esmagadora dos deputados que a compõe respondem processos
judiciais;
2) 95% da referida
bancada estão entre os mais faltosos;
3) 87% da referida
bancada estão entre os mais inexpressivos do DIAP;
4) Na última década não
houve um só projeto de expressão, ou capaz de mudar a realidade do país, encabeçado
por um parlamentar evangélico.
Essa bancada, se
seguisse os princípios de Jesus, seria conhecida por promover a justiça,
defender a vida e o direito dos cidadãos, por trazer projetos para coibir a
corrupção em todos os níveis do governo e para a diminuição da desigualdade
social no país. Porém, nossa “bancada evangélica” é conhecida por sua
truculência, por sua perseguição ao inimigo número um dos evangélicos (os
“malditos e monstruosos pecadores homossexuais” ), por seus projetos pífios e
inócuos (mudança de nomes de ruas para homenagear líderes gospel, invenção de
datas comemorativas como o dia da mulher do pastor ou o dia do levita, defesa
dos interesses das denominações que os elegeram, mesmo que em detrimento do
resto da sociedade).
Empreendimentos
monstruosos financiados por tais igrejas causam dúvidas e críticas para quem não
participa desse engodo. Um exemplo é a construção da réplica do “templo de
Salomão” do tamanho de um estádio de futebol e com o custo em torno de R$ 200
milhões, promovida pelo bispo Edir Macedo. Mas para realizar uma construção
dessa envergadura foi necessário arrecadar fundos a partir do dízimo, entre
outros, seguido de um discurso do tipo: “Se você for tocado pelo Espírito Santo
a colaborar, então, por favor, use a seguinte conta bancária para fazer sua
doação em nome da “Igreja Universal do Reino de Deus” e entregue o recibo de
depósito numa IURD”.
Em 2013, a revista “Forbes”
fez uma lista com os líderes religiosos mais ricos do Brasil. No topo da lista,
está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, segundo
a revista. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas
Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 milhões; e Estevam
Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos. O casal foi
manchete dos jornais internacionais em 2007, quando foram presos em Miami sob a
acusação de levarem consigo mais de R$ 100 mil não declarados. Algumas notas
estavam escondidas em meio às páginas da Bíblia, segundo agentes
norte-americanos. Eles voltaram ao Brasil um ano depois, onde responderam por
outros crimes, entre eles a queda do teto de um de seus templos, que deixou
nove pessoas mortas em 2009.
Nos seus cultos, esses pastores falam o tempo todo em dinheiro. Além do dízimo, os fiéis são estimulados a fazerem propósitos com Deus e pagam por isso. Levam ao máximo a famigerada Teologia da Prosperidade, criada por evangélicos nos Estados Unidos, no início do século XX. A tão propalada teologia da prosperidade que faz comércio da Santa Palavra de Deus tomou níveis que nunca imaginaríamos serem possíveis. Pregações simplesmente regadas de emocionalismo deturpam os textos bíblicos; falsas profecias e pedidos aterradores de ofertas são tão comuns hoje que, para muitos, essa só pode ser a realidade bíblica, pois é o único tipo de pregação que vários crentes ouvem. De acordo com essa falsa teologia, a relação do crente com Deus é de contrato. Não se espera a salvação com a vinda de Cristo. O que interessa é o aqui e agora. Os fiéis investem agora, dando dinheiro à igreja nesse acordo com Deus, para ter o lucro lá na frente.
Em 2011, Silas Malafaia
lançou uma campanha a fim de arrecadar R$ 1 bilhão para a sua igreja, com a fim
de criar uma emissora de televisão global, que seria transmitida em 137 países.
Os interessados poderiam contribuir com somas a partir de R$ 1.000, e em troca
receberiam um livro. Esses tele-evangelistas acabam por comprometer o
testemunho cristão sendo os principais promotores de uma cultura de consumismo
e de idolatria dentro do arraial cristão.
São obreiros
fraudulentos, gananciosos, avarentos e enganadores. São amantes do dinheiro e
estão embriagados pela sedução da riqueza. Pregam prosperidade e enganam o povo
com mensagens tendenciosas, para abastecer a si mesmos; correntes de
libertação, pregações triunfalistas com ênfase em prosperidade financeira e
muitos milagres são exibidos pelos “apóstolos” do momento.
Podemos afirmar com segurança que tais obreiros representam os modernos experts
Vendilhões do Templo. Exploraram
ostensivamente o desonesto mercado da fé, ocupam cada vez maiores espaços para
divulgação de seus negócios, aumentarem o número de fiéis, iludi-los com
discursos ocos e faturar cada vez mais, com dízimos, contribuições e sabe-se o
quê mais, porque a arrecadação religiosa é uma imensa caixa preta, uma
excelente alternativa para insuspeita lavagem de dinheiro.
No passado Jesus expulsou
os vendilhões e ladrões do Templo. Similarmente, na Sua segunda vinda ele
expulsará também os modernos vendilhões do templo que exploram a fé dos fiéis e
fazem dos seus templos verdadeiros “balcões de negócios”. Jesus afirmou: “Nem todo aquele que me diz:
‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e
não realizamos muitos milagres? ’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os
conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! ’ "(Mateus 7:21-23,
NVI).
Mas, é preciso que se
diga que nem todas as igrejas evangélicas são “balcões de negócios”. Os
evangélicos não pentecostais, denominados de históricos, a exemplo dos Adventistas
do Sétimo Dia, Batistas e Presbiterianos, e mesmo algumas igreja pentecostais, não adotam essas práticas abomináveis. São
sérios, corretos e transparentes na aplicação dos recursos doados pelos seus
membros, e que não são usados para o enriquecimento dos pastores.
A
Bíblia Sagrada Desaprova o Comércio Revestido de Religião
As Escrituras Sagradas
reprovam esse comércio travestido de religião (At 8.17-24). Distorções
bíblicas, aberrações teológicas e verdadeiras loucuras são oferecidas em forma
de disfarçados amuletos, unções sem fundamento, seminários de grupo fechado e
tantas outras invenções para se ganhar dinheiro dos irmãos do despercebido
universo religioso. Campanhas de oração, jejum, cultos de cura interior e
libertação tocados à base de ofertas com valores estipulados. Qualquer igreja
que, por interesses escusos, se presta a essa prática ridícula, assumindo uma
posição de mendicância, contraria os valores do evangelho, que ensina a fazer exatamente
o contrário: “Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos,
expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça” (Mateus
10:8, NVI). “Disse Pedro: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto
lhe dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande" (Atos 3:6, NVI).
Alguns pregadores da época de Paulo eram “mascates” ou “falsificadores da Palavra de Deus” que pregavam sem compreender a mensagem do Senhor e sem se importar com o que acontecia com os seus ouvintes. Não estavam preocupados em promover o Reino de Deus - queriam apenas dinheiro, e o apóstolo Paulo sempre denunciou aquelas pessoas que estavam pregando a Palavra de Deus visando apenas o enriquecimento. Ele afirmou: “Ao contrário de muitos, não negociamos a Palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus” (II Co 2:17,NVI).
Alguns pregadores da época de Paulo eram “mascates” ou “falsificadores da Palavra de Deus” que pregavam sem compreender a mensagem do Senhor e sem se importar com o que acontecia com os seus ouvintes. Não estavam preocupados em promover o Reino de Deus - queriam apenas dinheiro, e o apóstolo Paulo sempre denunciou aquelas pessoas que estavam pregando a Palavra de Deus visando apenas o enriquecimento. Ele afirmou: “Ao contrário de muitos, não negociamos a Palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus” (II Co 2:17,NVI).
A salvação e as bênçãos
de Deus para a humanidade são de graça e por isso não tem custo financeiro. O
apóstolo Paulo escrevendo aos cristãos efésios, afirmou: “Pois vocês são salvos pela
graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2:8,
NVI). A experiência da salvação é um dos grandes milagres de Deus
oferecido gratuitamente aos homens. O meio para tal bênção é a graça de Deus e
a expressão do referido termo transporta duas verdades salientes. Primeiro, a
graça Divina quanto à salvação eterna não ocorre por nossos méritos, é fruto do
amor de Deus (Ef 2.8; Tt 2.11). Segundo, se tamanho dom não é recebido por
merecimento em escala moral e espiritual (Is 64:6), o seu preço está além das
possibilidades humanas de pagá-lo. O ônus da grandiosa obra da redenção foi
custeado pelo sangue de Cristo e sua eficaz obra expiatória (1 Co 6:20; Hb 9:22).
O problema é que tal
verdade tem sido distorcida por falsas mensagens que descaradamente tentam
vender as bênçãos da gratuidade Divina. A ganância é um abismo de interesses
insaciáveis capaz de transformar a casa de Deus numa corja de ladrões e num
antro de aproveitadores (Lc 19:45-48). Fora isso, o oportunismo de consumo do
"mundo cristão" tornou-se numa tentação que tem desviado muita gente
do caminho céu. O famigerado cristianismo ávido por novidades, carente de Deus
e distante das Escrituras está à mercê de experts vendilhões do templo, dos
charlatões de plantão e dos enganadores disfarçados de crentes. O objetivo
dessa gente é escuso, por detrás da cortina de seus "ministérios
ungidos" estão motivos e compromissos materiais que os escravizaram mesmo
pregando uma mensagem de liberdade.
Caro amigo leitor, o
preço de nossa salvação e das bênçãos celestiais reservadas para nós já foi
pago. Louvado seja Deus! A sua salvação, a cura divina, os dons espirituais, a
transformação da vida, a restauração da família, a libertação de seus filhos e
a vida eterna já estão com valores liquidados pelo grandioso amor de Deus e
pela oferta voluntária de Cristo Jesus. Não pague mais por aquilo que Deus já
te oferece de graça e que está simplesmente ao alcance de sua fé nele! Abaixo
as indulgências modernas de um cristianismo corrompido por mundo governado pelo
espírito materialista.
Comentários
Postar um comentário